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Sororidade e negritude celebradas com Homenagem Antonieta de Barros

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Mulheres que lutam pela igualdade de gênero na Maré são homenageadas na ALERJ

Lucas Feitoza

A deputada Renata Souza (PSOL) realizou na última quinta-feira (16) uma sessão solene na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres. Na cerimônia, a parlamentar concedeu a homenagem Antonieta de Barros para mulheres que colaboram para a igualdade de gênero nas áreas da educação, cultura, política, esportes, ação social e liderança comunitária em todo estado.

Em seu discurso inicial, Renata destacou a importância de celebrar a existência de Antonieta de Barros, a primeira parlamentar negra na luta das mulheres por equidade, reconhecimento e respeito e reconhecer a importância delas enquanto estão vivas. “Nesta solenidade temos a honra e alegria de homenagear mulheres com a homenagem Antonieta de Barros, que é concedido pela nossa mandata desde 2021, reconhecendo mulheres que são referência na luta por direitos e dignidade em seus espaços de atuação e protagonismo.”

Fizeram parte da mesa: Iza Vicente, vereadora de Macaé, a advogada Ilka Teodoro, a jornalista Sara York, a professora Ana Flávia Magalhães e a secretária municipal de políticas e promoção da mulher Joyce Trindade. Em seus discursos, as convidadas destacaram a memória das mulheres que vieram e abriram espaço para outras chegarem aos espaços de liderança, a força das mulheres, a importância do apoio e de oportunidades. 

Trabalhos feitos por mulheres da Maré também foram reconhecidos na homenagem

De acordo com dados do Censo Demográfico da Maré (2019) as mulheres são a maioria no bairro, representando 51% dos moradores. Na homenagem, o bairro foi representado por cinco iniciativas.

Receberam a homenagem Antonieta de Barros:

  • Bruna Silva do movimento social Mães de vítimas do Estado;
  • Casa das Mulheres da Maré da Redes da Maré;
  • Kamila Camillo fundadora da Organização Sem Fins Lucrativos (ONG) Crias do Tijolinho;
  • Raissa Lima da ONG Pra Elas;
  • Greicy Kelly do Bar das Minas:
  • Casa Resistências Maré.

Kamila Camillo agradeceu o reconhecimento em suas redes sociais: “Gratidão aos que vieram antes e prepararam o caminho! Que honra fazer parte desse time!” Kamila, além de psicóloga e mobilizadora social, é também fotógrafa e realizou a exposição “Crias do Tijolinho”, na qual venceu o prêmio inspirar do Instituto Neoenergia.

Raissa Lima disse estar honrada e feliz pelo reconhecimento na atuação na ONG Pra Elas. A iniciativa eleva a autoestima e confiança das mulheres da Maré com aulas de defesa pessoal, e foi reconhecida pela luta dos direitos das mulheres faveladas. Saiba mais sobre o Pra Elas.

Quem foi Antonieta de Barros?

Antonieta de Barros foi jornalista, professora e primeira mulher negra a ser eleita para um cargo político no Brasil. Foi autora da lei que criou o Dia do Professor comemorado em 15 de outubro. Filha de ex-escravizada, fundou o curso particular Antonieta de Barros para combater o analfabetismo. 

Vale lembrar que apenas há 92 anos as mulheres tiveram direito ao voto, e Antonieta foi eleita com menos de meio século do fim do regime escravocrata. Esse ano, o presidente Lula (PT) sancionou a lei que inclui a jornalista no livro de heróis e heroínas da pátria.

Quando o vento dança

O coletivo Mulheres ao Vento leva, por onde passa, a potência de mulheres periféricas

Tassia Menezes por Conexão UFRJ

Eram rostos familiares e reais. Não por conhecê-los, mas sim por enxergar neles uma familiaridade. Era como se ali, naqueles semblantes, eu pudesse ver uma tia minha, a mãe da minha amiga e a cunhada da minha irmã. Todas iam sendo levadas pelo vento, aquele que parece ser o grande protagonista deste texto. Não à toa, denominam-se Mulheres ao Vento: um coletivo formado por mulheres periféricas, em sua maioria negras e com mais de 40 anos, que decidiram – não sem esforço – ignorar o que as prendia e simplesmente voar.

Mais uma vez, então, venho contar outra história do ponto de vista da jornalista que vos escreve. E quem diria que chegaríamos tão longe com essa sessão? Que vocês me desculpem se eu estiver me excedendo, mas o que eu vivi não poderia ser descrito por verbos em terceira pessoa. É necessário que seja a partir do “meu olhar”.

Chegamos no Centro de Artes da Maré (CAM) naquela manhã de quinta-feira para acompanhar o penúltimo ensaio antes da grande estreia da nova performance das Mulheres ao Vento no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Elas iriam compor uma das apresentações da Semana de Arte Favelada, evento que reuniu diferentes manifestações artísticas periféricas ao longo do mês de novembro. No dia 2/11, a ocupação foi em um dos espaços mais clássicos da cidade.

Grupo em frente ao Centro de Artes da Maré

Elas pareciam ansiosas pela chegada daquele momento. Muito focadas, ensaiavam suas falas e passos e me olhavam com curiosidade, algumas querendo saber a minha opinião, como se eu fosse uma crítica que pudesse aprovar ou não o que elas têm realizado. Ninguém precisaria, de fato, cumprir tal papel.

O Mulheres ao Vento (MAV) é um coletivo que existe desde 2016, a partir da idealização de duas ex-alunas de Dança da UFRJ. Simonne Alves e Andreza Jorge tinham um objetivo: encontrar uma forma de retornar para a periferia os saberes que haviam acumulado na academia. Assim, iniciaram uma parceria com o Centro de Artes da Maré naquele ano, ainda sem saber exatamente as feições que o projeto tomaria.

Inicialmente, havia dois grupos separados por faixa etária: de 15 a 30 anos, e de 30 em diante. Qual não foi a surpresa das coordenadoras ao perceber que, ao longo dos meses, a maior procura de mulheres com mais de 50 anos em participar iria moldar o Mulheres ao Vento da maneira que é hoje.

“A gente se deparou com essas mulheres com sede de querer, de fazer, de estar junto e somar. Então, adaptamos a metodologia para esse público, e essa se tornou a nossa característica maior.”

Simonne Alves , dançarina e fundadora do Mulheres ao Vento

A dissertação de mestrado de Simonne – Meu corpo DANÇA: um estudo sobre subjetividades de mulheres negras na Maré – teve como resultado um vídeo-performance realizado durante a pandemia com as mulheres do MAV. Após pesquisar a forma como a dança expressa os elementos e processos que constituem as subjetividades dessas mulheres pelo departamento de Antropologia Social do Museu Nacional, Simonne agora realiza seu Doutorado no mesmo programa. Organizando-se para estar na Universidade de Harvard no final deste ano para falar da sua pesquisa, a doutoranda celebra o grupo e tudo que ele tem ajudado a realizar.

Ao longo destes cinco anos, as Mulheres ao Vento já viveram experiências mais do que especiais: além de apresentações em teatros no Rio de Janeiro e em São Paulo, elas participaram de uma residência artística que levou uma parte do grupo para Paris, na França, em 2022. Agora, a dança e o vento ofereciam a elas a chance de apresentarem um espetáculo inédito no Theatro Municipal, levando àquele palco símbolos negros e afrodiaspóricos, como as entidades Eleguá e Oyá.

Brincando com o vento

Eleguá é um dos nomes que se dá a Exu, orixá dos caminhos. É ele que libera a passagem, dá o movimento e permite que ele aconteça, em todos os tempos presentes, passados ou futuros. Já Oyá/Iansã é a orixá que inspira o nome do grupo. Conhecida por ser aquela que controla os ventos e tempestades, ela se transforma tanto em búfalo quanto em borboleta, indicando a intensidade das mudanças e transformações.

Eu já sabia que eles faziam parte do espetáculo, pois havia acompanhado o ensaio no galpão na semana anterior. Dito isto, cheguei ao Theatro Municipal tranquilamente, preparada para assistir à performance das Mulheres ao Vento, mas ciente de que sabia o que veria e ouviria. Lá dentro, encontrei um lugar lindo e cheio de pessoas e de vida, apesar da chuva torrencial que caía do lado de fora naquele Dia de Finados.

No entanto, bastou que o espetáculo se iniciasse para que eu me emocionasse do começo ao fim. Fui levada pelo vento. Acompanhada por uma banda toda composta por mulheres, podia vê-las e ouvi-las gritando seus nomes em alto e bom som, bem como suas profissões: “Rosimere, aposentada; Patrícia, cozinheira; Adriana, pedreira!”. O que significava para elas ocupar aquele espaço? E para mim?

O espetáculo foi construído em conjunto, a partir das vivências reais daquelas mulheres. Em um dado momento, Lurdinha Araújo conta no palco a experiência de estar na calçada sentada com seus três filhos, enquanto via sua casa pegando fogo. Eu sabia, pois ela já havia me contado, que seu ex-marido fora o responsável por isso, há mais de 20 anos. Mas apesar da dor, ela estava ali renascendo desse fogo, como uma fênix.

“Eu não quis passar tristeza, mas sim mostrar que eu dei a volta por cima. Hoje, tenho a minha casa e meus filhos estão todos bem.”

Lurdinha Araújo, integrante do grupo.

Nestes dias, ouvi muitas histórias, como a de Adriana, 35 anos, que se curou da depressão graças à motivação do MAV; a de Rosimere, 61 anos, que parou de sentir tantas dores no corpo em virtude dos movimentos que passaram a fazer parte da sua vida; e a de Patrícia, 46 anos, que vem aos poucos abandonando a timidez para poder se expressar. “A gente pega um pedacinho de cada uma como exemplo. Aprendo muito”, conta ela.

No fim, a curiosidade em saber se haviam se divertido é respondida com inúmeros sorrisos no rosto e na vontade de fazer sempre mais: “passa tão rápido que parece que foi só um ensaio”, me falou Sendy Silva, entre fotos e celebrações no final. Em comum, as saias que voam, o desejo de se enxergarem cada vez mais, se fortalecerem umas nas outras e de realizarem sonhos antes inimagináveis, apenas por serem quem são.

Residência artística do MAV na cidade de Lille, França- Abril/22

Vitória Miranda

Vi no Mulheres ao vento um espaço para trazer conhecimento para comunidade e mostrar que favela é arte. Já no primeiro contato, no ensaio delas para a apresentação no Theatro Municipal, percebi a dimensão do projeto e como é representativo. Ele estabelece uma relação de mulheres pretas e periféricas com a dança, o corpo sensual (qualquer corpo) e a música, com suas histórias sendo contadas por si através da fala e do movimento.

Apresentação do Grupo no Theatro Municipal do Rio em novembro de 2022.

O amor pelo que fazem é visto nas feições, sorrisos, no suor e no olhar de cada mulher presente naquele ensaio. E assim, o Mulheres ao Vento me marcou de diversas maneiras. A partir da faixa etária das participantes, com a maioria acima dos 50 anos, elas demonstraram como se expressar através do corpo e da fala. Em uma conversa com Simone Alves, cria do Morro São José (em Madureira), ela relatou:

“A nossa mais velha tem 77 anos e ela faz mais coisa do que muita gente, isso é muito mágico”.

Simone Alves, integrante do grupo

A filha e a neta desta integrante também fazem parte do projeto. Com três gerações da mesma família dividindo o mesmo espaço de criação, elas relembram a importância e a força da ancestralidade e da maternidade. 

Se a lógica de ser periférico pressupõe a ideia de estar distante de um centro, o Mulheres ao Vento chega com a proposta de desmistificar isso, incluindo mulheres e mostrando que elas são verdadeiras deusas e guerreiras. Assim como Oyá, elas passaram e passam por diversas tempestades em suas trajetórias, mas se tornaram donas do vento e aprenderam a dançar com ele.

Programas sociais foram fundamentais durante fase crítica da covid-19

Pesquisadores do Centro de Ciências da Saúde da UFRJ analisaram situação dos beneficiados e do sistema de saúde brasileiro entre 2020 e 2021

Por Carol Correia pelo Conexão UFRJ

Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (Iesc) e pela Faculdade de Medicina (FM), atualmente em revisão na revista Scientific Reports, indicou que os programas sociais de transferência de renda foram essenciais durante o período crítico da covid-19. Investigação também ressaltou que a população negra teve um maior índice de mortalidade no mesmo recorte temporal.   

O estudo, que analisou dados de contágio da doença colhidos entre março de 2020 e setembro de 2021 em todo o Brasil, detectou uma relação inversa entre as taxas de mortalidade e infecção e o número de pessoas de uma mesma família que eram beneficiárias de algum dos programas governamentais.

Segundo Roberto Medronho, professor da Faculdade de Medicina da UFRJ e um dos autores do artigo, a hipótese discutida pelo grupo é de que, com a segurança dos benefícios, os usuários evitaram de se expor em busca do sustento, mantendo o devido isolamento social. Quanto mais pessoas de um mesmo núcleo familiar estavam asseguradas pelos programas, menos chances o vírus tinha de atingir suas residências.

“A transferência de renda permitiu que as pessoas ficassem mais em casa se protegendo de pegar e morrer de covid. Encontramos que, nos municípios com maior quantidade per capita de famílias beneficiadas pelo Bolsa Família e Auxílio Emergencial, esses índices foram menores.”

Roberto Medronho, professor da Faculdade de Medicina da UFRJ

Outra descoberta surpreendeu os pesquisadores: em munícipios com uma população com maior cobertura de planos de saúde privados, as notificações de contágio foram maiores, mas isso não se refletiu em um menor número de mortes.

“A gente espera que em grupos com maior acesso ao atendimento de saúde a mortalidade seja menor, mas isso não aconteceu. Infelizmente não tivemos acesso a dados individuais para analisar se as fatalidades foram maiores no serviço privado ou público.”

Roberto Medronho, professor da Faculdade de Medicina da UFRJ

O trabalho também reforçou um dado já apontado por outros institutos, pesquisadores e ativistas, como a própria UFRJ e a Anistia Internacional: a população preta e parda foi muito mais afetada que a população branca, e isso não tem apenas relação com classe social. 

Os municípios que tinham maior proporção de pessoas alfabetizadas e uma renda média semelhante, mesmo que alta, tiveram 45% mais mortalidade entre pretos do que brancos. De acordo com o professor, o cenário é um reflexo da formação histórica do Brasil, com uma sociedade altamente escravocrata e discriminatória.

“Para mim, isso é uma forte evidência de que pessoas com o mesmo nível de escolaridade e renda podem sofrer dificuldades de acesso aos mesmos tratamentos diferenciados apenas pela cor de sua pele. Ou seja, o racismo estrutural mata.”

Roberto Medronho, professor da Faculdade de Medicina da UFRJ

Além dos benefícios sociais, o Sistema Único de Saúde foi outro fator determinante para ajudar a população durante a crise: sem ele, o número de óbitos e de vítimas da doença seria muito maior.

Os pesquisadores afirmam que parte das políticas públicas foram essenciais para diminuir o impacto da enfermidade, mas que a falta de investimento e de ampliação das campanhas contribuiu para o cenário de tragédia.   Estratégias de testagem em massa, isolamento de casos positivos, valorização dos imunizantes e defesa de medidas não farmacológicas poderiam auxiliar no combate ao vírus.

Leia o artigo completo aqui.

Futuros da Baía de Guanabara

Com atividades gratuitas para todas as idades, o Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ inaugura amanhã (21/3) exposição imersiva sobre os efeitos da crise climática.

Por Redação

Hoje, cerca de 12 milhões de pessoas que vivem na Baía de Guanabara sofrem com as alterações do clima. Deslizamentos, chuvas intensas, enchentes, períodos extensos de seca ameaçando o abastecimento de água e ondas de calor fazem parte do cotidiano de muita gente, sobretudo a população periférica, distribuída nas favelas cariocas e em municípios da região metropolitana do Rio, Baixada Fluminense, Região dos Lagos e Serrana.

De olho em saídas para o futuro, a exposição reúne projetos de pesquisa e extensão da UFRJ voltados para a redução da crise climática. Entre eles estão a Usina de Ondas, que produz energia limpa, o concreto ecológico, que substitui o cimento e reduz a emissão de gás carbônico, e o robô Ariel, capaz de detectar vazamento de óleo no mar.

“Um dos objetivos da exposição é mostrar como as ciências têm criado soluções para reduzir e desacelerar o aquecimento global, além de gerar impacto social, conscientizando a sociedade sobre a defesa da democracia climática a nível local e global”, explica Christine Ruta, bióloga e coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ.

É preciso lembrar que populações pobres são as mais afetadas e que é urgente integrar os saberes científicos e populares para enfrentar a crise.

Christine Ruta, bióloga e coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ.

Orientam a exposição perguntas como: de que forma a mudança do clima tem afetado a Baía de Guanabara, seu entorno, suas cidades e sua biodiversidade? O que esperar para os próximos anos e como o conhecimento produzido pelas universidades e pela população podem colaborar para enfrentar o problema?

Para ajudar o espectador a responder às perguntas, a mostra recorre a atrações imersivas, interativas e tecnológicas. Uma delas é o filme “Desafios da Baía de Guanabara”, exibido em duas telas, lado a lado, que colocam o espectador frente a frente com a biodiversidade e os efeitos da ação humana em uma das baías mais conhecidas do Brasil.

“Queremos aproximar o público da riqueza e relevância da Baía de Guanabara – um local que faz parte da vida dos cariocas, fluminenses e do imaginário brasileiro, mas ainda pouco conhecido em termos de diversidade, não só ambiental, mas também social, econômica e cultural”, explica Leonardo Menezes, curador da exposição e ex-diretor de Conhecimento e Criação do Museu do Amanhã.

Experiência imersiva e interativa

Outras experiências interativas são as Salas das Escolhas e o Mural das Iniciativas, com informações, perguntas e um painel para o público participar, propondo ações locais de combate aos problemas envolvendo a crise do clima na Baía de Guanabara nas próximas décadas.  

“Entre os problemas enfrentados pela Baía de Guanabara estão o aquecimento das águas, chuvas intensas, o aumento do lixo e queda da qualidade da água”, explica o biólogo marinho Paulo Paiva, professor do Instituto de Biologia da UFRJ e membro do comitê científico da exposição.

“Também há o risco de extinção de espécies marinhas, como botos-cinzas e raias gigantes, e a redução das atividades turísticas e econômicas na região, que tem hoje 20 mil pescadores com o futuro incerto”, completa Fábio Scarano, professor do Instituto de Biologia da UFRJ e membro do comitê.

Visitas guiadas e oficinas 

A programação também inclui oficinas e visitas guiadas para crianças e jovens alunos das redes pública e privada, estudantes universitários e grupos comunitários, especialmente do entorno da Baía. As visitas podem ser agendadas previamente pelo site da exposição.

Também estão previstas palestras com cientistas, gestores públicos e lideranças comunitárias, lançamento de livros, apresentações culturais e gravações de podcasts ao vivo.

A exposição “Futuros da Baía de Guanabara: Inovação e Democracia Climática” está na Casa da Ciência da UFRJ, que fica na Rua R. Lauro Müller, 3, Botafogo até o dia 14 de maio. Funciona de terça a sábado, das 9h às 20h; domingos e feriados, das 10h às 16h, com entrada gratuita. Agendamento de visitas guiadas e mais informações, é so acessar baiadeguanabara.forum.ufrj.br.

A educação cultural

Aula de Educação Física com toque de arte e cultura afro-brasileira

Por Hélio Euclides

Quando se pensa numa sala de aula vem à mente várias carteiras, uma atrás da outra. Já em uma aula de educação física, o pensamento é na realização de jogos como futebol, queimado e handebol. Mas muitos professores já estão optando por uma aula mais participativa e com diferencial. Um dessas aulas aconteceu na última terça-feira (14/03), na Escola Municipal Ginásio Olimpíadas Rio 2016, que fica na Nova Holanda. Os alunos assistiram a uma apresentação de jongo, uma dança dos ancestrais, de roda e de umbigada, que integra percussão de tambores e canto.

A apresentação foi uma ponte da Maré com a 10° Edição do Encontro Nacional de Cultura Popular no Vidigal, considerado o maior encontro de cultura afro realizado em favela, que reúne mestres de todos os lugares. O evento na escola contou com a parceria da Lona Cultural Municipal Herbert Vianna e com a participação de dez jongueiros. O idealizador da apresentação foi Lucas Henrique Ferreira, de 29 anos, professor de Educação Física da escola, especialista em Educação para as Relações Étnico-Raciais e mestrando em Educação.

A apresentação foi avaliada como muito positiva pelo professor, com a participação de mais de 100 alunos. Com isso, há possibilidade da volta dos jongueiros, para a realização de uma oficina com os estudantes. “No ano passado criamos um grupo de maculelê que se apresentou em vários lugares, como o Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A Luta pela Paz e a Redes da Maré nos ajudaram com o transporte”, diz. 

Para Ferreira, trabalhar jongo dentro da disciplina de Educação Física proporciona a realização de uma atividade que envolve o corpo, mente, jogo, luta e exercício. “Quando se fala em luta, remete-se à cultura japonesa. Eu vivencio a luta indígena, as culturas brasileiras e africanas, dessa forma trago uma nova realidade aos alunos. O objetivo é potencializar o dia a dia deles com outras habilidades, pois futebol eles encontram a qualquer hora nas quadras e campos da favela”, comenta. 

O educador escolhe trabalhar na sala de aula expressões afro-brasileiras, como a capoeira, o jongo, o samba de roda, o maculelê, o huka huka e o peikrãn, que é uma peteca indígena. “É uma luta esse trabalho de educação, já fui até chamado de macumbeiro da escola. O bom é que a escola que atuo é aberta e tenho apoio para articular”, conclui.

O site da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fundação Oswaldo Cruz, mostra que atualmente, há leis que asseguram a obrigatoriedade do ensino da cultura e história afro-brasileiras, africanas e indígenas nas escolas. A lei 10.639 foi sancionada em 2003 e institui o ensino da cultura e história afro-brasileiras e africanas e a lei 11.645 complementa a lei 10.639 ao acrescentar o ensino da cultura e história indígenas.

Autor da Maré lança primeiro livro infantil

Lançamento distribuiu brindes e contou com oficina de lambe lambe

Samara Oliveira

No último sábado (11), aconteceu no Pontilhão Cultural da Maré, o primeiro dia de lançamento do livro “Moleque Piranha”, de Renato Cafuzo. Com um público atento e envolvido em toda programação, o evento contou com a participação do Grupo Ujima, que conta histórias negras da literatura infanto-juvenil com ancestralidade, identidade e representatividade. Além disso, teve bate papo com o autor, distribuição de brindes para as crianças, oficina de lambe lambe e brinquedos liberados para a diversão da criançada.

Renato Cafuzo, ilustrador de outros cinco livros infanto-juvenis de autoras negras, estreia sua primeira história publicada falando sobre infância e arte de rua, trazendo duas fortes homenagens: uma para seu amigo de adolescência, o cineasta Cadu Barcellos, e outra para a vereadora Marielle Franco. Assim como Cafuzo, ambos são crias do Conjunto de Favelas da Maré, e marcam a história do território com uma trajetória de luta contra o racismo, dando voz às narrativas que definem as periferias como um lugar onde os sonhos são possíveis. 

O lançamento acontece também em outras duas datas. No dia 16 de março, na Biblioteca Comunitária Maria Lina, em Nova Iguaçu, e dia 22, na Biblioteca Parque, no Centro. 

Da vivência à criação do personagem 

“Uma expressão da rua para a própria rua”, é como o autor define o “Moleque Piranha”, personagem que dá nome ao livro. O desenho teve como influência os cartoons, e à medida que a relação do autor com a cidade ia mudando, o “moleque piranha” também se adaptava em suas diferentes expressões. Foi no trajeto da Zona Oeste à Zona Sul do Rio de Janeiro, há quase uma década, que a caminho do trabalho, Renato, que à época tinha acabado de se tornar pai, aproveitava o percurso para se expressar pela cidade adesivando o desenho pelas ruas. 

Consciente ou inconscientemente, a figura dá forma a uma lembrança da infância do autor, que começou a desenhar por influência do pai que trabalhava em uma gráfica. Entre os brinquedos favoritos, blocos de papel estavam no topo da lista. Era o que o seu pai mais levava pra casa. 

“Lembro dele com um bloco desenhando um toco de árvore e no toco desenhava um rosto. Esperou até ver minha cara confusa com o desenho e soltou: “esse é o cara-de-pau”. É impressionante notar a similaridade da construção dessa piada com a do personagem que eu colo por aí hoje em dia”, relembra Renato, que hoje continua utilizando o desenho como intervenção artística em diferentes espaços urbanos através da colagem de adesivos. 

Então, se você mora no Rio, possivelmente já viu o “moleque piranha” por aí, que inclusive também circula pelas ruas fora do Brasil. A arte ganhou um contexto coletivo quando amigos do autor a fizeram circular por diferentes lugares, reafirmando como as ruas podem expressar e guardar memórias e seus diferentes significados. 

Em uma narrativa onde todos os personagens são negros – e apenas dois são adultos – grande parte da história se passa na escola. Revisitando sua própria trajetória, Cafuzo traz nos versos a potência das infâncias negras e a importância da educação como forma de criar outras possibilidades de futuro. Enxergando cada criança como um mundo em expansão, o autor mostra como ser parte e ser visto por uma comunidade, expande as possibilidades de ser e existir com humanidade. 

“Não acho que seja fantasioso contar uma história bonita na favela, mas quando faço é na esperança que tenhamos mais dias assim. E demonstrar que isso é possível pras nossas crianças é importante! Alguns traços do racismo partem basicamente do que você pode ou não pode fazer. E isso, numa fase de desenvolvimento como a infância, se traduz em como você pode ou não pode se desenvolver”, reforça o autor.