Amor incondicional

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Agamenon lutou pelas conquistas e mudanças na favela

Maré de Notícias #100

Hélio Euclides

Joaquim Agamenon Santos nasceu em Fortaleza, no Ceará, no ano de 1936. Aos nove anos de idade, veio para o Rio de Janeiro trabalhar como cobrador. Conheceu Nadir de Araújo Santos, apelidada de Dinda, isso há 52 anos. Após dois anos se casaram. Começavam aí duas paixões para toda a vida de Agamenon: a Dinda e o Morro do Timbau. Apresentado à associação de moradores por Hélio Borges, que era o presidente, Agamenon se encantou e foram 32 anos à frente da instituição.

Palavra nascida do tupi-guarani, “thybau” quer dizer “entre as águas”. A ponta (ou Morro do thybau), uma das únicas localidades em terra firme, era constituída de rochas. Com a abertura da Avenida Brasil, em meados da década de 1940, a ocupação nessa área tomou impulso. Em 1954, fundou-se uma das primeiras Associações de Moradores de Favela do Rio de Janeiro. Segundo o Censo Maré 2013, o Morro do Timbau tem 6.709 habitantes e 2.359 domicílios.

Agamenon desejava o básico, como água e luz. Foi o pioneiro do projeto de colocar caixas d’água no Timbau. Foram três, uma está em funcionamento até hoje. Sem falar na vez em que, com seu pulso de ferro, conseguiu que ligassem a energia elétrica. “No dia de Natal faltou luz no Morro, e veio uma equipe da Light, que não encontrava a solução, então ele ofereceu a própria casa para os funcionários da empresa passassem a ceia, mas que eles não fossem embora. Agamenon foi para a Associação e chorou por não poder fazer nada. Mas a luz retornou”, destaca Dinda.

Ela lembra das lideranças da época, com as quais o marido tinha proximidade. “Pedro Justino, Manolo, Clóvis, Teófilo Dias, Atanásio, Zé Careca e Euclides. Eram lideranças de sangue quente. O Atanásio era o calmo do grupo. Até hoje ele é calmo até para falar”, conta.

Para Dinda, o marido foi um marco para o Morro, um local antes e outro depois de sua atuação. “Corria atrás quando as bombas hidráulicas das caixas queimavam, até que comprou reserva. Pegava mensalidade dos moradores, mas prestava conta e fazia ata”, revela.

“Agamenon é do meu tempo. Morreu de câncer, aos 82 anos. Ele foi chefe da associação de moradores durante alguns anos. Só fez coisa boa, gostava da amizade dele, da conversa, não elogio só porque ele morreu. Era uma pessoa que não tinha inimigo”, comenta Bento Valadares, o sapateiro do Morro do Timbau. Marainez Ferreira, distribuidora do Maré de Notícias no Morro do Timbau, percebe que a favela perdeu um amigo. “No passado ajudou muito a comunidade. Uma pessoa do bem, que brincava com os moradores. Adorava ler o Jornal Maré de Notícias”, lembra.

Para os vizinhos, Agamenon era um visionário. “Trabalhou na associação e na sua vendinha. Uma pena que não está mais aqui. Não me esqueço do serviço que ele implantou de autofalantes, que tocava música, falava do aniversário das pessoas e até dava recado para os namorados”, relembra Telma Porto. Para Elenir Valadares, Agamenon marcou a história do território. “Corria atrás, pelo bem de todos”, resume.

 “Era perseverante e tinha vontade de mudar o morro. Aqui, quando chovia, virava lama. Então, ele pedia sobra de cimento e asfalto do metrô, e quantas vezes na madrugada estava ele a espalhar o material”, relembra Dinda. Ela acredita que, com esses atos, ele conseguiu respeito. O tempo para a família era pouco. “Era do trabalho para a associação, só chegava em casa às 10 horas da noite. Deixava de ver a mãe e ia para a praia correndo para voltar para a associação. Muitos ainda lembram dele, da melhoria que trouxe para os moradores”, diz. Agamenon morreu em 31 de outubro de 2018, e deixou saudades. Pelo visto, muitas.

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