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Maré de Notícias abre edital para bolsista

Por Aline Fornel

As inscrições para o processo seletivo ocorrem até o dia 19 de Janeiro e podem ser realizadas através do link disponível nesta matéria

Através da Associação Redes de Desenvolvimento da Maré, e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) o jornal comunitário Maré de Notícias abre edital de seleção de bolsistas para integrar a equipe de uma das principais fontes de informação da Maré.

O objetivo é escolher um bolsista para uma carga horária de 20 horas semanais, atuando de forma híbrida durante um contrato de seis meses. Esta iniciativa visa fortalecer a equipe do Maré de Notícias e proporcionar uma oportunidade para estudantes dos cursos de Jornalismo, Produção Editorial e Letras.

Para participar da seleção, é necessário estar cursando, no mínimo, o 3º período dos cursos mencionados, apresentando uma declaração de matrícula recente. Além disso, é essencial que o candidato possua habilidades comprovadas em escrita e elaboração de textos jornalísticos, com conhecimentos desejáveis em WordPress, práticas de SEO e preferencialmente residência na Maré ou em bairros/favelas vizinhas.

O Jornal Maré de Notícias enfatiza o incentivo à candidatura de mulheres, pessoas negras, moradores de favelas e pessoas LGBTQIAPN+, reforçando o compromisso com a diversidade e inclusão.

O bolsista selecionado desempenhará um papel fundamental no suporte à produção de pautas, colaborando com os jornalistas do jornal impresso e online. Além disso, contribuirá na produção de conteúdo para as redes sociais e na elaboração de notas e matérias.

Equipe do Maré de Notícias realizando distribuição do jornal impresso pelas ruas da Maré . Fotografia: Douglas Lopes

Etapas de Seleção:

As inscrições para o processo seletivo estão abertas até 19 de Janeiro e podem ser realizadas preenchendo o formulário disponível neste link. Posteriormente, haverá a seleção dos inscritos e entrevistas online agendadas entre os dias 22 a 24 de Janeiro. Os resultados serão divulgados no dia 25/01 e as atividades terão início em 1 de Fevereiro.

Benefícios:

O bolsista selecionado receberá uma bolsa de extensão no valor de R$700,00 (setecentos reais), com pagamento realizado pela Superintendência Geral de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Para mais informações, acesse o edital completo.

‘Deixem as escolas voltarem para terem o que comer’, diz mãe sobre operações na Maré

Operações policiais por causa da demolição de prédios no Parque União afetam a rotina de moradores de todas as favelas da Maré

“Encarecidamente [peço] como mãe, deixem as escolas voltarem para as crianças terem o que comer […] Querem fazer o trabalho de vocês, beleza. Mas não interrompam as escolas não.” Já dizia o sociólogo e ativista Betinho, “quem tem fome, tem pressa”. 

É nesse contexto que trazemos o relato de Janete, moradora da Nova Holanda, na Maré. Apesar das operações que acontecem no território, Janete faz um apelo para as escolas voltarem a funcionar porque é onde seus filhos e netos têm ao menos uma refeição do dia garantida. O apelo da moradora, mostra que os impactos da operação, que segue neste sábado (31), no seu 13º dia consecutivo, vai além da falta de assistência às famílias atingidas ou ao debate sobre direito à moradia, mas também é sobre a fome. 

Embora Janete não esteja entre as pessoas atingidas pelas demolições realizadas pela Secretaria de Ordem Pública (SEOP), ela e sua família vivem o impacto dos serviços que são interrompidos nesse período. A fome é o que faz com que Janete coloque a segurança de sua família em segundo plano ao pedir o retorno das escolas mesmo durante as operações.

As crianças estão passando constrangimento por falta de alimento […] ta sendo muito difícil, não ta tendo nem mais o que comer. A gente [que é] mãe fica desesperada porque o alimento é pouco para família que é grande. Eu crio três filhos e quatro netos

Segundo o estudo da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua a Insegurança Alimentar (IA) se classifica em três níveis: leve, moderada e grave. Sendo este último marcado por residências em que as crianças, quando presentes, passam por privação severa no consumo de alimentos. A IA leve ocorre quando há preocupação com o acesso futuro aos alimentos e a qualidade da alimentação já está comprometida. Já a IA moderada é identificada quando, no período de referência, os adultos da família passam a enfrentar restrições na quantidade de alimentos disponíveis. Ainda de acordo com a pesquisa, a fome esteve presente em 3,2 milhões de residências brasileiras no ano passado.

Dois extremos

“Nossos filhos não tem peito de aço pra ir pra escola com essa operação”, esse é o relato de outra moradora evidenciando os dois extremos de vivências no território. Alguns se preocupam — justamente — com a segurança. Outros, além dessa preocupação, enfrentam a insegurança alimentar. E há aqueles que, além de temerem pela segurança e pela alimentação, também sofrem com o déficit habitacional, agravado pelas demolições promovidas pela SEOP.

Enquanto o Conjunto de Favelas da Maré vive seu 13º dia consecutivo de operação no território, neste sábado (31), as escolas públicas e privadas, os serviços de saúde e o cotidiano dos moradores seguem afetados durante os chamados dias úteis e dias letivos nos casos dos estudantes. Desde o início das operações, as escolas Ciep 326 César Pernetta e o Colégio Estadual Professor João Borges de Moraes que juntas atendem 1.424 alunos seguem fechadas, além das escolas municipais e as Clínicas da Família (CF) que seguem ao longo de toda a semana com funcionamento parcial ou total afetado.

Tânia Maria da Silva, 56 anos, paciente da CF Jeremias Moraes da Silva, na Nova Holanda, relata sua dificuldade de manter o acompanhamento médico.

“Já marquei três vezes consulta para tratamento de hipertensão e não consegui em função das operações policiais esse ano. Quando voltar ao atendimento vou remarcar e deve ser lá para outubro. Essas operações atrapalham a nossa vida, os prejudicados são os moradores”.

Operação deste sábado (13)

Segundo relatos, há um número expressivo de agentes das especializadas da Polícia Civil como Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA), Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), Batalhão de Operações Especiais (BOPE), entre outros circulando pelas ruas da Maré. Além disso, vídeos mostram policiais forçando a porta de estabelecimentos comerciais.

Pedimos informações para a polícia sobre a operação de hoje, inclusive questionando sobre essas ações em estabelecimentos comerciais. Também questionamos a SEOP sobre o andamento das demolições e a Secretaria Municipal de Saúde sobre o funcionamento das clínicas da família. No entanto, até o fechamento desta matéria não obtivemos resposta.

O Maré de Direitos, projeto do eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça, da Redes da Maré, acolhe situações de violações de direitos no WhatsApp (21) 99924-6462 e também nos equipamentos da organização.

Encerramento de seminário na Maré destaca a importância da educação como ferramenta de cidadania

Evento aconteceu durante a 10ª operação policial consecutiva no território realizada pela Secretaria de Ordem Pública (SEOP)

O último dia do Seminário de Educação na Maré que tem como tema central os “Impactos da Violência Armada no Direito à Educação” abriu, nesta quarta feira (28), com a mesa “Trajetórias Mareenses”.  Composta pelo influenciador Raphael Vicente, pelos pesquisadores Leonardo Melo e Shirley Rosendo, a mesa abriu o debate sobre as mazelas da educação pública nas periferias vivenciadas por eles e ainda assim, sobre o impacto social positivo através do acesso ao ensino público. De acordo com a Redes da Maré, o seminário atraiu um público de mais de 370 pessoas.

O evento contou com a participação de representantes de diversas instituições, como o Projeto Uerê, a Fiocruz, o Ministério Público e a Defensoria Pública. Apesar de as Secretarias Estadual e Municipal de Educação terem enviado representantes, a maior parte do público e palestrantes presentes criticaram a breve participação deles e a falta de apresentação de soluções para mitigar os impactos.

O seminário acontece durante a 10ª operação policial consecutiva no território realizada pela Secretaria de Ordem Pública (SEOP), que segundo a pasta, não tem previsão de término.

Para Leonardo Melo, doutor em Políticas Públicas e pesquisador interdisciplinar, as ações não são pontuais, mas fazem parte de um projeto que “mantém quem não tem informação, sem informação”. 

“Toda essa dinâmica da violência urbana, da falta de acesso a serviços públicos, na verdade, a falta do direito à cidade, a dificuldade que os territórios populares enfrentam nesse sentido impacta de uma maneira muito frontal elementos que são muito importantes para a construção da própria cidadania, como é o caso da educação. É inadmissível, deveria ser inadmissível para a cidade do Rio de Janeiro, para o Brasil, tantos dias com escolas fechadas, tantos dias sem acesso a direitos que são básicos e que são garantidos pela Constituição.”, analisa.

Nesta quarta-feira (28), devido ao décimo dia consecutivo de operação, duas escolas estaduais que atendem cerca de 1.400 alunos na Maré, não abriram.

Nas outras duas mesas, o debate girou em torno de “Ideias para a construção de novas narrativas sobre violências e educação na Maré” e “Desafios para a garantia da efetividade do direito à educação e à segurança pública”.

Após o fotógrafo e professor Francisco Valdean falar sobre a importância da imagem como uma construção de memória do território. Jéssica Pires, jornalista e pesquisadora na TV Brasil ressalta o papel do jornalismo como uma ferramenta pedagógica que também contribui nesse lugar. 

“A gente não pode esquecer que o jornalismo, ele tem um papel educativo. O jornalismo, ele tem um papel de construção, que ele tá muito também junto, né? Esse lugar da imagem, e essa responsabilidade de construção de memória. […] Quando o Maré de Notícias produz uma matéria sobre a história do Odir, que tá aqui, por exemplo, enfim, tantas pessoas e coisas, a gente está construindo algo que vai ficar. E se a mídia comunitária não fala, quem é que vai falar? Então, a gente tem que lembrar e não deixar às vezes a nossa ingenuidade ou a agilidade das coisas que vão acontecendo no dia a dia, esquecer de que a gente tem um papel central de educação, de formação e de construção de memória”, afirma.

Além da sala de aula

Segundo dados do projeto Toda Menina na Escola, realizado pela Redes da Maré, de abril de 2020 a maio de 2023, foram identificadas 860 meninas e 775 meninos, de 5 a 20 anos, fora da escola ou infrequentes. 

Pensando na questão da segurança pública, como um conjunto de medidas estatais que visam o bem estar social, e consequentemente o direito ao acesso à educação. A professora do CIEP Gustavo Capanema, Jane Trajano contribuiu com o debate:

“Antes da negação do direito à educação a gente tem um quadro de negação de muitos outros direitos, né? Direito à moradia, direito ao saneamento básico, direito de ir e vir, então eu penso que as classes populares ainda enfrentam, uma grande lacuna de muitos direitos, mas eu penso que a educação tem um papel fundamental. Eu vou dizer isso a partir da minha própria história, porque foi na escola pública, na Maré, que eu me constituí.”, ressalta.

O Maré de Direitos, projeto do eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça, da Redes da Maré, acolhe situações de violações de direitos no WhatsApp (21) 99924-6462 e também nos equipamentos da organização.

Seminário de Educação na Maré acontece durante a 9ª operação policial consecutiva

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Evento reforça a importância do diálogo com o poder público para pensar a educação das crianças e adolescentes

Hélio Euclides e Lucas Feitoza

Com o tema “Impactos da Violência Armada no Direito à Educação” e apesar do 9º dia consecutivo de operação policial, o Centro de Artes da Maré (CAM) abriu as portas nesta terça-feira (27) para o primeiro dia do Seminário de Educação na Maré. Segundo a organização, 228 pessoas compareceram ao evento. Nesta quarta-feira (28), o evento segue com a programação normal contando com especialistas, pesquisadores, professores e moradores impactados pelo tema. Interessados devem se inscrever neste link.  

Um dos assuntos mais abordados durante o primeiro dia do seminário foram os dias de aulas perdidos devido às operações policiais. Este ano os alunos da Maré já estão há quase um mês sem aulas. As duas escolas estaduais da Maré que atendem mais de 1.400 alunos estão fechadas desde o dia 19, quando começaram as operações para demolição do prédio no Parque União, uma das 15 favelas que compõem a Maré. 

Izabel Sabbatino, diretora do Ciep 326 César Pernetta, lamenta as dificuldades do aprendizado causadas pela operação policial. Ela explica que as crianças da Maré, assim como os adultos, não são capazes de chegar na escola depois de uma operação policial e dar conta de absorver o ensino: “São várias coisas que têm interferência na aprendizagem. A violência armada é mais uma” afirma. Ela completa dizendo que os diretores das escolas não são responsáveis pelo fechamento das escolas, mas sim, a segurança pública: “O César Pernetta vai ser sempre impactado enquanto essas operações continuam e nós vamos continuar fechados” afirma.

A coordenadora do Eixo Direto à Segurança Pública e Acesso à Justiça e mestre em segurança pública pela Universidade Federal Fluminense, Liliane Santos, expõe que há uma negação de direitos aos moradores “[os direitos] estão sendo negados, por não poderem estudar, sair de casa, praticar esporte e terem acesso ao lazer e cultura.” Ela completa que os dados do 8º Boletim Direito à Segurança Pública são necessários para criação de estratégias que impactem as políticas públicas.

Maria dos Prazeres Sales, é mãe atípica de uma criança autista de 5 anos, o Isaías. Ela conta como que seu filho e ela são impactados pela operação policial. “Ele ama estudar. A terapia do Isaías é a escola, tudo que ele aprendeu foi na escola, e o Estado está negando o direito dele principalmente no mundo atípico, que eles deveriam proteger.” desabafa.

Diálogo com órgãos públicos 

O evento contou com a presença de lideranças da Maré e representantes de órgãos públicos. Além de membros da Redes da Maré, representantes do Uerê, Fiocruz, Secretaria Estadual e Municipal de Educação também compareceram. A organização convidou também o Ministério da Educação (MEC) mas nenhum representante compareceu ao evento alegando insegurança. 

Sobre isso Eliana Sousa, diretora da Redes da Maré, comenta: “O seminário é para pensarmos o acesso à educação e aprofundar a garantia dos direitos. Olhar o cenário e pensar os caminhos a partir dos órgãos públicos que trabalham educação. São quase 20 mil alunos, se equipara a um município de médio porte, tendo uma rede de escolas maior do que Niterói. Protesto que o MEC não está aqui presente, por medo e não saber dizer sobre o que passamos.”

Na ocasião, a subsecretária de planejamento e ações estratégicas da Secretaria Estadual de Educação falou sobre o sonho de um futuro onde a Maré seja transformada pela educação e reforçou a importância do diálogo: “Pensamos na possibilidade do diálogo e da escuta. Falar a cada aluno e professor para fazerem o melhor, pois a transformação vem da escola.” 

Mais um dia de impacto no aprendizado e na saúde

A Secretaria Municipal de Educação informa em nota que 33 escolas na Maré funcionaram hoje com aulas presenciais. Outras 13, que são mais próximas ao Parque União, permaneceram fechadas. A nota completa que “Para essas unidades, a Secretaria adotará estratégias pedagógicas visando à recomposição das aulas, como reforço escolar e aulões temáticos”.

A Secretaria de Estado de Educação diz que as duas escolas estaduais da Maré, o Ciep 326 – César Pernetta e o Colégio Estadual Professor João Borges de Moraes, não estão abrindo desde a última segunda-feira (19/08). Juntas as unidades atendem 1.424 alunos. 

A pasta informa ainda que conteúdos pedagógicos perdidos são repostos para evitar prejuízos aos alunos.

As clínicas da Família Jeremias Moraes da Silva e Diniz Batista dos Santos mantêm o atendimento à população. Entretanto, sem realizar atividades externas no território, como as visitas domiciliares.

O Seminário de Educação na Maré continua amanhã com mesas abordando a comunicação sobre o impacto da segurança pública e desafios para a garantia de direito na educação. O Centro de Artes da Maré fica localizado na Nova Holanda, próximo à passarela 10, na Rua Bitencourt Sampaio, 181. Saiba mais nas redes sociais da Redes da Maré e acompanhe nossa cobertura completa.

Maré recebe seminário sobre impactos da violência armada no direito à educação

Estarão presentes autoridades públicas, pesquisadores, educadores, responsáveis por alunos mareenses, moradores do bairro e representantes de instituições locais

A Redes da Maré realiza, nesta terça e quarta-feiras (dias 27 e 28) de agosto, das 9h às 18h, no Centro de Artes da Maré, a 5ª edição do Seminário de Educação da Maré, que este ano será dedicado à reflexão sobre os impactos da violência armada no direito à educação na Maré. Confira a programação no final desta matéria.

Em parceria com o Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Favelas e Espaços Populares (NEPFE) da Universidade Federal Fluminense e com apoio do Fundo Malala, o evento vai debater o tamanho dos efeitos da violência armada na educação dos estudantes da Maré, apontando novos diálogos, capazes de garantir o direito à educação no território. Também haverá um painel de dados e pesquisas sobre o tema. A inscrição é gratuita.

Estarão presentes autoridades públicas, pesquisadores, educadores, jornalistas, psicólogos, artistas, responsáveis por alunos mareenses, moradores do bairro e representantes de instituições locais.

O bairro Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro, é formado por um conjunto de 15 favelas, onde vivem 140 mil pessoas e há 49 escolas públicas (45 municipais e quatro estaduais), com cerca de 20 mil alunos, entre crianças e adolescentes, e 1.200 professores. Somente no primeiro semestre letivo de 2024, esses estudantes perderam 20 dias de aulas, 10% dos dias previstos, por conta de operações policiais no território.

Dados do impacto da violência armada

Em 2023, segundo dados do 8º Boletim Direito à Segurança Pública na Maré, foi quase um mês de escolas fechadas devido a 34 operações policiais realizadas ao longo do ano. O Boletim Direito à Segurança Pública na Maré, da Redes da Maré, mostra que, entre 2016 e 2023, foram 146 dias com aulas suspensas e escolas fechadas em decorrência de operações policiais, o que equivaleria a 73% de um ano letivo perdido, em 6 anos, para alunos que residem na Maré.

Programação

27/08

8h30 – 9h
Credenciamento e coffee break

9h – 9h30
Abertura
Andreia Martins – Redes da Maré
Eblin Farage – Escola de Serviço Social UFF

9h30 – 10h30
Painel de dados sobre a Maré
Lançamento do Boletim “Análises: o direito à educação na Maré” – Alessandra Pinheiro e Moniza Rizzini – Redes da Maré
Apresentação “8ª Boletim Direito à Segurança Pública na Maré” – Liliane Santos – Redes da Maré
Levantamento dos impactos da violência armada na educação na Maré – Eblin Farage – Escola de Serviço Social UFF

10h30 – 13h
Mesa 1: Desafios para garantia do direito à educação em territórios afetados pela violência armada: diálogos com o poder público
Roberto Wagner Rodrigues – Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino do MEC
Alessandra Santos – Professora e Coordenadora de Apoio à Gestão Escolar da Secretaria Municipal de Educação do RJ
Maria Cristina Silveira – Superintendência de Projetos Estratégicos Secretaria Estadual de Educação
Mediação: Eliana Sousa Silva – Redes da Maré

13h – 14h30
Intervalo para almoço

14h30 – 17h30
Mesa 2: Processos de aprendizagem, adoecimento e violências
Zoia Ribeiro Prestes – Faculdade de Educação UFF
Maria dos Prazeres do Nascimento Bastos de Sales – mãe representante da EDI Maria Amélia Castro e Silva Belfort
Izabel Sabbatino – Ciep 326 Prof César Pernetta
Irene Rizzini – Serviço Social PUC-Rio e Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância
Yvonne Bezerra de Mello – Professora, mestre em Políticas Pública e fundadora do Projeto Uerê
Mediação: Luca Lima – psicólogo do Maré de Direitos da Redes da Maré

17h30
Coffee break e encerramento

28/08

8h30 – 9h
Credenciamento e coffee break

9h – 10h30
Mesa 1: Trajetórias mareenses
Leonardo Melo – doutor em Políticas Públicas e pesquisador interdisciplinar
Shyrlei Rosendo – doutoranda em Educação pela Unirio e pesquisadora
Raphael Vicente – empresário, produtor de conteúdo e ator
Mediação: Affonso Dalua, coordenador do jornal Maré de Notícias

10h30 – 13h
Mesa 2: Ideias para a construção de novas narrativas sobre violências e educação na Maré
Jéssica Pires – comunicadora comunitária e pesquisadora do Sem Censura TV Brasil
Rafael Galdo – editor de Rio do jornal O Globo
Francisco Valdean – educador, fotógrafo e curador independente
Kleber S. Mendonça – Instituto de Arte e Comunicação UFF
Mediação: Jota Marques, educador popular e comunicador

13h – 14h30
Intervalo para almoço

14h30 – 17h30
Mesa 3: Desafios para a garantia da efetividade do direito à educação e à segurança pública
Eufrásia Maria Souza das Virgens – Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro
Julio José Araujo Junior – Ministério Público Federal
Rogério Barbosa – Instituto de Estudos Sociais e Políticos UERJ
Eblin Farage – Escola de Serviço Social UFF
Mediação: Miriam Krenzinger – Observatório dos Conselhos Tutelares da Escola de Serviço Social da UFRJ

17h30
Coffee break e encerramento

Mais um dia letivo com cerca de 20 escolas fechadas na Maré devido operação policial

Nesta segunda-feira (26), Maré sofreu a 31ª operação policial do ano que resultou em escolas e postos de saúde fechados

As notas dos órgãos públicos são protocolares. Iguais – ou muito parecidas – das que já noticiamos nas outras quase 30 vezes só este ano. 

“A Secretaria Municipal de Educação informa que as 24 escolas localizadas na área da operação policial, na Maré, não abrirão nesta segunda-feira”, “A Secretaria de Estado de Educação esclarece que possui apenas duas escolas na região afetada, o Ciep 326 – César Pernetta e o Colégio Estadual Professor João Borges de Moraes, que juntas atendem 1.424 alunos. Por segurança, ambas não abriram nesta segunda-feira”, além da Secretaria de Municipal de Saúde que confirmou o fechamento da Clínica da Família (CF) Jeremias Moraes da Silva e a suspensão das atividades externas, como as visitas domiciliares, da CF Diniz Batista dos Santos.

Além da operação da Secretaria de Ordem Pública (SEOP), que segue acontecendo no Parque União sem previsão de término, o Conjunto de Favelas da Maré também sofreu nesta segunda-feira (26), uma operação com Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) que atuaram na Nova Holanda e no Parque União. Segundo a Polícia Militar, a operação, que ocorreu na parte da tarde, se deu a partir de uma denúncia anônima sobre um local utilizado como depósito de cargas roubadas.

Com isso, moradores relataram som de tiros nos dois territórios por volta das 14h e 15h.

Dados do impacto da violência armada na educação

Em 2023, segundo dados do 8º Boletim Direito à Segurança Pública na Maré, foi quase um mês de escolas fechadas devido a 34 operações policiais realizadas ao longo do ano. O Boletim Direito à Segurança Pública na Maré, da Redes da Maré, mostra que, entre 2016 e 2023, foram 146 dias com aulas suspensas e escolas fechadas em decorrência de operações policiais, o que equivaleria a 73% de um ano letivo perdido, em 6 anos, para alunos que residem na Maré.

Os dados alertam para o tamanho do problema considerando que em 2023 foram 34 operações durante todo ano, e agora em 2024, já estamos na 31ª operação ainda faltando quatro meses para o fim do ano. 

Também por isso que este ano a reflexão dos “Impactos da violência armada no direito à educação na Maré” é tema do 5º Seminário de Educação na Maré, que acontece nesta terça e quarta-feiras no Centro de Artes da Maré.

Sobre as aulas que têm sido perdidas, as secretarias estadual e municipal de educação informaram que o conteúdo pedagógico será reposto para amenizar esses impactos. No entanto, não informaram de que maneira essa reposições vão acontecer. 
O Maré de Direitos, projeto do eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça, da Redes da Maré, acolhe situações de violações de direitos no WhatsApp (21) 99924-6462 e também nos equipamentos da organização.

Comércio afetado e moradores cerceados pelo impacto das operações na Maré

Sexto dia consecutivo de operação gera impactos para além das casas destruídas 

A tensão e insegurança tomam conta de um território que geralmente é cercado de alegria, descontração e trabalho principalmente aos finais de semana. Sim, trabalho. É no final de semana que os comércios da Maré ‘bombam’ de gente, sejam os bares, as lojas, salões ou as feiras. Neste sábado (24), quando se completa o sexto dia consecutivo de operação da Secretaria de Ordem Pública (SEOP) em conjunto com as Polícias Militar e Civil, equipe do Maré de Notícias presenciou policiais a pé circulando na feira da Nova Holanda.

Edna Alves, de 42 anos, proprietária do Salão Espaço Sempre Solto, conta que adquiriu sua loja há dois meses e paga mensalmente pelo espaço. Ela relata que durante a operação da última sexta-feira (23), R$ 600,00 em espécie, guardados em um envelope identificado para o pagamento da parcela, teria sido roubado.

“Levaram o dinheiro, pois não tenho como comprovar, já a mercadoria eu teria, pois tenho nota de tudo […] Isso me afetou psicologicamente, desde o ocorrido não consigo dormir. Trabalho na favela há 12 anos e nunca passou pela minha cabeça uma situação assim”, conta.

Uma ‘vaquinha’ que circula nas redes sociais, mostra mais um prejuízo para comerciantes da Maré. Em texto divulgado pedindo ajuda, a proprietária relata que a barraca, que é o principal sustento de sua família, teria sido destruída por policiais também durante operação.

“Pela covardia do Estado, minha barraquinha foi destruída por 3 policiais e por isso acabei ficando no prejuízo. O meu ganha pão de cada dia, o meu sonho e infelizmente no momento não estou conseguindo arcar com o prejuízo.”

Quando vai acabar?

Apesar de perguntarmos à SEOP qual a previsão do término dessas ações, a secretaria diz apenas que a demolição seguirá nos próximos dias. A falta de transparência impacta não só os moradores que estão vivendo as demolições de suas casas, mas também daqueles que são afetados com escolas, postos de saúdes e comércios fechados, além do direito de ir e vir cerceado. 

Em cada dia das operações, há presença de policiais do Batalhão de Ações com Cães, bem como veículos blindados pelas ruas da Nova Holanda, circulando inclusive distante do Parque União, onde ocorrem as demolições. Denúncias de violações de direitos, como invasão de domicílio, furto de pertences e danos ao patrimônio, tanto de residências quanto de comércios, têm sido relatadas ao Maré de Direitos, projeto do eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça (SPAJ) da Redes da Maré.

“A operação policial, que em tese, deveria ser um último recurso do uso da força do Estado, foi banalizada e tem sido usada como única forma de atuação da segurança pública em favelas promovendo cada vez mais violências e violações de direitos por parte do próprio Estado.”, ressalta Liliane Santos, coordenadora do eixo SPAJ.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), da qual o Brasil é um dos países signatários desde 1948, ou seja, é um país que adere ao acordo, assumindo as obrigações nele previstas afirma no Artigo 22 que “Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à realização pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado […]”

É o que traz Liliane sobre a perspectiva de segurança pública. “Quando se fala em segurança pública não estamos falando da polícia em si. Estamos falando de um conjunto de ações que juntas vão promover condições de segurança para que a população consiga viver de forma segura. A responsabilidade da execução das políticas públicas que deveriam promover essa segurança é do Estado”, afirma. 

Falta de diálogo

Em entrevista ao Maré de Notícias, duas moradores afirmam que não receberam qualquer tipo de aviso ou assistência antes das demolições acontecerem. Isso contraria a versão da Secretaria de Ordem Pública, que alega que 90% das casas estavam vazias e que os moradores foram informados previamente.

“A grande questão é a falta de diálogo entre as diversas pastas administradas pelos governos e principalmente a falta de diálogo com a população. A desinformação gera grandes transtornos. Atualmente temos na gestão pública, uma maneira de se fazer política pública equivocada, sem diálogo e sem sequer uma tentativa de promover segurança pública para além das polícias. E o que resta ao morador e ao comerciante é ser silenciado e violentado de diversas formas” , analisa Liliane. Ela acrescenta: “A desculpa da demolição da obra irregular no Parque União acabou sendo outra desculpa para propagação do medo e insegurança em grande parte do bairro Maré.”

Aconteceria em outro bairro que não fosse uma favela? 

Liliane Santos

O Maré de Direitos, projeto do eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça, da Redes da Maré, acolhe situações de violações de direitos no WhatsApp (21) 99924-6462 e também nos equipamentos da organização.