Alunos e professores mobilizam-se para retorno de CIEP na Vila dos Pinheiros

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CIEP Ministro Gustavo Capanema está fechado desde 2019 para obras

Por Hélio Euclides, em 05/07/2021 às 07h. Editado por Edu Carvalho

“O tesouro da Maré é a criançada”, disse Darcy Ribeiro quando esteve no conjunto de favelas na década de 1980. O antropólogo e vice-governador. na época, discursou para mostrar o que era o projeto dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs). Desde a sua criação, em 1985, até hoje, muita coisa mudou. O projeto inicial dos “Brizolões” foi abandonado. A situação ainda é pior no CIEP Ministro Gustavo Capanema, localizado na Vila dos Pinheiros, que há dois anos se encontra fechado, após o início de uma obra que não chega ao fim. Para mudar essa situação, alunos e professores se uniram em uma aula pública para pedir o fim da restauração e o retorno das atividades na escola. 

O CIEP Ministro Gustavo Capanema, que tem cerca de 500 alunos, completou 36 anos e nem de longe lembra o projeto desenhado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. No dia 14 de novembro de 2019, o Diário oficial do município trazia a boa notícia da obra de restauração do CIEP, no valor de R$ 3.294,161,21. A obra tem como responsabilidade a Secretaria Municipal de Infraestrutura Habitação e Conservação (SMIHC), por meio do contrato nº 172/2019. No processo nº 07/005.220/2019 tinha ainda como interveniente a Empresa Municipal de Urbanização (Rio-Urbe), que é responsável pela fiscalização. Os servidores, que têm o papel de acompanhar a execução da restauração é Vicente Carpintier Trilha, Renan Ricardo Rodrigues Nogueira Pinto e Miguel Simões de Lima.

O que seria a realização de um sonho, virou um pesadelo. A empreiteira Irmãos Haddad Construtora Eireli receberia o dinheiro em três parcelas, para a reforma no prazo de 180 dias. A empresa recebeu apenas a primeira parte, já que a Prefeitura alegou que a obra não foi realizada como deveria, pois só foi concluída a troca do telhado e a recuperação dos portões e corrimões. A construtora, por divergência de opinião, interrompeu a obra. A direção da escola enviou um dossiê para a Secretaria Municipal de Educação (SME) que admitiu que a obra foi suspensa pela gestão anterior e que só retornaria no próximo ano.

Aula pública no CIEP Ministro Gustavo Capanema, na Vila Pinheiros.
Foto: Hélio Euclides

A escola que queremos

Na noite de quinta-feira (30/06), alunos e professores estiveram na unidade escolar e com a utilização das luzes dos celulares visitaram os dois andares, que se encontram as escuras, com a parte elétrica danificada. Os presentes entraram nos corredores e salas de aulas que estão com paredes sem acabamentos e janelas com vidros quebrados. Alunos lembraram que a escola passou por ação do tempo, depredação, realização de bailes e por fim, uma obra interrompida, que foi a gota d’água para a degradação. 

Mãe de dois filhos que estudaram na escola, Francisca Aparecida, moradora da Vila dos Pinheiros, é também aluno da unidade no Peja II, referente do sexto ao nono ano do ensino fundamental. Ela lembra que estudava num prédio que tinha a limpeza adequada, lanche e iluminação. “Me assustei com o estado precário que encontrei a escola, entregue às baratas. O prefeito precisa retribuir os votos que recebeu, com investimento na educação. Queremos o CIEP de volta, por isso estamos aqui para abraçar a causa da reconstrução da escola. O CIEP é nossa segunda casa”, comenta.

Na segunda parte da aula, todos assistiram a um vídeo intitulado: “E aí, vamos sonhar juntos?” Que mostrou em três minutos a história do colégio. Depois a professora Fátima Barros, coordenadora da 4ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) mencionou que trabalhou no colégio e por isso tem um carinho especial pela unidade. Também lembrou que a obra foi uma conquista, que foi uma ação de muitas gestões. “Foi luta na unha. Essa interrupção é um desrespeito. Devemos cobrar, pois o que foi feito não vale um milhão. Para piorar, com o abandono daqui a pouco vai ser necessário um novo telhado. Acredito que esse ato é importante, pois o povo organizado tem força”, diz. Ela avisou que haverá uma reunião entre o secretário de educação e uma comissão do CIEP na manhã de quinta-feira (08/06). 

Ao final, os presentes fizeram falas em defesa do retorno às aulas no prédio do CIEP. “O ensino que tive aqui me acompanha na vida pessoal, social e acadêmica. Lembro que o meu pai, quando veio da Paraíba, ajudou na construção da escola. Outro fato marcante foi o documentário Brizolão que fizemos em 1992 (https://nuvela.vercel.app/), que defende o Ciep, pois educação é um direito. Hoje estou aqui num reencontro comigo mesmo, algo que contribui para o meu futuro”, destaca Leonardo Melo, ex-aluno.

Alunos enfatizaram a responsabilidade da Prefeitura e o papel da comunidade escolar, sobre a demora na obra ao qual contribui para a perda da identidade das crianças pelo CIEP. Eles ainda questionaram quando vão retornar ao prédio. Desde o início do restauração, os alunos do diurno estão estudando de forma compartilhada na Escola Municipal Vereadora Marielle Franco, que fica no Salsa e Merengue. Já os alunos do turno noturno estão estudando na Escola Municipal Paulo Freire.


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