Altos preços dos alimentos provocam mudanças na ceia de Natal

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A razão da alta dos preços dos importados, itens obrigatórios até pouco tempo nas festas natalinas, é a cotação do dólar

A mesa farta, com o tradicional peru de Natal, e produtos importados como castanhas portuguesas, nozes e amêndoas, por exemplo; aos poucos vai sendo alterada em função de novos hábitos da população. No entanto, em 2022, algumas mudanças no cardápio natalino são determinadas também pelos preços dos produtos, principalmente aqueles importados. 

A razão da alta dos preços dos importados, itens obrigatórios até pouco tempo nas festas natalinas, é a cotação do dólar, que no início de dezembro chegou a R$ 5,60. Por outro lado, de março de 2017 a março de 2022, o real perdeu 31,32% de seu valor e compra. E com o mesmo valor agora se consegue comprar apenas dois terços do que se comprava naquele ano. 

Um quilo de nozes, com casca, está custando R$ 45; 500 gramas de amêndoas, com casca R$ 30; Figo, R$ 18, 250 gramas. Mas não são apenas os importados que pesam no bolso do consumidor. Os produtos nacionais também estão inflacionados. A ceia de Natal deve ficar, pelo menos, 16,2% mais cara do que no natal de 2021, segundo estudo realizado pelo pesquisador Fernando Agra da Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais.

Produtos nacionais também estão caros

Para entender o impacto da alta dos preços dos alimentos na ceia de Natal das famílias da Maré, acompanhamos o cuidadoso planejamento da lista de compras de Arides Menezes. 

Ele tem 71 anos, está aposentado há sete anos, recebe uma pensão de dois salários-mínimos por mês; e está fazendo muitas contas para preparar uma ceia de Natal para os dois filhos, as respectivas noras e dois netos, “para a ceia eu em geral escolho o que está mais em conta. Os preços estão muito altos”. A primeira decisão já foi tomada, o peru vai ser substituído pelo chester, “bem mais em conta” afirmou o aposentado. 

Um quilo de peru, nas principais redes de supermercado do Rio de Janeiro custa em torno de R$ 28. Arides precisaria de um peru com pelos menos três quilos e meio, ou seja, R$ 100. As sobras da ceia vão compor o almoço do dia 25. A diferença de preço entre peru e chester não é tão grande, cerca de um ou dois reais por quilo, mas o chester rende bem mais, tem mais carne. 

O quilo do chester nos supermercados mais populares custa em média, R$ 27. Por um chester de três quilos e meio, Arides vai pagar R$ 94. O aposentado, na realidade, sonhava com um suculento bacalhau para a ceia do dia 24 de dezembro, “Não dá nem para pensar, vamos de chester mesmo.” diz Arides conformado. Um quilo bacalhau do porto não sai por menos de R$ 150.

Preços dos alimentos disparam

Nos últimos 12 meses o grupo alimentação e bebidas acumulou inflação de 11, 21%, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-IPCA, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE. O aumento nos preço dos alimentos ficou acima da inflação geral, que nos últimos 12 meses, que foi de 5,97%.

E essa inflação dos preços dos alimentos está atingindo até mesmo um dos pratos de maior popularidade da ceia natalina, a rabanada que, segundo Arides, “não pode faltar de jeito nenhum na nossa ceia”. 

Com a inflação dos alimentos e a perda de poder de compra do Real, mesmo os pratos mais simples como a rabanada ficaram bem mais caros. O pão, o leite e ovo subiram mais que a inflação desde dezembro de 2021. O pão teve uma alta de 18,1%. Leite e derivados, 26,6% desde dezembro de 2021. E o ovo de galinha, 19,7%. 

Arides vai restringir os importados, com algumas poucas exceções e uma delas é a castanha portuguesa, outro item muito tradicional e que também não pode faltar na ceia. Um quilo de castanhas na cidade do Rio de Janeiro está custando em torno de R$ 110.

O morador da Maré só vai gastar um pouco mais com os presentes, já que quer presentear todos que vão participar da ceia, filhos, noras e netos, “de preferência com roupas e sapatos”. Apesar ter sido obrigado a economizar na ceia, Arides diz que está feliz em poder reunir a família “o que e não pode faltar é harmonia”, disse.  

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