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Pobreza menstrual

Iniciativas distribuem absorventes para mulheres de baixa renda e em presídios

Maré de Notícias #126 – julho de 2021

Por Amanda Pinheiro

Ao ouvir histórias de sua avó e sua mãe sobre constrangimentos e falta de acesso aos materiais básicos de higiene menstrual, Nívia Chavier, de 18 anos, moradora da Maré, se interessou em entender mais sobre pobreza menstrual. O termo se refere à falta de acesso que muitas mulheres têm ao que é considerado básico para passar pelo período menstrual. 

Há um ano, Nívia conheceu o coletivo Girl Up Elza Soares, um movimento criado pela Fundação das Nações Unidas que estimula jovens lideranças femininas. Desde então, a jovem luta pelas mulheres que não possuem condições de comprar absorventes descartáveis e, por isso, utilizam papel higiênico, plástico, pano e até miolo de pão.

Segundo a pesquisa do movimento Livre para Menstruar, lançada em março de 2020 pelo Girl Up Brasil, uma brasileira gasta entre R$ 3 mil e R$ 8 mil com absorventes ao longo de sua vida menstrual. Para Nívia, já que não existe uma política pública que determine a distribuição de absorventes por entidades de governo, poder fazer parte desse projeto é uma realização também pessoal. “É muito enriquecedor saber que estou fazendo algo em prol de outras pessoas. Minha avó e minha mãe contam histórias de vergonha e constrangimento por não terem acesso a absorvente descartável e precisarem usar panos. Uma vez, uma delas estava andando de bicicleta com vestido, pano e a calcinha, até que o pano caiu da bicicleta. Então só de pensar nisso, nessa situação, já é muito triste. É uma pauta relevante e que precisa ser valorizada”, afirmou. 

Desde o início da pandemia, o grupo tem realizado as ações de forma virtual, mobilizando-se em uma campanha para a criação de uma lei que atenda essas mulheres. Nívia, também é treinada pelo projeto NOSSAS, que atua pela democracia através de ações sociais e campanhas. “Ainda não participei de nenhuma distribuição física, mas faço parte do grupo de trabalho da campanha e, no momento, estamos mapeando ONGs para entender sobre o tema e fazer parcerias para outras necessidades. Por enquanto, a gente tem realizado as ações de forma remota, e estamos com uma rifa solidária no valor de R$ 5; o dinheiro arrecadado vai ser usado para a compra de leite integral para um orfanato chamado Santa Rita de Cássia”, conclui a jovem moradora da favela Rubens Vaz.

Educação menstrual 

De acordo com a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap-RJ), em dezembro de 2019 1.794 mulheres viviam sob privação de liberdade – um número que cresceu mais de 52% em dez anos. Pensando nesta população, a estudante Giullia Jaques, de 19 anos, criou o projeto Absorvidas que, além de distribuir bioabsorventes, leva educação menstrual às detentas.

Nascida e criada em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, a jovem conta que, em 2019, durante um curso ministrado pela Academia de Liderança da América Latina (entidade que seleciona jovens de toda a América Latina para um programa de liderança e aprendizagem) em Lima, no Peru, teve a ideia do projeto depois de ser perguntada se tinha um banheiro e uma privada em casa. “A empresa que levantou essa questão desenvolvia um trabalho que instalava privadas e construía banheiros em comunidades de Lima. Foi então que eu fiz uma lista de coisas às quais tenho acesso e que, por serem tão simples, muitas pessoas não têm. E percebi que absorvente era um desses itens”, contou.

Desde aquele ano, Giullia distribui bioabsorventes em penitenciárias do estado do Rio através do projeto criado por ela. Ano passado, a iniciativa arrecadou R$ 30 mil para comprar dois mil produtos, o suficiente, porém, para atender apenas 25% da população carcerária feminina. Agora, por conta da pandemia e da vacinação lenta, o projeto não tem feito as entregas, mas está se organizando para voltar com as atividades. “No momento em que a população carcerária é privada de liberdade, ela também o é de direitos humanos básicos. Estamos de mãos atadas neste momento, principalmente porque também queremos falar sobre educação menstrual com essas mulheres. Mas precisamos esperar a vacinação avançar e a pandemia se amenizar”, lamenta.

Movimento Girl Up Brasil em distribuição do kit menstrual

Para seguir no Instagram

@girlplezasoares

@fluxosdorio

Para doar

Campanha “É urgente ou pode esperar?”: acesse o site https://www.rj.livreparamenstruar.org/ 
Coletivo Girl Up Elza Soares: mande mensagem pelo email: [email protected]


Ronda: Fim de Copa América no Maracanã terá 10% de público no estádio

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Por Edu Carvalho, em 09/07/2021 às 17

Prorrogando até o dia 26 de julho as medidas de restrição contra a Covid na cidade, o prefeito Eduardo Paes divulgou a autorização de 10% para assistir a final da Copa América, que ocorre neste sábado. A medida foi publicada na edição extra do Diário Oficial desta sexta-feira e comentada pelo secretário municipal de saúde, Daniel Soranz, na apresentação do 27º Boletim Epidemiológico de Covid-19. Com a decisão, cerca de 6.500 estarão aptos, a partir de testagem, a irem ao local. 

Também na coletiva, foi sinalizado o calendário de vacinação contra a covid-19 da próxima semana, que será realizado de maneira diferente das anteriores, sem a previsão de repescagem por idade. A mudança acontece após com objetivo de reduzir o comportamento de pessoas que tentam escolher, a partir da data, o imunizante. 

Quanto às medidas restritivas, nenhuma alteração em relação às últimas semanas: boates e pistas de dança seguem proibidas, bem como a realização de eventos que necessitem de autorização transitória, em áreas públicas e particulares. Já outras permanecem flexibilizadas, como a entrada de ônibus fretados para entrar na cidade.

Shopping centers, centros comerciais e galerias de lojas; museus e bibliotecas; cinemas e teatros; casas de festas; salões de jogos; circos; áreas de recreação infantil e parques de diversões, temáticos e aquáticos; atrações turísticas; Aquário e jardim zoológico; apresentações, drive-in, feiras, congressos e exposições podem receber pessoas, com capacidade máxima de público sentado sendo de 40% em locais fechados e 60% em locais abertos. Em relação à música nos bares e restaurantes, não há mais limite de horário; nesses locais, a distância entre as mesas deve ser de 1,5 metro.

Se continuar vacinando, pode ter Carnaval 

Em entrevista ao G1, o secretário municipal de saúde, Daniel Soranz, afirmou que não descarta o Carnaval 2022, mas que ele só deve acontecer caso 100% estejam vacinados. O chefe da pasta acredita que o objetivo traçado pelo município será atingido.

”A gente espera que as pessoas possam aproveitar de maneira segura o carnaval, mas isso só pode acontecer quando tiver uma boa cobertura vacinal, com 100% da nossa população vacinada, o que tudo indica que a gente vai conseguir atingir esse objetivo”, afirmou

Para ele, os indicadores de um possível festejo de Momo ou mesmo o Reveíllon, anterior à comemoração, será definido com baixos números de contaminação e população vacinada com as duas doses. .

Covid-19 na Maré

De acordo com o Painel Unificador COVID-19 Nas Favelas, o Conjunto de Favelas da Maré é o 1º lugar nos registros de óbitos e casos dentre as comunidades cariocas. Ao todo, são 6269 casos (aumento de 613 casos na última semana) e 292 mortes no território. Na lista, ainda permanecem em ordem como principais pontos de infecção e óbitos: Rocinha (3.406 casos/129 mortes), Fazenda Coqueiro (2.606 casos/210 mortes), Alemão (2.580/146 mortes), e Complexo da Penha (1.946 casos/103 mortes). 

Máscaras que salvam

Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz, a Fiocruz, reforça as evidências sobre a eficácia de diferentes tipos de máscaras para conter a transmissão do novo coronavírus (Sars-CoV-2). Análises com esses itens de proteção usados por pessoas infectadas identificaram a presença do patógeno apenas na parte interna, sugerindo bloqueio da transmissão. O resultado foi verificado tanto nas máscaras cirúrgicas como nos modelos de pano com duas ou três camadas. Veja

A entidade também está desenvolvendo um kit de diagnóstico para detecção do novo coronavírus, que pode ser aplicado diretamente em unidades básicas de saúde, fornecendo o resultado em até 45 minutos, com baixo custo e alta precisão. A iniciativa também conta com a participação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), em parceria com a empresa SPK Solutions.

E pela primeira vez em 2021, nenhum estado apresentou alta nas taxas de incidência e mortalidade devido à Covid-19. A notícia consta no mais recente Boletim divulgado pelo instituto que contabiliza o cenário referente ao período entre 20 de junho e 3 de julho.

Apesar da queda no número de casos e de mortes, os pesquisadores da Fundação alertam que os índices das Síndromes Respiratória Agudas Graves (SRAG), que incluem a Covid-19 e a gripe, ainda são bastante altos em vários estados do país.

Até o fechamento desta edição da Ronda, o país contabilizava 530.344 óbitos e 18.962.786 casos, segundo o consórcio de veículos de imprensa (Globo, Jornal O Globo, Extra, Folha, Estado de São Paulo, G1 e UOL). Aos familiares, parentes e amigos das vítimas, nosso abraço. 

Nós não deixaremos de falar: vacina boa é vacina no braço.
E lembre sempre: #UsaMáscaraMorador

Maré de cultura

De 4 de julho a 29 de agosto, o YouTube do Itaú Cultural (IC) exibe a websérie Olho mágico, voltada para o público infantil, com episódios lançados semanalmente, nos domingos 4, 11, 18 e 25 de julho. Nesta série da Companhia Delas, Aline está vivendo a quarentena sozinha, em casa. Ela não sabe o que fazer para se livrar do tédio – já maratonou todas as séries, assistiu às lives de seus artistas favoritos e tentou de tudo para se distrair. 

A Companhia Ensaio Aberto está com as inscrições abertas para a oficina para atores O Teatro de AgitProp: 1917- 1928 -1933 do Projeto O Breve Século XX: As Vanguardas Históricas. A oficina é gratuita e acontecerá em plataforma digital, nos dias 16, 17 e 19 de julho. Serão oferecidas 20 vagas para atores, atrizes e estudantes de artes cênicas. As inscrições estão abertas até o dia 11 de julho. Para mais informações e inscrições, clique aqui

O Trio Porto Alegre estreia hoje uma obra de Ernst Mahle dedicada ao grupo em recital na Sala Cecília Meireles. No domingo, a Jazz Sinfônica recebe a cantora Vanessa Moreno na Sala São Paulo para um concerto com canções de Chico Buarque e Edu Lobo, entre outros. #DicaDoMeio

A cantora Alessandra Leão apresenta hoje o show Macumbas e Catimbós direto do Sesc Pinheiros. No sábado e no domingo, Margareth Menezes e o bloco Olodum são destaques no Festival Afropop. #DicaDoMeio

Veja o que foi destaque nesta semana no Maré de Notícias! 

Segunda-feira (05/6)

Secretaria de Saúde do Rio investiga suspeita de aplicação de vacinas fora da validade; até o momento, nenhuma unidade aplicou doses vencidas, Edu Carvalho

Alunos e professores mobilizam-se para retorno de CIEP na Vila dos Pinheiros, por Hélio Euclides 

Maré de Notícias #126

Podcast Ronda Maré de Notícias #07 – 28/06 a 04/07/21

Terça-feira (06/6)

Não é hora de escolher vacina, por Edu Carvalho

Covid-19: semana terá repescagem para quem perdeu a data de vacinação por idade, por Redação

Um adeus à Seu Amaro, por Hélio Euclides

Governo Federal anuncia renovação de Auxílio Emergencial, por Edu Carvalho 

Quarta (07/6)

Se as favelas e periferias do Brasil ‘descerem o morro’, Bolsonaro cai?, por Edu Carvalho

Campanha de vacinação contra a gripe é ampliada para atender o público em geral; confira o calendário, por Redação

Quinta-feira (08/7)Novo relatório aponta piora da fome e insegurança alimentar no Brasil durante a pandemia, por Amanda Pinheiro

Novo relatório aponta piora da fome e insegurança alimentar no Brasil durante a pandemia

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Por Amanda Pinheiro, em 08/07/2021 às 10h20. Editado por Edu Carvalho

No último dia 1º de julho, o relatório “O Dhana e a Covid-19 – O Direito Humano à Alimentação e à Nutrição Adequadas no Contexto da Pandemia”, revelou que, em 2020, 19 milhões de brasileiros passaram fome. O que alarma a situação nutricional e alimentar das famílias brasileiras, que ainda é preocupante, sobretudo durante a pandemia da covid-19.

Lançado pela Fian Brasil, instituição que trabalha pelo direito humano à alimentação e à nutrição adequadas (Dhana), o documento reuniu reportagens e inquéritos que abordaram os efeitos da insegurança alimentar e da fome na vida dos brasileiros durante o período pandêmico. Além disso, o relatório, que faz um panorama de diversos fatores, inclusive os políticos e os que a população se encontra mais vulnerável, apontou que a violação ao Dhana ocorre há muitos anos, no entanto, no governo de Jair Bolsonaro, ele não é nem levado em consideração. 

“A violação ao Dhana ocorre há séculos no país e não apenas em períodos marcados por pandemias. Esse problema foi tratado com mais ou menos seriedade ao longo do tempo, a depender de cada governante. Entretanto, para o governo do presidente Jair Bolsonaro, ele sequer existe”, informou o documento.  

Redução no valor do auxílio emergencial pode ser agravado a situação

Em 2020, como forma de ajudar a população, o governo liberou o auxílio emergencial que, inicialmente foi pago no valor de R$ 600 para 45,6 milhões de brasileiros. No entanto, o benefício só foi disponibilizado até dezembro e, após uma quase suspensão, foi retomado em março deste ano com a seguinte norma: R$ 150 para famílias de uma pessoa, R$ 250 para famílias de duas ou mais pessoas e R$ 375 para mães chefes de família. 

Essa decisão, ainda de acordo com o relatório, agravou a insegurança alimentar. “A suspensão e redução no valor do auxílio sugere que a situação de insegurança alimentar pode ter sido agravada no período”, informou o documento. Além do valor baixo, o país sofreu com a alta do preço dos alimentos, já que em 2020, a inflação de alimentos medida pelo índice de preços ao consumidor amplo (IPCA), do IBGE, atingiu 14,09%, a maior em quase vinte anos, contra 4,52% do índice geral. 

Como alguns itens básicos como arroz, feijão e óleo de soja subiram mais de 60%, o valor atual do auxílio emergencial não garante que a população mais vulnerável compre os alimentos necessários, assim como diz o documento da Fian: “A classe trabalhadora do país está tendo que escolher se morre de fome ou de vírus”, ressalta o relatório. 

Conduta do poder público não colabora para a melhora do cenário

Durante a pandemia, o governo de Jair Bolsonaro se comportou de uma forma negacionista, onde não defendeu o isolamento social, uso de máscara, além da chamada “imunidade de rebanho”. Medidas que, consequentemente, colaboraram para as mais de 500 mil mortes por covid-19 no país. Essa conduta determina a segurança da população em diversos âmbitos, inclusive o alimentar.

Ao longo da crise sanitária, a população favelada e periférica sofreu mais com o acesso regular à água potável, essencial para cozinhar e higienizar as mãos, além de não ter tido a escolha de ficar em casa, já que alguns serviços continuaram funcionando normalmente. O relatório da Fian afirma que algumas liminares judiciais permitiram que a água chegasse em favelas e ocupações, mas apenas por um momento. 

Outro apontamento é o aumento no uso de agrotóxicos, que encontra apoio de Bolsonaro desde o início de seu mandato. Em 2019, foram aprovados 475 tipos de venenos nos alimentos. Já em 2020, na pandemia, mais 118 agrotóxicos foram liberados. Além disso, outro direito básico negligenciado foi o da população indígena, que teve 16 dos 22 projetos vetados pelo presidente. Itens como a garantia de acesso à água potável; a distribuição de materiais de higiene; a oferta emergencial de leitos hospitalares e Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) foram ignorados. 

“Em suma, o Estado brasileiro é responsável por um quadro de violação sistêmica dos direitos humanos, dos quais deveria ser o guardião”, endossa o arquivo produzido pela Fian Brasil.  

Campanha de vacinação contra a gripe é ampliada para atender o público em geral; confira o calendário

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Por Redação, em 07/07/2021 ás 10h32

A campanha de vacinação contra a gripe foi ampliada no município do Rio. A partir do dia 14 de julho, a vacina será estendida para a população em geral, seguindo o calendário por idade.  Todas as pessoas com seis meses ou mais poderão comparecer às unidades de Atenção Primária (Clínicas da Família e Centros Municipais de Saúde), respeitando-se o escalonamento por faixas etárias para evitar aglomerações nas unidades de saúde.

”A nossa meta é vacinar 2,2 milhões de pessoas, até agora só vacinamos um milhão. Ainda temos uma procura muito baixa para essa vacina, que é fundamental porque evita a disseminação de vários subtipos de gripe que estão circulando durante o período de inverno. Nossa expectativa, com esse calendário, é aumentar o número de vacinados. Esperamos que as pessoas procurem os seus postos de saúde na sua data específica e venham se vacinar”, disse o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz.

É preciso respeitar o intervalo entre as vacinas, aguardando 14 dias entre a vacina da Covid-19 e a da gripe.

Confira o novo calendário:

Se as favelas e periferias do Brasil ‘descerem o morro’, Bolsonaro cai?

O peso da participação da população periférica nas manifestações contra o atual presidente

Por Edu Carvalho, em 07/06/2021 às 07h. Editado por Dani Moura

Se você é morador de alguma favela ou periferia do Brasil, com certeza já deve ter escutado a seguinte frase: ‘’Se a favela descer…’’, e daí você completa com o resto. ‘’A escola reabre’’, ‘’A saúde melhora’’, ‘’Não vai ter operação, nem tiroteio’’ e por aí vai. Mas nos últimos anos, sobretudo pela polarização política que elevou Jair Messias Bolsonaro ao cargo de presidente da República, tem sido muito demandada a presença maciça das favelas  para uma possível transformação no cenário político. ‘’É momento de planejamento, de minucioso cuidado com a manutenção da segurança sanitária, de buscar e ampliar o respaldo de massas e de nunca esquecer o compromisso com a classe trabalhadora, o compromisso com a vida e o compromisso com o nosso país. Amanhã só vai ser outro dia se começarmos a construí-lo no hoje’’, pontuaram Júlia Rocha e o historiador Jones Manoel, em artigo publicado em UOL Ecoa, no fim de junho. 

A reflexão proposta no artigo possibilita a pergunta: e o que se tem feito para aumentar a participação das camadas mais vulneráveis, e que em sua maioria, está nas favelas e periferias do Brasil – sem vacina e sem Auxílio Emergencial?

Cria da Maré, Renata da Silva Souza, de 38 anos, ou simplesmente Renata Souza, deputada estadual eleita à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro pelo PSOL em 2018, foi se vendo na luta que se dá nas ruas aos poucos, através inicialmente do Pré-Vestibular Comunitário da Maré e consequentemente, pelos movimentos sociais. ‘’Participei de manifestações tanto dentro da Maré, quanto fora da Maré’’, diz, sinalizando que um dos primeiros que ajudou a organizar foi em 2006 pela morte do menino Renan da Costa Ribeiro, de apenas três anos, que levou um tiro de fuzil na barriga. O episódio aconteceu na Nova Holanda, uma das favelas da Maré. Outro momento nas ruas também está ligado à morte de uma criança. Foi o caso de Matheus Rodrigues de Carvalho, que estava na porta de casa, na localidade da Baixa do Sapateiro, quando foi atingido no pescoço e morreu, em 2008.

Hoje, enquanto parlamentar ligada à causa dos direitos humanos, Renata reflete que um dos principais fatores, que impedem a presença favela,  é justamente o temor de perder a vida.’’A relação que os moradores de favela têm com a polícia é sempre conflituosa. O morador de favela já é tão atingido pela violência policial, que não é numa manifestação que ele vai se colocar, de novo, numa situação em que ele pode ser atingido por uma bala de borracha, por gás de pimenta e até apanhar. É bem difícil’’

Ao mesmo tempo, a vereadora enfatiza que os moradores, mesmo ‘distantes’, estão se conscientizando em grupos organizados, seja os ligados à cultura, segurança pública,  ou LGTBQUIA+, que acabam estando mais ativos em atos, sobretudo os contra o atual governo. 

Renata esteve presente nas últimas manifestações. Para ela, os levantes têm começado a ganhar caráter mais especial e de peso, com a presença de coletivos de defesa à vida dentro da favela. ‘’A gente encontra os familiares de vítimas da violência, como, por exemplo, os familiares da Kathlen Romeu’’. A jovem foi morta durante uma incursão da polícia no Conjunto do Lins, na zona norte. Kathlen estava grávida. ‘’A conscientização muitas vezes vem pela dor, pelo luto. E aí essa família completamente fragilizada vai compreender que é na rua, lutando pelo seu direito, que a lógica de segurança pública pode não ser colocada a partir do sangue de um jovem negro derramado no chão. A gente vê que o governo Bolsonaro e até o governo Cláudio Castro [governador do Rio] negou a possibilidade da nossa população mais pobre, que vive nas favelas, de ter vacina, de ter acesso a comida e, no entanto, continua tendo uma postura extremamente absurda com as operações policiais, entregando bala de fuzil todos os dias’’. 

Para Renata, o acúmulo dos fatores acaba chamando o povo à conscientização. ‘’Isso é grave, e por isso a população tem que ir para as ruas reivindicar o seu direito de viver’’.

Outro cria da Maré é Luiz dos Santos Costa, de 62 anos, professor e morador do Morro do Timbau, e só agora sentiu-se ‘confortável’ a comparecer aos atos, após problemas de saúde. ‘’Fui à manifestação de sábado e fiquei surpreso com a quantidade de pessoas presentes’’, relembra, enfatizando que no local, encontrou com outros moradores vizinhos. 

‘’Sinto nosso povo ainda preso ao medo, sobretudo às orientações de fé. E a gente sabe que medo e fé sem discernimento não cria espaço para consciência crítica’’, diz Luiz que também acredita que o medo de ser visto como alvo, afasta o  morador de favela, que em maioria é negra, das manifestações. ‘’O medo e o preconceito são estruturantes, mas nosso povo está avançando muito. Nós é que estamos um pouco tímidos’’, finaliza.

A presença da Baixada, um clã bolsonarista

Já para muitos moradores de favelas da Baixada Fluminense, a distância em relação ao Centro,  e a  grande carga horária de trabalho não são os únicos impeditivos para a presença periférica nas passeatas. ‘’Uma expressiva parcela da população apoia o governo de Bolsonaro’’, diz Marilza Barbosa, de 54 anos e uma das integrantes da Redes de Mães e Familiares da Baixada Fluminense. 

O apontamento vem a partir de um perfil conservador das 13 cidades da região, que se tornou em um território fértil para o crescimento do bolsonarismo e o apoio de políticos eleitos pela região. Como traça Marcelo Remigio no Extra, do total de municípios, pelo menos 11, são governados por prefeitos que defendem o presidente Jair Bolsonaro ou seguem alinhados com o governo federal, como os prefeitos Washington Reis, de Duque de Caxias, e Wagner dos Santos, de Belford Roxo, ambos do MDB.

Ainda sim, Marilza enfatiza que, em atos voltados para dar visibilidade aos casos de assassinatos na Baixada, há um engajamento mais forte e maior, por muito deles acontecerem nesses territórios.

Pandemia e palavras como ‘genocida’ podem atrapalhar presença

José Martins de Oliveira, de 74 anos,  é morador da Rocinha, na zona sul do Rio, e faz parte de alguns movimentos sociais, como o “Rocinha Sem Fronteiras”. Para ele, a baixa  autoestima do morador de favela pode favorecer a ausência. ‘’A falta de conscientização faz com que ele não se entenda como ser transformador’’, pontua. 

Segundo Martins, outro ponto a ser levado em consideração é a pandemia, onde se pede distanciamento social, além das medidas de higiene. Não fosse isso, possivelmente o número de pessoas estaria maior e com diversidade etária. ‘’Tem muita gente com mais de 50 anos que vai às manifestações’’. Outro problema listado pelo ativista é a forma como se apresentam as motivações. ‘’Acho que são positivas os motivos [falta de vacinas, aumento do Auxílio Emergencial]. Mas as placas usadas talvez tenham que dar mais ênfase a corrupção atribuída ao governo’’. 

Recentemente, revelações feitas em depoimentos na CPI da covid, no Senado, associam o governo Bolsonaro a um suposto esquema de corrupção envolvendo a compra de vacinas Covaxin, que aumentou a indignação da população brasileira. O sentimento em relação a esse momento foi captado nas ruas, em algumas das cidades no último sábado, onde manifestantes usaram cédulas de dólar para protestar contra o suposto esquema.

Em seu blog do G1, Octávio Guedes pontuou que a partir deste episódio, a palavra ‘’ladrão’’ passou a ser gritada a plenos pulmões, pela primeira vez, desde que Bolsonaro pisou no Palácio do Planalto. ‘’De fato, ninguém imagina os gritos “genocidaaaaa!, genocidaaaaaa!” vindos da geral ou da arquibancada para protestar contra o juiz. Nem miliciano. Mas ladrão todo mundo grita, da classe A à Z’’.

Engajamento nas redes sociais não sinaliza participação presencial 

Rennan Leta, de 26 anos, morador do Alto da Boa Vista e coordenador do Favela em Desenvolvimento, foi um dos líderes presentes na conversa que o ex-presidente Lula teve com ativistas comunitários, no início de junho. Nas redes sociais, Rennan tem mais de 21 mil seguidores no Twitter e cerca de 10,5 no Instagram. “A presença nas redes sociais chama para rua, mas acho que o termômetro real se dá não pela influência digital, e sim pela influência comunitária do território. Conheço muita gente que tem bastante seguidores e na comunidade não tem tanta influência assim’’,afima o  ativista que acredita que o aumento do engajamento nas ruas, se dará com a ajuda dos jornais periféricos. ’’Acho que pode partir de veículos comunitários a explicação, levando ainda mais informação, para que se entenda ainda mais essas questões’’. O jovem pontua, ainda,  que há uma organização dos movimentos favelados anterior ao momento atual, como os protestos feitos em 2020, em relação a morte de George Floyd e os já rotineiros contra o genocídio negro no Brasil – sobretudo periféricos e favelados. Leta também  lembra que  a Federação de Favelas do Rio de Janeiro, a Faferj, é  uma das grandes mobilizadoras das favelas. 

É justamente a Faferj que os movimentos Brigadas Populares e Frente Povo Sem Medo recorrem para disseminar os atos. David Gomes, de 30 anos, coordenador das duas iniciativas, frisa que a participação e interlocução junto aos movimentos é extremamente importante. ‘’A Faferj chegou a um entendimento e tem se posicionado publicamente nesse sentido, de que é importante derrubar o presidente. A parcela da população que mais sofre com a política de morte, o negacionismo e o desemprego sem dúvida é a  favelada”.

Para Gomes, o balanço dos três atos nacionais até agora são ‘’extremamente positivos’’. ‘’Hoje já existe esse entendimento de muitas lideranças e presidentes de associações de moradores sobre a importância de irmos às ruas. Todos os atos nós temos ônibus e vans vindos de várias comunidades da capital, como Barreira do Vasco e Rocinha, como da Baixada Fluminense, de Niterói e São Gonçalo”.

Documentário narra moradores do Capão Redondo, em São Paulo, em dia de ato contra Bolsonaro

Em junho deste ano, a produtora do ProCapão, sediada no Capão Redondo, uma das maiores favelas do Brasil, localizada em São Paulo, produziu o mini-documentário “Quebrada no Ato”, que revela a indignação dos moradores com o atual governo de Bolsonaro. A equipe partiu da comunidade rumo à manifestação do dia 19 de junho, na Avenida Paulista, coletando depoimentos emocionantes de mães, trabalhadores e jovens sobre a atual conjuntura.

Para Bruno Rodrigues, morador da Portelinha, no Capão Redondo, diretor e roteirista do documentário, a iniciativa é mais uma forma de expressão para repudiar o que está acontecendo no momento. ‘’É uma oportunidade de protestar na qual a gente consegue levar pessoas com pessoas que, necessariamente, não conseguiriam sair da Portelinha ou do Capão para estarem representando sua insatisfação com o governo. Essa forma de protesto audiovisual se demonstrou muito potente para dar voz às pessoas que não tem’’, diz. 

Segundo Rodrigues, um dos impeditivos pode ser a carga horária de trabalho ou mesmo o valor da passagem até o local das manifestações. Quem concorda com ele é o câmera Gabriel Arruda.‘’Pra gente ir do Capão Redondo até a [Avenida] Paulista, custa no mínimo nove reais, sendo uma passagem de ônibus e o metrô, depois mais nove para voltar. Com certeza isso é um impedimento grande’’. 

Gabriel também pontua que a falta de acesso à informação é um dos fatores que contribui para o cenário. ‘’Num bairro onde as pessoas não têm saneamento básico, onde as casas são de palafita, internet é luxo, um privilégio. Para uma mobilização que acontece quase toda online, é lógico que ia passar despercebida por muita gente’’.

Ainda assim, a peça surge como forma de reexistência política e social, reafirmando, mesmo que com a violência, o lugar e a presença da favela nas questões que mais importam ao país. ‘’A periferia soma o maior número de mortos por covid-19, além disso, a fome se intensificou.O povo sente o reflexo no dia-a-dia, seja na falta de emprego, comida, na saudade de um ente querido. Essas vozes que mais sofrem, hoje são as menos ouvidas. Nós queríamos mostrá-las’’, aponta Dan Rosa, também diretor do filme. 

Assista:

https://www.instagram.com/p/CQpCOYVh7QA

Governo Federal anuncia renovação de Auxílio Emergencial

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Por Edu Carvalho, em 06/07/2021 às 13h56. Editado por Dani Moura.

O presidente da República, Jair Bolsonaro, alterou ontem (5/7) um decreto que prorroga, pelo período de mais três meses, o pagamento do Auxílio Emergencial 2021. Segundo o Ministério da Cidadania os valores serão mantidos. A decisão foi publicada no Diário Oficial nesta terça-feira (6/7).

O valor médio do Auxílio é de R$ 250 (exceção às mulheres chefes de família que criam filhos sozinhas e recebem R$ 375). Para cidadãos que moram sozinhos, o valor do benefício é de R$ 150.

Instituído pela Medida Provisória (MP) nº 1039, o auxílio emergencial tinha a previsão inicial de ser pago em quatro parcelas, agora chegará a sete parcelas. “Estamos prorrogando o Auxílio Emergencial por mais três meses, agosto, setembro e outubro, enquanto acertamos o valor de um novo programa social do governo”, projetou o presidente.

A nova rodada do programa social começou a ser paga em 6 de abril deste ano, como medida de resgate aos mais vulneráveis em momento de agravamento da pandemia do coronavírus. O calendário de pagamento das próximas três parcelas extras ainda não está definido. Para aqueles que estão incluídos no Bolsa Família, os repasses continuarão sendo feitos de acordo com o período habitual do programa.