Home Blog Page 451

Maré recebe aula aberta sobre o tema “O que é Justiça”

0

Aula foi conduzida pela defensora pública Maria Júlia Miranda e a antropóloga e pesquisadora Kátia Mello

A aula promovida pelo Eixo de Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré recebeu a antropóloga e pesquisadora Kátia Mello e a defensora pública Maria Júlia Miranda para dividirem com os participantes reflexões sobre o tema.

Kátia iniciou a aula falando sobre as dimensões, conceitos e história da justiça no Brasil e no mundo. O organograma do Judiciário também foi um dos elementos que Kátia compartilhou na aula. Maria Júlia, defensora pública há 18 anos e coordenadora do Núcleo de Terras e Habitação da Defensoria Pública, falou sobre a organização. A Defensoria Publica tem hoje 768 defensores e é a mais antiga e consolidada Defensoria do Brasil. Maria Júlia falou ainda sobre as áreas de atuação da defensoria, inclusive, sobre o Circuito de Favelas por Direitos.

A aula terminou com perguntas sobre questões atuais e a construção histórica da justiça e do judiciário, sob o olhar do território da favela. Tecedores da Redes da Maré, parceiros e participantes de outras organizações locais estiveram presentes na primeira aula aberta, de uma série que acontecerão mensalmente até o fim do ano sobre o tema.

O desejo de mudar a educação

0

Com a pedagogia, Luiza espera novos rumos para ensinar

Hélio Euclides

Luiza de Lima de Oliveira, de 22 anos, cursou por dois anos o Pré-Vestibular Redes da Maré. A moradora da Nova Holanda é uma das mais novas universitárias da Maré. Ela já está em fase de provas, do primeiro período, do curso de Pedagogia, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

A recém-universitária terminou o Ensino Médio em 2015, e, no ano, seguinte fez o Pré-Vestibular da Igreja Jesus de Nazaré. Em 2017 e 2018, Luiza encontrou pedreira pelo meio do caminho: as 24 horas do dia eram insuficientes para a quantidade de demandas e obrigações sob sua responsabilidade. “Tinha que fazer as coisas da casa pela manhã, estudar no Pré-Vestibular da UniFavela à tarde e no Pré-Vestibular Redes da Maré à noite. Estudei muito, mas o esforço me ajudou a conseguir a vaga”, lembra. Ela conta que conhece a Redes da Maré há bastante tempo, onde fez cursos de francês e informática.

“Educação transforma o mundo”

Ao todo, foram três anos de preparação para o ingresso na universidade. “O Ensino Médio público é precário. Então, o pré-vestibular me ajudou, principalmente, na interpretação de texto e redação”, desabafa. Luiza sabe bem o porquê da escolha do curso de pedagogia. “Não quero que um filho se decepcione com o Ensino Médio, como aconteceu comigo. Sei que a educação transforma o mundo. Quero tentar fazer algo para melhorar a estrutura da educação do país”, deseja.

Luiza focou no vestibular realizado pela Uerj, por acreditar que a prova é conteudista, o seu forte. Quando soube da notícia que tinha passado, ela levou um susto. “Passar para uma universidade pública tem um grande peso na vida, ainda estou vivendo o momento. Na universidade, tudo é novo, estou em fase de conhecer”, revela.

Na família, ela será a primeira a ter o diploma, já que pai começou três faculdades, mas não chegou a concluí-las. Luiza revela que nessa trajetória seu segredo foi a força de seus pais, que foram seu alicerce. Mas ela dá uma dica para quem deseja o ingresso numa universidade. “Não desistir, e sim lutar”, resume.


Festival promove conscientização sobre saúde feminina e materna

0

Segunda edição do evento reúne diversas organizações feministas para discutir os temas relacionados à vida, às escolhas e à saúde das mulheres

Flávia Veloso

Hoje, 28 de maio, comemora-se o Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher e o Dia Nacional de Luta pela Redução da Mortalidade Materna. Para debater sobre esses temas, será realizado o “2º Festival pela Vida das Mulheres”. No evento, serão apresentadas intervenções artísticas, culturais e divulgação de dados sobre saúde das mulheres, morte materna, aborto e violência obstétrica. O evento terá início às 16h, na Praça XV.

O evento é organizado pela Frente Nacional Contra a Criminalização de Mulheres e pela Legalização do Aborto, que é composta por diversas organizações feministas de todo o país. “Queremos pautar a sociedade a respeito de alguns temas que não estão sendo trabalhados de forma adequada nas nossas políticas públicas, queremos que a violência obstétrica acabe. Ela ainda existe e apagar seu nome não vai nos manter vivas e saudáveis. Queremos também discutir e propor políticas públicas que acabem com o racismo institucional, que é a discriminação das mulheres negras nos serviços públicos por causa de sua raça/cor. E mais: não criminalizar as mulheres que abortam! Oferecer a elas tratamento adequado em saúde e legalizar o aborto são formas de reduzir a morte materna. É pela vida das mulheres!”,  disse  Adriana Mota, coordenadora da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB) do Rio de Janeiro, um dos grupos que compõem a Frente Nacional Contra a Criminalização de Mulheres e pela Legalização do Aborto.

A AMB é uma organização política não partidária, que promove a auto-organização de mulheres pelo feminismo, contra o racismo e o capitalismo em todo o país. Compõem ainda a Frente Nacional Contra a Criminalização de Mulheres e pela Legalização do Aborto os seguintes coletivos e entidades: Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB) do Rio de Janeiro, Casa da Mulher Trabalhadora (Camtra), Criola, Finadas do Aborto, Feminicidade, Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas (Renfa), Liga Brasileira de Lésbicas, Marcha Mundial de Mulheres e Partida.


Um administrador na prática

0

Cristian se esforça para aprender na universidade a teoria da profissão

Hélio Euclides

O empreendedor, criador da marca Chocorela, um cone de chocolate, que foi destaque nas páginas da edição 92, do Jornal Maré de Notícias, de setembro de 2018, agora se empenha em alcançar mais uma conquista: cursar a faculdade de administração. Cristian Santos Gomes, de 21 anos, fez vários cursos profissionalizantes de administração, mas sentia a necessidade de ingressar numa universidade. “Até pouco tempo, a universidade não era o meu objetivo principal. Mas esses dois anos me aproximaram do pré-vestibular, como forma de mudança de vida”, comenta.

Cristian teve duas passagens pelo Pré-Vestibular Redes da Maré, uma no primeiro semestre de 2016 e a outra no segundo de 2018. “A Redes da Maré está na minha vida desde que nasci. Foi onde fiz vários cursos, desde criança”, destaca.

Malabarismo

Ele conta que ano passado também terminou o Ensino Médio. Isso transformou a vida dele num malabarismo, pois além da escola fazia dois cursos pré-vestibulares. “Fiquei meio doido, estudava muito. Na parte da tarde, fazia o Pré-Vestibular UniFavela, onde as aulas eram na minha casa. Hoje, elas são na instituição Vida Real. Já à noite, estudava na Redes da Maré. Queria otimizar o tempo, pois só foram seis meses”, lembra. Para ele, o importante foi focar e dizer para si mesmo que era para valer.

Cristian dá dicas para quem deseja o ingresso na universidade. Além de dedicação nas aulas, vale a pena fazer o máximo de simulados de provas antigas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Outro passo, coloquei pendurado no meu quarto um papel onde dizia: minha meta é ser aprovado em 2019. Estudava e olhava para esse papel, isso me ajudou na autoestima”, confessa.

Dificuldades e inspiração

O jovem detalha que a maior dificuldade foi, há um mês do Enem, quebrar o braço direito. Na prova já estava sem o gesso, mas ainda estava o braço doendo. O esforço valeu quando viu o gabarito, fez a contagem e sentiu que tinha passado. O recém-universitário diz que sua mãe é sua inspiração, já que ela também entrou para a universidade, onde cursa Serviço Social, e fez o Curso Pré-Vestibular Redes da Maré em anos anteriores.

Agora Cristian já está em fase de prova do primeiro período do curso de Administração na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Cristian fala que a universidade não é fácil, especialmente para moradores da Maré, como ele, que precisam pegar dois ônibus para ir à Praia Vermelha e outros dois para a volta. “Compartilho esse esforço com outro aluno da minha sala, que também mora na Maré, e passou por meio de pré-vestibular comunitário. No caso dele, o realizado pela Igreja Batista do Parque União. Sabemos que é cansativo, mas ao mesmo tempo é gratificante”, conclui.


Manifestação contra a violência policial pede paz para as favelas do Rio

0

Gritos de “Parem de nos matar!” ecoaram durante o ato

Flávia Veloso

Manifestantes foram à orla de Ipanema na manhã deste domingo, 26, protestar contra as operações policiais que vêm causando mortes nas favelas do Rio de Janeiro e a política de “abate” defendida pelo governador Wilson Witzel.  Organizado por 85 associações, Organizações Não Governamentais (ONG’s) e coletivos, o movimento “Parem de Nos Matar!” reuniu cerca de 5 mil pessoas, segundo informação do Eixo de Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes Maré.

Parentes de pessoas que morreram em decorrência de operações policiais em favelas pediram respeito, justiça e criticaram a violência incitada pelo Estado. O ato também contou com apresentações musicais, teatrais, de dança e declamação de poesias.

O enfrentamento violento incentivado por Witzel vem sendo refletido nos número de mortes por policiais em todo o estado. De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), o primeiro trimestre de 2019, foi o período com o maior índice de letalidade por policiais em operações já registrado em 20 anos, um total de 434 mortes. Já o mês de abril teve 124 mortes, 23% a mais do que no ano passado, referente ao mesmo período.

“Nossos filhos estão sendo tombados a troco de quê? De uma Segurança Pública que não existe! Viemos aqui, hoje, cobrar os nossos direitos, nós queremos justiça, queremos respeito, nós só queremos viver em paz”, disse ao público Bruna da Silva, mãe de Marcus Vinícius, morto no ano passado a caminho da escola, durante uma operação policial no Complexo da Maré.

Leia também:

Lutar é um verbo eternamente conjugado por nós, moradores de favelas

Lutar é um verbo eternamente conjugado por nós, moradores de favelas

0


Shirley Rosendo*

A sua casa é um ambiente seguro para você, certo? A escola onde seus filhos ou parentes estudam a mesma coisa. O bairro que você mora, de alguma forma, também é. Ou seja, apesar das nossas dificuldades, tentamos e lutamos para que o espaço onde moramos, estudamos, trabalhamos seja um ambiente seguro. Mas você já se imaginou em um local onde uma operação policial pode ocorrer a qualquer momento e colocar isso tudo em questão? Já se imaginou morar em um local onde algum grupo civil armado ou paramilitar possa cobrar pela sua segurança? Já imaginou o caveirão voador sobrevoando a sua casa, seu trabalho? Pois bem, essa é a realidade da maioria das favelas cariocas.

Quando uma operação policial ocorre, o caveirão terrestre desfila pelas ruas das favelas, como se nelas não tivesse ninguém. Do mesmo modo, quando caveirões voadores são utilizados é como se a favela virasse para esses um terreno vazio. Ou seja, a vida é suspensa!  As casas e as escolas deixam de ser aqueles espaços seguros, pois o caveirão voador estremesse as nossas casas, os blindados deixam nosso coração mais que apertado. E, em questão de segundo, raciocinamos onde é o lugar mais seguro para não virarmos estatísticas. Corremos para as escolas para buscar nossos parentes. E quem só trabalha na favela, espera o momento mais seguro para ir embora. Porém, nós não podemos! E, infelizmente, quem deveria garantir nossos direitos é o maior violador. Então, até para se esconder de um tiro em nossa casa temos que pensar em como. Temos que pensar como não viramos estatística.  E, infelizmente, a cada dia, em algumas das mais de mil favelas que tem no Estado do Rio de Janeiro, uma vida se vai, deixando um vazio, acompanhado de muita dor, no peito das mães e parentes de vítimas do Estado.

E embora sejam corriqueiras as falas “que as favelas estão passando por um momento de passividade, que favelados e faveladas são despolitizados”, o que o Ato PAREM DE NOS MATAR vem mostrar, é que não há movimento de inércia, em especial, quando é o direito à vida que é colocado em xeque. Ele foi organizado por mais de 85 instituições e reuniu aproximadamente 5 mil pessoas na orla de Ipanema. E, para variar, era o mesmo dia do ato convocado pelo atual presidente, que no geral não faz a menor questão de zelar pelos nossos direitos – aliás pelo contrário. Então, o nosso ato contém muitas respostas:

1) Parem de nos Matar, não toleraremos mais essa política de genocídio e daremos visibilidade a ela até que ela seja suspensa;

2) Não estamos na inércia, pois embora nossas favelas sejam preconizadas pelo Estado, estamos lutando diariamente para que o quadro se inverta;

3) Não recuaremos! Não sairemos das ruas, pois a rua e a cidade é nossa também, e buscaremos todas as estratégias possíveis de visibilizar as violações de direitos aos quais passamos, assim como mostraremos a nossa capacidade de se juntar e reinventar para conquistar nossos direitos.

E, por fim, o problema da violência não é de exclusividade da favela, não é um problema só dela. Logo, os cidadãos da cidade precisam se implicar, em resolver esse problema junto.

*Moradora da Maré, Mestre em Educação e Política pública. Pesquisadora de juventudes, favela e educação. Coordenadora de Mobilização do Eixo de Segurança Pública e Acesso a Justiça da Redes da Maré.