Kaya Bee coloca o futuro climático da favela no debate global do G20
Do Conjunto de Favelas da Maré à conferência da 19ª reunião de cúpula do G20, a trajetória de Kaya Bee, moradora da Nova Holanda é um exemplo inspirador na luta por um futuro mais justo e sustentável. Aos 27 anos, mãe, ativista climática e estudante de jornalismo, ela carrega a força e a resiliência de quem enfrenta os desafios da vida na favela com a determinação de transformar a realidade para os mareenses.
O encontro acontecerá nos dias 18 e 19 de novembro, aqui no Rio de Janeiro e será a primeira vez que líderes das 20 maiores economias do mundo estarão em solo brasileiro. A conferência coloca em debate os principais desafios que a humanidade enfrenta hoje, como as mudanças climáticas, a desigualdade social, a instabilidade geopolítica e a pandemia da COVID-19. As decisões tomadas pelos líderes do G20 impactam significativamente a vida de bilhões de pessoas em todo o mundo.
Ativismo favelado no G20
A ativista climática atua junto aos “Jovens Negociadores pelo Clima”, na área de comunicação, fazendo a curadoria das informações sobre os grupos de engajamentos do G20. O projeto tem incentivo da Secretaria de Meio Ambiente do Rio de Janeiro e foi idealizado pela Tainá de Paula. Além disso, Kaya produz matérias nos territórios da Maré sobre mudanças climáticas e transição energética justa, com a participação da DIJO – Mídia Alternativa da Maré.
Em sua luta por um futuro sustentável para o planeta, ela reforça que a busca por justiça ambiental está intimamente ligada à luta por justiça social. Sua participação no G20 é um marco importante, pois leva para o debate global a perspectiva das favelas e territórios marginalizados, que são os mais impactados pelas mudanças climáticas. Ela conta a importância de ampliar a discussão sobre justiça ambiental com a participação das periferias: “É fundamental democratizar os diálogos para os territórios de favela e fazer a comunidade entender que também são pautas desses assuntos”, diz.
Kaya aponta a grande provocação da conferência: “O maior desafio do G20 é fazer as pessoas entenderem que eles não são apenas stands de publicidade, mas que são reuniões diplomáticas que tratam sobre pautas que impactam na nossa sobrevivência como comunidade, ainda mais se tratando de questões de meio ambiente e clima”, conta.
A jornada de uma sonhadora
Na Maré, Kaya sempre teve o sonho de ingressar na universidade. Mas o caminho não foi fácil e teve que enfrentar, infelizmente, uma decisão muito comum: desistir do sonho ou persistir na busca por um futuro melhor. “Eu vim pra Maré em busca do sonho de me tornar universitária e não tem sido nada fácil trilhar esse desafio. Vencer através da educação em um território de favela vai além da persistência, pois os atravessamentos sociais são infinitos, seja a falta de segurança, a falta de acesso a políticas públicas e assistência social. Assim como a maioria dos jovens da minha idade, precisei viver entre a cruz de resistir em um sonho de vencer na vida através da educação ou na necessidade de ter um emprego insatisfatório para sobreviver e criar os filhos”, conta.
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Mas a jornalista deixa claro que ser estudante na Maré é uma experiência única e transformadora, principalmente quando alinhada às causas sociais e à incidência de políticas públicas e foi neste território de resistência e criatividade que ela redescobriu a paixão pelos estudos: “Estudar nesse território é dinâmico, interativo, diferente de outras favelas, aqui podemos exercer minimamente um papel social que fora da favela nos é negado, como a oportunidade de ter uma capacitação profissional”.
Ela relata como a representatividade é fundamental para incentivar os mareenses a seguirem seus sonhos: “Acredito que as pessoas se influenciam com o sucesso do outro, vejo que todos os meus amigos nesse território hoje são professores, articuladores e desempenham um papel importante. Minha vivência não é muito diferente das mães pretas, minhas vizinhas, acho que a chave está naquilo que você está disposto a fazer para conseguir seus objetivos e eu uso meu filho e meus pais pra me segurar nessa motivação.”