‘Rio de Encontros’ Podcast debate crise climática e qualidade do ar no Rio
Especialistas alertam para os impactos da poluição e das ilhas de calor na saúde da população
O quarto episódio do podcast “Rio de Encontros”, intitulado “Respirando o Futuro”, aborda a relação entre as mudanças climáticas, a poluição e a saúde pública, com foco na qualidade do ar no Complexo de Favelas da Maré.
O programa, apresentado pela jornalista Anabela Paiva, conta com a participação da geógrafa Renata Gracie, coordenadora do Observatório de Clima e Saúde da Fiocruz, e de Everton Pereira, geógrafo e coordenador de direitos urbanos e socioambientais da Redes da Maré. Durante a conversa, os especialistas alertam para os impactos do aumento das ondas de calor e da poluição na saúde dos cariocas, especialmente em comunidades vulneráveis como a Maré. O projeto “Respira Maré”, que mediu a qualidade do ar e avaliou o calor nas 16 favelas do complexo, revelou dados alarmantes: a qualidade do ar está abaixo de qualquer nível
aceitável e a diferença térmica entre a Maré e o Aeroporto do Galeão chega a 4 graus Celsius.
“A Maré é limitada por três das principais vias de circulação de automóveis do Rio: Avenida Brasil, Linha Vermelha e Linha Amarela. Isso, somado ao adensamento urbano e à poluição da Baía de Guanabara, contribui para a piora da qualidade do ar”, explica Everton Pereira. Renata Gracie destaca a importância de estudos como o “Respira Maré” para a criação de políticas públicas eficazes: “É fundamental levantarmos informações detalhadas sobre os impactos da crise climática em diferentes territórios, para que possamos pensar em soluções adequadas a cada realidade”.
O episódio “Respirando o Futuro” já está disponível nas plataformas de podcast, incluindo Spotify.
Sobre o Rio de Encontros
Criado em 2010 pelo Instituto 215, o Rio de Encontros se dedicou a analisar e debater os diversos aspectos do Rio de Janeiro. Ao longo de quase uma década, o projeto aproximou extremos do Rio de Janeiro metropolitano, em 59 debates. Reunidos, gestores públicos, jornalistas, pesquisadores, artistas, escritores, empresários, acadêmicos, lideranças comunitárias e uma turma de jovens de áreas periféricas da metrópole trocaram ideias, histórias e conhecimento sobre o que é viver no Rio.
As ações do projeto sempre tiveram como objetivo construir espaços de interlocução entre as diferentes perspectivas urbanas, com ênfase na diversidade de vozes e olhares sobre a metrópole. Com seus debates periódicos, o Rio de Encontros provoca trocas de ideias sobre temas estratégicos para a vida na metrópole carioca e estimula a formação de redes colaborativas, buscando, no diálogo com a comunidade, as perguntas que temos que nos fazer hoje para pensar a cidade que queremos no futuro.
Pré-matrícula para creches do município começa nesta terça, dia 10 de dezembro
Redes da Maré dá plantão para apoiar famílias nas inscrições que vão até domingo, dia 15 de dezembro
Adriana Pavlova
A Secretaria Municipal de Educação dá início nesta terça-feira (10), às pré-matrículas de novos alunos nas creches da cidade do Rio de Janeiro, para o ano letivo de 2025. As inscrições acontecem somente no site www.matricula.rio até domingo (15), mas, de acordo com o aviso divulgado nas redes sociais da Prefeitura, o responsável que não tiver acesso à internet pode procurar uma unidade escolar mais próxima de sua casa.
A Redes da Maré também dará apoio às famílias das crianças durante o período de pré-matrícula das creches, dando início à 4ª edição da campanha Vamos pra escola. Haverá um plantão nas sedes de Nova Holanda (Rua Sargento Silva Nunes, 1012) e do Pinheiro (Via A1 s/n – anexo ao CIEP Ministro Gustavo Capanema), de terça a quinta-feira, das 10h às 17h, para auxílio nas inscrições.
As creches do município aceitam crianças a partir de 6 meses de idade (completados até 31 de março de 2025) a 3 anos e 11 meses. Na hora da matrícula, é importante ter nas mãos as seguintes informações ou documentos:
- Nome completo da criança;
- CPF da criança, se tiver;
- Nome completo de pai, mãe ou responsável legal;
- CPF do responsável;
- Endereço eletrônico, se tiver;
- Telefone de contato;
- Número de Inscrição Social (NIS), se tiver;
- Rede escolar de origem, se já estudou antes;
- Segmento pretendido.
De acordo com o calendário da Matrícula Carioca 2025, o resultado das vagas para as creches será divulgado em 14 de janeiro, com a confirmação da matrícula nas escolas prevista de 15 a 17 de janeiro. Ainda dentro do calendário, de 7 a 10 de janeiro acontece a transferência interna de Ensino Fundamental e EJA. Já as pré-matrículas dos alunos novos de pré-escola, Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos vão acontecer de 14 a 17 de janeiro. Neste período, a Redes da Maré também oferecerá apoio às famílias, durante os 4 dias, com plantão em diferentes pontos da Maré, dando prosseguimento à campanha Vamos pra escola 2025.
Para mais informações, os responsáveis podem acessar o site da Secretaria Municipal de Educação ou entrar em contato com a central 1746.
Quatro pessoas morrem e duas ficam feridas em 42ª operação policial na Maré
Ao todo, 44 escolas foram fechadas impactando mais de 15 mil alunos, além de quatro unidades de saúde fechadas
Quatro pessoas foram mortas e duas ficaram feridas durante a 42ª operação policial que aconteceu nesta segunda-feira (9) no Conjunto de Favelas da Maré. A operação de grande porte surpreendeu os moradores que por volta das 5h, já relataram helicópteros sobrevoando a área, veículos blindados (caveirões) e policiais a pé principalmente no Conjunto Pinheiros, Baixa do Sapateiro, Morro do Timbau, Nova Holanda e Parque União.
Por volta das 7h da manhã, a equipe do eixo de Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Maré recebeu relatos de que uma pessoa havia sido morta em um beco no Morro do Timbau. A equipe da Redes da Maré acionou o Ministério Público e o Corpo de Bombeiros, que não haviam sido notificados da morte pelas polícias que atuavam no território. Após o diálogo da Redes da Maré com os agentes, policiais militares fizeram o aviso à Delegacia de Homicídios e realizaram a preservação do local do crime. O corpo de Matheus Gama, de 27 anos, permaneceu no local até às 10h, quando o Corpo de Bombeiros chegou ao local para atestar a morte. A perícia da Delegacia de Homicídios chegou ao local por volta das 12h.
Além da morte de Matheus Gama, foram identificadas outras três mortes: Wendell Pereira, de 21 anos; Alessa Vitorino, de 30 anos, e um homem ainda não identificado que se encontra no Hospital Geral de Bonsucesso.
Alessa saía de um comércio na Vila do João e seguia para sua casa no Encantado, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Ela estava acompanhada por Evelyn Tainara, que também foi atingida por disparos. Ambas receberam atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Vila do João, mas, infelizmente, Alessa não resistiu aos ferimentos. Matheus Ramos também foi baleado e, embora tenha sido identificado pela família, seus familiares ficaram horas sem informações sobre seu estado.
Segundo a Polícia Militar, o Comando de Operações Especiais, Batalhão de Policiamento em Vias Expressas e do 22° BPM (Maré) atuaram nas comunidades da Vila do João, Timbau, Vila Pinheiros e Baixa do Sapateiro com o objetivo reprimir o roubo de cargas e veículos na região. A Polícia Civil também participou da ação por meio da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) e da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC).
Ameaças
A equipe da Redes da Maré foi abordada por policiais que em tom de ameaça afirmaram que se identificassem os rostos dos profissionais iriam “caçar as redes sociais” e irem atrás. Logo depois, um policial se aproximou e pediu dados pessoais dos profissionais da Redes da Maré. Essa não é a primeira vez que trabalhadores da Redes da Maré sofrem ameaça por parte dos agentes de segurança do Estado.
Outros impactos
A Redes da Maré, desde 2016, através do Projeto De Olho na Maré, monitora os impactos de operações policiais na Maré. A equipe da instituição realiza atendimento no território nos dias de operação policial para acolher vítimas de violências e violações, buscando facilitar o acesso a direitos.
Nos últimos oito anos, foram registradas 148 mortes das quais em apenas nove foram realizadas perícias.
A operação desta segunda-feira (9) impactou 44 escolas que foram fechadas, sendo 42 municipais e duas estaduais, o que representa 15141 alunos sem aula pela 37ª vez este ano. Quatro unidades de saúde, sendo elas as clínicas da família Augusto Boal, Adib Jatene, Jeremias Moraes da Silva e o Centro Municipal de Saúde Vila do João também precisaram ser fechadas. Além da Clínica da Família Diniz Batista dos Santos que apesar de manter o atendimento à população suspendeu as atividades externas realizadas no território, como as visitas domiciliares.
“Parece que a casa vai cair com esse helicóptero baixo”; “Muitos tiros, é assustador isso”, esses são outros relatos de moradores que viveram a operação policial no território, presos em suas próprias casas, privados dos direitos de ir e vir e dominados pelo medo.
O Maré de Direitos, projeto do eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça, da Redes da Maré, acolhe situações de violações de direitos no WhatsApp (21) 99924-6462. O Ministério Público (MP) realiza um plantão especial para atender a população. O atendimento gratuito é feito no telefone (21) 2215-7003, que também é WhatsApp, ou no e-mail [email protected].
Apesar de alegar ‘ação pontual’, operação da PM paralisa escolas e serviços essenciais na Maré
Pelo menos 15 escolas foram fechadas, junto com clínicas da família e mais de 300 empreendimentos
Nas primeiras horas da manhã da última quinta-feira (5), moradores da Nova Holanda e Parque Maré viveram momentos de tensão, medo e incertezas ao acordarem com sons de tiros na região. Sem informações ou qualquer divulgação sobre do que se tratava a situação, observaram a circulação de carros blindados da PMERJ. A presença dos veículos ocasionou diversos disparos de armas de fogo no local o que resultou em correria pelas ruas.
A assessoria da PMERJ informou que tratava-se de uma ação pontual para o reposicionamento dos limitadores de velocidade, blocos de concreto posicionados próximo à Avenida Brasil, em quatro ruas dos principais acessos às favelas Nova Holanda e Parque Maré.
Apesar da alegação de uma ação pontual, o feito gerou impactos econômicos em 310 empreendimentos comerciais, impediu o direito de ir e vir dos moradores que saíam para trabalhar e impossibilitou que mais de 5000 estudantes da Maré tivessem acesso à escola pela 36ª vez esse ano. Além disso, a Clínica da Família Jeremias de Moraes fechou a unidade por segurança, deixando de atender cerca de 200 moradores, e a CF Diniz Batista, suspendeu atividades externas como visitas domiciliares, impedindo que pessoas acamadas tivessem o direito à devida assistência e cuidado. A formatura da turma do 6º ano do CIEP Elis Regina, que aconteceria na Areninha Cultural Herbert Vianna, também precisou ser adiada.
O projeto De Olho na Maré, da Redes da Maré, monitora nos últimos oito anos operações policiais. Podendo assim, identificar através de padrões sobre formas de atuação policial que não foi uma “ação pontual” como alegou o órgãos e sim a 41ª operação policial do ano no território.
Entre 2016 e 2024, através do projeto, registram-se 214 operações policiais, 41 apenas em 2024 e 13 em dias consecutivos. Nesse período foram identificados 1.262 registros de violações de direitos humanos, sendo 145 mortes e em apenas 9 delas foi realizada perícia. Dentre as violações nesses anos de monitoramento, foram registradas 275 invasões de domicílios sem mandado judicial, 69 subtrações de pertences, 60 casos de cárcere privado e 54 casos de tortura. Por 152 vezes os alunos da região foram impedidos de acessar a escola, ou seja, durante oito anos tivemos quase que um ano inteiro letivo suspenso devido a operações policiais que ocorreram na região.
É importante ressaltar que atualmente não existe um documento oficial único disponível publicamente que regule, de maneira abrangente, os protocolos de operação policial na cidade do Rio de Janeiro. Não há uma delimitação de perímetro para esse tipo de ação, mas apenas algumas orientações gerais dos órgãos de segurança pública no âmbito estadual e municipal. Acreditamos que a ausência desses parâmetros dificulte o controle sobre a atuação das polícias durante essas operações.
Projeto Entre Lugares Maré apresenta dois espetáculos gratuitos
O Entre Lugares Maré apresenta dois espetáculos de conclusão das turmas, sendo o “Inacabada” a 11º montagem dos alunos veteranos do grupo noturno, e “Tudo Fica Melhor com Amigos” o 1ª do grupo da tarde, composta por adolescentes e adultos neurodivergentes e Pessoas com Deficiência (PCD). O primeiro espetáculo que ocorre dos dias 13 ao 15 e 20 ao 22, conta a história de Bianca que vai enfrentar desafios para entregar a encomenda de um bolo para sua cliente. O que parece ser uma simples tarefa pode se tornar complexo diante das adversidades que atravessam o caminho da personagem.
Enquanto o espetáculo “Tudo Fica Melhor com Amigos”, apresentado nos próximos dias 17 e 18, traz uma crítica social através de um grupo de amigos PCDs que estam a caminho do teatro. Essa história detalha com bom humor, os desafios dessas pessoas para conseguirem chegar ao seu destino e revela o quanto a cidade e a sociedade civil não estão organizadas para que todas as pessoas tenham o seu direito de ir e vir respeitados.
Ambas apresentações são gratuitas para o público e acontecem às 19h no Museu da Maré, na Rua Guilherme Maxwell, nº26 – Maré – Rio de Janeiro/RJ.
Sobre o Entre Lugares Maré
Fundado em 2012, o projeto Entre Lugares Maré apresenta desde então espetáculos proporcionando outra perspectiva de vida aos jovens. Neste ano, o projeto iniciou uma nova turma, exclusiva para Jovens e Adultos Atípicos (PCDs e Neurodivergentes), moradores da Maré e comunidades do entorno. Atualmente, vários alunos e ex-alunos do projeto seguem carreira profissional no teatro, cinema, TV e outras áreas técnicas.
O Entre Lugares Maré oferece ao longo do ano, de forma gratuita, uma variedade de aulas envolvendo corpo, dramaturgia, dança, canto, atuação e atividades de criação artística e técnicas na área teatral. Neste ano, com o início da turma para PCDs e Neurodivergentes, também foram realizados encontros de acolhimento e apoio à maternidade atípica.