A pandemia em Marcílio Dias

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Localidade não tem números de coronavírus unificado como outras favelas

Hélio Euclides

A favela Marcílio Dias fica distante cerca de 2.300 metros da Praia de Ramos, separado por uma área militar. No Painel COVID-19 da Prefeitura, a localidade não é incluída nos dados da Maré. Marcílio Dias tem o seu número do coronavírus atrelado com Penha Circular, dia 14 de setembro contabilizava 496 casos confirmados e 60 mortes.

Não há um número exclusivo do território, a não ser o do Painel dos Invisíveis, mapeamento feito aqui, pelo Maré de Notícias. Mas comparado a outras favelas que fazem parte do conjunto das 16 favelas da Maré, o número é pequeno. A Nova Holanda, por exemplo, possui 234 casos, dos 991 casos suspeitos da Maré, enquanto Marcílio Dias relatou 11 casos. Alguns fatores ajudam a entender a situação, como a distância entre a localidade e os equipamentos da Redes da Maré, responsáveis pelo levantamento, assim como a região ser pouco populosa.

O Censo Populacional

Segundo o Censo da Maré de 2013, Marcílio Dias tem 6.342 moradores, distribuídos em 2.248 domicílios. A favela fica entre o Complexo da Marinha e o Mercado São Sebastião, com 0,18 km², sendo composta por uma avenida, 23 ruas, 23 travessas e 10 becos. Todos os moradores são atendidos pelo pequeno Centro Municipal de Saúde João Cândido, que não oferece atendimento odontológico. Com isso, moradores de Marcílio que precisam de dentista são encaminhados para a Clínica da Família Heitor dos Prazeres, em Brás de Pina.

A favela tem duas equipes de saúde, que estiveram completas no momento crítico da pandemia, tendo um desfalque no mês de julho, com a saída de um médico. Marcos Ornelas, coordenador geral de atenção primária da Área Programática 3.1, conta que o CMS João Cândido foi uma das unidades mais tranquilas na pandemia. Ele afirmou que está em fase de seleção de um novo médico e que não há espaço físico, na favela, para a construção de uma unidade maior.

Um vírus no território

O comerciante Luciano Aragão sentiu ausência de fome, cheiro e gosto de alimentos, entre maio e junho. Ele foi ao CMS João Cândido, que verificou pressão, temperatura e respiração, mas não teve a confirmação de COVID-19, pois não fez o teste. “Nos 30 dias, tomei sucos de inhame com laranja e beterraba, para aumentar a imunidade. Sinto que o mundo não voltou ao normal, além de a doença estar por aí, o dinheiro diminuiu”, avalia.

“Nos dois primeiros meses, o povo ficava em casa. Hoje, já abandonaram o uso da máscara na favela. Percebo medo, só no pessoal na faixa etária de 40 anos para cima. Alguns não querem nem usar as vans, o que prejudica os motoristas que já sentem a diminuição do número de passageiros”, comenta Margarete Nunes, moradora de Marcílio Dias. Ana Cunha, presidente da Associação de Moradores de Marcílio Dias, relata que o período de pandemia teve muitos doentes, mas que hoje ocorre um relaxamento da população. Ela garante que não ocorreu falta de água esse ano, o que não prejudicou a higienização das mãos.

Para Geraldo Oliveira, coordenador da Biblioteca Comunitária Nélida Piñon, a pior coisa que aconteceu com a pandemia foi ter de parar todas as atividades. “Foi muito triste ver as crianças sem um espaço para interagir. A população ficou órfã de um lugar de acolhida através da cultura, conhecimento e do saber”, conta. Este ano não serão realizados eventos tradicionais da Biblioteca, como Dia das Crianças e Natal, para evitar aglomerações.

Os números de suspeitos de COVID-19

O CMS João Cândido não realizou testagem, mas fez atendimentos de pacientes com sintomas de coronavírus. Vejam os números:

Síndrome gripal:

Abril – 146 casos

Maio – 74 casos

Junho – 22 casos

Julho – 15 casos

Agosto – 4 casos (até o dia 10)

Remoção devido à condição respiratória grave:

Julho – 1 caso

Agosto – 1 caso (até o dia 10)

Usuários monitorados por telefone:

Junho – 87 pacientes

Julho – 23 pacientes

Agosto – 12 pacientes (até o dia 10)

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