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Casa das Mulheres da Maré lança programação especial para o mês de Março

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Direitos das mulheres, cultura, empreendedorismo e saúde mental, sexual e reprodutiva marcam as atividades.

Por Andrezza Paulo

A Casa das Mulheres da Maré lança nesta quarta-feira, dia 8 de março, uma programação super especial para o mês das mulheres. Para marcar o início das atividades, ocorreu a Oficina Mareas com distribuição de absorventes e um café em comemoração ao aniversário da Redes da Maré preparado pelo buffet e curso de gastronomia Maré de Sabores. A programação conta também com atividades que vão desde roda de conversa sobre pobreza menstrual, ocupação do Maré de Sabores e de Belezas no Espaço Normal, Circuito Maré de Direitos com orientações sociojurídicas para mulheres, além do evento de fechamento com mesas, conversas e atividades físicas e culturais para todas as mareenses. 

CONFIRA A PROGRAMAÇÃO NA ÍNTEGRA:

08/03 – das 08h às 11:30:

Oficina Maréas  + Distribuição de absorvente 

Local: Josué de Castro (Rua Vitória, 162 – Vila do João)

08/03 – das 15h às 16h:

Aniversário da Redes da Maré – celebração com café da Tarde

Local: Casa das Mulheres da Maré (Rua da Paz, 42 – Parque União)

13/03 – às 16h:

Lançamento do Boletim de Segurança Pública da Maré

Local: Ritma (Rua Teixeira Ribeiro, 521 – Nova Holanda)

14/03

13h – Lançamento do Boletim de Segurança Pública da Maré

Local: MAR

17h – Festival Marielle Franco 

Local: Praça Mauá

15/03 – às 16h:

Ação de distribuição de absorventes em todas as atividades realizadas na Redes

Local: Prédio Central da Redes da Maré (Rua Sargento Silva Nunes, 1012 – Nova Holanda), Lona Cultural da Maré (Rua Ivanildo Alves, s/n – Nova Maré), Centro de Artes da Maré (Rua Bittencourt Sampaio, 181 – Nova Holanda) e Vila dos Pinheiros – Via A1, s/n. Anexo Ciep Gustavo Capanema.

16/03

Ocupação Casa das Mulheres no Espaço Normal

9:30h: Atendimento do Salão do Maré de Belezas no Espaço Normal

11h: Roda de conversa sobre gênero e mulheres em situação de rua

12h: Entrega de refeições e segurança alimentar (Maré de Sabores)

Local: Espaço Normal (Rua 17 de Fevereiro, 237 – Parque Maré)

20/03 – às 15h:

Maréas + Preparatório (Roda de conversa sobre pobreza menstrual)

Local: Prédio Central da Redes da Maré (Rua Sargento Silva Nunes, 1012 – Nova Holanda)

21/03

10h – Maré de Sabores nas escolas

– Atividade de educação alimentar com crianças

Local: CIEP Samora Machel (Rua Principal s/nº)

15h – Maréas + Preparatório (Roda de conversa sobre pobreza menstrual)

Local: Ciep Ministro Gustavo Capanema (Vila dos Pinheiros – Via A1, s/n)

22/03

Ocupação Segurança pública na Casa das Mulheres da Maré e o grupo de mães + Mulheres egressas do sistema carcerário.

10h – Orientação Profissional para Mulheres

16h – Orientação Sociojurídica

Local: Casa das Mulheres da Maré (Rua da Paz, 42 – Parque União)

28/03 – 10h às 16h:

Circuito Maré de Direitos na Rua

– Especial Dia da Mulher com orientações sociojurídicas (atendimento na rua), de saúde (com a participação dos equipamentos de saúde) e do CRMM

Local: Ciep Ministro Gustavo Capanema ( Vila dos Pinheiros – Via A1, s/n)

31/03 – 10h às 17h  Evento na Casa das Mulheres da Maré

10h – Atividade esportiva com MariEllas

11:30h – Escola de Dança na Casa das Mulheres da Maré

12h – Feira das Empreendedoras com Barraca Maréas, Maré de Notícias e Maré de Sabores

13h – Roda de conversa | Saúde mental das meninas, Esporte e Prevenção ao suicídio das mulheres

15h – Roda de conversa | Maternidade, Aborto e Justiça Reprodutiva 

17h: Grupo Feminino de Forró

A Casa das Mulheres da Maré fica na Rua da Paz, número 42, Parque União. Para saber mais, acompanhe as redes sociais da Redes da Maré e fique por dentro de toda a programação. 

Maré de Mulheres e Notícias

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O que pensam e desejam as repórteres e editoras do Maré de Notícias neste 8 de março para as mulheres, e, principalmente, para as mulheres do Conjunto de 16 favelas da Maré. 

Por Amanda Célio e Jéssica Pires

A luta pela garantia de direitos básicos na Maré tem um histórico protagonismo das mulheres. A própria Redes da Maré é resultado desse processo. Eliana Sousa, fundadora e diretora da organização, é uma das mulheres e símbolo dessa representatividade. Eliana liderava a Chapa Rosa nos 1980 e se tornou a primeira mulher presidente da Associação de Moradores da Nova Holanda, estando à frente da associação por seis anos. A Chapa Rosa é como se nomeou um grupo composto apenas de mulheres. Com uma dinâmica de gestão e mobilização social, Eliana pôde implantar  equipamentos, que facilitaram a distribuição de energia elétrica e outros serviços básicos para a população da Maré, como o processo de chegada da água. Benefícios utilizados até hoje, graças ao voto popular.

O Maré de Notícias foi pensado e fundado, em 2009, como um dos resultados do avanço da metodologia da Redes da Maré. Pensar o jornalismo e a comunicação mareense a partir de toda essa experiência de luta e mobilização foi fundamental para a estruturação e desenvolvimento desse projeto.

Atualmente, a equipe do Maré de notícias tem a maioria de mulheres em sua composição, o que faz toda diferença para o material que produzimos diariamente. Afinal, são nove mulheres (Jéssica Pires, Dani Moura, Amanda Célio, Ana Paula Lisboa, Andrezza Paulo, Samara Oliveira, Aline Fornel, Gabi Lino e Julia Marino), mães, mulheres negras, trabalhadoras, que estão diariamente fazendo a engrenagem girar, sendo dentro de suas casas e cuidando da família, seja em outras regiões do estado correndo atrás da sua independência. 

A vida de uma mulher já é desafiadora e complexa desde quando nascemos. Nossos direitos são negados há anos. No Brasil, adquirimos o direito de votar apenas há 92 anos – uma vitória que precisa ser comemorada e refletida até hoje. 

Vale lembrar que mesmo as mulheres sendo mais de 50% do eleitorado brasileiro, na Câmara Federal somos pouco mais de 17% dos deputados eleitos, sendo 91 mulheres para um total de 563 parlamentares eleitos. No Senado, dos 27 eleitos em 2022, apenas quatro foram mulheres. E temos apenas 11 mulheres, dentre os 81 senadores do Brasil. Ainda não temos garantida a plena participação das mulheres na política, mas isso não significa que vamos parar de lutar. 

De acordo com uma matéria do site Alma Preta, até hoje mulheres negras são impactadas de maneira diferente em assuntos eleitorais, mesmo sendo quase 30% da população brasileira, se candidatam menos e algumas sequer conseguem votar.

Também não somos vistas nos principais cargos de chefia, não temos os mesmo salários que os homens, a disparidade de gênero nos bate à porta a cada dia. 

Quando falamos do cotidiano que atravessa a vida da mulher favelada a história é duas vezes mais complicada. Isso porque, para além das batalhas diárias, uma mulher, criança ou adolescente que nasce na favela precisa lidar com a falta de direitos básicos como ter acesso à uma estrutura de saneamento básico eficiente; à saúde e educação de qualidade; à mobilidade, aos direitos urbanos e ambientais, além do acesso à arte, cultura e lazer por exemplo. 

Neste dia 8, é dia de lembrar e resgatar forças para não desistirmos de lutar juntas. É preciso estarmos atentas e fortes. Atentas também aos nossos direitos reprodutivos, que estão sempre sendo questionados, retirados na surdina e questionados por homens brancos de paletó e gravata. Não vamos esquecer que só há sete dias atrás, no dia 1° de março, é que a nova lei da laqueadura, que garante à mulher o direito ao procedimento sem a necessidade de autorização do marido, entrou em vigor, após ser aprovada em agosto de 2022. 

Para não esquecer: laqueadura antes de 25 anos e agora é 21 anos. Se tiver 2 filhos,  não tem idade mínima. Se quiser fazer o procedimento no momento ali após o parto, pode, desde que comunique 60 dias com antecedência o interesse de fazer a cirurgia. E, não precisa mais do consentimento do cônjuge.

A saúde reprodutiva da mulher é pautada há anos, porém sobre o poder de decisão masculina, inclusive em casos de violência sexual e risco de vida da mãe e do bebê. A interrupção da gravidez é reconhecida pelo Código Penal brasileiro desde 1946, autorizado em casos de má formação fetal (anencefalia); quando a vida da gestante está em risco (em ambos os casos é necessário um laudo médico); se a gravidez é fruto de um estupro e em caso de gestação em menores de 14 anos, visto que toda relação sexual com uma menina dessa idade é considerada por lei estupro de vulnerável. Infelizmente e de maneira contraditória, o aborto legal não é garantia para que os procedimentos aconteçam aqui no Brasil, já que o estigma gerado a partir da interpretação do Código Penal resulta em dúvidas nos profissionais de saúde e discussões de caráter moral. 

De acordo com o Ministério da Saúde, o risco de uma mulher negra morrer por aborto inseguro é 2,5 vezes maior do que o de uma mulher branca. O Brasil, um país de dimensões continentais, tem poucos polos de atendimento e está concentrado em regiões com maior poder aquisitivo. Quase 40% das mulheres que fizeram um aborto autorizado por lei no Brasil entre janeiro de 2021 e fevereiro de 2022 realizaram o procedimento fora do município onde moravam, segundo levantamento feito pelo g1 com dados do Sistema Único de Saúde (SUS) obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI).

As mulheres que moram mais distante dos centros – pretas, periféricas e indígenas – ficam mais expostas a complicações; e reféns da falta de acesso.

E não podemos esquecer também das mulheres trans, das mulheres indígenas, das mulheres com deficiência. O tema é urgente e delicado. Só em 2021 a categoria “deficiência” ganhou visibilidade no Atlas da Violência, devido à mobilização dos movimentos de enfrentamento à violência contra as mulheres com deficiência. Vale lembrar que a perpetração de violência contra pessoas com deficiência é proporcionalmente maior.

Que este 8M fortaleça a luta e as conquistas de todas. E que as mulheres que compõe essa Maré de Notícias sejam sempre fio que tecem direitos para as mareenses e tantas outras mulheres.

7ª edição do Boletim Direito à Segurança Pública na Maré será lançado nesta segunda (13)

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Publicação mostra dados e efeitos da violência na vida de moradores da Maré em 2022

Por Maré de Notícias e Redes da Maré/Julia Bruce

Na próxima segunda (13) e terça-feira (14) a Redes da Maré lança a nova edição do boletim Direito à Segurança Pública na Maré, com dados do contexto da violência armada e operações policiais, em 2022. Serão dois eventos de lançamento, um no território da Maré e outro no Centro do Rio de Janeiro. 

O evento na Maré acontece no Galpão RITMA, de 16h às 17h, na Rua Teixeira Ribeiro, 521, no Parque Maré. E em parceria com o Museu de Arte do Rio (MAR), os dados do boletim também serão apresentados como parte da agenda colaborativa do “Março por Marielle e Anderson”, no dia 14/03, das 13h às 17h, na Sala 2.2, com o objetivo de ampliar o debate sobre a violência armada e a política de segurança pública em outros espaços da cidade. 

O boletim é uma publicação do eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça, construído a partir do projeto “De Olho na Maré!” que, desde 2016, vem monitorando os impactos da violência armada no conjunto de favelas da Maré. A programação é gratuita, aberta ao público e não há inscrição prévia.

Nesta 7ª edição do Boletim Direito à Segurança Pública na Maré, a Redes da Maré reflete e apresenta dados sobre a violência armada e os seus efeitos na vida cotidiana de moradores das 16 favelas da Maré. São informações relativas às operações policiais e aos confrontos entre grupos armados ocorridos ao longo do ano de 2022. Para permitir uma visão mais ampla e de longo prazo sobre os fatores que intensificam ou atenuam o cenário de violações e violências que atingem os mareenses, o boletim traçou análises comparativas entre o ano de 2022 e os cinco anos anteriores.

“A produção de conhecimento, a partir da realidade específica de quem vive nestes espaços, é uma estratégia fundamental para a visibilizar as violências que acontecem e, também, para a criação de estratégias para a sua superação. Os dados produzidos pela Redes, no contexto da violência armada na Maré, vem subsidiando ações estratégicas de incidência política, no âmbito do poder legislativo. A Ação Civil Pública da Maré e a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 635 (ADPF das Favelas), são instrumentos jurídicos elaborados para o controle das ações policiais violentas em favelas e são subsidiadas a partir da produção de dados sobre as dinâmicas das violações de direitos nestes espaços”, comenta Maykon Sardinha, coordenador do Eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré.

ADPF das Favelas

Após três anos de diminuição das operações policiais na Maré, em função, especialmente, das ações judiciais provocadas pela sociedade civil, como a “ADPF das Favelas” (ADPF 635) e a Ação Civil Pública (ACP) da Maré, a Redes identificou, em 2022, um aumento significativo no número de intervenções policiais e, por consequência, o número de homicídios também aumentou. Os dados completos serão apresentados no próximo dia 13.

Em memória

O dia 14 de março também é uma data importante para a Maré, pois marca os cinco anos da morte da ex-vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, e do motorista Anderson Gomes. 

Cria da Maré, educadora e socióloga, Marielle Franco foi brutalmente assassinada e até hoje não há respostas concretas sobre a motivação e quem são os mandantes do crime. Marielle tinha como principal atuação a defesa dos direitos das mulheres, da população negra e periférica e da comunidade LBGTQIAP+. 

Em 2018, foi sancionada a Lei Estadual 8.504/18 que incluiu o dia 14 de março no calendário oficial do Rio de Janeiro como o Dia Marielle Franco, de Luta contra o Genocídio da Mulher Negra, aprovada pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ).

Veja a programação completa:

Dia 13/03

Local: Galpão RITMA (Rua Teixeira Ribeiro, 521 – Parque Maré)

16h – Leitura do Manifesto das Mães da Maré

16h10 – Apresentação da metodologia de coleta de dados do “De Olho na Maré!”

16h40 – Exibição do vídeo da campanha “É preciso estar vivo para viver”

16h50 – Apresentação de SLAM com Math de Araújo e Poeta Stacy

17h – Abertura da exposição itinerante “Impactos da violência armada na Maré”

Dia 14/03

Local: Museu de Arte do Rio (MAR) (Praça Mauá, 5 – Centro do Rio – Sala 2.2)

13h – Leitura do Manifesto das Mães da Maré

13h10 – Apresentação da metodologia de coleta de dados do “De Olho na Maré!”

13h40 – Exibição do vídeo da campanha “É preciso estar vivo para viver”

13h50 – Apresentação de SLAM

14h – Abertura da exposição itinerante “Impactos da violência armada na Maré” até às 17h

Um Carnaval embranquecido?

A maior festa popular brasileira termina com questionamentos no Grupo Especial sobre jurados

Por Helio Euclides

O Carnaval de 2023 acabou, mas uma polêmica ficou. Quem desfilou no Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro, no Sambódromo da Marquês de Sapucaí e olhou para as cabines de apuração teve uma percepção, todos os 36 jurados eram brancos. O tema teve grande repercussão nas redes sociais, com críticas pela falta de representatividade, para avaliar uma cultura preta e onde 56% da população brasileira se auto declara negros. Em nota encaminhada à Agência Brasil, a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio (Liesa) disse que se orgulha de “ter no júri oficial profissionais experientes e talentosos de variadas áreas de atuação.” 

Este tema foi discutido no Maré de Notícias em 2020. Para falar sobre o aprofundamento histórico do Carnaval, o contexto de desigualdade e embranquecimento do carnaval, o Maré de Notícias ouviu Vicente Magno Cardoso, jornalista e doutorando em Antropologia. 

Maré de Notícias: Como foi o início do Carnaval?

Vicente Magno: “O Carnaval é uma festa que chegou ao Brasil pelos colonizadores, o tal entrudo. Só que era uma festa suja nas ruas, a brincadeira era se lambuzar e lambuzar todo mundo. Dentro das casas das pessoas com dinheiro tinha outra, o entrudo doméstico, que usava os limões de cheiro. Mas voltando para a rua aconteceu outra influência de gente branca e rica, que trouxe referência de carnavais mascarados e elegantes de Veneza, na Itália, e de Nice, na França. O Carnaval de Veneza ainda é conhecido pelas máscaras.”

MN: Ocorreu influência da população negra?

V.M: Quiseram trazer aquela referência para nos ‘civilizar’, nos ensinar o que era uma maneira ordenada de brincar. Mas aí, os populares vendo a brincadeira dos mais ricos foram fazer a sua. Imitando um pouco, tomando como referência. Usando os ritmos da época. Numa cidade com a população negra, em termos relativos, maior do que é hoje, podemos imaginar que a partir daí o Carnaval passou a ser predominantemente negro. Hilário Jovino é um personagem importante, um homem negro, pernambucano e morador do Morro da Conceição, que tem a Pedra do Sal como uma de suas subidas, talvez a mais famosa, criou o primeiro ‘rancho’, uma organização carnavalesca ainda na segunda metade do século XIX. Ele ajudou a organizar outras instituições voltadas para Carnaval e onde os negros mostravam seu conhecimento, sua ancestralidade pelas ruas daquele antigo Rio de Janeiro.

MN: Esse foi o primeiro passo para as escolas de samba?

V.M: Décadas depois e já no século seguinte, nasceram as escolas de samba. Principalmente compostas por negros, o que perdurou da década de 1920 até a década de 1960, quando houve uma, digamos, “invasão da classe média”. É nesse período também que se começou a notar com maior visibilidade a existência e até a importância das escolas de samba. Conforme elas foram ganhando mais espaço, mais visibilidade, foram ganhando mais recursos e crescendo. Era algo que também interessava às escolas. Com o preço de diminuir sua representatividade.

MN: Como está desenhado o carnaval das escolas de samba?

V.M: Hoje, a maioria dos presidentes das agremiações são homens brancos. Mas existem segmentos onde o negro é o protagonista, principalmente no tocar, as baterias e o dançar, como na ala de passistas. E como virou um grande espetáculo, optando-se por gerar dinheiro em torno disso, naquela movimentação criada lá atrás, optou-se também por ser consumido nos desfiles por quem tinha mais recursos e é fácil entender daí porque tem muito de uma classe média branca que vem do próprio Rio, de outras cidades e estados e até de outros países.

MN: Qual o momento dos negros no carnaval?

V.M: As escolas sempre tiveram a negritude como marca. São corpos negros que se referem ao que sabem saber. E há poucos anos há uma onda, excelente, diga-se de passagem, de valorizar essa mesma negritude. Indo além da religiosidade, que está sempre presente. Mas afirmando o protagonismo de pessoas negras na história, na cultura, no Brasil. Não acontece só hoje, mas vemos esses enredos em maior concentração hoje. Vimos, há um pouco mais de tempo, o investimento de muitas escolas em ampliar suas alas de comunidade. Isso revalorizou pessoas que fazem parte do cotidiano das escolas, além daquelas que só chegam para comprar fantasias e estão desconectadas da vida da agremiação.

MN: Qual a diferença dos grandes espetáculos e o da periferia?

V.M: Houve um embranquecimento, mas há uma disputa silenciosa pelos espaços dentro das escolas. Brancos com mais dinheiro, geralmente comerciantes e empresários, ainda se sobressaem. Até quando não sei. As pequenas escolas não são tão ocupadas por pessoas de outras comunidades. Geralmente quem faz o cotidiano delas é quem desfila nelas. Dão menos visibilidade, estão mais preocupadas em existir do que ter pessoas de fora para ganhar espaço. Esse embranquecimento não chega tanto a elas.

MN: Como vê a polêmica dos jurados brancos?

V.M: Começou-se a falar sobre pessoas brancas fazendo julgamento. Isso existe há muito tempo, há a questão de serem pessoas ligadas a uma “cultura superior” ou “clássica” que daria um tipo de carimbo naquelas manifestações de pessoas negras, dos subúrbios e favelas como algo que tivesse valor cultural. Eu acredito que já é hora de olhar para isso criticamente. Há pessoas brancas que conhecem de samba e de escolas de samba, mas pode-se e deve-se abrir espaço para pessoas negras que têm algum tipo de representação.

MN: Isso também pode ocorrer no carnaval de rua?

V.M: Sobre blocos de rua… existe uma diversidade muito grande e o lugar e o público que os frequenta vai ser determinante. Há um Carnaval de rua nos subúrbios da cidade. E há um Carnaval de rua retomado nas partes mais ricas e os atores principais dessa festa são jovens universitários. Pessoas brancas levam uma maneira diferente da que existia antes para brincar Carnaval. É um novo modelo se comparado com o que existia antes se pensarmos em música ou em fantasias, por exemplo. Porém, também há um embranquecimento aí. Eu, por exemplo, num desses blocos, fui identificado seis vezes numa mesma manhã como camelô. Ou seja, na leitura das pessoas que vieram falar comigo, eu só poderia estar ali para prestar um serviço a elas e não como um folião. “Seis mal-entendidos” em seguida. Por outro lado, existem pessoas negras que se utilizam dessa, digamos nova linguagem de blocos, e fazem os seus blocos onde esses mal-entendidos não devem acontecer. São negros que reocupam essa estética trazidas por uma classe média.

MN: Como avaliar esse pertencimento da cultura?

V.M: O embranquecimento está presente por todos os lados. Mas há resposta a ele. Escolas de samba abriram as portas para se embranquecer em troca de crescer, mas sentem um peso, por isso ao mesmo tempo procuram ter algum tipo de reação. E existe uma disputa silenciosa dentro delas. No Carnaval dos blocos, o que vemos principalmente nos bairros da Zona sul e Centro, é outro embranquecimento das ruas que foram nossas há um século. Mas, ao mesmo tempo, existe gente que entende esse processo e faz os seus blocos para que os espaços sejam ocupados também e principalmente por gente negra. Além da festa e da alegria, a gente vive disputando o protagonismo do Carnaval sem nunca parar. Ou desistir.

Resíduos sólidos pelas ruas: um problema que causa transtornos pela Maré

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Favela não tem a varredura nas ruas e não se encontram papeleiras nos postes

Por Hélio Euclides

No meio da tarde, o dia virou noite. No céu, nuvens carregadas. Isso ocorreu no início de fevereiro, quando a cidade do Rio de Janeiro sofreu com a forte chuva. Na Maré não foi diferente do que ocorreu em todo o município. Foram ruas cheias, pessoas ilhadas e casas inundadas. Para muitos nas redes sociais o grande vilão foi o lixo, espalhado pelas ruas da cidade. Esses depoimentos culpavam a própria população por jogar lixo na rua, esquecendo que além dos deveres dos cidadãos, é preciso um conjunto de ações do poder público para evitar enchentes.

No dia anterior à chuva, o Maré de Notícias constatou que muitas bocas de lobo, bueiros retangulares onde se capta a água da chuva, estavam com lixo no entorno, ou mesmo impedindo o funcionamento. É necessário a realização de campanhas para que as pessoas coloquem o lixo para coleta nos dias e horários corretos e não dispense aquele copo de guaraná ou papel de bala nas ruas. Por outro lado, como diferente de partes da cidade, a favela não tem a varredura nas suas ruas e não se encontram papeleiras nos postes. 

Com a cidade no maior transtorno, com carros danificados, ruas parecendo uma lagoa e casas inundadas, o carioca usa as redes sociais para desabafar. Um desses internautas foi Marco Aurélio, diretor de cultura da Associação de Moradores do Parque União. “A chuva é um fenômeno da natureza. Se nós enquanto moradores fossemos educados e não jogassem os lixos nas ruas, nos bueiros, poderíamos estar um pouco melhor. Todos os dias orientamos quanto ao lixo, precisamos fazer nossa parte, pois só lembramos da associação de moradores nestas horas. Quando falamos, tentamos conscientizá-los da importância sobre lixo, nem todos acatam. Quando há enchentes, é hora de deixar a natureza seguir sua trajetória e manter-se em local seguro”, expõe. 

Mariane Rodrigues, coordenadora do projeto Maré Verde, do Eixo de Direitos Urbanos e Socioambientais da Redes da Maré (DUSA), lembra que cada vez mais vai ocorrer o agravamento do fenômeno das chuvas em grande quantidade, em resultado do calor extremo e das mudanças climáticas. “Essa é uma realidade que não tem como fugir. Para nós seres humanos que vivemos em cidades, precisamos preparar as nossas regiões para esses eventos, para não sermos sempre vítimas disso. Essa preparação está prevista em lei, tendo o saneamento básico com direito nosso, como abastecimento da água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana dos resíduos sólidos e a drenagem com manejo das águas pluviais”, diz. 

Para Rodrigues, sobre as enchentes, é fundamental uma drenagem adequada. “A mesma lei diz que é necessário a manutenção dessas infraestruturas, com atualizações. Para pensar em toda a vazão dessa quantidade de água, a drenagem tem que ser feita pelo poder público. Claro que os moradores precisam ter cada vez mais consciência de fazer o descarte correto do lixo, mas ele precisa ter destinação correta”, comenta. Para entender os momentos de chuvas, é preciso falar de planejamento urbano e manutenção, para evitar volta em meia o que acontece na cidade. “Isso ocorre porque não foi resolvido a questão das chuvas fortes, com falhas no escoamento. Uma responsabilidade nossa, como ser humano, é demandar o poder público, para que faça o manejo correto, para que os moradores não sofram”, afirma.

A coordenadora alerta que ao ocorrer enchentes há contaminação da água, das casas, das comidas e estraga as moradias. “Uma série de danos que precisam ser levados em consideração. Isso tudo é questão de saúde, de acesso e de qualidade de vida. A Prefeitura precisa entender que é preciso uma destinação correta prevendo os eventos extremos. Às vezes a chuva não é tão forte, mas já alaga, algo que não deveria acontecer”, conclui.

Os resíduos podem ser luxo ou lixo

Desde 2010, o país conta com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que reúne o conjunto de princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e ações, para uma gestão integrada e o gerenciamento ambientalmente adequado. No papel é bonito, na realidade só alguns poucos são contemplados. Na cidade do Rio de Janeiro, o trabalho é realizado por um caminhão de pintura diferenciada. A coleta seletiva só chega no entorno da Maré, a favela ainda não é contemplada pelo serviço municipal.

No ano de 2022, um dos projetos que melhorou a coleta dos resíduos na cidade foi o ecoponto. A Comlurb (Companhia de Limpeza Urbana) criou 20 novas unidades para receber os resíduos, que reúne caixa compactadora de 15 m3 para receber lixo comum e duas outras para entulhos, galhadas e bens inservíveis. Os 20 ecopontos estão nas favelas do Fogueteiro, no Rio Comprido; Vagão e Vila Jurema, em Realengo; Santo Amaro, no Catete; Madureira, embaixo do Viaduto Negrão de Lima; Mineira, no Catumbi; Vigário Geral; Parada de Lucas; Amarelinho; Novo Lar, no Recreio; Camarista Méier, no Engenho de Dentro; Mangueira; na Avenida Paranapuan, na altura do Morro do Dendê, Vila Joaniza, Parque Royal e Pixunas, na Ilha do Governador; Sá Viana, no Grajaú; e Arará, em Benfica.

A Maré não foi contemplada por nenhum dos dois projetos. Assim ainda é possível ver áreas de descartes de lixo impróprios ou caçambas que não suportam tantos resíduos, e tudo fica espalhado pelo chão. Dandaiana de Freitas, moradora do Conjuntos Pinheiros, acredita que a dispensa do lixo domiciliar em locais adequados ajudaria a diminuir as enchentes, algo que vê sempre pela sua janela em frente a ciclovia. “A coleta aqui na minha rua acho bem feita. Quando os garis demoram um dia ou mais a vir, quando vêm, eu vejo eles varrendo o que ficou no chão. Outro dia, vi uma caçamba de lixo virar por causa da enchente e o lixo foi todo no chão. Isso só piora as coisas quando chove”, comenta.

Como moradora ela percebe erros de vizinhos, como areia de obra toda molhada e perto um bueiro. “A primeira coisa que pensei foi que parte dessa areia entrou no bueiro e causou mais entupimento”, conta. Para ela a coleta deve ser mais efetiva em algumas ruas e travessas. “Algumas pessoas relatam que a coleta do carro de lixo passa apenas uma vez por semana, e mesmo assim num horário que a maioria das pessoas estão dormindo”, diz. Freitas também desejava ver as papeleiras pelas ruas e principalmente nas praças. “As poucas que existiam foram destruídas. Dia desses vi numa reportagem que até nas áreas mais cuidadas pelo poder público na cidade havia falta de papeleiras. O meu desejo era que fossem colocados aqueles coletores coloridos que indicam o lixo ou resíduo pela cor”, finaliza. 

A coleta domiciliar na Maré

O Maré de Notícias entrou em contato com a Comlurb para a respostas aos questionamentos. A empresa informou que mantém uma gerência dentro da Maré exclusivamente para o atendimento das 16 favelas locais. Segundo a instituição, a coleta de resíduos domiciliares e do lixo público é realizada de segunda a sábado, em dois turnos, com uma equipe composta por 76 garis, que trabalham com apoio de sete caminhões compactadores e dois satélites, veículos mais estreitos que têm mais facilidade para acessar becos, além de quatro mini tratores. Já no domingo, o trabalho é em regime de plantão e os garis realizam a limpeza dos locais com grande concentração de pessoas, como os bailes. 

A Comlurb alertou que muitas vezes o trabalho dos garis é prejudicado pelo excesso de carros estacionados dos dois lados das ruas, o que dificulta o trânsito dos veículos de coleta. Os locais onde não há possibilidade de acesso para coleta contam com contêineres, que também são limpos duas vezes por dia. A companhia reiterou o apelo para que os resíduos dos moradores da Maré sejam dispostos de forma ordenada, respeitando as orientações da gerência local, para evitar que fiquem expostos por muito tempo em via pública. 

A companhia confirma que todas as áreas onde há possibilidade de acesso de caminhões são atendidas com o Serviço de Remoção Gratuita de Entulho de pequenas obras domiciliares e de outros materiais inservíveis como móveis, galhadas e eletrodomésticos e que a solicitação pode ser feita pela Central de Atendimento via WhatsApp 3460-1746. A Maré também é atendida pelo serviço de combate a vetores da Comlurb. A empresa afirmou que em 2021, foram realizadas 88 intervenções locais na Maré, principalmente revisões periódicas em valões e escolas municipais.

Sobre os ecopontos a Comlurb avisou que ainda não está fechado o planejamento da instalação. Os locais que receberão ecopontos ainda estão em estudo. Já quanto às papeleiras, a empresa enfatiza que há muitos casos de roubos e furtos, com média de 500 a 600 unidades por mês, ou 6.000 a 7.200 por ano. Com registros de vandalismo e furto em toda a cidade, do Leblon a Santa Cruz, com prejuízo aos cofres públicos. A Comlurb assegurou que tem tentado repor com prioridade em locais com maior fluxo de pedestres, como centros comerciais, pontos de ônibus e de táxi, estações do metrô, barcas, hospitais, escolas, shoppings e praças.