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Experiências Fundamentais da Psicanálise

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Trabalhar com demandas impossíveis

A psicanálise trabalha com um saber inesperado que pode surgir nas entrelinhas da fala da própria pessoa que pede solução para seus problemas. Entrar em contato com este “saber não sabido” não é necessariamente a solução para o problema, mas pode mudar o ponto de vista habitual ou a maneira de lidar com aquilo que, inicialmente, provoca apenas um sentimento de impotência diante da vida. Os psicanalistas responsáveis pelo projeto Digaí-Maré propõem, a partir da parceria estabelecida com a Redes e da experiência acumulada nos anos de atendimento na Maré, alguns encontros voltados para assistentes sociais, educadores, psicólogos e outros profissionais que atendam o público da Maré. Estudantes de graduação também podem participar. Os encontros pretendem apoiar quem trabalha com as demandas impossíveis dos usuários – já que, para as possíveis, existem muitas técnicas e serviços.

Temas a serem abordados: Inconsciente, Saber, Recalque, Surpresa, Transferência, Ética.

Inscreva-se!

Os interessados deverão preencher a ficha de inscrição clicando aqui.

Caso as inscrições excedam o número de vagas, haverá uma seleção a partir da ficha, considerando as razões pelas quais o candidato se interessou pela iniciativa.

Número de vagas limitado!

Duração: 8 encontros

Horário: Segundas-feiras, das 9h às 11h

Local: Galpão da Redes, Rua Teixeira Ribeiro, 521, ao lado do Mototaxi

Inscrições: 06 a 17/05 

Resultado: 20/05

Início dos encontros: 27 de maio

Datas dos 8 encontros: 27/05, 03/06, 10/06, 17/06, 24/06, 01/07, 08/07 e 15/07

Mais 100 virão

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O Maré de Notícias veio pra ficar. E disso mais ninguém duvida

O 17 de janeiro de 2009 foi um dia triste para a cidade. A primeira página de O Globo informava que um incêndio destruíra o Mercadão de Madureira. Nesse mesmo dia, a alguns quilômetros dali, era lançado o Jornal Maré de Notícias, começando assim uma história de cumplicidade e lutas conjuntas entre o veículo comunitário e a comunidade. De lá pra cá, muita coisa mudou – o comprometimento com os “mareenses” e com os fundamentos do bom jornalismo comunitário, não. E, assim, chegamos ao número 100.

Cabe esclarecer que poucos são os jornais de bairro que conseguem esta marca – mesmo com empenho, trabalho e esforço. Mas o Maré de Notícias tem um diferencial e tanto: o suporte de uma entidade ativa e respeitada, a Redes de Maré. Detalhe importante: o Maré de Notícias não é um “boletim” da entidade, e nunca se propôs a ser, mas um veículo a serviço da população. E isso está no seu projeto editorial.

A equipe – amor pelo veículo e pelo território

Em 24 anos de jornalismo, o Maré de Notícias foi a primeira experiência de edição num jornal impresso de Dani Moura, que hoje é Coordenadora de Comunicação da Redes da Maré. “Além do ineditismo da edição de um impresso, o jornal era comunitário. Uau! Um baita desafio! Mas nunca irei me esquecer. Ali começou meu caso de amor com a Maré.”

O repórter Hélio Euclides, morador da Maré, é um dos fundadores do Jornal. Conhece o território e seus habitantes como ninguém. “Minha primeira matéria no Maré de Notícias foi sobre dois atletas da Maré. Muito bom saber como eles estão hoje, Vinícius Souza, que naquela época dava os primeiros passos na natação, hoje é dono de alguns títulos. E Priscila Xavier, faixa marrom de caratê, que falava da outra paixão, o jornalismo, hoje, atua como jornalista, e já abrilhantou as páginas do Maré de Notícias”.

 Filipe Mendonça é o encarregado de dar forma ao nosso Jornal e se encantou, desde o início, com o desafio de fazer um produto popular e moderno visualmente, “Trabalhamos dia e noite, finais de semana e feriados para que a leitura do texto seja clara e objetiva, que contenha elementos que prestem serviço e conversem com todos os moradores da Maré”. 

“A Maré é o meu lugar” diz orgulhosa Jéssica Pires, que escreve e fotografa. A jornalista não teve dúvidas em trocar de emprego, ao ser selecionada para trabalhar no Maré de Notícias. “Contamos histórias de afirmação, positivas e que não se esgotam na Maré. Cobramos e prestamos serviços sabendo da importância que isso tem para os mais de 130 mil moradores dessas favelas”.

Outra integrante da equipe é Camille Ramos, uma apaixonada por jornalismo comunitário. “A gente se divide pra dar conta das muitas funções que temos, respeitamos compromissos e particularidades, e nos apoiamos para encontrar o nosso melhor”.

O fotógrafo Douglas Lopes é outro “mareense” na equipe. “Ser morador da Maré e fotografar, documentar, registrar o cotidiano deste território, suas paisagens, pessoas e suas particularidades me fascina e me reconstrói a cada dia”.

E vem das Minas Gerais a nossa revisora, Elizete Munhoz, com sua leitura atenta e rigorosa das matérias do Jornal, conosco há mais de 2 anos, e que, embora não viva aqui, traz a Maré no coração, como é próprio dos mineiros.

Eliane Salles é a editora-chefe do Maré de Notícias. Com mais de 25 anos de experiência, poucas vezes viu um jornal da dita imprensa alternativa seguir tão rigorosamente os critérios de noticiabilidade, periodicidade e compromisso com sua função social e com o leitor. E isso, obviamente a encantou. “Editar o Maré de Notícias é como tudo na Maré: simples e complexo ao mesmo tempo”.
Á frente desse time de craques, está o diretor da Redes da Maré, o filósofo Alberto Aleixo, que acompanha o Eixo de Arte e Cultura e, há dois anos, o Setor de Comunicação. Neste período, ele tem sido responsável por conduzir a equipe no direcionamento editorial e ético. Sob sua batuta, chegamos à 100ª edição. Que venham outras 100!

Uma vida dedicada à Maré

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Seu Amaro atuou em muitas frentes para levar melhorias ao bairro

Maré de Notícias #100

Hélio Euclides

O Conjunto habitacional Nova Maré foi inaugurado pela Prefeitura em 1996, com o fim de assentar moradores removidos de palafitas. Segundo o Censo Maré de 2013, a Nova Maré conta com 3.215 habitantes e 944 domicílios. Tem como marco a presença da Lona Cultural Municipal Herbert Vianna, a instituição Uerê e a Vila Olímpica da Maré. Essa última, administrada desde sua criação por Amaro Domingues, de 86 anos, nascido no interior do município de Campos. Ele recebeu a medalha Pedro Ernesto e teve sua vida contada em dois livros. Seu Amaro, como é conhecido na Maré, fala da sua trajetória e luta pela favela.

MN:Como foi sua vinda para a Maré?

AD:Morei em diversas localidades, mas em 1962 fui removido de Benfica para a Nova Holanda. Quando cheguei à favela, só tinha até a Rua Cinco, o resto era mangue. Aconteceram muitas remoções naquela época, como Manguinhos, Esqueleto e Praia do Pinto. As pessoas vieram para cá e as necessidades apareceram, como a falta d’água. Então tinha de buscar água com o uso de um barril que era chamado de rola. Aqui também não tinha luz, era usado um gerador. Uma vez acabou o óleo no meio do jogo da Seleção brasileira, na Copa de 1962. Depois a luz ficou centralizada em cabines.

Como começou sua luta na Maré?

A educação era péssima, então como eu fazia parte do Sindicato dos Rodoviários consegui 600 vagas para as crianças da Maré na escola dos funcionários da CTC (Companhia de Transportes Coletivos). Em 1998, uma das reclamações era que ninguém dava emprego para quem falasse que era morador da Maré. Então, consegui por oito anos uma parceria de limpeza com o Hospital do Fundão (Universitário Clementino Fraga Filho), para colocar moradores por meio da cooperativa que presidia a Coopjovem Maré, cuja sede era na Nova Maré.

E o trabalho na Vila Olímpica?

Fundamos a Unimar (União das Associação de Moradores do Bairro da Maré). Um dia, numa reunião com 12 representantes, apresentamos ao engenheiro Edgar Amaral a criação da Vila Olímpica. No dia 23 de abril de 1995, cheguei em Brasília para apresentar o projeto. Não tinha dinheiro e me senti um plebeu favelado, com um book debaixo do braço. Consegui falar com o Ministro dos Esportes, Pelé, e deixar o material com o seu assessor. Depois veio a briga para a construção, já que achavam uma área perigosa. Foi a primeira vila olímpica da Prefeitura. Para completar o tripé, reivindicamos uma creche (Espaço de Desenvolvimento Infantil Professor Moacyr de Góes) e a escola técnica. Muita luta, pena que tem gente que deseja aparecer, mas não ligo, o importante é funcionar.

Como é a ligação com a Nova Maré?

A Nova Maré nasce da remoção das palafitas da Praia de Ramos e Roquete Pinto. Colaborei para a criação da associação de moradores, que teve como primeira presidente a amiga Clarinha (Maria Clara Rodrigues da Silva). Estou presente desde a fundação, me sinto bem perto desse povo. É onde passo a maior parte do dia, na Vila Olímpica. Queria fazer mais coisas, mas tenho meus limites.

Mudando para melhor

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Bento Ribeiro Dantas é considerado por seus habitantes uma área privilegiada pra se morar

Maré de Notícias #100

Camille Ramos

Entre o Morro do Timbau e a Linha Amarela, um conjunto habitacional de tijolos e concretos aparentes, com traços arquitetônicos de inspiração pós-modernista se destaca entrenó meio de outras comunidades da Maré. Trata-se do conjunto Bento Ribeiro Dantas, erguido na década de 1990, na área onde existia a praia e o Porto de Inhaúma. Seus moradores vieram de outras favelas por meio do Programa Morar Sem Risco, que contemplava comunidades que apresentavam perigo de desabamentos, entre outros, e que não podiam ser urbanizadas pelo Programa Favela-Bairro, implantado a partir de 1994. Uma dessas comunidades era a favela da Varginha, em Manguinhos, onde morava Cremilda Vicente de Carvalho, nossa entrevistada. 

MN: Quando a senhora veio pra Bento Ribeiro Dantas?

DC: Cheguei aqui no dia 8 de setembro de 1993.

MN: Veio pra cá por quê?

DC: Eu morava na beirada do rio da Varginha, em Manguinhos. As casas da beira do rio eram de madeira. A minha tinha tijolo embaixo e madeira em cima. Aí teve uma chuva que alagou tudo.  Minha casa foi a primeira a encher e a última a esvaziar na chuva de janeiro de 1993. Como muitas pessoas perderam as casas, o governo trouxe a gente pra cá.

MN: A remoção foi organizada pelos técnicos da Prefeitura que consideraram como área de risco as favelas que não podiam ser urbanizadas e aí deslocaram vocês pra Ribeiro Dantas, foi isso?

DC: Isso. Eles chegaram lá e disseram que a gente não podia mais morar ali. Pra mim foi uma maravilha! Eu não gostava daquele lugar. Perdi uma filha de 1 ano e 5 meses no rio. Quando a gente veio pra cá foi só felicidade. Aqui, é a Zona Sul da Maré, né? Melhor lugar pra se morar.

MN: O Conjunto foi ocupado só por moradores da Varginha?

DC: Vim eu e meus vizinhos que ainda estão tudo aí. Foram 525 casas construídas aqui no Conjunto. Umas 120 vieram de Varginha, outros de Manguinhos, da Mangueira, do Rio Saracuí.

MN: Como foi construir a vida aqui? Como que era a Ribeiro Dantas quando a senhora chegou?

DC: Tenho 54 anos; vim pra cá com 28, mas parece que eu sempre vivi aqui. Quando a gente chegou só tinham as casas, que eram de vila. Minha casa original tinha dois andares e dois quartos. Eu tinha perdido tudo na enchente; viemos sem nada e aos poucos a gente foi comprando as coisas.

MN: E tinha asfalto, comércio?

DC: Tinha nada. A gente passava na praça e só via lama, depois via coelho, não tinha padaria, mercado… nem nada. A gente ia na Vila do João fazer as coisas. Aos poucos as pessoas foram se organizando.

MN: E como foi que as coisas foram melhorando?

DC: Com a chegada do asfalto da Avenida Bento Ribeiro Dantas, o concreto da praça. Fizemos a quadra, porque as pessoas jogavam bola no barro. Em 2006, a gente se organizou pra fazer a associação de moradores; fiquei lá até o ano passado.

Bento Ribeiro Dantas só cresce e é considerada por seus moradores como o melhor lugar de todo o bairro para se morar. Vendo o amor de Dona Cremilda por sua comunidade, fica difícil não acreditar. BOXE OU INFOGRÁFICO

Você Sabia?

*A comunidade tem esse nome por causa da via principal, que ligava a Maré a Bonsucesso, antes de se tornar Linha Amarela. A rua leva o nome do presidente do Centro Industrial do Rio de Janeiro que participou do movimento político-militar que derrubou o presidente João Goulart, em 1964.

*O conjunto foi inaugurado em 1992.

*Inicialmente, a comunidade foi apelidada de Fogo Cruzado, devido aos confrontos armados frequentes.

*Possui 943 domicílios e uma população estimada em 3.553 habitantes (Censo Maré 2013).

A chegada de dias melhores

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O Conjunto recebeu parte dos moradores das palafitas da Baixa

Maré de Notícias #100

Camille Ramos

Próximo à Avenida Bento Ribeiro Dantas, junto à ciclovia da comunidade, foi construído, em 1989, o Conjunto Habitacional do Pinheiro, fruto do Projeto Rio, do Governo Federal, cujo objetivo declarado era acabar com moradias precárias. O Conjunto, constituído por 34 edifícios, recebeu parte dos moradores das palafitas da Baixa do Sapateiro, onde morava Dona Eunice Cunha de Oliveira, hoje com 74 anos. Atual presidente da associação de moradores da comunidade, ela contou para o MN como foi a remoção que a trouxe para o Conjunto, onde mora desde então.

Dona Eunice chegou à Baixa do Sapateiro com seus pais e irmão por volta de 1950. Como era comum na época, foram morar nas palafitas. Luz não tinha. Para se ter água potável, era necessário buscar longe ou pagar por ela. E, quando a maré subia, perdia-se tudo dentro das casas. “A gente não tinha banheiro; lembro que tudo era feito em buracos que caíam direto no mar. Pra cozinhar e outras coisas, a gente carregava latas d’água, balanças e rola-rola [barril fechado com rolha e envolto em pneu usado para transportar água]”, conta.

O marido de Dona Eunice, Seu Enock Oliveira, com quem é casada há 33 anos, também cresceu nas palafitas e fala sobre os trabalhos que realizava, ainda criança, para ganhar dinheiro: “Eu carregava carrinhos de mão para tirar entulho [dos caminhões] para aterrar a Baixa, ficava dias fazendo isso”, relembra. Os dois se conheceram nas palafitas e vieram morar com suas famílias no Conjunto Pinheiro. Isso antes de se casarem.

Igual a ganhar na loteria

A mudança foi um divisor de águas na vida do casal e das centenas de pessoas que trocaram as palafitas pelo Conjunto Pinheiro. “A sensação era de estar vivo. Foi igual ganhar na loteria. Eu não me lembrava de já ter tomado banho de chuveiro, nem de usar um vaso, em casa. A gente se sentia rico, nos trouxeram dignidade com esses apartamentos”, conta entusiasmada Dona Eunice. As casas foram escolhidas por alguns moradores, e ela ficou com o 1º andar, por causa da idade já avançada de sua mãe. “Nos entregaram a casa ‘no osso’. Fizemos todos os acabamentos, depois subimos os muros dos prédios. Não tinha escola, nem comércio, depois foi surgindo e, hoje, está tudo grande, como você pode ver. Hoje aqui é um mundo e eu faço parte dessa história”, diz Dona Eunice.  

Promessas

Em 2015, foi iniciada na comunidade a construção de uma ciclovia que teria 22 km de extensão e ligaria as 16 comunidades ao BRT e à Ilha do Fundão. Por falta de dinheiro, o projeto foi interrompido. Mesmo assim, pode-se dizer que foi a primeira ciclovia construída em uma favela. Atualmente, o Conjunto Pinheiro tem a promessa de abrigar o Parque Maré, um projeto da Prefeitura [nos moldes do Parque Madureira], que oferecerá parque infantil, lago artificial, teatro, quadras esportivas e quiosques. O projeto, no entanto, ainda não tem previsão de início. Enquanto isso, a opção dos moradores é aproveitar a Rua do Meio, onde funciona um polo gastronômico de trailers, construídos pelos próprios moradores.  

Você sabia?

*O Conjunto Pinheiro é a comunidade da Maré que permanece mais próxima ao projeto arquitetônico original, apesar da construção de garagens dentro do terreno.

*A ausência de comércio na comunidade possibilitou a criação de novos espaços e casas; alguns desses “puxadinhos” foram transformados em biroscas para qualquer tipo de comércio gerador de renda.

* Atualmente, são 1.342 domicílios, nos quais vivem 4.028 pessoas (Censo Maré 2013).

Uma Maré angolana

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Impossível falar da Vila do Pinheiro, sem ressaltar a contribuição, em todos os sentidos, do povo de Angola

Maré de Notícias #100

Jéssica Pires

As cores, o ritmo e o paladar são familiares. O lugar que abriga esses sentidos é fruto de um aterro da década de 1980. Uma década depois, esse povo que compartilha de costumes e da identificação com um lugar, com o povo da Maré, chegava pelos voos do Galeão. Uma “Maré angolana” existe e resiste na Vila do Pinheiro, uma das favelas da Maré que têm uma inspiradora característica: reunir múltiplas trajetórias.

Das mais de duas mil residências que existem nesse lugar, a Vila do Pinheiro, a segunda maior comunidade angolana do Brasil, ocupa e circula, sobretudo, uma esquina – a da Rua C11 com a B3. De todos os angolanos que residem no Brasil, 11,5% vivem no Rio de Janeiro, segundo perfil do Registro Nacional de Estrangeiros (RNE), de 2016. Ao circular pela Vila do Pinheiro e ouvir um sotaque diferente e delicioso, facilmente percebemos que muitos angolanos que escolheram o Rio de Janeiro como lugar para viver estão na Maré.

Chegando nessa esquina, vemos bares, padaria, comércio e movimentação – como é típico da Maré e de Angola. A diferença de outras esquinas da Maré é a grande concentração de belos e belas negras retintas, muitas vezes ouvindo kizomba ou kuduro ou se deliciando também com a culinária inesquecível da Lica. Faça uma visita em um sábado à Vila do Pinheiro e vá até o Bar da Lica, para comer um Mufete!

Traduzindo: kizomba e kuduro são ritmos muito comuns dessa nossa terra amiga, e que, eventualmente, são ouvidos por mais “mareenses” na Vila do Pinheiro, quando acontecem as festas e bailes dos angolanos, também naquela esquina. Mufete é um peixe assado preparado pela Lica, uma das primeiras angolanas a chegar na Maré.

Guilhermina Naval, de 46 anos, a Lica, é uma das muitas angolanas que vieram em busca de melhores condições de vida no Brasil, quando a Angola vivia o tenso e longo período de guerra civil. Ela veio com os filhos, reconstruiu sua história e construiu um dos pontos de encontro dessa “Maré angolana”. O Rio de Janeiro, “vendido” naquela época, era basicamente o romântico Leblon, de Manoel Carlos. Muitos angolanos vieram em busca desse Rio e chegaram à Maré por, aqui, já existir uma rede que os acolheria.

Mas ser migrante, preto, pobre e morador da Maré também não foi nada próximo dos roteiros das novelas. Dentro da própria Maré e da Vila do Pinheiro, os angolanos sofreram resistência e racismo. A necessidade criou uma comunidade ainda mais unida e com seus costumes – o que é percebido ao caminharmos pelas ruas da favela.

Ao final, o que se pode concluir é que a Vila do Pinheiro é resultado de uma mistura que lembra os pratos brasileiros e angolanos. O projeto inicial da Vila era acolher moradores das palafitas removidas da Baixa do Sapateiro e do Parque Maré. Hoje, são cerca de 16 mil moradores que continuam a tecer e produzir suas histórias.

Você sabia?

* A área genericamente conhecida como Pinheiro é parte de um aterro do Projeto Rio nos anos 1980. O aterro ligou a antiga Ilha do Pinheiro ao continente.

* Segundo o Censo Maré 2013, a Vila do Pinheiro possui 15.600 habitantes, distribuídos em 5.067 domicílios.

*A favela é a única do Rio de Janeiro a ter seu próprio Parque Ecológico.