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18 de Maio: Dia Nacional de Luta Antimanicomial

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Por um mundo mais fraterno, democrático e solidário

Equipe do Espaço Normal

A Reforma Psiquiátrica brasileira é fruto de uma mobilização e articulação nacional que se inicia no fim da década de 1970 e avança em conjunto com o processo de redemocratização do Brasil, envolvendo desde pesquisadores e trabalhadores de saúde mental a usuários de serviços e seus familiares, com a participação de coletivos e organizações da sociedade civil .

Esses atores sociais articulados formam, em conjunto, o movimento de Luta Antimanicomial, atuante ainda nos dias de hoje, e que tem como principais bandeiras a extinção progressiva e completa do manicômio como dispositivo de tratamento psiquiátrico, o reconhecimento dos direitos de cidadania dos loucos e a construção de um novo lugar social para a loucura.

Atualmente, com a ascensão de forças conservadoras e reacionárias ao governo, esse processo de reforma tem sofrido duros golpes, especialmente no que diz respeito ao cuidado produzido junto com usuários de crack, álcool e outras drogas. Mais do que nunca é necessário defender modos de abordagem e tratamento prestado a essas pessoas através de dispositivos de base territorial, comunitária, em meio aberto, capazes de produzir o acolhimento e cuidado e, assim, a ampliação dos seus direitos, da sua autonomia e de laços sociais.

Nesse sentido, esse evento se insere em um conjunto de atividades de mobilização e celebração Luta Antimanicomial, comemorada no mês de maio, como uma iniciativa inovadora e fundamental, trazendo para o conjunto de favelas da Maré essa discussão e processo tão necessários para a construção de um mundo mais fraterno, democrático e solidário.


Professor de jiu-jitsu é alvejado e morto a caminho do trabalho

Jean, segundo informações divulgadas até o momento, é mais uma vítima da política de segurança pública que prioriza confrontos armados nos territórios periféricos

Flávia Veloso

Novamente a história se repete: no fim da tarde de ontem, 15, mais um tiroteio, em decorrência de uma operação policial (realizada no horário da saída de crianças das escolas, de moradores voltando do trabalho e de ruas movimentadas) fez uma vítima fatal.  Jean Rodrigues da Silva Aldrovande era professor de jiu-jitsu em um projeto social no Complexo do Alemão, estava a caminho do trabalho e foi alvejado na cabeça.

Segundo a coordenadora do Eixo de Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré, Lidiane Malanquini, a onda de mortes pela polícia tende a aumentar quando se tem governantes que incentivam a prática de abate e de enfrentamento violento.

Mortes invisíveis

Dias antes, mais precisamente em 6 de maio, perto do Alemão, no Complexo da Maré, oito jovens foram mortos numa operação em que um helicóptero da Polícia Civil foi usado como plataforma de disparos. Essas pessoas, porém, não eram professores e ‘não têm nem nome’. Segundo relatos, duas delas teriam se rendido, mas mesmo assim foram executadas por policiais, que alegaram que “a ordem é matar”. Em balanço feito pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) , o primeiro trimestre de 2019 teve o maior número já registrado de mortes pela polícia no Rio de Janeiro, um total de 434, sendo 179 só na capital.

“Se estivéssemos num Estado democrático de fato, a polícia iria prender esses caras, que estariam sendo presos em flagrante; iria conduzir pra uma delegacia que faria um processo investigativo; depois o judiciário iria julgar essas pessoas e elas cumpririam pena num outro sistema. Isso se chama Sistema de Justiça Criminal, que existe e foi feita pra regular quando as pessoas não cumprem a lei”, acrescentou Lidiane.

O Sistema de Justiça funciona bem, no entanto, para políticos acusados de corrupção, mas não para populações periféricas e pretas. Este foi o caso do professor Jean, do músico Evaldo Rosa (que teve o carro alvejado por 80 tiros), do catador Luciano Macedo, que tentou socorrer Evaldo, e dos oito jovens da Maré, cujos nomes e histórias seguem desconhecidos pela sociedade. E, se depender da atual política de segurança pública, será também o caso de muitos e muitos outros pretos e favelados.

Uma semana de ações, violações e mortes na Maré

Jéssica Pires

Em uma semana, foram 5 ações policiais na Maré. 10 territórios atingidos pelo medo. 9 vidas interrompidas. 7 vidas marcadas e feridas, inclusive a de uma criança no Conjunto Esperança. 31 horas do cotidiano de mais de 130 mil pessoas impactado. 20 unidades de ensino e 6 unidades de saúde com funcionamento prejudicado. Em todos os dias úteis dessa semana, pelo menos uma unidade de saúde e escola tiveram seus serviços afetados. Nas 5 operações policiais, TODAS contaram com a presença da Polícia Civil e do “caveirão voador”, sendo mais uma vez naturalizado na atuação do Estado da Maré.

É importante dizer que a Ação Civil Pública da Maré, instrumento legal produzido pela Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, com apoio dos moradores, organizações da sociedade civil e o Fórum Basta de Violencia! Outra Maré É Possível…., que visa reduzir danos e riscos durante as operações policiais na Maré, recomenda que as operações não aconteçam em locais próximos à escolas. A região do Conjunto Esperança que foi alvo da ação no último dia 6 de maio fica bem próxima há um complexo com mais de 7 escolas. Ontem, na Nova Holanda e Parque União a ação aconteceu na saída do horário escolar.  

Outra norma estabelecida pela ACP é que ambulâncias estejam à disposição durante as ações para socorrer vítimas. Essa é uma medida que geralmente não é seguida durante as operações policiais na Maré e também não foi identificado pelas nossas equipes nas últimas operações. 

Lembramos também que o uso do helicóptero como plataforma de tiro tem sido frequentemente utilizado nas operações na Maré: o Caveirão Voador deixou de ser exceção e virou uma regra nas operações policiais da Maré! Essa é uma tática que aumenta consideravelmente o grau de letalidade das operações na Maré. Uma operação que foi marco na Maré e teve a presença do Caveirão Voador aconteceu no dia 20 de junho de 2018, com 7 mortos, entre eles o menino Marcos Vinicius de 14 anos. Além de gerar temor, pavor e desespero ao cotidiano dos moradores que não sabem de onde tiros e rajadas são disparados. Imagine ter um helicóptero sobrevoando em cima da sua casa e disparando tiros a esmo? 

Uma semana depois da violenta operação policial que deixou 8 mortes no Conjunto Esperança, e que marcou o início desses 7 dias de terror que os moradores da Maré tem vivido, a Delegacia de Homicídios realizou perícia nos pontos onde essas 8 vidas foram executadas. Em casos de homicídios, as pericias são importantes para garantir que as investigações sejam consistentes e que os culpados sejam responsabilizados pelas mortes. Não pode ser diferente em territórios favelados. Não pode ser diferente na Maré. 

Hoje estiveram presentes peritos do Ministério Público e a Delegacia de Homicídios realizando pericias em duas casas no Conjunto Esperança onde ocorreram 8 das mortes, decorrentes da operação do dia 6 de maio. A associação de moradores e a equipe do Eixo de Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré acompanharam a visita e as pericias que aconteceram na manhã de hoje sem nenhum registro de confronto. É importante registrar que durante a visita e perícia, a equipe da Redes da Maré foi hostilizada por policiais da CORE. Seguimos acompanhando as ações das polícias na Maré e ressaltamos sempre que lutamos por uma política de segurança pública que garanta direitos e preserve vidas.

Um leitor apaixonado

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A dedicação de um morador da Marcílio levou à comunidade uma das poucas bibliotecas da Maré

Maré de Notícias #100

Hélio Euclides

Era uma vez um homem que tinha um sonho, que não era de creme ou de doce de leite. Pode-se dizer que tinha um objetivo: ter uma biblioteca. Mas seu sonho não era um desejo egoísta. Seu sonho era levar alegria e cultura, por meio de livros, para moradores de Marcílio Dias, na Maré. Este sonhador é Geraldo Oliveira, 70 anos, cuja história de vida se mistura com a de tantos outros sonhadores do nosso bairro.

Geraldo chegou à Maré vindo da Paraíba, no dia 3 de junho de 1966. Nessa época, ainda tinha a Praia das Moreninhas e uma vila de pescadores. Mas tinha também as palafitas, que eram, aos seus olhos, perigosas, com pontes de madeira enfincadas na lama e no lodo.

Um ano depois de sua chegada, presenciou, com seus olhos de rapazinho de 18 anos, uma cena pitoresca e inesquecível: uma multidão compareceu a uma festa nas palafitas (festa sim! O povo era alegre!). Tinha tanta, tanta gente, que o piso não aguentou e caiu todo mundo! Foi uma confusão danada. Mas pensa que isso atrapalhou?  Que nada! Ajeitaram as madeiras com escoras e a festa continuou. Geraldo tem nostalgia, sente saudades desse tempo e acha que o que faz falta é uma maior união entre as famílias. O emprestar de açúcar e de café, por exemplo.

Geraldo também tem uma grande paixão, a qual se dedica com a maior das devoções: os livros. São eles que foram e sempre serão o farol que ilumina sua estrada. Esse amor é altruísta, generoso. Por isso, em 2004, deu o primeiro passo para dividir as delícias de sua paixão com todos os moradores da sua querida Marcílio: transformou uma sala de sua casa em um espaço de leitura público.

A biblioteca mesmo surgiu em 2007, em uma loja. No início não tinha nome, então um amigo falou de Nélida Piñon. Geraldo se apaixonou pela história da escritora da Academia Brasileira de Letras e decidiu que a biblioteca teria o nome dela. E mais, Nélida conheceria o espaço e saberia da homenagem.

Dito e feito. No dia 11 de maio de 2011, a imortal visitou a biblioteca. Na ocasião, Nélida disse que conhecia diversos países, mas que estava profundamente honrada em conhecer a Favela da Maré. Um momento mágico para o nosso herói.

Mas depois veio a crise. E o acervo de 5 mil livros foi para um espaço menor. Geraldo, porém, não desiste deste amor. Fez e faz muita coisa para mantê-lo vivo. Uma delas foi deixar de pagar a prestação do carro para quitar o aluguel da biblioteca. Outra, foi participar de um programa de TV. Atualmente, o aluguel da sala é de R$ 450, que tira da sua aposentadoria e da ajuda de amigos.

Geraldo sabe que para “ser feliz pra sempre” é preciso lutar incessantemente. Assim, já planeja novos passos. Para trilhá-los pede ajuda a todos que, como ele, sejam apaixonados por livros. Para colaborar, basta acessar e contribuir: www.vaquinha.com.br/vaquinha/nao-deixe-a-unica-biblioteca-da-favela-morrer. Todos os amantes de livros de Marcílio (os atuais e os vindouros) agradecem.

Você sabia?

  • A ocupação de Marcílio Dias começou quando oito famílias de pescadores ergueram palafitas, em 1948.
  • Segundo o Censo Maré 2013, Marcílio Dias conta com 6.342 habitantes e 2.248 domicílios.
  • ?        Marcílio Dias era negro e é o marinheiro mais homenageado na Marinha de Guerra Brasileira. Se destacou, sobretudo, na Batalha Naval do Riachuelo.

Por que uns e não outros têm direito à segurança pública?

Este 13 de Maio fica marcado por mais um dia de truculência em ação policial em favelas da Maré

Jéssica Pires

Desde o início da última semana, as favelas da Maré têm vivido uma série de violações de direitos em ações policiais. Segunda, (6/5) foram oito mortes no Conjunto Esperança.  Na mesma semana, dias 7, 8 e 10/5 recebemos relatos da presença armada das polícias Civil e Militar do Estado do Rio de Janeiro em Marcílio Dias, sem qualquer nota ou posicionamento oficial destas instituições, mesmo após diversos questionamentos, por dias por parte da nossa equipe.

Hoje,  (13/05), o dia iniciou novamente com notícias sobre ação policial em Marcílio Dias. A ação começou às 6h, com a presença do “caveirão voador” fazendo voos rasantes. Segundo a assessoria de imprensa da Polícia Civil, a ação foi em conjunto com  da 65ª DP, de Magé, e da Delegacia de Roubos e Furtos, que tinham mandados de prisão e apreensão.

Quando ainda buscávamos informações sobre a motivação da operação em Marcílio Dias, por volta de 15:40h da tarde, as favelas Nova Holanda, Parque Maré, Parque União, e Rubens Vaz teve início de uma operação policial do CORE com  “caveirão voador” dando voos rasantes e lançando tiros a esmo e de pelo menos 3 carros blindados circulando pela região.

Isso aconteceu no momento da saída de alunos das escolas públicas e privadas dessas 4 favelas onde moram mais de 53 mil pessoas. Mais uma vez atentamos que esse tipo de  ação descumpre normas e protocolos para atuação da polícia na Maré, incluídas na Ação Civil Pública da Maré, que determinam que as operações não ocorram perto de espaços escolares e em horário de fluxo de entrada e saída de alunos. No momento da operação, diversas crianças estavam em aulas dos preparatórios para ensino médio, e fundamental,  que aconteciam no prédio central da Redes. Além destas, outros 300 alunos do Curso Pré-Vestibular, Ensino de Jovens e Adultos (EJA) e Alfabetização para Mulheres tiveram as aulas canceladas. Postos de sáude foram fechados e moradores cerceados do direito de ir e vir.

É possível imaginar esse mesmo cenário em qualquer outro ponto da cidade do Rio de Janeiro? Que política de segurança permite que o direito a vida seja negado a cidadãos da Maré?

Até às 19h20 da noite, não tivemos retorno da assessoria de comunicação das polícias sobre a motivação desta ação policial.

*Número de total de moradores do Parque União, Rubens Vaz, Nova Holanda e Parque Maré, segundo dados do Censo Maré, de 2013.  

Evento celebra 100 edições do Maré de Notícias

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Jornal produz conteúdo jornalístico sobre e para a Maré e seus moradores

Eliane Salles

O Centro de Artes da Maré (CAM) foi palco no último dia 10, sexta-feira, de um evento comemorativo para celebrar um grande feito em se tratando de jornalismo comunitário: o jornal Maré de Notícias chegou à 100ª edição. Desde dezembro de 2009, o jornal tem como proposta produzir e difundir conteúdo jornalístico crítico e reflexivo, que motive a mobilização e fomente ações capazes de gerar mudanças que impactem na qualidade de vida da população da Maré. O jornal, cuja tiragem mensal é de 50 mil exemplares, é distribuído porta a porta em todo o bairro.

Homenagens e debate

Na programação comemorativa, exibição de vídeo sobre o Maré de Notícias, homenagem aos personagens da edição 100 e apresentação da equipe do jornal. Também foi realizada uma roda de conversa com o tema “Jornalismo e Território”, que contou com a participação de Carla Siccos (CDD Acontece – Cidade de Deus), Clara Sacco (Data-Labe – Maré) e Betinho Casas Novas (Voz da Comunidade – Alemão). Uma roda de samba com o grupo Nova Raiz do Samba encerrou o evento. Na ocasião, o cantor e compositor mareense Jorge Bobs apresentou o “Samba do Parque Rubens Vaz” – uma composição feita em parceria com o jornalista Hélio Euclides a pedido do Jornal Maré de Notícias.