Ano novo com bebida, comida e coronavírus

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Em meio à pandemia, janeiro chega com cuidados redobrados com a saúde

Maré de Notícias #120 – janeiro de 2020

Por Hélio Euclides

Peru, chester, rabanada, pernil, vinho – tudo isso e muito mais faz parte das ceias em dezembro, além das simpatias e superstições de réveillon que envolvem comer lentilhas, uvas verdes e sete sementes de romã. Isso pode significar um grande problema nos dias seguintes. Depois das festas surgem a ressaca, a dor de cabeça, os enjoos e outras complicações; ninguém quer passar o feriado se sentindo mal. Com o fim das comemorações de final do ano, chega também o arrependimento dos excessos e as promessas de alimentação regrada e mais exercícios. 

Para evitar esses aborrecimentos, a nutricionista Márcia Teixeira, da Coordenação de Área Programática 3.1, dá dicas para uma boa alimentação não só nas festas, mas para todo o ano. “O que ocorre nessas comemorações é o consumo de frituras, comidas gordurosas e doces, o que sobrecarrega o fígado. Depois disso tudo, é importante comer alimentos que colaborem na desintoxicação, como fibras e frutas – preferencialmente, escolha aquelas que estão na safra, como melão, melancia, laranja e maçã, para somar valor nutritivo com economia. Uma boa forma de consumo é a salada de frutas”, ensina. Já sobre o consumo de bebidas alcoólicas, a médica recomenda comer algo antes e não exagerar para evitar a ressaca, além de beber água antes, durante e depois, para impedir a desidratação. 

Nessa virada de ano, a nutricionista aconselha começar com o pé direito, com uma alimentação mais saudável, com verduras, legumes, frutas e pão integral. Ao escolher a proteína (no caso dos não vegetarianos), sempre prefira as carnes mais magras, como frango e peixe, preparados grelhados, cozidos ou assados. Com o calor do verão, o ideal é beber bastante líquidos, como água e sucos conhecidos como detox, feitos com frutas bem higienizadas e água filtrada (o açúcar pode ser substituído por água de coco). Outra bebida que faz bem para o organismo é o chá, de qualquer tipo. O importante é tirar do cardápio o refrigerante. “É preciso se aproximar de alimentos naturais e se afastar dos processados. Falo que é necessário mais descascar do que desembrulhar. Isso deve ser a regra de ouro”, explica a nutricionista.

“Nas refeições, deve-se incluir grãos, frutas secas, sementes, arroz integral, aveia e feijão. Nesse período de pandemia é bom consumir mais fibras, que diminuem a ansiedade. Ela também pode ser combatida com uma boa mastigação, comendo bem devagar. Isso tem como resultado a diminuição da fome, que se refletirá na quantidade de alimentos consumidos”, diz. Ela acrescenta que é bom evitar o excesso de açúcar e sal. Já em relação a temperos, sempre usar os naturais, como alho, salsa, orégano e cebola – tudo aquilo que pode estar na horta das casas dos moradores da Maré. Mesmo sem saber de todas as recomendações da nutricionista, Lúcia Fátima Silva, moradora da Vila do João, faz a sua ceia sem exageros e diariamente tenta equilibrar os cuidados. “A tradição manda ter bacalhau. Há 37 anos, quando fiquei grávida e enjoei de pernil, não como mais carne de porco. A minha comida é sem doce ou gordura, pois meu marido tem diabetes”, diz. Já Luiz Carlos Araújo, morador da Vila dos Pinheiros, conta que mudou os hábitos depois de uma mistura de bebidas. “Na ceia sempre tem pernil assado e vinho. Nunca passei mal por comida. O que me marcou foi a vez em que a bebida não caiu bem. Comecei com cerveja, depois vinho, passei para a cidra e por fim, rum Montilla. O resultado foi uma baita ressaca. Fiquei o dia seguinte vomitando; só melhorei com água tônica”, lembra.

Carnes gordas costumam ser mais consumidas nesta época – Foto: Douglas Lopes

Equilibrando a alimentação

A dieta equilibrada é a que contém quantidade adequada dos alimentos necessários para assegurar os requerimentos nutricionais, assegura a Organização Mundial de Saúde (OMS). Daniela Cierro, vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrição, acrescenta que quem deseja começar uma dieta equilibrada precisa ter informações baseadas na ciência e, principalmente, a orientação de um profissional nutricionista para conhecer suas necessidades individuais. “O importante é comer pequenas quantidades, manter-se hidratado e consciente. As festas acabam rapidamente e a culpa acompanha muita gente ao longo do ano”, diz a profissional. 

Daniela destaca que o sobrepeso e a obesidade surgem a partir do aumento do consumo diário de calorias e de alimentos ultraprocessados, que contêm gordura e açúcar em grandes quantidades e mais aditivos, que não aumentam a saúde do ser humano e sim, o prazo de validade dos produtos nas prateleiras dos supermercados. “Geralmente percebemos que, para boa parte da população, um alimento saudável não é saboroso. Mas isso pode ser mudado. Afinal, quem não gosta de um macarrão com molho ao sugo e almôndegas, acompanhado de uma salada de alface e tomate? Saudável e gostoso”, finaliza.

Quem deseja começar uma dieta pode procurar uma unidade de saúde perto de casa. Dali, o paciente vai ser encaminhado para o Centro Municipal de Saúde Américo Veloso, na Praia de Ramos, que oferece atendimento de nutricionista.

No último relatório do ano, estado apresentou alto risco de contágio da covid-19

Um início de ano com pandemia

Márcia e Daniela concordam que, além de uma boa alimentação, a atividade física é essencial em tempos de covid-19 pois, além de controlar o peso, ainda ajuda a manter a saúde física e mental. Atividade física regular, hidratação, alimentação saudável, boas noites de sono e uma vida mais consciente, além de exames periódicos para prevenir doenças, compõem o bom caminho para uma vida saudável. 

Mas até fazer exercícios ficou mais difícil com a pandemia. Celso Roberto, que é atleta, confessa que o uso obrigatório da máscara nos treinamentos aeróbicos na rua ou academia dificulta a respiração. “É quase uma asfixia, algo desconfortável à beça. Eu continuo treinando, três vezes por semana. Uso máscara, mas a evolução não é a mesma coisa”, comenta. Roberto trabalha com corrida de rua e confessa que a pandemia trouxe o cancelamento dos eventos. Só no fim do ano é que alguns voltaram, seguindo várias medidas. “A galera, quando tem data de eventos marcada, treina pensando naquela corrida. Um exemplo é a meia-maratona, que o atleta treina por três meses pensando exclusivamente na prova. Sem eventos, o corredor não treina, fica desmotivado”, conta. 

Um guia contra a covid-19

Além dos cuidados com alimentação, é necessário ainda prestar atenção com a propagação do novo coronavírus no pós-festas. Sabe-se que o momento é de confraternização, mas os abraços, festas e aglomerações para comemorar os primeiros dias do novo ano precisam esperar, em prol de um bem maior. 

É justamente neste período, de saudade por conta do isolamento e do aumento vertiginoso de casos e mortes por covid-19, que é preciso ficar ainda mais atento e saber quais os cuidados necessários depois das festas, caso algum familiar venha a se contaminar com o novo coronavírus. Desde novembro, notou-se uma subida na curva de contaminações, que estava em queda. Como consequência, ao longo de dezembro vimos a ocupação de leitos para a doença nas redes pública e privada de saúde chegar a níveis alarmantes. No dia 27 de dezembro, o estado do Rio registrou 421.069 casos confirmados e 24.918 mortes, de acordo com o painel do governo do estado. Se a população ignorou esse fato nas festas de fim de ano, as boas vibrações do início de 2021 podem se transformar em preocupações com as pessoas que amamos e conhecemos.

Pensando nisso, foi desenvolvido o Guia de isolamento domiciliar para pessoas com covid-19. O material faz parte do Programa de Isolamento Seguro, um dos braços de atuação do Conexão Saúde, parceria da Associação Redes da Maré com a iniciativa Dados do Bem, a ONG SAS Brasil, o movimento União Rio, o Conselho Comunitário de Manguinhos e a Fiocruz, com financiamento da iniciativa Todos pela Saúde. A ação como um todo está em curso há três meses, oferecendo a possibilidade de um isolamento seguro dentro de casa, para casos mais leves que não necessitem de suporte hospitalar.

As orientações do guia tiveram a assessoria de Marília Santini de Oliveira, médica infectologista da Fiocruz. O guia é ofertado pela equipe social do programa de isolamento seguro, que conta com acompanhamento social, oferta de insumos, alimentação, orientação, acolhimento e acompanhamento social durante o período de desenvolvimento da infecção, além de monitoramento via telemedicina. 

“A partir do programa de isolamento domiciliar, a equipe achou que seria necessário um guia para ajudar os moradores da Maré, que tem confirmação ou suspeita de covid-19 e que estão sendo acompanhados pelo programa, a diminuir os riscos de transmitir o vírus para os seus familiares”, explica Camila Barros, pesquisadora da Redes da Maré. Dessa forma, o guia traz orientações sobre como organizar a casa depois do diagnóstico positivo para a infecção, abordando desde recomendações básicas, como distanciamento, uso de máscara e higiene, até organização do espaço do doente, desinfecção dos cômodos, preparo dos alimentos e convivência. O guia está disponível em http://www.redesdamare.org.br/br/publicacoes, mas é possível conferir algumas dicas abaixo.

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