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Ato nacional mobiliza religiosos e ativistas em memória às mais de 500 mil mortes por Covid-19 nesta segunda-feira

Ato no Rio acontecerá às 18h da tarde, na Cinelândia

Por Redação, em 21/06/2021 às 9h15

A capital carioca junta-se a outras cidades no país na realização de um ato que não deveria existir. Ninguém desejaria que o Brasil alcançasse o número de 500 mil mortes por Covid-19. Chegarmos nessa marca demonstra a ausência do Estado na articulação eficaz para o fortalecimento de políticas públicas e estratégias de proteção e cuidado com a população brasileira. O ato “500 velas em memória das 500 mil vidas vítimas do Covid-19” ocorre na cidade do Rio de Janeiro hoje (21/06), às 18h, na Cinelândia.


Um ato plural de memória e justiça que reune lideranças religiosas diversas, ativistas de movimentos sociais e familiares de vítimas da Covid-19. A pauta da manifestação é um lamento coletivo que busca homenagear as pessoas que se foram, acolhendo afetivamente suas famílias, e também reivindicar vacinação para todos, auxílio emergencial e ações de combate à fome para as mais de 19 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar grave, segundo a pesquisa VIGISAN.

A fim de não gerar aglomerações a atividade presencial será com público reduzido, mas estruturado de maneira híbrida com transmissão online e participação virtual de muitas lideranças inter-religiosas. Pastora Lusmarina Garcia, Leonardo Boff, Patricia Tolmasquim, pastor Henrique Vieira são alguns confirmados.

Além deles este ato conta com apoio da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, Coletivo Memória e Utopia, Paz e Esperança Brasil, Instituto Casa Comum, Judeus pela Democracia, Comissão de Justiça, Paz e Integridade da Criação – CJPIC, Movimento de Juventudes e Espiritualidades Libertadoras, entre outras instituições.

Nesse sentido, a articulação dos diferentes segmentos da sociedade civil que realizam esses atos é encontrar coragem e esperança no coletivo, transformando nosso luto em luta para que não haja ainda mais mortes pela pandemia e endemias sociais entranhados em nosso
país.

SERVIÇO
500 velas em memória de 500 mil vidas vítimas do Covid-19
Data: 21 de junho
Horário: 18h
Local: Cinelândia/RJ
Evento online pelo Facebook Respira Brasil Rio

“A pandemia ainda pode se agravar no Brasil”, diz Carlos Machado, coordenador do Observatório Covid, ligado à Fiocruz

Por Redação, em 21/06/2021 às 06h

Baixa porcentagem da população vacinada, flexibilização das medidas de distanciamento social, desincentivo ao uso de máscaras, falta de coordenação nacional no enfrentamento da pandemia, chegada do inverno, período de férias, surgimento de novas variantes…

São muitos os motivos elencados por Carlos Machado de Freitas, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública e coordenador do Observatório da Covid , ligado à Fiocruz, para alertar sobre a gravidade do cenário da pandemia no Brasil nos próximos meses.

“Soma-se a isso o desinvestimento e a desestruturação da atenção primária à saúde no País, deixando muita gente, principalmente nos municípios menores e mais pobres, com pouco ou precário atendimento à saúde”, completa.

Os elementos da equação apontam para um horizonte nebuloso, onde vacinação em massa e cuidados não farmacológicos (como uso de máscara e higienização das mãos) aliados a políticas que viabilizem distanciamento físico e social em lugares públicos e privados serão absolutamente necessários nos próximos meses – independente do que se convencionou chamar de “terceira onda”.

“Estamos tendo que reafirmar o básico. O governo federal deveria fazer uma distribuição ampla de máscaras de boa qualidade para a população e não jogar contra uma ferramenta tão simples de prevenção”, observa.

A entrevista foi feita por Luciana Bento, coordenadora de comunicação do Conexão Saúde, na Maré

Existe a possibilidade de uma terceira onda da pandemia no País? Que consequências ela teria?
Carlos: Ainda não é possível falar de uma terceira onda no País porque não houve até agora uma queda sustentada do número de casos e óbitos no Brasil. Seria necessário configur uma baixa para chegar a um novo pico e assim o surgimento de uma nova onda.

Em maio, quando a situação estava crítica, alertamos que a elevação do número de casos constituiria um agravamento da situação e isso foi interpretado como uma terceira onda. Mas o que aconteceu foi uma certa estabilização em um patamar altíssimo e agora uma elevação lenta e gradual do número de casos e óbitos no Brasil.

Já temos pelo menos 18 estados e 16 capitais na zona de alerta crítico em relação ao sistema de saúde, com uma taxa de ocupação de leitos alta, em 80% ou mais. Ou seja, temos um cenário de elevação do número de casos e de níveis de transmissão e um sistema de saúde sobrecarregado.

Um copo cheio, já quase na borda, precisa de pequenas gotas pra transbordar. É este cenário que estamos vivendo agora. Sem uma queda sustentada no número de casos e óbitos, o sistema de saúde que já está sobrecarregado, pode entrar em colapso novamente.

Pela média de mortes por dia, é provável que ultrapassemos à marca de 500 mil mortes por Covid – ou meio milhão de pessoas que perderam suas vidas para a doença – no Brasil. Como o senhor avalia este cenário?
Temos nitidamente uma aceleração do número de óbitos que tem a ver também com a saturação e o colapso do sistema de saúde. Vamos lembrar que poucos casos evoluem para situações críticas ou graves, mas mesmo sendo poucos, em uma grande quantidade de número de casos, o número absoluto é muito alto.

Você não tendo acesso ao sistema de saúde – e o último recurso são os leitos de UTI Covid – você vê pessoas com poucas chances de sobreviver. É um cenário de bastante preocupação que a gente vivencia atualmente: uma baixa porcentagem de pessoas vacinadas com as duas doses no Brasil e um afrouxamento perigoso das medidas não farmacológicas de prevenção – distanciamento social e uso de máscaras, principalmente.

Falando da vacinação, mesmo lento, o processo está em andamento. Ele não deveria contribuir para a diminuição dos casos e óbitos no Brasil?

Carlos: A vacinação é fundamental, é da maior importância, mas ainda estamos com pouca gente vacinada no Brasil. Ela tem contribuído para reduzir as internações e óbitos de pessoas com mais idade. Mas como a pandemia não acabou, o que a gente tem assistido é internação e óbito de pessoas mais jovens, com 50 anos ou menos.

Uma das principais questões levantadas na CPI da Covid, em andamento no Senado Federal, é a falta de uma coordenação nacional para enfrentamento da pandemia ao lado de orientações desencontradas sobre prevenção da população. Até que ponto estes sinais trocados impactam no número de mortes por Covid no Brasil?

Carlos: O que vemos é uma aposta na confusão sobre formas absolutamente básicas e necessárias de prevenção, como o uso de máscaras e o distanciamento físico e social, não só nas casas, mas em espaços públicos como transporte coletivo, locais de trabalho e escolas.

Nós tivemos, desde o início da pandemia, uma campanha sistemática partindo principalmente do governo federal – no caso o Presidente e alguns de seus aliados mais próximos, mas também de alguns governadores e prefeitos – contrária às medidas de distanciamento físico e social. Isso contribuiu para um ambiente dissonante, de incongruência entre as evidências científicas e as experiências de outros países, e propostas sem evidências científicas, que partiam de outros
pressupostos, com um projeto político de desorganização do enfrentamento da pandemia. Esta campanha confrontou claramente a ciência e as medidas sanitárias e ajudou a criar inúmeras confusões e reduzir uma adesão maciça da população a elas.

Também não conseguimos fazer uma coordenação regional, entre municípios e estados. Vamos dar o exemplo o município do Rio de Janeiro, que concentra a maior parte dos recursos e dos leitos hospitalares de UTI Covid. A Capital pode adotar medidas restritivas, de distanciamento social, estruturar seu sistema de saúde, fazer o monitoramento das pessoas com comorbidade… Mas se os municípios do entorno não fazem o mesmo e aumentam o número de casos graves, o sistema de saúde da Capital vai ficar sobrecarregado do mesmo jeito.

Então esta coordenação entre os poderes públicos é absolutamente fundamental, não só a nível regional, mas principalmente a nível federal. A pandemia não respeita fronteiras então alguns estados adotam medidas mais rigorosas e outros não, mas o vírus continua circulando. Vide o caso da variante P1 que surgiu em Manaus e se espalhou por todo o País. A ausência de uma coordenação nacional entre os estados é um entrave para o bom enfrentamento da pandemia no Brasil.

Meu Caminho Até a Escola

Três anos sem Marcus Vinícius da Silva

Maré de Notícias #125 – junho de 2021

Por Diego Jesus. Editado por Dani Moura.

A vida não termina quando morremos. Como humanos, temos a oportunidade, em algum momento, de ressignificar a morte de quem nos deixou. Isso acontece quando a perda pode ser sentida por meio das boas lembranças daqueles que se foram, dos quais recordamos com carinho, transformando o luto em força para prosseguir na dura caminhada de viver em um mundo cada vez mais carente de empatia e respeito. 

Mas imagine uma mãe que perde filho ou filha para a violência. Imagine uma mulher, mãe, favelada, que tem a sua semente no mundo assassinada pela polícia. Há milhares de mães e pais nesta mesma situação no Brasil. Em 2019, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública por meio do infográfico Violência e Desigualdade Racial no Brasil, 35.543 pessoas pretas e pardas morreram em decorrência de operações policiais no país. Dezenas de milhares de mulheres e homens que viram seus filhos serem vitimados pela atuação das polícias nas áreas empobrecidas das cidades brasileiras.

Imagine, agora, uma mãe que perdeu o filho de 14 anos a caminho da escola: mochila nas costas, um amigo ao lado, uma operação policial no caminho, helicópteros da Polícia Civil atirando para baixo enquanto carros blindados, popularmente conhecidos como “caveirões”, circulavam nas ruas… Quando uma criança inocente é vítima dos tiros disparados por policiais, como ressignificar a sua morte? A única possibilidade diante de tamanha injustiça é a transição ainda mais dolorosa do luto para a luta.

Marcus Vini?cius da Silva, morto durante operac?a?o policial na Mare? em 2018

O caminho até a escola 

Marcus Vinícius da Silva não chegou à sala de aula na manhã do dia 20 de junho de 2018. Ele, na companhia do seu melhor amigo, se dirigia à Escola Municipal Operário Vicente Mariano, localizada na Vila dos Pinheiros, uma das favelas que compõem a Maré. Enquanto caminhava numa rua perto de onde estudava, Marcus foi atingido por um tiro de fuzil. Alvejado, as últimas palavras ditas por ele a Bruna da Silva, sua mãe, foram: “Mãe, a polícia não viu que eu estava com roupa e material de escola?”

Ainda não foi possível fazer a pergunta de Marcus ao policial civil que atirou nele naquele dia: se o oficial viu ou não que o garoto vestia o uniforme da rede estadual de ensino e carregava, nas costas, uma mochila vermelha, onde levava o caderno com capa do Flamengo, o seu time do coração. Os três últimos anos da família de Marcus têm sido marcados pela falta dele e de respostas, resultado de um sistema jurídico ineficiente para quem nasce “sem berço” e vive nas ditas áreas violentas das cidades brasileiras. Estas são, na verdade, as áreas violentadas pelas omissões e decisões equivocadas dos governantes.

Quanto vale a vida de uma criança? Para o Estado brasileiro, a resposta a essa pergunta vai depender se a criança vive numa área empobrecida, da sua cor de pele, do acaso de encontrar a polícia em ação, armada e no seu bairro enquanto anda em direção à escola. Estes elementos indicarão, a partir do entendimento criminoso de atuação das polícias em favelas e periferias, se crianças com tais características deverão ou não ser tratadas como humanas. A garantia dos direitos fundamentais está reservada a uma parcela da população que não vive nesses lugares abandonados pelo poder público.

O projeto de segurança pública do Rio de Janeiro se sustenta, também, na lógica de que a morte dessas pessoas por agentes do Estado não mobiliza a opinião pública o suficiente para que a letalidade policial seja corrigida por políticas de inclusão eficazes para o desenvolvimento das favelas e periferias, o que geraria a diminuição das desigualdades e da violência.

Em meio ao ilegal cotidiano de operações policiais nas favelas e periferias, as escolas públicas encontram-se diretamente ameaçadas quando os tiroteios entre a polícia e os grupos civis armados determinam que, além de correr o risco de serem alvejados, os alunos têm negado o seu direito do acesso à educação. Os confrontos são parte do cotidiano e deixam marcas nos muros, nas salas de aula e na vida de quem está dentro da escola: Maria Eduarda Alves da Conceição, de 13 anos de idade, foi morta no interior da Escola Municipal Daniel Piza, em Acari, na Zona Norte do Rio, durante uma operação da Polícia Militar, em março de 2017.

Direito à Educação

Segundo os boletins Direito à Segurança Pública na Maré, produzidos pela Redes da Maré entre 2017 e 2020, nos últimos quatro anos as escolas localizadas nos territórios tiveram um total de 58 dias letivos cancelados por conta das operações policiais. Só em 2017, foram 35 dias sem aulas, o que correspondeu a 17% do calendário escolar daquele ano. Em 2020, ano de início da pandemia do novo coronavírus no Brasil, as escolas funcionaram apenas três dias em pouco mais de um mês letivo devido às operações policiais na Maré.

A pandemia da covid-19 implicou a paralisação das atividades escolares no Rio de Janeiro por tempo indeterminado, o que agravou ainda mais a situação dos estudantes da rede pública de ensino, levando crianças e jovens das favelas e periferias a ficarem sem aulas presenciais ou em modo remoto por mais de um ano. A ineficiência e o negacionismo dos governos federal, estadual e municipal no combate à pandemia prolongaram o fechamento das unidades escolares, evidenciando, durante a crise sanitária, problemas sociais históricos, como a exclusão digital e a insegurança alimentar das famílias, agravados pela diminuição da renda e a falta de acesso à merenda escolar.

Na democracia brasileira, a educação é um direito violado à queima-roupa. A impossibilidade de estar na escola por conta dos conflitos armados tem reflexos diretos na incidência dos altos índices de criminalidade em áreas empobrecidas das nossas metrópoles. Essa arquitetura da deseducação passa pelo impedimento da formação escolar dos moradores das áreas onde há a presença do tráfico de drogas, resultado do histórico abandono da população desses territórios por parte do Estado. As ações das polícias durante as operações têm resultado em penas de morte – sentenças sanguinárias baseadas na desastrosa política de “guerra às drogas”, que viola rotineiramente os direitos fundamentais dos moradores desses territórios.

Sonhos interrompidos

Não há como contar a história de Marcus, uma criança, pois foi tirado dele o direito de viver e da sua família, de tê-lo vivo. Mas é essencial falar sobre a luta de Bruna da Silva por justiça. A mãe de Marcus Vinícius ainda está buscando, desde a manhã do dia 20 de junho de 2018, uma resposta para a pergunta feita por ele em seus últimos momentos de vida; ela não sabe sequer o nome do policial responsável pela morte do filho. 

Bruna faz parte da equipe de tecedores da Redes da Maré e transforma a sua dor em luta, por Marcus e pelas outras crianças vítimas das ditas “balas perdidas”. Em 2020, 12 crianças foram mortas em decorrência de ações policiais no estado do Rio de Janeiro, mesmo com as restrições impostas pelas medidas de distanciamento social e a determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) de proibir, por meio da ADPF 635, operações policiais durante a pandemia. Entre 2007 e 2021, segundo informações da ONG Rio de Paz, 81 crianças de 0 a 14 anos morreram vítimas de “balas perdidas” – constantemente encontradas, não por acaso, nos corpos dos moradores das favelas e periferias do Rio de Janeiro.

Para mostrar a luta por justiça travada por Bruna da Silva, está em produção o documentário Meu Caminho Até a Escola, um longa-metragem realizado na Maré. O filme apresenta um ambiente escolar ameaçado pelos cotidianos conflitos armados que acontecem nos turnos das atividades nos colégios, e pretende discutir as consequências da violência no acesso à educação. O projeto é dirigido e roteirizado por mim, e conta com o apoio financeiro do Itaú Cultural por meio da convocatória Rumos Itaú Cultural 2019-2020. Meu Caminho Até a Escola é coproduzido pela Redes da Maré e tem previsão de lançamento no primeiro semestre de 2022.

Bruna da Silva e a filha Maria Vitória durante as filmagens do documentário Meu Caminho Até a Escola, dirigido por Diego Jesus

Sobre o autor:

Diretor e roteirista do filme Meu Caminho Até a Escola. É doutorando do programa Estudos Luso-Brasileiros da Cultura e da Mídia na Universidade do Texas em Austin (EUA). Na Maré, idealizou e coordenou o projeto Escola de Cinema Olhares da Maré (ECOM), desenvolvido pela Redes da Maré. Dirigiu o documentário Ocupação, que mostra a incursão das Forças Armadas na Maré em 2014.

Cinema das Periferias: Nós por Nós

Cineastas produzem retratos fiéis da realidade nas favelas

Maré de Notícias #125 – junho de 2021

Por Hélio Euclides e Kelly San

Num processo de resistência para retratar a própria realidade (muitas vezes, expostas de forma equivocada),  jovens cineastas da periferia arregaçaram as mangas e concretizaram o sonho de divulgar a cultura de uma forma acessível, além de mostrar o lugar onde vivem de uma forma real, de dentro para fora. 

Se a maioria dos filmes fala da favela por meio de estereótipos, retratando-a como um lugar onde o cotidiano violento é o normal, cineastas periféricos estão mostrando que ela é muito mais do que isso. Amanda Baroni, de 28 anos, moradora da Maré, começou no cinema em 2019 por meio de oficinas. De uma delas surgiu o filme A Maré Tá Pra Peixe, protagonizado pelo pescador Hélio Ricardo. “Com ele, percebi a importância da Baía de Guanabara. É muito bom contar uma história, ir a campo, se relacionar com as pessoas, embarcar no universo da narrativa”, conta.

Amanda Baroni é cineasta da Maré e dirigiu o filme A Maré Tá Pra Peixe – Acervo pessoal

Amanda acredita que é importante mostrar o lado positivo e potente da Maré sem cair na reprodução do discurso de carência que comumente é apresentado. “A favela não é só violência; é todo um universo produtivo de criatividade e força de vontade. Estamos no lugar de fala, não só de receptor como também de comunicação de dentro para fora. É preciso mostrar assuntos que mexam com a cabeça, como moradia, questão de gênero, liberdade, políticas públicas e direitos”, diz a jovem, que se intitula uma agente de mobilização – segundo ela, recompensador, mas cansativo.

Outro que se destaca no trabalho periférico é JV Santos, de 34 anos, morador da Penha. Ele começou no cinema em 2011, com um curta-metragem que aborda as remoções da primeira praça construída pelos moradores do Morro da Providência. “A partir daí, segui trabalhando temas principalmente relacionados à representação e à construção da imagem em torno das populações pretas, faveladas e periféricas do Rio. Esse é um caminho sem volta. Não tem mais como falar sobre nós sem nós”, explica o criador de Favela Que Me Viu Crescer, O Maraca é Nosso?, Complexos e Expresso Parador. “O cinema no Brasil é uma capitania hereditária: dependendo do seu sobrenome, você tem ou não uma para herdar. Por isso é muito difícil viver de cinema para quem é preto, pobre e de favela ou periferia. Nós somos a exceção que confirma a regra de exclusão no mercado audiovisual e da arte como um todo”, conclui. Para reverter essa situação, JV criou o projeto Cafuné na Laje para reproduzir a real imagem da população preta e das favelas no Rio de Janeiro. 

É preciso não desanimar 

Paulo Barros, fotógrafo e produtor, iniciou sua trajetória em 2009 na Escola de Fotógrafos Populares, na Maré. Ali surgiu nele e em seus colegas do curso o interesse pelo audiovisual, por intermédio do coletivo Garapa. Ele é um dos fundadores do Favela em Foco, um coletivo de produção de vídeos e fotos. “É difícil ser um produtor de conteúdo audiovisual periférico/favelado; é muito complexo, tem todas as dificuldades. Todo mundo sabe que produzir audiovisual aqui no Brasil é algo que não é pra gente, mas a gente faz”, desabafa. 

Para um cineasta periférico, as maiores dificuldades são a falta de apoio e a ausência de patrocínio. “Hoje em dia é penoso conseguir um dos dois e, por isso, temos que nos reinventar para continuar trabalhando. Quando começamos a fazer filmes para contar as histórias dos lugares onde a gente reside e por onde transitamos, vivemos algo único. Pessoas que são desses espaços e outras que desejam conhecê-los ficam perplexas com as narrativas que mostramos”, lembra Paulo, que garante que seu trabalho não fica atrás em qualidade técnica daqueles de cineastas com maior poder aquisitivo.  

Para ele, a perfeição no cinema só é possível com muito estudo, e reitera que essa vida não é de ilusões: “Já tive momentos que não vi o meu trabalho evoluir, então cheguei a pensar em desistir. Mas o que me motivou é fazermos um cinema de guerrilha.” Paulo revela que fazer audiovisual de qualidade para a internet não sai barato: é preciso boas câmeras e lentes, além de uma iluminação adequada. Para bancar isso, ele precisou abrir mão de muitas coisas. “É um mercado desigual, mas a gente faz a diferença a partir dessa desigualdade”, conclui. 

Uma história de amor a periferia

Furar a bolha do mundo do audiovisual nunca foi fácil. O mercado é elitista, caro e por vezes, preconceituoso. Carlos Eduardo Barcelos, o Cadu, conseguiu e mostrou para outros jovens da favela que era possível fazer cinema sendo da periferia. Morto em 2020 num assalto no Centro do Rio, ele começou pela fotografia, num curso do Observatório de Favelas, na Maré; depois, ingressou na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, onde pôs a mão na massa, o que possibilitou a ele engrenar uma carreira como cineasta premiado. Foi o diretor e roteirista do episódio Deixa Voar, um dos que compõem o longa 5x Favela – Agora Por Nós Mesmos”, de 2010, produzido por Cacá Diegues e Renata Almeida Magalhães. O filme integrou a Seleção Oficial do Festival de Cannes. Também dirigiu Crônicas das Cidades (no Canal Futura) e Feira da Teixeira, além de roteirizar e dirigir a série Mais x Favela (2011), do canal a cabo Multishow, e o documentário 5x Pacificação (2012).

A mãe, Neilde Barcellos, chegou a pedir que ele mudasse de profissão, quando os trabalhos tornaram-se escassos. Mas Cadu se recusava. “Ele dizia que era cineasta, que gostava de fazer cinema. E começou a visitar escolas para falar de cinema, além de ser instrutor no Instituto Vida Real. Ele sempre voltou à favela para mostrar a importância do jovem acreditar que é possível realizar um sonho. Era uma pessoa que incentivava a todos a estudar e seguir em frente. Era um persistente na carreira”, lembra, orgulhosa. Cadu estimulou muita gente da Maré a seguir a carreira. Quando morreu, trabalhava como assistente de direção no programa Greg News, comandado por Gregório Duvivier, no canal a cabo HBO.

Coletivo Cafuné da Laje na produção de documentário sobre as memórias da favela do Jacarezinho – Jv Santos

O espaço do cinema periférico

O Ponto Cine, localizado em Guadalupe, é a primeira sala popular de cinema digital do Brasil, criada em 2006. É reconhecida pela Agência Nacional do Cinema (Ancine) como a maior exibidora de filmes brasileiros do país. Apesar disso, a sala está fechada há um ano e dois meses. Adailton Medeiros, idealizador e diretor executivo do espaço, acredita que superar este momento será talvez o maior desafio do lugar. “O cinema brasileiro vinha muito bem, estava ganhando maturidade, com 120 a 130 títulos sendo lançados no mercado comercial por ano. Paralelamente, as produções nas periferias estavam aumentando – filmes de diversos gêneros e, o mais legal, feitos por gente do território, com temas, artistas e personagens e narrativas locais. Mas aí veio o novo governo federal e, consequentemente, a paralisação da Ancine”, diz Medeiros. Para ele, é preciso fortalecer o cinema produzido nos territórios, independentemente da agência reguladora e do financiamento público, uma vez que é raro conseguir verbas através de editais. 

O Maré de Notícias entrou em contato com a RioFilme, empresa municipal de fomento à indústria audiovisual. O órgão informou que está implementando mudanças e prometeu diálogo com a periferia para entender as demandas e atuar com mais eficácia. Garantiu ainda que, ainda este ano, vai reabrir o Cine Nova Brasília e realizar outras ações no campo audiovisual.

Ronda: Rio pretende vacinar população adulta até fim de agosto

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Por Edu Carvalho, em 18/06/2021 às 18h

Como noticiamos no início do dia, ao apresentar o 24º Boletim Epidemiológico da Covid-19, nesta sexta-feira (18/06), o prefeito Eduardo Paes anunciou a antecipação do calendário de vacinação por faixa etária, com todas as pessoas acima de 18 anos ou mais imunizadas com a primeira dose até 31 de agosto. Pelo cronograma anterior, esta etapa só terminaria no dia 21 de outubro. Adolescentes, de 12 a 17 anos, devem ser imunizados nos dias 1º e 15 de setembro.

A Prefeitura do Rio anunciou ainda que analisa a possibilidade de estender a vacinação em massa para Manguinhos e a Maré. O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, revelou que a ideia é semelhante ao experimento de imunização na Ilha de Paquetá, e que vem sendo estudada pela prefeitura juntamente com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Atualmente, a cidade apresenta 352.190 casos de covid-19 e 27.781 óbitos. Somente em 2021, foram 143.719 casos e 9.095 mortes. A taxa de letalidade deste ano está em 6,3%, e a de mortalidade, em 136,5 a cada 100 mil habitantes. A incidência da doença é de 2.157,5/100 mil.

O panorama ainda indica a permanência de todas as 33 regiões administrativas do município na classificação de alto risco para a transmissão do vírus. As médias móveis de atendimentos da rede de urgência e emergência, de casos confirmados e de óbitos pela doença apresentam tendência de queda.

Covid-19 na Maré

A 36ª edição do Boletim Conexão Saúde – De Olho no Corona, com dados coletados na primeira semana do mês de junho aponta que a região da Maré e de Manguinhos estão com aumento expressivo de contágio para o novo coronavírus. Só no conjunto de 16 favelas, houve registro de alta de 94% dos casos (de 204 para 396), em relação aos 14 dias anteriores e 2 novos óbitos frente a nenhum reportado nos 14 dias anteriores.

Já em Manguinhos os dados oficiais demonstram um aumento de 110% dos casos (de 50 para 105), em relação aos 14 dias anteriores e não ocorreram óbitos nas últimas duas semanas. Sendo assim,  é possível identificar uma tendência de crescimento substancial do número de casos, já que as duas primeiras semanas do mês de junho superam em número de casos todo o mês de maio.  O boletim é uma publicação do projeto Conexão Saúde, uma iniciativa da Redes da Maré, Fiocruz, Dados do Bem, SAS Brasil, Conselho Comunitário de Manguinhos e União Rio.

De acordo com o Painel Unificador COVID-19 Nas Favelas, o Conjunto de Favelas da Maré é o 1º lugar nos registros de óbitos e casos dentre as comunidades cariocas. Ao todo, são 5390 casos (aumento de 450 casos na última semana) e 289 mortes no território. Na lista, ainda permanecem em ordem como principais pontos de infecção e óbitos: Rocinha (3.298 casos/127 mortes), Alemão (2.472/141 mortes), Fazenda Coqueiro (2.420 casos/205 mortes) e Complexo do Lins (1.757 casos/143 mortes). 

Até o fechamento desta edição da Ronda, o país contabilizava 496.172 óbitos e 17.704.041 casos, segundo o consórcio de veículos de imprensa (Globo, Jornal O Globo, Extra, Folha, Estado de São Paulo, G1 e UOL).

Samba em luto

Morreu nesta sexta-feira (18) Amadeu Amaral – o mestre Mug, que por mais de 30 anos comandou a bateria da Unidos de Vila Isabel. O sambista estava internado desde 12 de março no Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), em Vila Isabel, zona Norte do Rio de Janeiro para tratar uma hérnia de disco na cervical e na região da lombar.

Também na manhã de hoje, morreu o diretor de carnaval Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, o Laíla, vítima da Covid-19. Ele teve uma parada cardíaca decorrente de complicações da doença. 

Considerado uma das personalidades mais emblemáticas do carnaval carioca, Laíla teve passagem por diversas agremiações, dentre elas, Beija-Flor de Nilópolis – onde ficou por quase três décadas – Unidos da Tijuca, Grande Rio e União da Ilha. 

Estranhou o quê?

Ontem, quinta (17), a polícia prendeu Igor Pinheiro, de 22 anos, rapaz branco que furtou uma bicicleta no Leblon. Sua prisão é desfecho do crime de racismo praticado por dois jovens brancos que acusaram o morador da Maré Matheus Ribeiro, professor de surfe, de ter levado a bike. O motivo? O garoto tem uma semelhante a da menina. Mariana Spinelli e Tomás Oliveira interrogaram Matheus, que em vídeo, registrou o assinte e desrespeito ocorrido, cenas que só confirmam: existe racismo no Brasil.

Nas redes sociais, publicações externaram apoio ao jovem mareense, que sintetizou, em entrevista ao G1, o sentimento do caso: ‘’É um problema que está enraizado em nossa sociedade’’.  Durante a semana, diversos textos trataram do assunto. Elio Gaspari, Flávia Oliveira, Ruth Aquino e Edu Carvalho são alguns dos autores. 

Não é isolado 

Corpos negros parecem nascer com uma trajetória definida sentença para preconceito e abordagens – de todos os tipos e pessoas. Os números comprovam e os relatos atestam: pretas e pretos, são, em maioria, alvos dos mais variados tipos de violência existentes, sendo principalmente acometidos pela física e verbal. 

O mais visto é aquele presenciado em relação aos policiais, sempre com caráter de emergência para ser freado. Nesse sentido, a campanha #PorQueEu,  criada pelo Data_Labe com o IDDD (Instituto de Defesa do Direito de Defesa), visa gerar análises sobre as ocorrências por meio de um questionário. Acesse-o no link.

É sempre bom lembrar: #JustiçaParaMarcusVinícius

No próximo dia 20 de junho (domingo), o assassinato do morador e estudante Marcus Vinícius (14) completa três anos. O jovem foi morto durante uma operação da Polícia Civil.  Às 18h35 (horário em que ocorreu o crime em 2018),  um “twitaço” em memória da vítima será feito. Grite também, através das tags #3anosSemRespostas #3anosSemMarcusVinícius #JustiçaporMarcusVinícius

Ser mulher: equidade no trabalho

Na última quinta-feira o Preparatório para o Ensino Médio da Redes da Maré apresentou a LIVE “Ser mulher: equidade no mercado de trabalho”. O evento contou com a participação da mãe e mototaxista, Dayanne Paulino, da mestra e doutoranda da UERJ em Microbiologia e Imunologia, Miriam Francisca Ferreira e da educadora esportiva, Raíssa Lima. A mediação ficou por conta da psicóloga, fotógrafa e moradora da Maré Kamila Camillo. A iniciativa faz parte de uma série de conversas sobre gênero, começando pelos desafios enfrentados por mulheres no mercado de trabalho. Assista!

Maré de cultura

Até domingo, rola o Festival JAM 2021 para celebrar a força da inclusão de pessoas refugiadas e deslocadas na América Latina e no Caribe, em comemoração do Dia Mundial do Refugiado. O festival é um espetáculo virtual pré-gravado exibido nas redes sociais do ACNUR Brasil, em português (Facebook e YouTube), e do ACNUR nas Américas (Facebook e YouTube), Na noite desta sexta-feira (18), às 20h, o coral Makamba de crianças refugiadas no Brasil, cujos pais vieram de Angola, República Democrática do Congo e Líbia apresenta uma música da peça Siyahamba. A produção é da Companhia Nissi de Teatro, com apoio da ONG IKMR, parceira do ACNUR.

Já está rolando o 13º In-Edit Brasil, principal janela de documentários do país. Secos & Molhados, Moby, Alzira E, Paulo César Pinheiro e Speedfreaks estão entre os artistas retratados. #DicaDoMeio

Até 8 de agosto, a Casa de Cultura do Parque exibe a exposição virtual Ensaio para uma Cidadania Mundana, que reúne performances em vídeo do artista Renan Marcondes.. #DicaDoMeio

Na quinta, o estilista e pesquisador Lorenzo Merlino apresenta Um breve panorama da representação LGBTQIA+ na arte em palestra transmitida pela Casa de Fiat de Cultura.. #DicaDoMeio

Perdeu o conteúdo da semana? Confira nossos destaques! 

Segunda-feira (14/6)

Raio-x da saúde na Maré, por Hélio Euclides 
Semana começa com a vacinação contra a Covid-19 para quem tem 53 anos, por Redação
Minutos que valem vidas, Hélio Euclides 

Terça-feira (15/6)

No Junho Vermelho, Hemorio lança campanha ‘Cada Gota Importa’, por Redação
Ação com oferta de serviços e cursos mobiliza sociedade contra trabalho infantil, por Redação
Covid-19: Rio de Janeiro vacina gestantes e puérperas com comorbidades, por Redação
Podcast Ronda Maré de Notícias #04 – 07 a 14/06, por Daniele Moura 

Quarta (16/6)

Um apagão na energia para quem já está ‘apagado’, por Edu Carvalho e Hélio Euclides
Jovens da Maré gravam projeto que destaca amor pelo local onde que moram, por Hélio Euclides
Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia e Cisco oferecem cursos de tecnologia gratuitos e online para jovens, por Redação

Quinta (17/6)

DetranRJ oferece mais de 7 mil vagas em mutirão neste sábado, dia 19/06, por Redação
MPRJ cria comissão para atuar no combate ao racismo, à violência contra a mulher e promoção dos direitos LGBT, por Redação

Sexta-feira (18/6)

Prefeitura do Rio prevê vacinação de população acima de 18 até fim de agosto, por Edu Carvalho
Pelo segundo ano, comemoração de festa junina na Maré fica dentro de casa, por Hélio Euclides 
Adolescente de 16 anos é morto durante operação na Penha, por O Dia