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Dia do Cinema Nacional: bom pretexto para reafirmar a importância da cultura para uma vida de qualidade

Maré de Notícias #101 – junho de 2019

Hélio Euclides

O Cinema brasileiro nasceu no Rio de Janeiro, por meio das primeiras imagens capturadas da Baía de Guanabara, em 19 de junho de 1898. A data entrou para a história e é comemorada até hoje como o Dia do Cinema brasileiro. Mesmo diante de inúmeros desafios, a produção cinematográfica nacional tem feito bonito. Um exemplo aconteceu no último mês de maio: pela primeira vez na história, o Cinema brasileiro saiu do Festival de Cannes (na França e um dos mais conceituados do mundo) com dois prêmios importantes. “Bacurau”, dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, ganhou o Prêmio do Júri na competição principal; e “A vida invisível de Eurídice Gusmão”, de Karim Aïnouz, foi eleito o melhor filme na mostra paralela Um Certo Olhar. Não é pouca coisa.

Exibição

Apesar da grande importância de um filme, a película por si só não basta; é preciso um espaço adequado para a exibição. Dessa forma, as salas de cinemas e os cineclubes cumprem o importante papel de reunir a plateia. No cineclube, o mais importante não é a renda de bilheteria e, sim, o filme e sua relação com o espectador. Essa prática contribui para reforçar os laços comunitários e a cidadania. Na Maré, alguns cineclubes se destacam: Cineminha no Beco,Novo Cinepop, Rabiola e o Conceição (uma homenagem à escritora Conceição Evaristo) são as “pratas da casa”.

O Cineclube Rabiola surge de uma identificação infantil com filmes exibidos na Lona Cultural Herbert Vianna. “Começou em 2014, como entretenimento, depois a temática foi conectar o filme com o Projeto Nenhum a Menos, no âmbito pedagógico. Um exemplo foi a exibição do filme “Extraordinário”, que emocionou as crianças e elas comentaram durante a semana”, lembra Carlos Marra, assistente de produção da Lona. “É um ato de resistência trazer discussões para as crianças, para que elas entendam a história por meio do cinema. Construir uma narrativa que não é a nossa, mas as delas”, explica Urubatan Odé, arte-educador da Biblioteca Municipal Jorge Amado. Para ele, esse retorno é um marco. “O objetivo é levar uma cultura de qualidade a quem, muitas vezes, não tem acesso, já que o cinema é caro. A exibição de filmes é algo mágico, embala grandes paixões”, afirma.

Everton Luiz, de 29 anos, é fã do Cineclube Rabiola. Além disso, se considera um cinéfilo, ou seja, um fã incondicional de cinema. “Assisti a todos os 500 episódios da série de Mangá Naruto. Fiquei um mês sem sair de casa. Estou na expectativa da volta do cineclube aqui na Lona. Até quem não era muito de cinema, vinha participar”, conta.

A boa nova é que o Cineclube Rabiola está de volta. As sessões serão às quartas, de 15 em 15 dias, às 17h30. Outro que volta a funcionar é o Cineclube Conceição, que teve sessões no Centro de Artes da Maré e agora será exibido também na Lona, com uma “pegada” infantojuvenil, sempre na última sexta-feira do mês, às 19h – e com um happy hour ao final. Ou seja, no mês em que se comemora o Dia Nacional do Cinema, a Maré tem bons motivos para celebrar.

Uma rua de cinema

Os saudosos se lembram de uma época em que o cinema de rua fazia sucesso. Na década de 1960, existiam 198 cinemas na capital. Atualmente, na cidade do Rio há apenas 16 cinemas de rua. Muitos moradores da Maré frequentavam os cinemas mais próximos, como os de Olaria e Ramos. A decadência começou com a multiplicação das salas de exibição dentro dos shoppings centers.

No final do ano passado, mais um espaço de exibição de filmes encerrou suas atividades, o Microcine Cinema Brasil, de Bonsucesso. Um resistente ao tempo é o Ponto Cine, de Guadalupe, que foi inaugurado em 2006, fechou por nove meses em 2018, mas não desistiu de levar filmes de qualidades por um preço accessível. 

O povo fala

“Todo domingo era sagrado: depois do almoço, ir ao cinema era nossa diversão. Isso era década de 1960, minha família não tinha televisão, então adorava ir ao cinema assistir Mazzaropi, filmes de faroeste e o resumo da semana do futebol, com os filmes do Canal 100. O cinema de rua era um lugar de formar amizades. Ainda tinha o romantismo, quando via uma garota bonita pensava logo se ela iria sentar ao meu lado. Esses cinemas fazem falta”. Celso Fernandes, hoje com 66 anos de idade, morador da Praia de Ramos, era assíduo frequentador dos cinemas Santa Helena e São Geraldo, que ficavam em Olaria, e do Cine Rosário, em Ramos.

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