Artigo: Para o CEASM e ‘vó’ Berenice

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Por Denilson Queiroz, em 04/03/2021 às 13h

Me chamo Denilson Queiroz, sou jornalista em formação e, nesse texto, decidi contar um pouco da minha trajetória. Embora não seja morador do Conjunto de Favelas da Maré, fiz parte do Centro de Ações Solidárias da Maré, o CEASM, período marcado por conexões, reencontros, descobertas e amor. Com isso, decidi reproduzir aqui uma publicação que fiz sobre o aniversário de 21 anos da iniciativa, publicada em minha rede social. 

”Tudo começou em 2015, quando decidi entrar em um curso, ofertado no Facebook, de jornalismo político. Àquela altura, eu não tinha qualquer contato com Comunicação, senão um sonho de garoto de um dia ser jornalista. Mas não fazia e nem tinha perspectiva de fazer faculdade. Meu medo era claro: boiar nas aulas e também atrapalhar meus futuros colegas de turma por não entender nada. Decidi arriscar. Tomei coragem. Ou melhor, minha tia me encheu de coragem e decidi fazê-lo. Me apertei um pouco na grana, mas segui. Toda segunda-feira tomava o metrô de Acari até Botafogo. Me sentia meio perdido na zona sul, mas voltava maravilhado com as aulas. E foi uma escolha acertada, a minha. Além de conhecer pessoas fantásticas (cito Ana Helena Tavares, Flavinha Cândido e Cid Benjamin), ao final do curso, o professor Cid (que me apoiou bastante) tentou fazer alguns contatos para que eu estudasse na faculdade em que ele deu aula. Num primeiro momento a coisa não aconteceu, então me foi proposto fazer o pré vestibular comunitário na Maré. Anotei o endereço, não avisei nada pro meu pai ou minha tia Socorro e apareci na Maré.

Mas a minha história com a Maré não começava ali. Minha avó paterna, a quem desde pequeno não tive muito contato por ter meus pais separados desde os meus quatro anos, sempre morou no Morro do Timbau. Eram raras as vezes em que eu ia visitá-la quando pequeno. Eu, que há anos não aparecia na minha avó e nem sabia ir sozinho, quando desci na passarela 8 senti de alguma forma relembrar o caminho da casa. Subi a ladeira, entrei pelos becos e quando dei por mim estava na Travessa Bela Vista, batendo à sua porta. Quando ela me viu imaginou, a princípio, que algo de ruim tinha acontecido com meu pai. Depois, passado o susto, me abraçou forte e com os olhos marejados me perguntava o que eu estava fazendo ali. Expliquei que iria estudar num tal Ceasm. Descobri que na verdade ele se localizava a poucos metros de sua casa e tudo ficou mais fácil. Foi o início de uma reaproximação que o destino tinha nos castigado de separar.

Passamos aquele ano juntos, me reaproximei dos meus primos e do meu tio Valdecir (que nos deixou ano passado). Conheci um lado da minha história que não tinha, até então, a oportunidade de conhecer.

Quanto ao Ceasm, desde o primeiro dia senti à vontade ali, entendendo a força e a importância do que é a coletividade. Mesmo com a minha timidez gritante tentei participar da maioria das atividades que eu pude. Fiz bons amigos, senti o que é o tamanho da força popular e a cultivar generosidade. Vivi, junto com os meus amigos educandos e educadores, todas as dificuldades que muitos favelados têm quando quer lutar por educação. E no fim consegui ingressar na mesma faculdade de jornalismo que havia tentado antes.

Costumo dizer que o Ceasm fez mais do que me ingressar na faculdade; construiu em mim algumas lições que vou levar pro resto da vida. Resgatou de volta laços familiares e me deu muitos outros laços afetivos.

Não tenho o costume de externar minha vida pessoal, mas é isso. 

Obrigado ao CPV CEASM por tudo que me trouxe. Te amo, vó Berenice!”.

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