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7ª edição do Boletim Direito à Segurança Pública na Maré será lançado nesta segunda (13)

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Publicação mostra dados e efeitos da violência na vida de moradores da Maré em 2022

Por Maré de Notícias e Redes da Maré/Julia Bruce

Na próxima segunda (13) e terça-feira (14) a Redes da Maré lança a nova edição do boletim Direito à Segurança Pública na Maré, com dados do contexto da violência armada e operações policiais, em 2022. Serão dois eventos de lançamento, um no território da Maré e outro no Centro do Rio de Janeiro. 

O evento na Maré acontece no Galpão RITMA, de 16h às 17h, na Rua Teixeira Ribeiro, 521, no Parque Maré. E em parceria com o Museu de Arte do Rio (MAR), os dados do boletim também serão apresentados como parte da agenda colaborativa do “Março por Marielle e Anderson”, no dia 14/03, das 13h às 17h, na Sala 2.2, com o objetivo de ampliar o debate sobre a violência armada e a política de segurança pública em outros espaços da cidade. 

O boletim é uma publicação do eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça, construído a partir do projeto “De Olho na Maré!” que, desde 2016, vem monitorando os impactos da violência armada no conjunto de favelas da Maré. A programação é gratuita, aberta ao público e não há inscrição prévia.

Nesta 7ª edição do Boletim Direito à Segurança Pública na Maré, a Redes da Maré reflete e apresenta dados sobre a violência armada e os seus efeitos na vida cotidiana de moradores das 16 favelas da Maré. São informações relativas às operações policiais e aos confrontos entre grupos armados ocorridos ao longo do ano de 2022. Para permitir uma visão mais ampla e de longo prazo sobre os fatores que intensificam ou atenuam o cenário de violações e violências que atingem os mareenses, o boletim traçou análises comparativas entre o ano de 2022 e os cinco anos anteriores.

“A produção de conhecimento, a partir da realidade específica de quem vive nestes espaços, é uma estratégia fundamental para a visibilizar as violências que acontecem e, também, para a criação de estratégias para a sua superação. Os dados produzidos pela Redes, no contexto da violência armada na Maré, vem subsidiando ações estratégicas de incidência política, no âmbito do poder legislativo. A Ação Civil Pública da Maré e a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 635 (ADPF das Favelas), são instrumentos jurídicos elaborados para o controle das ações policiais violentas em favelas e são subsidiadas a partir da produção de dados sobre as dinâmicas das violações de direitos nestes espaços”, comenta Maykon Sardinha, coordenador do Eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré.

ADPF das Favelas

Após três anos de diminuição das operações policiais na Maré, em função, especialmente, das ações judiciais provocadas pela sociedade civil, como a “ADPF das Favelas” (ADPF 635) e a Ação Civil Pública (ACP) da Maré, a Redes identificou, em 2022, um aumento significativo no número de intervenções policiais e, por consequência, o número de homicídios também aumentou. Os dados completos serão apresentados no próximo dia 13.

Em memória

O dia 14 de março também é uma data importante para a Maré, pois marca os cinco anos da morte da ex-vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, e do motorista Anderson Gomes. 

Cria da Maré, educadora e socióloga, Marielle Franco foi brutalmente assassinada e até hoje não há respostas concretas sobre a motivação e quem são os mandantes do crime. Marielle tinha como principal atuação a defesa dos direitos das mulheres, da população negra e periférica e da comunidade LBGTQIAP+. 

Em 2018, foi sancionada a Lei Estadual 8.504/18 que incluiu o dia 14 de março no calendário oficial do Rio de Janeiro como o Dia Marielle Franco, de Luta contra o Genocídio da Mulher Negra, aprovada pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ).

Veja a programação completa:

Dia 13/03

Local: Galpão RITMA (Rua Teixeira Ribeiro, 521 – Parque Maré)

16h – Leitura do Manifesto das Mães da Maré

16h10 – Apresentação da metodologia de coleta de dados do “De Olho na Maré!”

16h40 – Exibição do vídeo da campanha “É preciso estar vivo para viver”

16h50 – Apresentação de SLAM com Math de Araújo e Poeta Stacy

17h – Abertura da exposição itinerante “Impactos da violência armada na Maré”

Dia 14/03

Local: Museu de Arte do Rio (MAR) (Praça Mauá, 5 – Centro do Rio – Sala 2.2)

13h – Leitura do Manifesto das Mães da Maré

13h10 – Apresentação da metodologia de coleta de dados do “De Olho na Maré!”

13h40 – Exibição do vídeo da campanha “É preciso estar vivo para viver”

13h50 – Apresentação de SLAM

14h – Abertura da exposição itinerante “Impactos da violência armada na Maré” até às 17h

Um Carnaval embranquecido?

A maior festa popular brasileira termina com questionamentos no Grupo Especial sobre jurados

Por Helio Euclides

O Carnaval de 2023 acabou, mas uma polêmica ficou. Quem desfilou no Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro, no Sambódromo da Marquês de Sapucaí e olhou para as cabines de apuração teve uma percepção, todos os 36 jurados eram brancos. O tema teve grande repercussão nas redes sociais, com críticas pela falta de representatividade, para avaliar uma cultura preta e onde 56% da população brasileira se auto declara negros. Em nota encaminhada à Agência Brasil, a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio (Liesa) disse que se orgulha de “ter no júri oficial profissionais experientes e talentosos de variadas áreas de atuação.” 

Este tema foi discutido no Maré de Notícias em 2020. Para falar sobre o aprofundamento histórico do Carnaval, o contexto de desigualdade e embranquecimento do carnaval, o Maré de Notícias ouviu Vicente Magno Cardoso, jornalista e doutorando em Antropologia. 

Maré de Notícias: Como foi o início do Carnaval?

Vicente Magno: “O Carnaval é uma festa que chegou ao Brasil pelos colonizadores, o tal entrudo. Só que era uma festa suja nas ruas, a brincadeira era se lambuzar e lambuzar todo mundo. Dentro das casas das pessoas com dinheiro tinha outra, o entrudo doméstico, que usava os limões de cheiro. Mas voltando para a rua aconteceu outra influência de gente branca e rica, que trouxe referência de carnavais mascarados e elegantes de Veneza, na Itália, e de Nice, na França. O Carnaval de Veneza ainda é conhecido pelas máscaras.”

MN: Ocorreu influência da população negra?

V.M: Quiseram trazer aquela referência para nos ‘civilizar’, nos ensinar o que era uma maneira ordenada de brincar. Mas aí, os populares vendo a brincadeira dos mais ricos foram fazer a sua. Imitando um pouco, tomando como referência. Usando os ritmos da época. Numa cidade com a população negra, em termos relativos, maior do que é hoje, podemos imaginar que a partir daí o Carnaval passou a ser predominantemente negro. Hilário Jovino é um personagem importante, um homem negro, pernambucano e morador do Morro da Conceição, que tem a Pedra do Sal como uma de suas subidas, talvez a mais famosa, criou o primeiro ‘rancho’, uma organização carnavalesca ainda na segunda metade do século XIX. Ele ajudou a organizar outras instituições voltadas para Carnaval e onde os negros mostravam seu conhecimento, sua ancestralidade pelas ruas daquele antigo Rio de Janeiro.

MN: Esse foi o primeiro passo para as escolas de samba?

V.M: Décadas depois e já no século seguinte, nasceram as escolas de samba. Principalmente compostas por negros, o que perdurou da década de 1920 até a década de 1960, quando houve uma, digamos, “invasão da classe média”. É nesse período também que se começou a notar com maior visibilidade a existência e até a importância das escolas de samba. Conforme elas foram ganhando mais espaço, mais visibilidade, foram ganhando mais recursos e crescendo. Era algo que também interessava às escolas. Com o preço de diminuir sua representatividade.

MN: Como está desenhado o carnaval das escolas de samba?

V.M: Hoje, a maioria dos presidentes das agremiações são homens brancos. Mas existem segmentos onde o negro é o protagonista, principalmente no tocar, as baterias e o dançar, como na ala de passistas. E como virou um grande espetáculo, optando-se por gerar dinheiro em torno disso, naquela movimentação criada lá atrás, optou-se também por ser consumido nos desfiles por quem tinha mais recursos e é fácil entender daí porque tem muito de uma classe média branca que vem do próprio Rio, de outras cidades e estados e até de outros países.

MN: Qual o momento dos negros no carnaval?

V.M: As escolas sempre tiveram a negritude como marca. São corpos negros que se referem ao que sabem saber. E há poucos anos há uma onda, excelente, diga-se de passagem, de valorizar essa mesma negritude. Indo além da religiosidade, que está sempre presente. Mas afirmando o protagonismo de pessoas negras na história, na cultura, no Brasil. Não acontece só hoje, mas vemos esses enredos em maior concentração hoje. Vimos, há um pouco mais de tempo, o investimento de muitas escolas em ampliar suas alas de comunidade. Isso revalorizou pessoas que fazem parte do cotidiano das escolas, além daquelas que só chegam para comprar fantasias e estão desconectadas da vida da agremiação.

MN: Qual a diferença dos grandes espetáculos e o da periferia?

V.M: Houve um embranquecimento, mas há uma disputa silenciosa pelos espaços dentro das escolas. Brancos com mais dinheiro, geralmente comerciantes e empresários, ainda se sobressaem. Até quando não sei. As pequenas escolas não são tão ocupadas por pessoas de outras comunidades. Geralmente quem faz o cotidiano delas é quem desfila nelas. Dão menos visibilidade, estão mais preocupadas em existir do que ter pessoas de fora para ganhar espaço. Esse embranquecimento não chega tanto a elas.

MN: Como vê a polêmica dos jurados brancos?

V.M: Começou-se a falar sobre pessoas brancas fazendo julgamento. Isso existe há muito tempo, há a questão de serem pessoas ligadas a uma “cultura superior” ou “clássica” que daria um tipo de carimbo naquelas manifestações de pessoas negras, dos subúrbios e favelas como algo que tivesse valor cultural. Eu acredito que já é hora de olhar para isso criticamente. Há pessoas brancas que conhecem de samba e de escolas de samba, mas pode-se e deve-se abrir espaço para pessoas negras que têm algum tipo de representação.

MN: Isso também pode ocorrer no carnaval de rua?

V.M: Sobre blocos de rua… existe uma diversidade muito grande e o lugar e o público que os frequenta vai ser determinante. Há um Carnaval de rua nos subúrbios da cidade. E há um Carnaval de rua retomado nas partes mais ricas e os atores principais dessa festa são jovens universitários. Pessoas brancas levam uma maneira diferente da que existia antes para brincar Carnaval. É um novo modelo se comparado com o que existia antes se pensarmos em música ou em fantasias, por exemplo. Porém, também há um embranquecimento aí. Eu, por exemplo, num desses blocos, fui identificado seis vezes numa mesma manhã como camelô. Ou seja, na leitura das pessoas que vieram falar comigo, eu só poderia estar ali para prestar um serviço a elas e não como um folião. “Seis mal-entendidos” em seguida. Por outro lado, existem pessoas negras que se utilizam dessa, digamos nova linguagem de blocos, e fazem os seus blocos onde esses mal-entendidos não devem acontecer. São negros que reocupam essa estética trazidas por uma classe média.

MN: Como avaliar esse pertencimento da cultura?

V.M: O embranquecimento está presente por todos os lados. Mas há resposta a ele. Escolas de samba abriram as portas para se embranquecer em troca de crescer, mas sentem um peso, por isso ao mesmo tempo procuram ter algum tipo de reação. E existe uma disputa silenciosa dentro delas. No Carnaval dos blocos, o que vemos principalmente nos bairros da Zona sul e Centro, é outro embranquecimento das ruas que foram nossas há um século. Mas, ao mesmo tempo, existe gente que entende esse processo e faz os seus blocos para que os espaços sejam ocupados também e principalmente por gente negra. Além da festa e da alegria, a gente vive disputando o protagonismo do Carnaval sem nunca parar. Ou desistir.

Resíduos sólidos pelas ruas: um problema que causa transtornos pela Maré

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Favela não tem a varredura nas ruas e não se encontram papeleiras nos postes

Por Hélio Euclides

No meio da tarde, o dia virou noite. No céu, nuvens carregadas. Isso ocorreu no início de fevereiro, quando a cidade do Rio de Janeiro sofreu com a forte chuva. Na Maré não foi diferente do que ocorreu em todo o município. Foram ruas cheias, pessoas ilhadas e casas inundadas. Para muitos nas redes sociais o grande vilão foi o lixo, espalhado pelas ruas da cidade. Esses depoimentos culpavam a própria população por jogar lixo na rua, esquecendo que além dos deveres dos cidadãos, é preciso um conjunto de ações do poder público para evitar enchentes.

No dia anterior à chuva, o Maré de Notícias constatou que muitas bocas de lobo, bueiros retangulares onde se capta a água da chuva, estavam com lixo no entorno, ou mesmo impedindo o funcionamento. É necessário a realização de campanhas para que as pessoas coloquem o lixo para coleta nos dias e horários corretos e não dispense aquele copo de guaraná ou papel de bala nas ruas. Por outro lado, como diferente de partes da cidade, a favela não tem a varredura nas suas ruas e não se encontram papeleiras nos postes. 

Com a cidade no maior transtorno, com carros danificados, ruas parecendo uma lagoa e casas inundadas, o carioca usa as redes sociais para desabafar. Um desses internautas foi Marco Aurélio, diretor de cultura da Associação de Moradores do Parque União. “A chuva é um fenômeno da natureza. Se nós enquanto moradores fossemos educados e não jogassem os lixos nas ruas, nos bueiros, poderíamos estar um pouco melhor. Todos os dias orientamos quanto ao lixo, precisamos fazer nossa parte, pois só lembramos da associação de moradores nestas horas. Quando falamos, tentamos conscientizá-los da importância sobre lixo, nem todos acatam. Quando há enchentes, é hora de deixar a natureza seguir sua trajetória e manter-se em local seguro”, expõe. 

Mariane Rodrigues, coordenadora do projeto Maré Verde, do Eixo de Direitos Urbanos e Socioambientais da Redes da Maré (DUSA), lembra que cada vez mais vai ocorrer o agravamento do fenômeno das chuvas em grande quantidade, em resultado do calor extremo e das mudanças climáticas. “Essa é uma realidade que não tem como fugir. Para nós seres humanos que vivemos em cidades, precisamos preparar as nossas regiões para esses eventos, para não sermos sempre vítimas disso. Essa preparação está prevista em lei, tendo o saneamento básico com direito nosso, como abastecimento da água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana dos resíduos sólidos e a drenagem com manejo das águas pluviais”, diz. 

Para Rodrigues, sobre as enchentes, é fundamental uma drenagem adequada. “A mesma lei diz que é necessário a manutenção dessas infraestruturas, com atualizações. Para pensar em toda a vazão dessa quantidade de água, a drenagem tem que ser feita pelo poder público. Claro que os moradores precisam ter cada vez mais consciência de fazer o descarte correto do lixo, mas ele precisa ter destinação correta”, comenta. Para entender os momentos de chuvas, é preciso falar de planejamento urbano e manutenção, para evitar volta em meia o que acontece na cidade. “Isso ocorre porque não foi resolvido a questão das chuvas fortes, com falhas no escoamento. Uma responsabilidade nossa, como ser humano, é demandar o poder público, para que faça o manejo correto, para que os moradores não sofram”, afirma.

A coordenadora alerta que ao ocorrer enchentes há contaminação da água, das casas, das comidas e estraga as moradias. “Uma série de danos que precisam ser levados em consideração. Isso tudo é questão de saúde, de acesso e de qualidade de vida. A Prefeitura precisa entender que é preciso uma destinação correta prevendo os eventos extremos. Às vezes a chuva não é tão forte, mas já alaga, algo que não deveria acontecer”, conclui.

Os resíduos podem ser luxo ou lixo

Desde 2010, o país conta com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que reúne o conjunto de princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e ações, para uma gestão integrada e o gerenciamento ambientalmente adequado. No papel é bonito, na realidade só alguns poucos são contemplados. Na cidade do Rio de Janeiro, o trabalho é realizado por um caminhão de pintura diferenciada. A coleta seletiva só chega no entorno da Maré, a favela ainda não é contemplada pelo serviço municipal.

No ano de 2022, um dos projetos que melhorou a coleta dos resíduos na cidade foi o ecoponto. A Comlurb (Companhia de Limpeza Urbana) criou 20 novas unidades para receber os resíduos, que reúne caixa compactadora de 15 m3 para receber lixo comum e duas outras para entulhos, galhadas e bens inservíveis. Os 20 ecopontos estão nas favelas do Fogueteiro, no Rio Comprido; Vagão e Vila Jurema, em Realengo; Santo Amaro, no Catete; Madureira, embaixo do Viaduto Negrão de Lima; Mineira, no Catumbi; Vigário Geral; Parada de Lucas; Amarelinho; Novo Lar, no Recreio; Camarista Méier, no Engenho de Dentro; Mangueira; na Avenida Paranapuan, na altura do Morro do Dendê, Vila Joaniza, Parque Royal e Pixunas, na Ilha do Governador; Sá Viana, no Grajaú; e Arará, em Benfica.

A Maré não foi contemplada por nenhum dos dois projetos. Assim ainda é possível ver áreas de descartes de lixo impróprios ou caçambas que não suportam tantos resíduos, e tudo fica espalhado pelo chão. Dandaiana de Freitas, moradora do Conjuntos Pinheiros, acredita que a dispensa do lixo domiciliar em locais adequados ajudaria a diminuir as enchentes, algo que vê sempre pela sua janela em frente a ciclovia. “A coleta aqui na minha rua acho bem feita. Quando os garis demoram um dia ou mais a vir, quando vêm, eu vejo eles varrendo o que ficou no chão. Outro dia, vi uma caçamba de lixo virar por causa da enchente e o lixo foi todo no chão. Isso só piora as coisas quando chove”, comenta.

Como moradora ela percebe erros de vizinhos, como areia de obra toda molhada e perto um bueiro. “A primeira coisa que pensei foi que parte dessa areia entrou no bueiro e causou mais entupimento”, conta. Para ela a coleta deve ser mais efetiva em algumas ruas e travessas. “Algumas pessoas relatam que a coleta do carro de lixo passa apenas uma vez por semana, e mesmo assim num horário que a maioria das pessoas estão dormindo”, diz. Freitas também desejava ver as papeleiras pelas ruas e principalmente nas praças. “As poucas que existiam foram destruídas. Dia desses vi numa reportagem que até nas áreas mais cuidadas pelo poder público na cidade havia falta de papeleiras. O meu desejo era que fossem colocados aqueles coletores coloridos que indicam o lixo ou resíduo pela cor”, finaliza. 

A coleta domiciliar na Maré

O Maré de Notícias entrou em contato com a Comlurb para a respostas aos questionamentos. A empresa informou que mantém uma gerência dentro da Maré exclusivamente para o atendimento das 16 favelas locais. Segundo a instituição, a coleta de resíduos domiciliares e do lixo público é realizada de segunda a sábado, em dois turnos, com uma equipe composta por 76 garis, que trabalham com apoio de sete caminhões compactadores e dois satélites, veículos mais estreitos que têm mais facilidade para acessar becos, além de quatro mini tratores. Já no domingo, o trabalho é em regime de plantão e os garis realizam a limpeza dos locais com grande concentração de pessoas, como os bailes. 

A Comlurb alertou que muitas vezes o trabalho dos garis é prejudicado pelo excesso de carros estacionados dos dois lados das ruas, o que dificulta o trânsito dos veículos de coleta. Os locais onde não há possibilidade de acesso para coleta contam com contêineres, que também são limpos duas vezes por dia. A companhia reiterou o apelo para que os resíduos dos moradores da Maré sejam dispostos de forma ordenada, respeitando as orientações da gerência local, para evitar que fiquem expostos por muito tempo em via pública. 

A companhia confirma que todas as áreas onde há possibilidade de acesso de caminhões são atendidas com o Serviço de Remoção Gratuita de Entulho de pequenas obras domiciliares e de outros materiais inservíveis como móveis, galhadas e eletrodomésticos e que a solicitação pode ser feita pela Central de Atendimento via WhatsApp 3460-1746. A Maré também é atendida pelo serviço de combate a vetores da Comlurb. A empresa afirmou que em 2021, foram realizadas 88 intervenções locais na Maré, principalmente revisões periódicas em valões e escolas municipais.

Sobre os ecopontos a Comlurb avisou que ainda não está fechado o planejamento da instalação. Os locais que receberão ecopontos ainda estão em estudo. Já quanto às papeleiras, a empresa enfatiza que há muitos casos de roubos e furtos, com média de 500 a 600 unidades por mês, ou 6.000 a 7.200 por ano. Com registros de vandalismo e furto em toda a cidade, do Leblon a Santa Cruz, com prejuízo aos cofres públicos. A Comlurb assegurou que tem tentado repor com prioridade em locais com maior fluxo de pedestres, como centros comerciais, pontos de ônibus e de táxi, estações do metrô, barcas, hospitais, escolas, shoppings e praças.

Cinema Nosso oferece cursos gratuitos para mulheres negras

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As inscrições se encerram na próxima segunda-feira (6)

Por Lucas Feitoza

Para incentivar que mais mulheres contem as suas histórias e também criem novas narrativas, a Instituição Sociocultural Cinema Nosso está ofertando cursos gratuitos de audiovisual e tecnologia para mulheres negras cis, trans, indígenas e refugiadas de 10 a 29 anos.

No Brasil, de acordo com o Anuário Estatístico do Cinema Brasileiro de 2021, entre os dez primeiros filmes da lista de vinte títulos nacionais com maiores bilheterias, apenas três foram dirigidos por mulheres. Os títulos: “Amarração do Amor” –  Caroline Fioratti, “A sogra perfeita” – Cris D’Amato e “Depois a Louca Sou Eu” – Júlia Rezendi.

O projeto “Empoderamento e Tecnologia: Jovens negras no Audiovisual” visa promover o acesso democrático às produções, capacitar mulheres para o mercado de trabalho e permitir que elas contem suas histórias através da Escrevivência baseando-se no conceito e obras de Conceição Evaristo, em que as pessoas contam suas próprias experiências e no caso, o curso busca contar as histórias e vivências das mulheres.

As inscrições podem ser realizadas até a próxima segunda-feira (6) através do link. Todas as formações contarão com mentorias de gestão de carreira e workshops – que serão obrigatórios durante o curso. Para conclusão é necessário obter 75% de presença e a entrega do trabalho final.

O cinema é nosso

O cinema Nosso foi criado nos anos 2000 pelos artistas e diretores do filme Cidade Deus com o objetivo de promover oportunidades e reduzir as desigualdades sociais. A publicitária Emanuelly Araujo, de 28 anos, conta que ingressou na instituição em 2011 quando estava cursando o Ensino Médio, a partir do curso de cinema básico se interessou pelo ramo do audiovisual. Atualmente trabalha como game designer, e conta como o cinema nosso foi importante. “me ajudou a expandir os horizontes em relação às oportunidades de trabalho e carreiras, porque eu moro aqui em Itaboraí, que é uma cidade relativamente pequena, então foi muito importante pra mim.” Conta.

Emanuelly se alegra ao ver outras mulheres tendo espaço no mercado dos jogos digitais, já que são as maiores consumidoras” “é muito bom ver cada vez mais mulheres negras nesse mercado de jogos. Mulheres especificamente são as maiores consumidoras no Brasil e no entanto na produção a gente não tem um lugar assim tão destacado,” conclui. 

A pedagoga Gabriela Gonçalves, coordenadora do projeto no Cinema Nosso, conta que o trabalho realizado com os cursos do Empoderamento e Tecnologia Jovens Negras no Audiovisual, é fazer com que as mulheres se vejam como profissionais do audiovisual brasileiro. Além disso, Gabriela conta também,que o curso desenvolve outras áreas além da profissional, se dedicando também ao pessoal e social das jovens. 

As aulas serão em formato híbrido, online e presencial. A instituição fica localizada no bairro da Lapa, no Centro da cidade do Rio de Janeiro.

Exposição Imagens Populares chega na Maré

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Ao todo, são 29 obras fotográficas que retratam diferentes momentos do cotidiano da população

Da redação

Conhecida por retratar diferentes momentos do cotidiano de pessoas de origem popular, a exposição “Imagens Populares” segue aberta à visitação gratuita na Maré. Até o dia 31 de março, o Observatório de Favelas, abriga as 29 fotos que integram a mostra na Galeria 535, sede da organização, na Favela Nova Holanda.

A exposição reúne imagens que expressam a ótica cotidiana da fotografia popular não estereotipadas de áreas periféricas, tendo como foco o olhar humanístico do fotógrafo. Desta forma, as fotos constroem uma narrativa mais ampla sobre o significado de “cidade”; permitindo a construção de olhares mais justos, distintos e plurais. 

De acordo com a fotógrafa Karla Inajara, cada profissional tem uma imagem que participa da exposição, totalizando imagens reunidas de 29 fotógrafos que usam a Maré como o espaço geográfico como referência em arte, humanidade, respeito e coletividade mesmo em meio à marginalização do Estado. 

“Fazemos parte da construção e disseminação de um outro olhar desse território plural. É a partir dessa Maré que rompemos fronteiras periféricas e faveladas, atravessando a cidade e captando em cada território o que existe de melhor; as pessoas. Somos 29 artistas narrando nossos olhares em fotografias o que nos afeta. Nossa ótica cotidiana é na fotografia popular, explorando o urbano e suas complexidades, criando e recriando arte, levando uma estética artística para além da vista junto a educadores que empreenderam para que cada um pudesse desenvolver seus pensamentos e se jogar sem medo na prática fotográfica”, afirma Karla, que integrou a turma Bira Carvalho, nome dado em homenagem ao fotógrafo mareense que faleceu em 2021.

A exposição “Imagens Populares” é resultado da formação da Escola de Fotografia Popular do Programa Imagens do Povo, que tem o objetivo de formar fotógrafos de origens populares em um processo que valorize as qualidades técnicas e artísticas, priorizando a formação de mulheres e pessoas negras e transexuais. 

Sobre a Escola de Fotografia Popular

Com foco no olhar humanístico da profissão, a Escola de Fotografia Popular (EFP) alia conhecimentos teóricos que vão da História da fotografia ao dia a dia no fotojornalismo, transitando por tecnologias e ferramentas digitais. O programa já formou seis turmas de fotógrafas/os (2004, 2006, 2007, 2009, 2010 e 2012), totalizando mais de 200 profissionais que receberam certificados de extensão da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Federal do Rio do Janeiro (UFRJ). Ao longo dos anos, a Escola foi se desenvolvendo sobretudo a partir da generosidade e competência das/os professoras/es, palestrantes e coordenadoras/es que passaram por ela, aqui representados por Ripper e Dante Gastaldoni. Em 2022, após uma década da última turma, a EFP retoma suas atividades com a turma Bira Carvalho.

Sobre o Imagens do Povo

O Imagens do Povo (IP) é um programa de documentação e pesquisa fotográfica do cotidiano das periferias, de formação e inserção de fotógrafas/os populares no mercado de trabalho. Fundado em 2004 pelo Observatório de Favelas em parceria com o fotógrafo documentarista João Roberto Ripper, o IP alia técnica fotográfica à promoção de direitos e à democratização da comunicação. O objetivo central é criar novas representações sobre os espaços populares contribuindo para desconstruir os estigmas relacionados a estes territórios. Além disso, a formação, a memória e a difusão são dois eixos fundamentais.