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Maré de Notícias abre edital para bolsista

Por Aline Fornel

As inscrições para o processo seletivo ocorrem até o dia 19 de Janeiro e podem ser realizadas através do link disponível nesta matéria

Através da Associação Redes de Desenvolvimento da Maré, e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) o jornal comunitário Maré de Notícias abre edital de seleção de bolsistas para integrar a equipe de uma das principais fontes de informação da Maré.

O objetivo é escolher um bolsista para uma carga horária de 20 horas semanais, atuando de forma híbrida durante um contrato de seis meses. Esta iniciativa visa fortalecer a equipe do Maré de Notícias e proporcionar uma oportunidade para estudantes dos cursos de Jornalismo, Produção Editorial e Letras.

Para participar da seleção, é necessário estar cursando, no mínimo, o 3º período dos cursos mencionados, apresentando uma declaração de matrícula recente. Além disso, é essencial que o candidato possua habilidades comprovadas em escrita e elaboração de textos jornalísticos, com conhecimentos desejáveis em WordPress, práticas de SEO e preferencialmente residência na Maré ou em bairros/favelas vizinhas.

O Jornal Maré de Notícias enfatiza o incentivo à candidatura de mulheres, pessoas negras, moradores de favelas e pessoas LGBTQIAPN+, reforçando o compromisso com a diversidade e inclusão.

O bolsista selecionado desempenhará um papel fundamental no suporte à produção de pautas, colaborando com os jornalistas do jornal impresso e online. Além disso, contribuirá na produção de conteúdo para as redes sociais e na elaboração de notas e matérias.

Equipe do Maré de Notícias realizando distribuição do jornal impresso pelas ruas da Maré . Fotografia: Douglas Lopes

Etapas de Seleção:

As inscrições para o processo seletivo estão abertas até 19 de Janeiro e podem ser realizadas preenchendo o formulário disponível neste link. Posteriormente, haverá a seleção dos inscritos e entrevistas online agendadas entre os dias 22 a 24 de Janeiro. Os resultados serão divulgados no dia 25/01 e as atividades terão início em 1 de Fevereiro.

Benefícios:

O bolsista selecionado receberá uma bolsa de extensão no valor de R$700,00 (setecentos reais), com pagamento realizado pela Superintendência Geral de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Para mais informações, acesse o edital completo.

Justiça por Herus: favela e sociedade exigem respostas

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Jovem é assassinado durante operação do BOPE no Morro Santo Amaro. Moradores, familiares e defensores de direitos humanos realizaram ato neste domingo pedindo justiça.

Herus Guimarães Mendes, de 24 anos, trabalhava como office boy em uma imobiliária e foi assassinado com um tiro na barriga durante uma operação do BOPE, na última sexta-feira (06), no Morro Santo Amaro, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Além de Herus, outras cinco pessoas ficaram feridas. A Polícia Militar alegou que a operação, ocorrida durante uma festa junina que acontecia no local, com a presença de centenas de moradores, entre jovens, adultos e crianças, foi motivada por denúncias sobre a presença de integrantes de grupos civis armados na região.

Neste domingo, milhares de pessoas, entre moradores do Morro Santo Amaro, familiares de Herus, integrantes dos movimentos de mães e familiares de vítimas da violência do Estado, artistas e pessoas de toda a cidade participaram de um ato pedindo justiça por Herus e, principalmente, respeito às vidas faveladas.

Em um depoimento dilacerante, Mônica Guimarães Mendes, mãe de Herus, contou que o filho estava com ela, aguardando o início da apresentação da quadrilha da festa junina que acontecia no morro. No momento em que a polícia iniciou a operação — com disparos de tiros, apesar do evidente e intenso movimento de pessoas, devido à festa —, Herus havia se afastado para comprar algo para comer. O celular do jovem ainda exibia na tela o comprovante de pagamento via Pix quando ele foi assassinado.

Foto: © Patrick Marinho

“Eu não queria enterrar meu filho. E a polícia, que deveria proteger, que deveria estar ali fazendo uma operação para nos proteger, tirou a vida dele”, desabafou Mônica, chamando atenção para os machucados no corpo de Herus, que foi arrastado pelas escadarias do morro. Além da mãe, amigos e vizinhos, Herus deixa um filho de 2 anos.

O Morro Santo Amaro é uma favela localizada entre os bairros da Glória e do Catete, na Zona Sul do Rio de Janeiro. A ocupação da área teve início no século XIX e, atualmente, o local abriga cerca de 3 mil moradores. Segundo o WikiFavelas, o morro é conhecido por projetos focados em cultura, esporte e música, que buscam fortalecer a comunidade. A região não costuma ser alvo de operações do BOPE, o que intensificou o choque e a indignação dos moradores e da sociedade civil. Os relatos e registros de pânico entre moradores do Santo Amaro no momento da operação policial que circularam as redes sociais na manhã de sábado foram inúmeros e chocantes. 

Ademar Lucas, fundador do Instituto Ademafia, que promove ações no bairro de Santo Amaro por meio da prática do skate, lamentou o fato de precisar mobilizar a cidade em torno da comunidade não por ocasião de celebrações da arte, cultura ou esporte, mas sim como resposta à violência. “Mais um assassinado. Não dá para normalizar isso, como se fosse aceitável sermos mortos só por sermos pobres, por termos nascido aqui, por sermos pretos.”

De acordo com o governador do Estado do Rio, Cláudio Castro, as imagens das câmeras corporais dos agentes envolvidos serão encaminhadas ao Ministério Público do Rio de Janeiro, que conduzirá uma investigação paralela, com a realização de uma perícia autônoma. Os agentes realizaram escaneamentos tridimensionais para mapear os vestígios e lesões, utilizando recursos digitais que permitem a elaboração de laudos interativos para que se possa configurar a dinâmica dos fatos.

O assassinato de Herus ocorreu justamente no dia em que se completavam quatro anos da morte de Ketlem Romeu, uma jovem de 24 anos que morreu, grávida, durante uma operação no Complexo do Lins, em junho de 2021. Cinco policiais militares são réus por fraude processual nessa investigação.

“Mais uma vez, um sonho negro é interrompido pela violência que atravessa, com brutalidade, o cotidiano das favelas e periferias brasileiras. Este trágico episódio evidencia a urgência de repensarmos as práticas de segurança pública e o papel das forças estatais em territórios historicamente vulnerabilizados”, destacou em nota oficial do Ministério dos Direitos Humanos.

Foto: © Patrick Marinho

ADPF das Favelas

Os efeitos trágicos dessa operação reforçam a urgência de revisão do padrão de atuação das forças policiais em espaços de favelas e periferias. Apesar das medidas determinadas pela ADPF das Favelas — julgada em abril deste ano, pelo Supremo Tribunal Federal, houve desrespeito na ação: não havia ambulâncias no local para atendimento emergencial de vítimas. Além disso, a necessidade e legalidade da realização da operação durante a noite deve ser comprovada por situação de flagrante e por relatório de proporcionalidade do uso da força, de acordo com a determinação julgada e estabelecida pela decisão da suprema corte.

Só na Maré, este ano, oito pessoas foram mortas e cinco ficaram feridas em dez operações realizadas pela polícia. Os dados são monitorados pelo eixo Direito à Segurança Pública da Redes da Maré. 

Em nota, a Assessoria de Imprensa da Polícia Militar informou que, diante dos desdobramentos da operação no Santo Amaro, o secretário de Estado de Polícia Militar exonerou os comandantes do Comando de Operações Policiais Especiais (COE) André Luiz de Souza Batista e do BOPE Aristheu de Góes Lopes, e afastou preventivamente mais 12 policiais envolvidos da atividade de rua até o esclarecimento completo dos fatos. A Corregedoria-Geral da corporação disponibilizou as armas utilizadas na ação para perícia.

A Assessoria da Polícia Civil informou que a investigação está em andamento na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), e agentes seguem realizando diligências para apurar todos os detalhes do caso.

EcoClima inaugura protótipos de tecnologias ambientais na Maré

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Três favelas receberam soluções para os problemas socioambientais enfrentados no território

O EcoClima, Núcleo de Economia Circular e Clima, implementou três protótipos de soluções ambientais no conjunto de favelas da Maré. Após os agentes climáticos e mobilizadores passarem por um processo formativo, chegou o momento de transformar o conhecimento em soluções concretas para os problemas ambientais da Maré. Os protótipos foram escolhidos de acordo com a necessidade das quatro favelas abrangidas pelo projeto: Nova Holanda, Parque União, Rubens Vaz e Parque Maré.

A implementação foi dividida em três etapas. A primeira fase foi a criação de contexto, definição dos locais onde cada protótipo seria inserido. A equipe escolheu o canal da Vila Olímpica, integrado à Praça da Paz, para instalar um biodigestor com sistema Wetland. O canal poluído fica localizado entre as favelas Nova Holanda e Parque Maré. 

 Já a composteira foi colocada no EDI Maria Amélia, na Nova Holanda. Reforçando o compromisso do projeto de estimular a educação ambiental. As irmãs Soraya e Sayonara Claudino, moradoras na Rubens Vaz, receberam o telhado verde. 

O coordenador do projeto, Rian de Queiroz, explica que os locais foram escolhidos a partir da escuta dos moradores. Em 2023, a equipe realizou a pesquisa “EcoClima – Diagnóstico sobre tecnologias ambientais, futuro e mudanças climáticas na Maré”. Por meio das entrevistas foi possível identificar as necessidades dos territórios

“Das quatro favelas, a Nova Holanda é a única que tem um público mais adaptado à coleta seletiva, mais 50% da população já separa os resíduos orgânicos. Então faz sentido colocar a composteira ali. Rubens Vaz é uma das favelas que menos crê na possibilidade de solução para o calor. Por outro lado, é onde os moradores mais reclamam da sensação térmica quente ou muito quente. Então a gente pensou na instalação do telhado verde para lá”, diz Rian. 

A expectativa é que essas tecnologias ambientais ajudem a mitigar os impactos das mudanças climáticas na Maré. O EcoClima também pretende que os protótipos estimulem os atores locais a multiplicar as soluções pelo território. 

Conheça os protótipos

A equipe responsável pelo telhado verde finalizou a obra na casa de Soraya e Sayonara, moradoras da favela Rubens Vaz. O protótipo possui várias camadas: impermeabilização, drenagem, solo e vegetação. Cada uma delas tem uma função específica que contribui para o funcionamento da tecnologia.  Para a construção também foram reaproveitados materiais que seriam descartados, como tampinhas de garrafa pet. Elas foram usadas como substituto sustentável para brita, formando uma camada drenante leve e eficiente

A expectativa é que o telhado verde proporcione conforto térmico para as moradoras e estimule os vizinhos a adotarem soluções sustentáveis. 

“ Eu tenho certeza que com o projeto do telhado verde que está acontecendo aqui na minha casa vou poder ajudar meus vizinhos, meus amigos. Alguns já apareceram aqui, já vieram querendo saber o nome das plantas. Com o cultivo melhor, com certeza vamos poder ajudar outras pessoas”, diz a moradora Soraya. 

O protótipo da composteira foi colocado no Espaço de Desenvolvimento Infantil Maria Amélia, na Nova Holanda. Paralelo a construção da composteira, os agentes e mobilizadores do EcoClima realizaram oficinas de compostagem e educação ambiental com educadores e alunos do EDI Maria Amélia. As atividades também envolveram outros integrantes da comunidade escolar como merendeiras e auxiliares de serviços gerais. 

O fertilizante produzido pela composteira será usado na horta do EDI. 

O Biodigestor com sistema Wetland já está em funcionamento. O protótipo foi pensado para mitigar os impactos da falta de manejo adequado do esgoto na Maré. Para isso, o sistema de tratamento que decompõem matéria orgânica presente sem oxigênio. O Dusa conseguiu a liberação da GEL – Gerência Executiva Local – para

usar o espaço público do canal integrado à Praça da Paz.

A equipe do EcoClima em parceria com o Laboratório de Tratamento de Águas e Reuso de Efluentes (LABTARE) e o Laboratório de Engenharia do Meio Ambiente (LEMA), os dois ficam na UFRJ farão análises periódicas da qualidade da água tratada. Serão analisados o PH, temperatura média, presença de sólidos, metais. A análise deve identificar parâmetros químicos, biológicos e de oxigênio na água. O panorama possibilita monitoramento do funcionamento do sistema. Também será feita a revitalização e paisagismo da praça. 

O projeto também investe em conscientização para preservação da área de manguezal do Parque União. O EcoClima é uma iniciativa do Eixo de Direitos Urbanos e Socioambientais (Dusa) da Redes da Maré, em parceria com a Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental e apoio do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EA-UFRJ).

EcoClima completa dois anos trazendo soluções ambientais para a Maré

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O projeto, em parceria com Petrobras, visa mitigar os efeitos das mudanças climáticas em quatro favelas do conjunto

O EcoClima-Núcleo de Economia Circular e Clima na Maré completa dois anos de mobilização territorial. O projeto faz parte do Eixo de Direitos Urbanos e Socioambientais (Dusa) da Redes da Maré, em parceria com a Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental. Também conta com o apoio educacional do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EA-UFRJ). 

O projeto foi idealizado com objetivo de contribuir para a diminuição dos impactos da crise ambiental em quatro favelas que compõem o conjunto da Maré: Parque União, Parque Rubens Vaz, Nova Holanda e Parque Maré. 

O projeto conta com vinte agentes climáticos, jovens de 15 a 29 anos, e quatro mobilizadores, todos moradores da Maré. A equipe passou por formação sobre direitos socioambientais, mudanças climáticas, ecologia e saneamento. 

Para a agente Anna Carolina Fraga, o processo formativo foi fundamental para o desenvolvimento de habilidades técnicas e planejamento de carreira. 

“Participar do projeto foi muito importante para mim porque me ajudou bastante em relação às formações. E consegui aprender nas formações com os professores da UFRJ. Desde o primeiro dia que eu tive aula sobre o telhado verde, me apaixonei pela tecnologia. Como faço Biologia, também me interessei pela parte do paisagismo do telhado e pretendo trabalhar nessa área”, diz a universitária que integra a equipe responsável pela construção do telhado verde. 

Soluções ambientais

Em seguida, o conhecimento foi transformado em soluções concretas para os problemas ambientais da Maré. O EcoClima instalou três protótipos de soluções ambientais. Os protótipos foram escolhidos de acordo com a necessidade das quatro favelas abrangidas pelo projeto.  O Biodigestor foi instalado no canal da Vila Olímpica, integrado à Praça da Paz, localizado entre as favelas Nova Holanda e Parque Maré. Já a composteira fica no EDI Maria Amélia, na Nova Holanda. O telhado foi construído na casa de duas moradoras na Rubens Vaz. 

O coordenador do projeto, Rian de Queiroz, explica que o sucesso do EcoClima ao longo desses dois anos é fruto da parceria com os atores locais e da escuta aos moradores.

“O objetivo dos protótipos do EcoClima sempre foi ser incorporado da maneira mais orgânica possível ao território. Nunca de uma perspectiva de cima para baixo ou de fora para dentro, imposta ao morador de maneira autoritária. Sempre em construção conjunta”. 

Rian reitera que a proposta não é apenas resolver problemas ambientais locais, mas também fortalecer a resiliência da favela e promover práticas sustentáveis que possam ser replicadas em outros territórios. 

Preservação manguezal 

 O EcoClima também investe em conscientização para preservação da área de manguezal do Parque União. A maior parte do ecossistema local sofre degradação devido ao despejo de esgoto e descarte inadequado de lixo.  O projeto investe em mutirões de limpeza, no final de 2023 a equipe do EcoClima removeu cerca de 300 quilos de lixo da região onde uma colônia de pescadores resiste. 

O projeto realiza ações educativas e rodas de conversa para conscientizar os moradores sobre a importância do bioma. A mobilizadora do EcoClima, Isabela Oliveira, acredita que preservar o manguezal é uma forma de manter viva as memórias ambientais e as tradições populares locais.

“Além dos benefícios ecológicos. A importância de recuperar esse ecossistema é também recuperar uma memória de como esse ecossistema já foi para os moradores, que no passado já utilizavam esse lugar como uma fonte de renda como os pescadores que já tinham ali uma fonte de renda”, ressalta a jovem. 

EcoClima constrói telhado verde na Maré

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O Ecoclima, Núcleo de Economia Circular e Clima, construiu um telhado verde na casa de duas moradoras da favela Rubens Vaz. O protótipo  consiste em uma cobertura com plantas que ajudam a refrescar, filtrar o ar e reduzir a poluição. 

O EcoClima é  uma iniciativa do Eixo de Direitos Urbanos e Socioambientais (Dusa) da Redes da Maré, em parceria com a Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental e apoio do  Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EA-UFRJ). 

Um dos pilares do projeto é a  implementação de soluções sustentáveis para os problemas socioambientais do conjunto de favelas da Maré. Os protótipos foram escolhidos de acordo com a necessidade das quatro favelas abrangidas pelo projeto: Nova Holanda, Parque União, Rubens Vaz e Parque Maré. Para isso, os agentes climáticos  realizaram a  “Ecoclima – Diagnóstico sobre tecnologias ambientais, futuro e mudanças climáticas na Maré”. Por meio das entrevistas foi possível identificar as necessidades dos territórios.

Mitigação do calor excessivo

Na Rubens Vaz uma das principais reclamações foi o desconforto térmico causado pelas ilhas de calor. Por esta razão, o local foi escolhido para receber o primeiro telhado verde do projeto. Para as irmãs Sayonara e Soraya Claudino, que receberam o telhado, a expectativa é que a construção ajude a mitigar os efeitos das ilhas de calor. 

“Eu espero que a gente possa ter em primeiro lugar um ambiente mais fresco. Menos quente porque aquela telha esquenta muito. Também teremos a oportunidade de cultivar plantas que vai nos servir como tempero e uma nova forma de alimentação”, diz Sayonara. 

Foram plantadas espécies comestíveis adaptáveis aos clima local, como cebolinha, coentro selvagem e boldinho.

Construção sustentável

O protótipo possui várias camadas: impermeabilização, drenagem, solo e vegetação. Cada uma delas tem uma função específica que contribui para o funcionamento da tecnologia.  Para a construção também foram reaproveitados materiais que seriam descartados, como tampinhas de garrafa pet. Elas foram usadas como substituto sustentável para brita, formando uma camada drenante leve e eficiente. As tampinhas foram distribuídas com espaçamento adequado para garantir a drenagem da água da chuva.

 A construção foi acompanhada pelo professor Marcos Barreto de Mendonça, do Departamento de Construção Civil da UFRJ. 

“ Nós estudamos como desenvolver isso no contexto particular das favelas. Por conta da gente poder trabalhar com os telhados existentes que muitas vezes são telhados que não foram projetados para suportar cargas elevadas. No caso aqui a gente teve que adaptar para as condições do telhado existente”, explica o especialista em Geotecnia. 

A equipe formada por agentes e mobilizadores do projeto seguirá monitorando o protótipo. O EcoClima acredita que o telhado verde pode inspirar outros moradores da Maré a adotarem o modelo. Assim, multiplicar mais soluções  sustentáveis no território. 

Lua Brainer entrelaça caminhos de transformações na Maré   

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Mulher trans, travesti e moradora da Vila dos Pinheiros, Lua se tornou uma figura proeminente na cena ballroom do Rio de Janeiro, reconhecida por sua atuação como Legendary Imperatriz

Lua Brainer: mulher trans travesti que ao longo dos anos se tornou o nome de referência quando se pensa na luta pela visibilidade trans nas ruas da Maré. É ela, junto com um coletivo da comunidade LGBTQIAP+, que vem costurando um caminho de transformação político-cultural dentro do território. Moradora da Vila dos Pinheiros desde 1996, ano em que nasceu, Lua se tornou, ao longo dos anos, a figura proeminente na Cena Ballroom do Rio de Janeiro, reconhecida por sua atuação como Legendary Imperatriz.

Educadora na Casa das Mulheres, finalizando sua formação em Teoria da Dança pela EEFD/UFRJ e principal gestora do projeto “Ballroom in Maré”, Lua vive, desde muito nova, em processo de transformação. Começou na dança com aulas de hip-hop no Museu da Maré. Aos poucos, foi descobrindo a cultura ballroom e logo quis mostrar ao mundo o que era aquilo. Os movimentos levaram Brainer para a rua, onde pode aprender e reivindicar o direito de ser um corpo não marginalizado: “Ia pra Lapa muito nova pra participar das balls, mas havia sempre o receio na hora de ir e voltar, por ser um corpo estereotipado e hipersexualizado […] Temos corpos violados pela polícia desde Xica Manicongo, então, enxergo esses espaços como tecnologia para minimizar esses dados”.

Em 2017, ao encontrar, nesta vida, com seu parceiro de luta Kill Bill, bicha preta do Morro do Timbau, Brainer resolveu que iriam juntos trazer o cenário da expressão artística LGBTQIAP+ para a favela. Hoje ela é a Legendary Imperatriz, mas agradece a possibilidade de continuar o legado de travestis da Maré que iniciaram essa história de resistência ainda nos anos 80 e 90, com os shows “Noite das Estrelas”, também resgatado na última década pelo projeto Entidade Maré.

Cena Ballroom

O movimento político Ballroom se iniciou no fim da década de 60 em bairros do subúrbio de Nova Iorque com Crystal LaBeija. O principal intuito era descentralizar os padrões racistas dos concursos para drag queens e trans existentes na época. A nova vertente teria como público-alvo negras e latinas, como é até hoje.

Em 1980, com o surto de HIV, e por consequência, a perseguição a grupos com questões relacionadas ao gênero,  o movimento político-cultural se tornou um refúgio para pessoas que eram perseguidas ou expulsas de casa. Era um novo lar, como uma adoção, por isto, se tornavam “filhos” dos espaços que frequentavam.

Balls na Maré 

Em tradução literal, Ballroom significa “salão de baile”, mas, não há dúvidas de que o movimento sempre foi mais do que um local para se dançar vogue. Com muita música, moda, performance e afeto, a cena Ballroom torna possível um outro olhar para a cena: “é um mecanismo de resgate e acolhimento da comunidade trans e travesti”, salienta  Lua Brainer.

Quando perguntada sobre o que torna a Cena Ballroom carioca singular, Lua responde que se diferencia, principalmente, por incorporar elementos da cultura afro-brasileira, do funk e da estética favelada, criando-se uma identidade que busca interiorizar o que é ser “uma corpa trans de favela”. 

As houses, como são chamados os espaços de encontros, funcionam como lugar de conscientização e proteção para pessoas trans e LGBTQIAP+ que estão em situação de vulnerabilidade ou simplesmente se tornaram pertencentes ao movimento. O principal desejo da Imperatriz é que exista uma house fixa na favela da Maré, para que se solidifique ainda mais a ideia de pertencimento.

Mais do que um movimento artístico, a cultura ballroom é uma rede de apoio e um grito de resistência. Na Maré essa cena oferece visibilidade para aquelas que muitas vezes são marginalizadas pela sociedade. Ao celebrar a cultura ballroom, reconhecemos sua história de luta e sua importância como espaço de pertencimento e arte para a comunidade LGBTQIAP+. Dos quarteirões de Nova Iorque para as ruas da Maré: elas seguem, vivas, autênticas e revolucionárias.

Hospital de Bonsucesso sofre com anos de descaso e agora vive nova gestão

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O Grupo Hospitalar Conceição (GHC) é formado por um conjunto de hospitais públicos federais

Uma passarela na Avenida Brasil separa a Maré do Hospital Federal de Bonsucesso. Pela proximidade, a grande maioria dos mareenses nasceu nesta unidade de saúde. Essa população conta com nostalgia o tempo de glória desse hospital, referência em várias especialidades de média e alta complexidade. De alguns anos para cá, muita coisa mudou. Os leitos foram fechando, a emergência encerrou atividade e até um prédio deixou de funcionar após incêndio. A solução apresentada pelo Ministério da Saúde foi a terceirização dos serviços, o que não agradou os funcionários estatutários. 

Dentre os que nasceram no hospital de Bonsucesso, uma é Ana Cláudia Oliveira, moradora da Nova Holanda, que nasceu em 1973 e conta o fato com orgulho. “É um lugar de referência para diversas especialidades. Meu tio se operou lá, deu tudo certo. Já meu sobrinho que nasceu em 1999, a sua mãe não foi tão bem atendida. Teve que ficar numa cadeira até a liberação de um leito. Não sei como esse hospital chegou nesse ponto, se as verbas não chegaram ou foram desviadas”, questiona. 

O hospital é composto por seis prédios, sendo um complexo hospitalar com mais de 42.242m2. Apesar do tamanho, o hospital não lembra os tempos áureos, quando tinha 412 leitos. Os mais antigos moradores da Maré, ao falar do hospital, vão mencionar que nasceram ou se trataram no Iapetec. Mas o que significa isso? A explicação vem lá da sua inauguração em 1948, com o nome de Hospital General do Nascimento Vargas, sobre administração do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Empregados em Transportes e Cargas (Iapetec). 

Depois disso, tiveram diversas mudanças na gestão, na década de 1960 passou para o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Já nos anos de 1970 passa para o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS). Na década de 1990, o hospital é integrado ao Sistema Único de Saúde (SUS) e tem a inauguração do prédio de ambulatório. Uma outra alteração é em relação ao nome, que depois de 2007, deixa de ser Hospital Geral de Bonsucesso para ser denominado de Hospital Federal de Bonsucesso (HFB).

O hospital mostrou o seu lado negativo na imprensa em janeiro de 2019, quando a farmacêutica Luana Camargo, então diretora da unidade foi exonerada por promover festas, sendo um dos eventos no valor de R$ 156 mil, dinheiro doado por empresas que prestavam serviços à unidade. Enquanto isso, pacientes reclamavam da falta de leitos e remédios. O pior aconteceu no dia 27 de outubro de 2020, quando um incêndio atingiu o prédio 1 do hospital, deixando vítimas fatais. A partir daí o hospital fechou a emergência. Antes disso, em 23 de agosto de 2012, o Maré de Notícias divulgou ato que servidores do HFB realizaram por aumento salarial, melhores condições de trabalho e contra a privatização da saúde pública. Com carro de som, faixas e apitos, o protesto chegou a fechar a pista lateral da Avenida Brasil por quase uma hora.

Uma moradora da Baixa do Sapateiro, que preferiu não se identificar por receio de represália, já que tem familiares como pacientes do HFB, já teve momentos bons e ruins na unidade. “Para mim é referência no seu quadro de médicos, minha filha sempre foi bem atendida e cuidada. Meu segundo filho nasceu no prédio da maternidade, também fui bem atendida. Entretanto, minha filha faz acompanhamento de alergia, e passou meses sem a injeção de tratamento, e isso fez regredir o seu quadro alérgico, não por culpa dos médicos, mas sim da área administrativa do hospital”, comenta. 

Para explicar sobre a nova gestão do HFB, o Maré de Notícias entrou em contato com o Ministério da Saúde, que declarou que demandas referentes ao hospital deveriam ser encaminhadas diretamente para o Grupo Hospitalar Conceição (GHC).

Uma gestão com sotaque gaúcho 

Após anos de sucateamento do HFB, o Ministério da Saúde precisava tomar uma decisão para o resgate na qualidade do funcionamento. Para isso, escolheu o Grupo Hospitalar Conceição (GHC), empresa estatal pública do Rio Grande do Sul, para fazer a gestão do HFB. A meta é que em 90 dias ocorra a ampliação do quadro funcional, a abertura da emergência e a reabertura de 210 leitos e centro cirúrgico. Além disso, algumas obras de infraestrutura, serão realizados reparos hidráulicos e no sistema elétrico da subestação.

A gestão começou no dia 19 de outubro, quatro dias depois, pois um grupo de servidores fizeram um bloqueio na porta da unidade e impediu que a nova gestão entrasse no HFB. Para o médico Júlio Noronha, presidente do corpo clínico do hospital e diretor do Sindicato dos Médicos RJ, essa forma de resolver o problema do HFB é superficial. “O hospital ligado ao Ministério da Saúde funcionava. Os números provam isso, com as 115 mil consultas ambulatoriais realizadas de janeiro a setembro de 2024. Também aconteceram mais de 3.800 cirurgias de média e alta complexidades e 104 transplantes renais, nesse período. Isso para desmistificar essa história de que não estava funcionando”, explica.

Noronha acrescenta que os leitos estavam fechados por falta de recursos humanos e a obra da subestação. “Desde março de 2023 a ministra sabia que o HFB e outras seis unidades federais passavam por problemas e ela não fez nada na questão de pessoal, obras e nem fortalecendo os almoxarifados. Mas subitamente o ministério privatiza, entregando o hospital para um grupo de outro estado. Vieram sem fazer um intercâmbio com os funcionários, sem conhecer o hospital. Querem abrir na marra a emergência e 18 leitos da cardiologia, uma trapalhada, pois só pode ocorrer isso com a solução da subestação, mas estão querendo prestar conta para a opinião pública”, acrescenta.

“O que temos medo é pelo grupo desconhecer o hospital e acabar encerrando serviço, como as 35 especialidades pediátricas, que é um santuário. O ministério pagou 54 milhões para o Grupo Conceição para fazer o diagnóstico do hospital, mas fizemos isso lá atrás e de graça, mas não foi aproveitado. A ministra não ouviu os conselhos de saúde, tanto na esfera municipal, quanto na estadual e nacional. Os três pediram a suspensão do contrato, por não haver um estudo técnico. Prometem 200 novos leitos, mas tem que ter anestesista, intensivista, clínicos e patologistas, se não tiver esses profissionais é tudo cascata. Hoje piorou, pois estão destruídos a estrutura do hospital, mudando as pessoas de lugar. Isso ocorre, porque, a Nísia (Trindade) nunca pisou no hospital”, conclui. 

A reestruturação em 90 dias

O Grupo Hospitalar Conceição (GHC) é formado por um conjunto de hospitais públicos federais. O GHC é uma empresa pública, com personalidade de direito privado, sob controle acionário integral da União. É uma entidade da Administração Pública Federal Indireta, vinculada ao Ministério da Saúde, que é constituída sob a forma de sociedade anônima, que possui interesse e utilidade pública, tendo o fim exclusivo de, no âmbito do SUS, planejar, gerir, desenvolver e executar ações e serviços de saúde, inclusive com a manutenção de estabelecimentos hospitalares.

O Ministério da Saúde deu ao GHC um prazo de 90 dias para a execução das primeiras ações de reestruturação do HFB. Para o grupo é um momento de transição, de entender a instituição e a partir da experiência em Porto Alegre, devolver à população um hospital com toda a potência. “Queremos uma troca cultural com o Rio de Janeiro, qualificar esse atendimento e disponibilizar a emergência e os leitos, sendo 100% SUS. O hospital tem uma estrutura de excelência, mas que não funciona com sua carga total. Temos um calendário apertadíssimo, mas já temos equipamentos chegando e sendo instalados, além de um concurso emergencial para contratar 2.400 profissionais. É uma transformação em muito pouco tempo, mas com grande respeito”, conta Renata Lopes, assessora da gerência de participação social e diversidade da GHC.

“Esse hospital já foi de referência e precisa o retorno da sua grandiosidade, mas com a ajuda de todos e construindo parcerias. Queremos realizar campanhas de promoção para doações de sangue, feiras de saúde e saraus, trazendo moradores da Maré. Estamos reformando alas e instalando equipamentos como um raio-x novo, para aumentar a capacidade de exames e atendimentos. Temos um desafio grande de colocar tudo a pleno vapor até o dia 21 de janeiro. Estamos dentro do prazo, seguindo o DNA do grupo que preza o diálogo com os trabalhadores e conselhos de saúde, a transparência, tendo negociação e aproximação com os sindicatos”, explica Lopes, com 25 anos de experiência no grupo.

 A nova gestão reclama que parte da imprensa não procura ouvir o grupo e cria fake news, como a de risco com a instalação de geradores. Segundo divulgou o Ministério da Saúde e confirmado pelo GHC, os equipamentos servem como suporte para agilizar a manutenção e troca de cabos do hospital. O GHC confirma que realizou um estudo técnico para conhecer o hospital e colocar as ações em prática. “Temos menos de um mês para a conclusão do prazo, mas não vamos baixar a produção e negamos que vai ser fechado alguma especialidade”, conclui Lopes.