Mulheres empreendedoras da Maré contam como é comandar e manter o próprio negócio

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Por Amanda Pinheiro, em 05/08/2021 às 07h. Editado por Edu Carvalho

Começar um novo negócio não é fácil, mas muitas pessoas acreditam e apostam na realização dos sonhos através da criação da própria empresa. Ao longo dos anos, as mulheres vêm ganhando protagonismo nesse meio e, segundo o Sebrae, cerca de 9,3 milhões de mulheres são empreendedoras no Brasil, o que representa 34% de todas as pessoas proprietárias de negócios no país. 

Na Maré, a situação não é diferente. Ao caminhar pelas favelas do conjunto, é possível observar diversos pequenos empreendimentos, desde lojas de roupas até cozinhas exalando cheirinho de comida, com mulheres na administração. É o caso do Sabor da Maré, localizado na Nova Holanda, comandado por Janete Félix, de 52 anos. O bistrô foi inaugurado em julho de 2013, inicialmente como uma pequena pensão, mas agora o negócio cresceu e atrai centenas de clientes.

“Nós somos felizes com nosso empreendimento. É uma troca, um precisa do outro, a gente atende o cliente que vem com sorriso no rosto, apesar de termos perdido muitos para a covid. É gratificante lidar com o ser humano e com a necessidade dele, que é a alimentação. Nesses anos, temos clientes que entendemos ser a extensão da nossa família, porque todo mundo se conhece”, relata. 

Durante a pandemia, muitos estabelecimentos fecharam, mas outros, devido à vacinação, mesmo que lenta, têm tentado manter o empreendimento funcionando ou retomar aos poucos. Janete conta que a movimentação no bistrô caiu muito, mas que segue as orientações sanitárias para continuar com o negócio.

“Nós modificamos as estruturas das mesas e colocamos o distanciamento de um metro e meio. Agora, os clientes não vão ao buffet, nós oferecemos álcool em gel e sabão para higienizar as mãos, nós escolhemos o que ele quer no prato e só pode ir ao banheiro com máscara”, explica Janete.

Imunizada com a primeira dose da vacina contra a covid-19, a empreendedora conta que, além de servir refeições, aproveita o momento para conscientizar os clientes sobre a gravidade da doença e incentivá-los a tomar o imunizante. 

“A maior dificuldade é fazer com que o cliente logo no início entendesse que não é uma doença qualquer, um resfriadinho. Hoje, nós temos a vacina. Graças a Deus e ao SUS temos uma vacina. Algumas pessoas chegam aqui e dizem que não vão se vacinar, mas a gente procura conversar e dizer o quanto é importante estarmos protegidos”, afirma ela que, perguntada se quer expandir os negócios, prefere manter apenas o Sabor da Maré da maneira que está, sobretudo pela situação crítica que a economia brasileira vive.

Remando contra a maré

Durante a pandemia, em 2020, quase 10 milhões de empreendedores (53,4 milhões para 43,9 milhões) encerraram seus negócios no Brasil. E as mulheres foram as mais impactadas pela crise, com uma diminuição de 62% contra 35% entre os homens. A pesquisa é do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), do Sebrae e do Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP). No entanto, na contramão do que se esperava, a esteticista Náira Inácio, de 28 anos, moradora Parque União, decidiu abrir o próprio empreendimento. 

“No início de 2020, pedi demissão do meu trabalho formal para abrir meu salão. Sendo que fui pega de surpresa pela pandemia. Mas em julho, consegui abrir um espaço pequeno próximo a minha casa. Com os cuidados necessários dei continuidade ao meu negócio e depois de três meses me mudei para um espaço maior, que é onde estou hoje”, conta. 

De acordo com Naira, o momento pandêmico atrapalhou seus planos, que chegou a pensar em fechar o salão em fevereiro de 2021. 

“O auxílio emergencial me ajudou a manter meu negócio. Após a mudança, voltei a me preocupar, porque o movimento de clientes diminuiu e ainda assim consegui manter, bem apertada, pagando apenas o aluguel do espaço, reposição dos materiais e minhas contas básicas — afirma ela que, em seu espaço, faz tudo ligado à estética, por isso reforça a importância dos cuidados sanitários. 

“Sempre estou de máscaras e ofereço aos clientes também. Faço sobrancelhas, cílios, depilação, estética facial e tudo isso requer proximidade. Minha irmã trabalha comigo, ela faz unhas simples e estética corporal. Temos álcool gel e, diariamente, antes de começar os serviços, limpamos o espaço”, explica.

Apesar do cenário repleto de dificuldades, Naira tem planos para o futuro, incluindo aulas de extensão de cílios para os moradores da Maré com a cobrança de um valor simbólico. Além disso, durante esse tempo, ela se mantém atualizada com cursos, aperfeiçoamento da profissão e conquistando a clientela, que tem ficado cada vez mais fiel.  

“Para o segundo semestre de 2021, espero conseguir terminar de montar meu espaço. Hoje, consigo permanecer um pouco mais tranquila porque fidelizei clientes e elas estão comigo há 1 ano, desde meu início. Agora em julho, completei 1 ano e estou muito feliz por olhar para trás e lembrar de todo esforço. E não imaginava estar como estou hoje”, conclui.

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