Bicicleta vira ponto em comum para moradores da Maré pedalarem juntos

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Grupos apostam em atividades como corridas de bikes para ativar corpo e mente

Por Hélio Euclides, em 05/08/2021 às 07h. Editado por Edu Carvalho.

Cantada por Toquinho, Arnaldo Antunes, Marcos Valle, Pequeno Cidadão, Real Simone, Palavra Cantada, a ‘’musa’’ inspiradora bicicleta já se provou ser uma verdadeira amiga do indivíduo, além de colaborar com a saúde. Também vista como pilar na modalidade urbana, ainda contribui para o ecossistema do planeta. Na Maré dois grupos chamam atenção: o Bike Maré Livre, que realiza passeios, e o Vício do Bem, com seus integrantes nas práticas de corridas e turismo. 

O Brasil é o quarto produtor de bicicleta no mundo, com aproximadamente quatro milhões de unidades ao ano. Em reportagem de 2018 do Observatório do Terceiro Setor foi divulgado o resultado de um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), no qual o Brasil tem mais bicicletas do que carros. São 50 milhões de bicicletas contra 41 milhões de carros. A contradição é que apenas 7% dos brasileiros utilizam a bicicleta como meio de transporte principal. O problema foi mostrado em um levantamento feito em 2014 pelo site G1 junto às prefeituras das capitais, que identificou apenas 1.118 quilômetros de ciclovias, o que representa apenas 1% do total da malha viária nas cidades.

Apesar das dificuldades de um país que não incentiva o uso da bicicleta, o grupo Bike Maré Livre não abandona os “camelos”. Tudo começou em junho de 2020, por meio de Wilson Barbosa, conhecido como professor Gracie. O objetivo inicial era levar uma vida mais saudável e também melhorar a saúde mental das pessoas. O Professor começou pedalando e aos poucos foi incentivando e motivando aos demais. Hoje o grupo, com pouco mais de um ano de existência tem superado as expectativas e assim levando todos a lugares muito mais distante do que pensaram em ir”, conta Franklin Alexandre, mais conhecido como Alexandre Show, líder da ação. 

Os passeios do grupo começam sempre no mototáxi da Rua Teixeira Ribeiro e na maior parte das vezes seguem para Zona Sul e Ilha do Governador. Também existem os treinos longos, os quais já ultrapassaram a marca de 200 quilômetros, como o que fizeram até Mangaratiba. O Bike Maré Livre hoje conta com cerca de 90 participantes ativos. No final de julho o grupo participou do Passeio Ciclístico Cultural, em São Cristóvão. No passeio ocorreu uma aula campo com as histórias do bairro e terminou na Quinta da Boa Vista. Show sempre procura explorar lugares fora do cotidiano e pontos turísticos. Muitas das pedaladas são com subidas, com o objetivo de fortalecer o corpo e aprender sempre um pouco mais sobre o lugar. Esses amantes da bicicleta já pensam em outros passeios até o final do ano. “Nosso projeto é o mais breve possível fazer um evento grande de proporção de atingir cerca de 500 pessoas, num passeio pela Ilha do Fundão. Mas sem esquecer que somos uma família, que todo mês nos reunimos não apenas para pedalar, mas para uma confraternização, com café da manhã”, destaca. Quem quiser conhecer a equipe é só acessar Facebook ou Instagram: @bikemarelivre. 

Correr faz muito bem

Outro grupo da Maré que vive à procura de uma vida mais saudável é o Vício do Bem. Celso Roberto, professor de educação física é o líder da equipe. Ele orienta e motiva a sua galera a prática de exercícios físicos, em especial por meio da corrida de rua. “Pelo menos um ou dois domingos por mês ocorre um treino pelo Rio a fora ou participamos de eventos de corrida. Tanto nos passeios que chamamos de turistando, quanto nas corridas oficiais, tudo é bem democrático. Corre cada um no seu ritmo, cada um no seu tempo. Ao fim sempre finalizamos juntos, ninguém fica para trás”, comenta.

A corrida de rua entrou na vida de Roberto como uma terapia. “Depois de um dia corrido de trabalho e stress diversos, corria no Fundão para relaxar pelo menos três vezes por semana. Em 2016 quando dava aula numa academia só pra mulheres na Vila do João, minhas alunas ficaram interessadas quando souberam que eu corria e trabalhava em eventos. Um dia as levei para treinar no Fundão, logo após passamos a participar de eventos e não paramos mais”, relembra. 

Nos treinos turistando a equipe já participou de caminhadas que iam do Jardim botânico até a Vista Chinesa, Pontal até Grumari, Estação Mato Alto até Praia de Guaratiba, pelos 15 quilômetros da orla de Niterói, Alvorada até Praia da Joatinga, Fiocruz até Museu do Amanhã e também pela Serra do Vulcão no Parque Municipal de Nova Iguaçu. Já as corridas foram a Tradicional São Silvestre, em São Paulo, a Garoto, no Espírito Santo e a Volta da Lagoa da Pampulha, em Minas Gerais. O ponto de partida é a passarela seis, na Vila do João.

Na cidade do Rio, a equipe já participou de eventos em praticamente todas as ruas e bairros tradicionais. Mas revelam que o quintal do grupo é o Fundão, onde ocorrem os treinos, pois quase todos são da Maré. Para provar esse amor, o Vício do Bem colocou um totem no caminho da Maré para a Cidade Universitária, próximo à Linha Amarela. Uma homenagem para as equipes e pessoas que praticam atividades físicas no Fundão. O totem fica no lugar onde há um ano o mareense Rodrigo Leite foi atropelado e chegou a óbito. 

Alguns membros da equipe também praticam as pedaladas, defendem que a bicicleta é um meio de transporte muito ecológico, por ser zero emissão de gás. Só ficam triste quando assistem pessoas indo trabalhar na bike, tendo que transitar entre os carros nas vias expressas. “Infelizmente essa prática é pouca valorizada pelos órgãos públicos, que podiam dar mais suporte com áreas seguras para exercícios e leis especificas. Sei que é um investimento caro, envolve várias questões, mas uma ciclovia que ligasse a Maré ao Centro da Cidade seria um sonho”, sugere. 

O grupo atualmente conta com 90 alunos e atletas, que têm diversos objetivos, em especial a grande maioria procura o emagrecimento, um estilo de vida mais saudável e qualidade de vida. “Meu papel é motivar as pessoas a viverem de forma mais ativa e saudável. Nos nossos treinos e eventos tenho o prazer de ver isso de forma concreta. Meu sentimento é de missão cumprida”, diz Roberto. Para quem deseja começar nos passeios ou corridas, o professor lembra que o último evento percorreu 12 quilômetros até o Cristo Redentor, mas para esse feito a equipe treinou cerca de três meses. Roberto indica para os futuros atletas primeiro buscar orientação profissional e depois procurar lugares seguros e próprios para as atividades. Para mais detalhe da equipe é só acessar Instagram: @viciodobem. 

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