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Festas de São Cosme e Damião reúne religiões pela alegria das crianças

Festividade do dia de São Cosme e Damião une religiões, levando tradição de doação de doces às crianças mesmo com cenário de pandemia.

Por Hélio Euclides, em 25/09/2021 às 09h40. Editado por Edu Carvalho

“Porque Cosme é meu amigo e pediu a seu irmão: Damião. Pra reunir a garotada e proteger meu amanhã”, esse é o refrão da música Patota de Cosme, composta por Carlos Senna e interpretada por Zeca Pagodinho. O cantor tem um carinho especial por São Cosme e São Damião, que são tatuados no seu peito. Essa devoção é mostrada todos os anos por diversas pessoas que lotam as igrejas que levam o nome dos irmãos ou na forma da distribuição de doces e brinquedos para as crianças. Na Maré, como em outros pontos da cidade, famílias se unem para seguir a tradição que passa de país para filhos.

A fé em São Cosme e São Damião para seus seguidores é algo especial. Luzia Balbino, católica e ex-moradora da Maré acredita na força dos santos. “Muitos fazem promessas, pois sabem que eles vão ajudar. Eu fiz quando estava grávida de minha filha e sentia muitas dores. Achava que estava doente e era uma época que não tinha ultrassonografia. Com fé deu tudo certo no parto. Já distribuía doces antes dela nascer, mas depois virou uma missão da família”, diz. Ela explica que a questão econômica não ajuda, mas mesmo assim os doces deste ano já estão garantidos. “Muitas vezes a situação financeira não está fácil, mas quando se aproxima a festa aparece o dinheiro dos doces das crianças, como agora”, conta.

Outro ex-morador é Eduardo Lapa, umbandista, que faz questão de distribuir os doces na Maré, o que o faz voltar a infância. “A distribuição de doces vem de família, minha mãe e tias sempre faziam essa tradição no dia 27 de setembro ou 12 de outubro. Mas o dia dos santos eram mais pontual, pois na Rua Capivari, no Morro do Timbau as pessoas já esperavam. Era uma reunião familiar, onde todos se encontravam na casa da minha avó. Era uma farra e muito bom ver o sorrido da criança ao receber doces, bolo e guaraná”, destaca. 

Para Lapa é uma celebração de alegria. “Diz a lenda que o espaço onde os santos atendiam tinha muitos doces para tentar amenizar a tenção do ambiente. Hoje os doces também são para lembrar deles. Sinto falta dessa festa em família, hoje distribuo apenas com a esposa, para continuar a tradição de ver as crianças felizes”, enfatiza. O dia dos santos é um momento de muita devoção. “A fé começou a muitos anos atrás. Tive um problema de garganta e minha mãe fez uma promessa. Entrei na igreja todo de azul com uma vela do meu tamanho. Lembro que venho de uma família espírita, com uma fé muito grande nos irmãos, pois eles são capazes de interceder por nós. Faço muitos pedidos e todos são atendidos”, comenta. Ele destaca que a religiosidade é muito intensa. “Na umbanda o sincretismo é forte. A fé cresce como as coisas vão acontecendo, não tem como duvidar”, diz. Ele espera com ansiedade o mês de setembro, por achar ser diferente e um período de muita alegria. 

A continuidade da tradição

A fé de uma mãe atravessa a família inteira, com envolvimento de todos, num grande evento. Esse é o Dia de São Cosme e São Damião para Pâmela Carvalho, coordenadora do Eixo Arte, Cultura, Memórias e Identidades, da Redes da Maré e moradora do Parque União.

“É um dia que tiramos para juntar uma questão religiosa com uma cultural. Muitas pessoas fazem promessas e caso tenha conseguido o objetivo alcançado entregam determinada quantidade de doces. Em outros casos, mesmo sem a promessa, sem o recorte religioso, as famílias tentam continuar o hábito.”

Pâmela Carvalho, coordenadora do Eixo Arte, Cultura, Memórias e Identidades, da Redes da Maré

A distribuição de doces é uma coisa incrível, para ela, mas fica triste em perceber que essa é uma ação que vem diminuído ao longo dos anos. “Quando eu era criança tinha que organizar o dia, uma parte na distribuição com a família e na outra era para pegar doces. É um dia das crianças se apropriarem do espaço da rua. É uma movimentação cultural e pedagógica, de fazer a amizade entre as crianças. A distribuição de doces é muito importante. Também nesse contexto onde estamos precisando olhar pelas nossas crianças e pensar como são as infâncias nas favelas e nas periferias”, questiona.

Instituições ajudam na tradição

Esse ano diversas instituições estarão incentivando a distribuição de doces. São coletivos como o Fala Acari, que atuará no seu território, e a Frente Cavalcante que vai distribuir no Morro da Pedreira. São grupos que se engajaram no combate à pandemia nos seus territórios e agora tentam resgatar essa movimentação da distribuição de doces. 

Houve distribuição, pela Redes da Maré de doces itinerantes, com mais de 1000 saquinhos na Biblioteca Lima Barreto, na Nova Holanda, na Lona Cultural Municipal Herbert Vianna, na Nova Maré, na Salsa e Merengue e em Marcílio Dias. A inciativa teve apoio das associações de moradores e aconteceu no formato de um cortejo. 

A noite, a programação foi para os adultos, para pensar no combate ao racismo religioso e as manifestações de desrespeito em especial às religiões de matrizes africanas e afro brasileiras. Uma live aconteceu no Instagram da Redes da Maré, mediada pela Luma Motta, produtora da Casa Preta da Maré, com os convidados: Dofonitinha Cristina de Iansã, representante do Candomblé, Cosme Felippsen, pastor do Morro da Providência e a Flávia Pinto, dirigente e mãe de santo da Umbanda. “O combate ao racismo religioso é uma questão que tem que passar por todas as religiões. Será uma roda de conversa ecumênica e respeitosa. Independente do credo de cada um, é muito importante a gente prezar pelas nossas manifestações culturais e combate o racismo e a intolerância religiosa”, conclui Pâmela.

Resgatando a história

São Cosme e São Damião eram irmãos, viveram no século III e exerciam a profissão de médicos. Uma característica era não cobrar pelos atendimentos. É famoso o episódio da cura de uma mulher chamada Paládia, que, por gratidão, deu três ovos aos dois irmãos. Porém, por não aceitarem, ela implorou a Damião que aceitasse aquela pequena oferta. Para não ofender a mulher, Damião aceitou os ovos. Este seu gesto provocou a reação de Cosme, que ficou chateado, mas depois fez as pazes com o irmão. Outra qualidade dos dois irmãos era privar pela saúde das crianças. Por não renegarem a fé, foram torturados até serem decapitados.

Na Igreja Católica a festa era comemorada no dia 27 de setembro até o final dos anos 1960. Com a reforma litúrgica, se antecipou, e passou a celebrar no dia 26 de setembro, mas não houve adeptos a mudança, os festejos contiunam acontecendo no dia 27. No Candomblé e na Umbanda são sincretizados como entidades infantis, foram relacionados aos Erês e Ibejis, e são cultuados como protetores das crianças.

Trens do Rio podem piorar e a tarifa passar de R$ 7 em 2022 se nada mudar na Supervia, aponta estudo

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No mês da mobilidade, Casa Fluminense e Observatório dos Trens lançam  documento de recomendações para o transporte ferroviário do Rio, de olho no  processo de revisão do contrato de concessão da Supervia

Por Casa Fluminense, em 25/09/2021 às 09h

O 22 de setembro é conhecido como o Dia Mundial sem Carro, data que  reacende o debate sobre a valorização do transporte público, por um sistema bom,  barato, seguro e limpo. Nesse contexto, após série de ações denunciando a falta de infraestrutura e o alto preço da tarifa, a Casa Fluminense e o Observatório dos Trens  lançam um documento de recomendações para a modernização da malha  ferroviária sob a concessão da Supervia. Com o agravamento da precarização dos  transportes do Rio, especialmente nos trens metropolitanos – responsáveis pelo  deslocamento da população de boa parte das periferias da metrópole – o  documento de recomendações apresenta os principais desafios e também as possíveis soluções para a crise estrutural.  

A infraestrutura e o valor da passagem são dois dos principais pontos de  atenção. No início de 2020, o movimento “Supervia Aumento Não” conseguiu  minimizar o reajuste anual dos trens por alguns meses, fruto da mobilização de  diversas entidades da sociedade civil, mas em seguida, sem aviso prévio, a  suspensão foi revogada e a tarifa passou a custar R$5,90. O governo do Estado  ainda não conseguiu entrar em acordo com a concessionária. O documento de  recomendações alerta que, se nada for feito, em fevereiro de 2022, a tarifa do trem  pode chegar a R$7,73 (usando valores de agosto/2021) caso as partes não entrem  num acordo sobre o índice de reajuste. Para impedir esse aumento brusco, o  documento propõe uma mudança do atual índice usado para a revisão da tarifa, o  IGP-M/FGV, que tem em sua composição preços cotados em dólar. De acordo com  a pesquisa, um indicador mais adequado à realidade brasileira seria o IPCA/IBGE,  que mede a inflação ao consumidor amplo. O coordenador geral da Casa  Fluminense, Henrique Silveira, explica como a base atual para o reajuste pode  agravar o valor da tarifa.  

“O IGP-M tem sofrido grande variação por estar atrelado ao dólar,  acumulando alta de 30% nos últimos 12 meses. Estamos fazendo um alerta para a  população, pois se não mudarmos o índice de reajuste a tarifa dos trens pode  ultrapassar 7 reais em 2022, o que seria um desastre para os passageiros. Por outro  lado, o governo do Estado precisa revisar o contrato de concessão da Supervia e  incluir novas fontes de recursos para a operação e qualificação do sistema de trens”  – Henrique Silveira – Coordenador Geral da Casa Fluminense.

No início do documento de recomendações, são apresentados os principais  dados sobre o panorama atual como a diminuição do número de passageiros,  crescimento de furtos de cabos, aumentos tarifários e a falta de acessibilidade do  serviço. Após a contextualização, os pesquisadores da Casa Fluminense e do  Observatório dos Trens apontam cinco recomendações que podem ajudar na  resolução das questões apresentadas. 

Entre os caminhos destacados está a utilização do recurso de R$ 1,7 bilhão,  anunciado pelo governo do Estado para o metrô da Baixada (Pavuna-Nova Iguaçu),  previsto no “Pacto RJ” com recursos da venda da CEDAE, para o investimento na  qualificação e modernização do sistema de trens. A adequação do vão e dos  desníveis entre os trens e as plataformas, a criação do Conselho de Passageiros, a  política de receitas extra-tarifárias e a revogação do contrato de concessão – que  está previsto para até 2048 – são algumas das sugestões explicitadas no  documento. 

Outro foco discutido no estudo é a falta de infraestrutura das estações e dos  trens da Supervia, o tema tem sido foco de pesquisa desde 2017, a partir da morte  da estudante Joana Bonifácio, ocorrida no ramal Belford Roxo, estação de Coelho  da Rocha em São João de Meriti/RJ. A jovem ficou com a perna presa no vão entre  o trem e a plataforma ao tentar embarcar em um dos vagões, a composição seguiu  viagem e a jovem foi atropelada.  

Sua história junto a de outras vítimas da precariedade do serviço são tema  do livro “Não Foi Em Vão: mobilidade, desigualdade e segurança nos trens  metropolitanos do Rio de Janeiro”. De autoria de Rafaela Albergaria, João Pedro  Martins e Vitor Mihessen, e editada pela Casa Fluminense e Fundação Heinrich  Böll, uma das pesquisas para a obra constatou que em um período 2008 a 2018  foram registradas a ocorrência de 368 mortes por atropelamento ferroviário nos  trens urbanos do Rio de Janeiro. Para a coordenadora do Observatório dos Trens e  conselheira da Casa Fluminense, Rafaela Albergaria, as medidas do documento  ajudam a criar um futuro mais justo para os passageiros fluminenses.  

“A adoção de medidas de readequação, revitalização e investimento no  sistema ferroviário, são fundamentais para o combate às desigualdades, para  efetivação do direito à cidade, e proteção da vida de milhares de passageiros que  têm o trem como o principal transporte para acessar não só trabalho, mas as redes  de saúde, educação e lazer, para viver na região metropolitana do Rio de Janeiro,  para uma cidade mais sustentável”, afirmou Rafaela.  

Acesse o documento Recomendações para a modernização dos trens da Supervia“, já disponível para download no site da Casa Fluminense.

MORTE

“A única certeza que tenho na vida é que um dia vou morrer.”    Ítala; mãe, avó e bisavó.

Durante um tempo em minha vida fui cartomante. Abria os arcanos maiores do Tarô na tentativa de ajudar pessoas que estavam em encruzilhadas na vida e que já haviam esgotado todas as formas lógicas de conseguir uma solução. Acabei desistindo porque a maior parte delas não se interessava em desvendar suas próprias travas e auto boicotes. Queriam permanecer em suas próprias bolhas e arranjar saídas mágicas, sem despender o mínimo esforço para elucidar as mensagens que a totalidade de suas almas enviavam por meio das cartas. Parei, também, porque me sentia inseguro e preocupado com as consequências de minhas interpretações na vida cotidiana de meus consulentes.

Esta pequena digressão na verdade foi para salientar o impacto que um dos arcanos sempre causou quando aparecia numa leitura: o arcano XIII, chamado de “A Morte”. Havia sempre um suspender de respiração, um olhar assustado e, posso intuir, um calafrio de gelar a espinha. Não adiantava arrazoar dizendo que o arcano necessariamente não indicava morte física, mas certamente o fim de um estado de coisas para que um novo paradigma pudesse se estabelecer. Quando surgia a imagem do esqueleto com sua foice a sessão de tarô ficava como que suspensa e o consulente paralisado ante a perspectiva da possibilidade de sua morte física.

Ninguém nos tempos atuais quer meditar ou refletir sobre a morte, apesar da mesma ser um fenômeno natural. Afinal, tudo que vive tem prazo de validade. 

Estou com 61 anos e, um dia, quando estava conversando com minha filha mais velha, preocupado com os rumos de sua vida, disse que, afinal de contas, estava mais próximo de minha morte que de meu nascimento e que, quando eu morresse… Não consegui nem completar o pensamento e Clarinha já havia se encrespado na defensiva. Vira a boca pra lá, deixa de bobagem, não quero nem pensar nisso.

As reações de meus antigos clientes e de minha filha são normais, se levarmos em conta o espírito destes tempos, que baniu a morte da normalidade da vida.

 Nossa atitude diante da morte deveria ser tão natural quanto a aceitação da concepção e do nascimento das pessoas. E, de fato, foi assim durante um longo período da história humana, remontando à Antiguidade, a Idade Média, até o advento da Era Moderna e o triunfo da ciência. Esse estado de coisas é brilhantemente retratado por um historiador de nome Philippe Ariés em seu livro chamado “O Homem diante da Morte”, onde discorre sobre a relação do homem do ocidente com o inevitável fim da vida. Seus estudos constatam que nossos antepassados longínquos pressentiam a chegada da morte e se preparavam para a passagem, despedindo-se de seus entes queridos, perdoando seus inimigos, distribuindo suas posses e até mesmo escolhendo seu local de sepultamento. Não havia nisso nada de maravilhoso. Era apenas um sentimento, uma sensação, de que a morte estava próxima, sendo necessário fechar a conta para poder se despedir em paz. Também poderiam, como anunciação do fim próximo, ocorrer alguns fenômenos não tão naturais, como a aparição de mortos em sonhos ou visões. Instrumentos musicais ou sinos tocando sozinhos, relógios parando subitamente, pancadas fantasmas no chão dos quartos. Mas, de uma maneira geral, na época a que estamos nos referindo não havia esta fronteira tão rígida entre o natural e o prodigioso que vivemos hoje em dia.

Somente a partir do século XVII é que os letrados passaram a considerar esses pressentimentos como superstições populares. As classes instruídas foram as primeiras a perder a percepção dos sinais precursores da morte e o povo mais simples, principalmente o campesinato, o último a fazê-lo, tendo mantido até bem recentemente este de tipo familiar de relação com a morte.

Ariés nos fornece inúmeros exemplos do que ele denomina a “morte domada”, extraídos tanto da literatura quanto de crônicas históricas.

Da literatura cavaleiresca da Idade Média pinça, em diversas obras, o momento em que a morte é percebida por vários guerreiros feridos em batalha. Havia todo um ritual que começava com o posicionamento correto do corpo, efetuado, quando possível, pelo próprio ferido: deitar-se de costas para poder olhar o céu com a cabeça voltada para o oriente e os braços cruzados sobre o peito. Feito isso o cavaleiro encomendava a Deus seus entes queridos, seu rei e superiores hierárquicos, pedia perdão por seus pecados e invocava a misericórdia divina. Muitas vezes escolhia o local de seu próprio sepultamento.

Ariés cita também o trecho de um livro de Soljenitzyn, literato russo: “E eis que agora, indo e vindo na sala do hospital, rememorava a maneira como eles costumavam morrer, esses velhos, no seu canto, lá longe, a beira do rio Korma, tanto os russos como os tártaros ou os udmurtos. Sem fanfarronadas, sem complicações … todos admitiam a morte pacificamente. Não só não retardavam o momento de prestar contas, como ainda se preparavam para ele mansamente e, por antecipação, designavam para quem iria o jumento, a quem o potro, a quem as botas, e se extinguiam com uma espécie de alívio, como se tivessem apenas que mudar de isbá (moradia).”

A morte dando sinais de sua chegada iminente era tão natural que toda forma de morte repentina, como num acidente de caça, num afogamento, na fulminação por um raio e outras era considerada “feia e desonrosa, fazia medo, parecia coisa estranha e monstruosa de que não se ousava falar.”

Hoje achamos romântica a imagem de um moribundo em seu leito, cercado das pessoas que ama, despedindo-se delas antes de seu último suspiro. Isso porque nos acostumamos a tratar a morte como o maior inimigo, terçando todas as armas científicas contra ela até o último e fatal momento. Os moribundos se vão atrelados a máquinas, espetados, entubados, encharcados de toda espécie de drogas e vão solitários em frios quartos de hospitais.

Não, não estou aqui defendendo a não utilização de todos os progressos médicos e científicos. Só queria meditar com vocês, meus leitores, sobre o quanto e até quando deveria se intervir no processo da morte para que o trespasse pudesse ocorrer de forma mais tranquila e serena.

Há pouco tempo, soube de um amigo que morreu consciente, ouvindo música embalado nos braços de uma pessoa muito amada. Internado diversas vezes, desta vez não quis percorrer todo o calvário da hospitalização porque percebeu que sua hora havia chegado. A pessoa que o acompanhou nesse momento relata que a sensação era de muita paz e serenidade.

Termos perdido essa capacidade ancestral de percebermos naturalmente, como os animais, que é chegado o fim de nossa passagem pela Terra é mais um de muitos indícios de que estamos alienados de nosso mundo interior. É mais um sinal de que precisamos desacelerar para restabelecer o contato com nossa alma, este “quantum” imaterial que é primordialmente nosso maior valor. Maior que os bens materiais, que todas as conquistas financeiras e que qualquer progresso profissional.

Marcello Escorel é ator e diretor de teatro há mais de 40 anos. Paralelamente a sua carreira artística estuda de maneira autodidata, desde a adolescência, mitologia, história das religiões e a psicologia analítica de Carl Gustav Jung.

#VacinaMaré: união da ciência, saúde, e mobilização

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Campanha de vacinação que imunizou mais de de 37 mil moradores tem segunda dose marcada de 14 a 16 de outubro

Por Julia Bruce, com edição de Andrea Blum e Luiz Assumpção; em 24/09/2021 às 12h

“É uma dose de esperança! Graças a Deus a gente não perdeu ninguém da família, tentamos ficar o máximo possível dentro de casa, mas conhecemos muitas pessoas que perderam mãe, filhos, e é muito triste. É um medo diário!”, conta Luana Ricardo, 29 anos, nascida e criada na Vila dos Pinheiros. Ela faz parte dos 36.926 mareenses vacinados nos seis dias de vacinação em massa contra a Covid-19, a campanha Vacina Maré, a primeira em uma favela do Brasil a imunizar todos os moradores entre 18 e 33 anos. A ação aconteceu de 29/07 a 01/08 e ganhou ainda mais três dias de repescagem, de 02 a 04/08, com direito a um mutirão de busca ativa pelo território, de porta em porta, por moradores que ainda não tinham tomado a primeira dose. Agora os moradores já podem se animar, já que a segunda dose está marcada entre 14 a 16 de outubro.

A meta da campanha era vacinar 31% da população adulta (31 mil), e acabou sendo atingida já no terceiro dia, representando 99,14% do público-alvo atendido, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). A mesma decidiu estender por mais três dias o calendário praticado neste mutirão e alargou o grupo vacinado para quase 37 mil pessoas. A iniciativa, inédita, foi realizada pela Redes da Maré com a FioCruz e Secretaria Municipal de Saúde e faz parte de um estudo liderado pela FioCruz, que vai avaliar o efeito da vacinação, monitorar a circulação de novas variantes, além de promover um acompanhamento em saúde de 2 mil famílias, durante seis meses, para estudar e mapear a transmissão do vírus no ambiente familiar.

Este estudo vai auxiliar ainda na avaliação da proteção das crianças, pois trata-se de um grupo ainda não vacinado. “Queremos entender o quanto a proteção dos adultos preservam as crianças ou o quanto as crianças ainda vão estar suscetíveis à Covid-19”, comenta o coordenador do estudo, Fernando Bozza. O Conjunto de 16 favelas da Maré tem cerca de 140 mil moradores, com maioria jovem (51,9% têm menos de 30 anos), de acordo com o Censo Populacional da Maré. Durante esse último ano, com os esforços também do projeto Conexão Saúde, a taxa de letalidade caiu em 88%.

Coletiva Fiocruz
Coletiva de imprensa realizada no primeiro dia da vacinação (29/07), na Clínica da Família Adib Jatene, na Vila dos Pinheiros.Da esquerda para a direita: Daniel Soranz, secretário de Saúde, Renan Ferreirinha, secretário de Educação, Fernando Bozza, coordenador do estudo da FioCruz, e Eliana Sousa, diretora e fundadora da Redes da Maré. Foto: Gabriela Lino

O estudo é um desdobramento de uma série de ações junto à população da Maré que vêm sendo feitas para lidar com a prevenção da Covid-19. No começo de 2020, ações de comunicação no território foram estendidas para várias frentes para conter o avanço do vírus, que envolvem telemedicina, com consultas online para moradores da Maré, testagem gratuita, com a instalação de um polo de testagem e outros itinerantes, e o apoio ao isolamento familiar seguro, que orienta e oferece suporte para famílias que tenham pessoas contaminadas. Essas ações compõem o projeto Conexão Saúde: de olho na Covid, que reúne a Redes da Maré, FioCcruz, Dados do Bem (aplicativo que monitora a evolução da Covid-19 na população de centros urbanos), SAS Brasil, União Rio e Conselho Municipal de Manguinhos. “Ao longo desse último ano, temos trabalhado os dados de notificação e testagem da Maré. Hoje, podemos dizer que mais de 35 mil testes de PCR foram realizados e cerca de 900 famílias acompanhadas. Mas, do ponto de vista da vacinação, a Maré ainda estava abaixo do restante da cidade. Por isso, ficamos bastante conscientes da necessidade de acelerar a vacinação, e também atender muita gente que não voltou para tomar a segunda dose”, reforça Bozza.

A UNIÃO DE FORÇAS POR UM OBJETIVO COMUM

A ação é resultado de muito esforço e trabalho da Redes da Maré juntamente com as organizações do território, como as 14 associações de moradores, que realizaram o pré-cadastro da população nas Clínicas da Família (CF), e as ONGs Observatório de Favelas, Luta pela Paz e Uerê, que ajudaram nos processos de mobilização online e presencial, mais a cessão de voluntários. Também fizeram parte dessa trajetória as Unidades de Saúde da Famílias, com voluntários, e as escolas, que serviram como postos de vacinação, além de comunicadores e influenciadores digitais fortalecendo a mobilização dos moradores. A diretora e fundadora da Redes, Eliana Sousa, considera o momento “singular”: “essa vacinação em massa acontece dentro de uma perspectiva, de um processo que fomos construindo de enfrentamento, especificamente, da pandemia, em que começamos com diversas ações e buscamos parcerias”.

Lidiane Malanquini, que está há 6 anos na Redes da Maré, e ficou à frente de toda a mobilização territorial durante a ação, contou sobre a campanha: “Quando essa galera toda se une é para um bem maior que é a imunização em massa da Maré. Eu não fico surpresa, porque aprendi que a Maré é tão potente com os processos de mobilização, mas fico muito emocionada. Vacinar mais de 36 mil pessoas é vacinar mais que uma cidade de pequeno porte no Brasil!”.

A campanha de vacinação em massa mobilizou, ao todo, 145 pontos de vacinação, incluindo Clínicas da Família (CF), Centros Municipais de Saúde, associações de moradores, escolas municipais do território, e até a Vila Olímpica da Maré. Desses locais, quatro foram utilizados como pontos para cadastrar moradores para participar do estudo (Clínica da Família Adib Jatene, CF Américo Veloso, CF Diniz Batista dos Santos e Escola Municipal IV Centenário). As famílias preencheram um questionário, um termo de compromisso e realizaram o chamado teste sorológico ou de anticorpos para a Covid-19. Nos dias de campanha, 1.640 pessoas foram entrevistadas e testadas, de acordo com o professor associado do departamento de Engenharia Industrial da PUC-Rio, Silvio Hamacher, um dos coordenadores da pesquisa: “É fundamental a experiência pessoal, entender cada caso individual. Chama atenção a questão da saúde mental, que parece ser bastante central para várias das pessoas com quem conversamos”, aponta. A equipe de pesquisa continuará realizando uma busca ativa por famílias para serem acompanhadas.

Ao longo dos próximos meses, a equipe estará em constante contato com os moradores para a realização de outros exames, consolidando os dados dos familiares, para compor um banco de 8.000 pessoas. O acompanhamento vai envolver ainda novos testes em três e seis meses após a vacinação. De acordo com o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, dentro desse processo, também será feita a coleta de exame de sangue para verificar se as pessoas já foram expostas à Covid-19, e como essa proteção e esses anticorpos vão continuar ao longo do tempo – parte relevante da pesquisa que possibilitará conseguir mais dados do comportamento da vacina AstraZeneca na população.

No penúltimo dia de campanha (03/08), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e o ministro do Turismo, Gilson Machado, também estiveram presentes em mais uma coletiva de imprensa, na CF Adib Jatene. Queiroga afirmou que durante esse período da vacinação, o número de mortes e dos casos de Covid-19 diminuíram 40%. “Essa é a melhor estratégia para conter a pandemia e as possíveis variantes. Para que isso aconteça, só há uma forma: o apoio da ciência e a união dos gestores públicos. Nós sabemos da nossa responsabilidade e vamos cumprir ao pé da letra. É o que a população espera de nós”, comunicou o ministro. Conforme a 40ª edição do Boletim Conexão Saúde – De Olho no Corona, o número de moradores vacinados após a #VacinaMaré aumentou 359%, comparado aos 14 dias anteriores. A segunda dose será realizada em outubro.

A TRAJETÓRIA DE MOBILIZAÇÃO DA #VACINAMARÉ

O assessor de Relações Interinstitucionais da FioCruz, Valcler Rangel, foi um dos atores que viveu a experiência do trabalho de mobilização territorial da Redes da Maré: “estou participando um pouco do estudo, um pouco da organização da campanha, e dentro do Conexão Saúde como um dos coordenadores desse processo, e uma das coisas que vimos era que não podia ter papel, essa foi a primeira decisão. A gente tinha que botar tudo dentro de computador, de tablet. Então, até a véspera do primeiro dia de vacinação, estávamos trabalhando, pois tivemos que conseguir mais de 100 tablets para espalhar em todos os lugares”, descreve.

Ele explica que a equipe tomou a decisão de fazer a ação de vacinação em massa com apenas um mês antes de antecedência: “Viemos nos preparando há um tempo, mas tomar uma decisão, saber que a gente já teve disponibilidade de vacina, a Secretaria Municipal de Saúde se engajando… No início, nossa preocupação era de quantas pessoas a gente ia poder contar para trabalhar.” Contudo, parceria foi a palavra-chave da #VacinaMaré.

Douglas Lopes
Reunião de mobilização para o pré-cadastro no Centro de Artes da Maré (CAM). Foto: Douglas Lopes

Foram mais de 1.620 voluntários da Redes da Maré, da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que mobilizou servidores de várias regiões do Rio de Janeiro para atuarem na organização, da equipe de Bio Manguinhos, com as entregas das vacinas em tempo recorde, de comunicadores locais, 500 profissionais da Prefeitura, entre outros atores. O secretário municipal de Educação, Renan Ferreirinha, informou em coletiva de imprensa realizada no primeiro dia de vacinação (29/07), que 17 escolas serviram como postos de vacinação e mais de 300 voluntários do setor trabalharam durante a ação. “Para a gente tem um ‘Q’ de responsabilidade, mas também um ‘Q’ de gratidão por estar participando de uma iniciativa histórica”, disse o secretário.

Antes mesmo de dar início à vacinação em massa, entre os dias 22 e 27/07, os tecedores da Redes da Maré realizaram uma atividade de pré-cadastro para as famílias que ainda não tinham ficha nas unidades de saúde. No total, foram cadastrados 3.735 moradores, incluindo 465 jovens entre 15 e 19 anos (12,4%)1.143 jovens entre 20 e 24 (30,6%) e 1.090 entre 25 e 29 (29,2%).

moradora
Pré-cadastro de moradores
Foto: Gabriela Lino

Desses, 45% se declararam pardos e 19% pretos. Desde a semana anterior, a maioria da equipe realizou reuniões para traçar estratégias de mobilização e de comunicação para o pré-cadastro e os dias de vacinação, uma das forças de trabalho e metodologia da Redes da Maré.

Andreza Dionisio, 22, articuladora e mobilizadora da Casa das Mulheres da Maré, participou de três frentes: foi responsável pela Associação de Moradores da Vila do João, por uma equipe de mobilização de rua – com entrega de flyers, comunicação por megafones etc, e por um ponto de vacinação, na Escola Municipal Ginásio Rio Olimpíadas 2016. “Eu achei bem importante ir na casa das pessoas, bater na porta delas, conversar, mostrar que a gente está ali e que é importante ela estar lá. Foi um momento bom para poder explicar a relevância de ter o cadastro atualizado, porque é uma vacinação em massa, uma vacinação territorial para produzir resultados de um estudo”, explica.

Diego Bezerra
Trabalhar na Maré pra mim é o que move a minha vida. Como indivíduo, como sujeito, eu entendo que uma das minhas missões é fortalecer as pessoas do meu território para ocuparem esses espaços, a gente poder falar pela gente e pararem de falar por nós”, conta Andreza.

Diego Bezerra, 32, nascido em João Pessoa (PB) e morador da Vila dos Pinheiros há 24 anos, foi um dos moradores que aproveitaram a oportunidade e fizeram o cadastro durante a chamada nas ruas, na Vila do João. Ele trouxe sua esposa, Graziane Felipe, 29, para se vacinar no primeiro dia, e no caminho para a CF Adib Jatene, chamava as pessoas para se vacinarem. “A campanha é boa, pelo menos estão pensando em nós, que somos menos favorecidos. Nossa família não teve nenhuma perda, graças a Deus”. Sua esposa relata que a mãe e a tia tiveram Covid-19, mas conseguiram se recuperar rápido e já foram vacinadas. A família também se interessou em participar do estudo e está sendo acompanhada.


REDE DE ASSISTÊNCIA DO TERRITÓRIO DA MARÉ

Esse primeiro momento de mobilização também foi significativo para os moradores acessarem às unidades de saúde do território e outros tipos de atendimentos, onde tecedores conversaram sobre os serviços de saúde ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a importância das Clínicas da Família, dos agentes comunitários na promoção de saúde e na prevenção de doenças. “Essa campanha também vem fortalecendo os serviços de atenção básica e saúde no território, porque conseguimos identificar um número significativo de pessoas que ainda não tinham cadastro nas CF”, nota a assistente social da Redes da Maré, Laís Araújo, 34, que esteve envolvida nos processos de acolhimento e monitoramento dos casos de Covid-19 identificados ao longo da campanha Maré Diz Não ao Coronavírus, desde março de 2020.

Diego Bezerra
Perguntado sobre a percepção da importância da vacina em suas famílias, amigos e vizinhos, Diego diz que “há boatos que rolam, mas a maioria acredita. Agora as pessoas estão mais conscientes”. Foto: Julia Bruce

Ela percorreu as ruas, sobretudo do Morro do Timbau, divulgando e conversando com a população sobre a importância da vacina.

tecedor Jorge Magnun, 28, assistente social no projeto de isolamento seguro do Conexão Saúde e morador do Morro do Timbau, divide da mesma opinião: “entender que a CF é um serviço público e, acima de tudo, um direito do morador, vai muito na linha do que a própria Redes entende, que é tecer as relações a partir da luta pelos direitos dessa população”. Jorge foi um dos líderes da mobilização no local, nas associações de moradores do Morro do Timbau e fez parte da equipe de pesquisa nas unidades de saúde realizando as entrevistas e o teste sorológico para as famílias que começaram a ser acompanhadas.

COMUNICAÇÃO DE RUA

 O #VacinaMaré contou diversas ações de mobilização e comunicação, como: colagem de lambe em muros, cartazes nos comércios, circulação de carros de som com informações, comunicação online pelas redes sociais, voluntários espalhados em pontos de informação e a produção de podcasts.

Paulo Pereira
Paulo Pereira, 36, agente comunitário de saúde da CF Adib Jatene há 6 anos: “Falta muito para mostrar à população a importância da vacinação. A AstraZeneca é uma das vacinas que têm mais eficácia na prevenção e no combate à variante Delta, muitas pessoas não sabem disso. Temos muito esse trabalho de estar informando, de estar fazendo essa promoção da saúde”, analisa. Foto: Julia Bruce

Influenciadores digitais e artistas, como Raphael VicenteClayton GuimarãesPaloma Callado e Taís Araujo, divulgaram em suas redes sociais conteúdos sobre a vacinação, chamando os moradores para estarem juntos dessa iniciativa demonstrando a importância de se vacinar. A moradora Rayane de Lima, 29, que veio com sua família do Rio Grande do Norte para a Maré aos 5 anos de idade, contou que soube da ação pelas redes sociais da organização, mas que conhece pessoas que tiveram informação pela televisão, pela divulgação nas próprias unidades de saúde e entrega dos flyers pelos tecedores da Redes da Maré.

A presidente da FioCruz, Nísia Trindade, ficou surpresa com a forte presença de jovens mobilizadores. “Fiquei muito feliz ao chegar aqui e ver tanta gente jovem mobilizada”. E destacou: “produzimos a vacina, mas se não houver uma estratégia de política pública, a vacina se perde. Então, a força está no SUS, nessa integração e nessa visão. Tenho uma proposta de que nós deveríamos criar um grupo de ações permanentes nesse território”, destaca.

POTÊNCIA E RECONHECIMENTO DO TERRITÓRIO MAREENSE

Persistência, engajamento e movimento foram os grandes significados dessa ação de vacinação em massa, que só mostrou o quanto o conjunto de 16 favelas na Zona Norte do Rio de Janeiro é potenteEliana Sousa, diretora e fundadora da Redes da Maré, é atuante em movimentos comunitários desde a década de 1980 e mostra que a força coletiva é fundamental para tudo acontecer.

Lidiane
A comunicação na porta de cada morador facilitou o processo de cadastro nas unidades de saúde locais. A tecedora Lidiane Malanquini conta que a equipe percorreu todas as ruas e becos da Maré falando sobre a importância da vacinação: “isso foi um dos auges, um dos acertos que tivemos nesse processo de mobilização”. Foto: Gabriela Lino


Eu entendo que tudo o que a gente faz hoje é resultado desse processo que foi plantado lá atrás, inclusive na década de 1970, quando tínhamos outros grupos comunitários que lutaram para termos água, esgoto, saneamento básico. Esse processo contínuo é o que mais garante tudo isso que vivemos aqui. Então, penso que a própria Redes é fruto desse processo e eu acho que ela consegue mobilizar projetos tão significativos para o conjunto de favelas, justamente porque é algo que tem a ver com toda uma articulação que vem de muito tempo”. 

Quem tem o mesmo sentimento são dois membros das associações de moradores: a Jaqueline Lopes, 36, secretária da Associação de Moradores de Ramos e Roquette Pinto, e Deraldo Batista, presidente da Associação de Moradores do Parque União, associações que somaram ao realizar o pré-cadastro e a vacinação em suas unidades. “Nós abraçamos a ideia. Depois de tantas perdas, essa ação me trouxe esperança de que, em breve, poderemos voltar a viver normal e crer que dias melhores estão por vir”, expressa Jaqueline. Deraldo, que é parceiro da Redes da Maré desde o início, diz que é a vez de todas as 16 comunidades da Maré. “Eu falei com a minha organização para estar de portas abertas, tanto para fazer a inscrição quanto para vacinar, e na hora que eles quiserem. Eu acho muito bonito isso, e é um incentivo que serve para todo mundo, não só aos novos, como também para os idosos”, afirma.

UNIÃO DA FORÇA PRODUTIVA CIENTÍFICA DO RIO DE JANEIRO 

Fernando Bozza, pesquisador responsável pelo estudo da FioCruz, fala emocionado ao ver juntas, nesta ação, duas instituições de extrema relevância para a produção científica. “Sempre quis, de uma certa maneira, juntar a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a FioCruz. 30% da ciência biomédica é produzida nesse eixo e, hoje, ficou claro para mim que essas instituições não estão separadas, mas unidas pela Maré”, afirmou ele, na abertura do terceiro dia de vacinação, quando as equipes de profissionais da UFRJ, da FioCruz e da Bio Manguinhos, estiveram presentes num encontro em uma das clínicas e contaram sobre a atuação da rede colaborativa entre ciência e educação.

reitora da UFRJ, Denise Pires, relata que a atividade de pesquisa na área de saúde da universidade tem origem na FioCruz, e que sem ela, a UFRJ não teria esse setor desenvolvido, como é hoje, trazendo assistência devida aos moradores da Maré. “A partir desse século, a gente vê cada vez mais a importância disso que está na lei de Diretrizes e Bases: indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. É uma ação conjunta e nós vamos continuar juntas”, comenta.

Luna Arouca e Valcler Rangel
Luna Arouca e Valcler Rangel em uma das ações de mobilização para o cadastramento. Foto: Gabriela Lino

Vale ressaltar que alguns dos atores que participaram de todo o processo de mobilização durante a campanha não moram, não nasceram e nem foram criados no território, mas a valorização por toda a história mareense que fez parte de suas vidas em um certo momento foi definitiva para a união de esforços. Luna Arouca, nascida e criada em Santa Teresa, se aproximou da Maré em 2018, ao coordenar um projeto da Redes da Maré para redução de danos para pessoas em situação de rua e uso de drogas, o “Espaço Normal”. Em 2020, ela assumiu a liderança do Conexão Saúde, e naturalmente encampou as articulações do território e das demais instituições na realização desta campanha de vacinação em massa.

Ela acredita que a Vacina Maré será um mar de oportunidades a partir do diagnóstico que será feito, e permitirá que todos olhem para a saúde da população e construa infinitas possibilidades junto à FioCruz e à Prefeitura do Rio. “Eu diria que tem algo de revolucionário no que está acontecendo, em vários sentidos, numa favela carioca; ter essa vacinação em massa adiantada por conta do estudo, da união de esforços, esse trabalho conjunto”, reflete a tecedora, que é filha de Sérgio Arouca, um dos principais teóricos de saúde pública do Brasil, e líder na construção do Sistema Único de Saúde (SUS). 

Raphael Vicente
Thiago Wendel aplicando a segunda dose da vacina contra a Covid-19  na Luna Arouca, durante a campanha de vacinação na CF Adib Jatene. Foto: Melissa França

Outro ator importante nesse processo é Thiago Wendel, 37, mestre em Saúde Pública e atual Coordenador Geral de Atenção Primária da CAP 3.1. Morador do Complexo do Alemão, ele reflete sobre a ação de vacinação e o que ela representa para este território. Ele destaca três pontos fundamentais para a ação. “Primeiro, conseguimos reduzir significativamente o número de óbitos no território; estudos comprovam que a pessoa imunizada já tem 90% de chance de não desenvolver os sintomas graves da doença. Em segundo lugar, o engajamento da sociedade civil, FioCruz, Redes da Maré, e SMS foi fundamental para a realização; e, em terceiro, sou jovem, enfermeiro, oriundo de uma comunidade, e estar coordenando uma ação que vai salvar vidas dentro da comunidade é uma representatividade do povo para o povo e que me motiva todos os dias, me dá ânimo para seguir”, comenta emocionado.

A relevância da cidadania no atual cenário faz parte de todo esse caminho de reconhecimento e potência da Maré, e o que este território representa nas lutas de favelas e periferias. No primeiro dia de vacinação, Quitta Pinheiro25, moradora da Vila dos Pinheiros e mulher trans, demonstra que essa ação “é de uma importância gigantesca para a nossa cidadania, para o nosso acesso e a promoção de saúde. Pra gente que é da população LGBT e moradora da Maré, é muito gratificante ter toda essa vacinação em massa para que tenhamos essa possibilidade de estar se vacinando, sabendo de todas as problemáticas que tivemos em relação à vacinação”, sente. Infelizmente, Quitta perdeu sua bisavó, que era moradora do Morro do Alemão, para a Covid-19, no início da pandemia. “Estar aqui e estar viva, presenciando esse momento, é muito emocionante!”, diz.

Quitta Pinheiro
Quitta Pinheiro (25), no primeiro dia da #VacinaMaré. Foto: Julia Bruce

“Isso que fizemos na Maré é sem dúvida histórico. Quando a gente pensa que a Maré é uma cidade dentro da cidade do Rio de Janeiro, e que aqui existe também uma inteligência colocada e importante de a gente valorizar e reconhecer, damos forma a possibilidades de políticas públicas que sejam concretas, que venham do chão, da base desses territórios. Muitas vezes, a política pública vem de cima para baixo, e os moradores não se sentem representados”. Renata Souza, deputada estadual (PSOL/RJ)

“Me deixa honrada também e é muito importante que a gente venha se vacinar. A gente só consegue erradicar a doença com a vacina, então eu me sinto muito feliz por ter sido chamada para ser uma das primeiras a se vacinar, ainda mais numa comunidade que acaba sempre sendo uma das últimas. Quando vemos uma ação em que nós somos os primeiros é algo que me deixa muito feliz”. Brenda Ferreira, 20, estudante de Direito na UERJ, uma das primeiras vacinadas na ação, integrante da Frente de Mobilização da Maré

Graças a Deus, não chegamos a ter Covid. Ele estuda em colégio federal, trabalha, e aconselhei ele para tomar a vacina. Estou feliz por isso, de eu chegar na minha idade, 33, e a idade dele de 18 anos, e de estar todo mundo imunizado”. Elisa da Silva, mãe de Felipe Matheus

“No dia 13 de março de 2020, logo depois da Organização Mundial de Saúde (OMS) ter declarado a situação de pandemia, recebi um chamado da Eliana para saber como poderíamos trabalhar juntas, como a FioCruz poderia ajudar a Maré, e foram construídas muitas parcerias para esse trabalho aqui da vacinação. Também naquele momento, a gente já vinha tentando que as vozes da Redes da Maré e de outras associações fossem ouvidas na questão da segurança, dos direitos, e fizemos encontros com o pessoal da academia, com parlamentares”. Nísia Trindade, presidente da FioCruz

“Trabalhei na Maré no final da década de 1980 e estou reencontrando as pessoas. Eu lembro que, numa campanha de vacinação que participei, fizemos um inquérito nutricional e me lembrou muito isso aqui e é emocionante, porque também mobilizamos. Lembro de pegar balanças dentro da FioCruz e em vários lugares para botar nos postos de vacinação… Fizemos isso no meio de uma campanha de vacinação, na época tinha muita desnutrição! Lá em 1988 eu via as pessoas se mobilizando com muito menos recursos e muito mais dificuldades, e agora também se mobilizando. Então, as pessoas estão aí, tem uma potência!”. Valcler Rangel, assessor de Relações Interinstitucionais da Fiocruz

Quando a gente se dispõe a buscar soluções, formas de enfrentamento, as coisas acontecem. Temos que nos movimentar diante dos problemas”. Eliana Sousa, fundadora e diretora da Redes da Maré

Mega vacinação contra covid-19 para jovens de 12 e 13 anos acontece nesta sexta (24) e sábado (25)

Por Edu Carvalho, em 24/09/2021 às 10h17

Com objetivo de acelerar a vacinação contra a Covid-19 no município do Rio, a Prefeitura organizou para esta sexta-feira (24/09) e também para amanhã, sábado (25), um plano de mega vacinação. Hoje, vacinam-se meninos e meninas de 12 e 13 anos. Já no sábado, será a vez de todos os cariocas com 12 anos ou mais garantirem a sua primeira dose.

Os postos de vacinação vão funcionar das 8h às 17h nos dois dias.

Saúde antecipa dose de reforço para idosos com 60 anos ou mais que tomaram a segunda dose até 28 de fevereiro

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Por Redação, em 24/09/2021 às 07h

Por recomendação do Comitê Especial de Enfrentamento à Covid-19, idosos com 60 anos ou mais que tomaram a segunda dose da vacina contra a Covid-19 até 28 de fevereiro no Município do Rio já podem receber a dose de reforço a qualquer momento.

O calendário previsto para dose reforço por idade também permanece em vigor. Mais informações em https://coronavirus.rio/vacina.