Coletivo Maré Crew usa estêncil e grafite para dar voz aos sentimentos e ideias dos moradores da favela
Maré de Notícias #97
Por: Jéssica Pires
Formado por quatro jovens moradores da Maré – Larissa Alves, Everton Luiz Alves, João Pedro Alves e Isaque Silva – o coletivo Maré Crew ainda vai dar muito o que falar. Utilizando a técnica estêncil (um tipo de estampa que se utiliza do recorte feito em algum material, papel ou acetato, por exemplo, para gravar um desenho em uma superfície), os jovens vêm se destacando nesta seara, que a cada dia ganha mais espaço na cidade e mais valor como expressão artística.
A técnica, apesar de milenar, ganhou fama na década de 1960, com o surgimento dos grandes paredões de arte urbana que começaram a surgir nas periferias dos Estados Unidos, no mesmo período do grafite – outra arte urbana e periférica. As duas novidades acompanhavam o movimento hip hop que efervescia entre os jovens negros americanos.
Parceria de berço
O Maré Crew nasceu em uma Oficina do Nata Família, promovida na Lona Cultural Municipal Herbert Vianna, no final de 2016. O Nata Família é um Coletivo do Rio de Janeiro que trabalha com estêncil e, entre as muitas possibilidades que a técnica oferece, faz pinturas em paredes nas ruas da cidade, presta serviços com artes em ambientes internos e customiza objetos. A partir da Oficina, os jovens estreitaram os laços com o Nata Família, que iniciou um processo de formação especial com eles.
O nome Maré Crew nasceu de forma espontânea. Crew é uma gíria desse universo, que significa um conjunto de grafiteiros que se reúnem para pintar ao mesmo tempo. Os encontros, oficinas e montagem das artes do coletivo acontecem, principalmente, na Lona da Maré. O Nata Família apoia o Maré Crew também com os materiais para execução das artes. Fora esse apoio, o grupo atua de forma independente e sem recursos.
Trabalhos à vista
Atualmente, o Maré Crew se prepara para tirar do papel uma exposição com retratos de crianças da Maré. “Acho muito importante a gente mostrar o rosto das crianças daqui. Porque as pessoas só lembram da Maré, pensando que foi onde o Marcos Vinícius morreu ou o lugar de onde a Marielle veio. Esquecem que, daqui, já saíram vários jogadores de futebol e muitos outros talentos, por exemplo”, conta Larissa Alves.
Um dos objetivos do grupo é garantir apoio financeiro, não só para viabilizar a produção de novos painéis, como também para multiplicar a formação que receberam. Inclusive expandir essa multiplicação para fora da Maré. “Acho superimportante a gente se expressar, expressar pela Maré. Porque tem muita coisa que pensam sobre aqui que não é, que não tem aqui. Tem muita gente que sabe desenhar, que tem muitas habilidades, e é muito importante a gente mostrar isso”, enfatiza Everton Alves.
Resistência para se expressar
Muitas polêmicas giram em torno das artes urbanas. Apesar das grandes diferenças entre pichação, grafite e estêncil, ainda há pessoas que só veem similaridades entre elas e as consideram, apenas, como poluição visual e ato vandalismo. Saiba o que é cada uma delas:
? A pichação é caracterizada pelo ato de escrever em muros, edifícios, monumentos e vias públicas. Os materiais utilizados vão desde as tradicionais latas de spray até o látex. Na regra da pichação, vence aquele que conseguir inscrever a sua tag (assinatura) o maior número de vezes, onde todos possam vê-la, geralmente sem autorização prévia.
? O grafite é uma arte urbana que também utiliza de spray e outras tintas. A principal diferença é a arte final representada. O grafite, na maioria das vezes, pretende transmitir uma mensagem por meio do desenho. Vale destacar que o grafite é um desenho elaborado manualmente e que é, inclusive, comercializado. E atenção: nada é feito sem a autorização prévia do responsável pelo espaço onde a arte será trabalhada.
? O estêncil depende de um molde vazado para sua aplicação. Diversos tipos de desenhos podem ser aplicados, como fotografias, letras e números, símbolos ou o que se desejar. A diferença está na necessidade de um molde prévio. O estêncil também pode ser utilizado para customização e decoração de superfícies, como tecidos ou móveis, além de paredes ou muros. Tal como o grafite, os artistas do estêncil só aplicam sua arte em espaços autorizados.
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