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Um mosquito no meio do caminho

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Aedes aegypti amedronta e traz de novo o perigo da Chikungunya

Maré de Notícias #96 – janeiro de 2019

Por: Hélio Euclides

De um lado do ringue, um morador da Maré, com 1,70cm de altura, 65 quilos. Do outro, um mosquito chamado de Aedes aegypti, com média de 0,5 centímetro. Isso parece uma piada, mas o mosquito, algumas vezes, vence essa luta e derruba o oponente. A picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti infectada transmite as arboviroses, que são a Dengue, Zika, Chikungunya e a Febre Amarela. São condições favoráveis para a propagação dos arbovírus: elevadas temperaturas e índices de chuva, ou seja, o verão. Este ano, a doença que mais assusta é a Chikungunya.

Recentemente, o Maré de Notícias, na Edição 89, de junho de 2018, abordou o tema Chikungunya. Com o número elevado de casos, é importante tocar mais uma vez no assunto. Segundo a Fundação Oswaldo Cruz, o Estado do Rio de Janeiro já conta com 37 mil casos de Chikungunya registrados até outubro do ano passado – o que caracteriza uma epidemia. Na Maré, já foram registrados 163 casos. O pico ocorreu em abril, quando 49 pessoas tiveram a doença. O número ainda pode ser maior devido a pessoas que, erroneamente, não procuram as Unidades de Saúde.

Uma dessas pessoas que contraiu Chikungunya foi Luiza de Alcântara Barbosa, moradora da Nova Holanda. “Tive a doença em março junto com meu pai, que tem 61 anos. Aqui, na Maré, foi uma epidemia. Senti dores nas articulações, febre e manchas que coçavam muito. Depois vieram as dores nos pés, que não me deixavam ir ao banheiro sozinha. Até para chegar à Clínica da Família, íamos nos arrastando. Essa dor durou oito meses. Mas meu pai sente até hoje. Acredito que nos idosos a recuperação é mais lenta”, avalia. Para ela, a população precisa acabar com água parada e trabalhar a prevenção. “Além disso, o repelente não pode ser esquecido, com destaque para crianças e grávidas. Também acho que falta informação até para profissionais de saúde”, acrescenta.

A palavra-chave é ‘prevenção’. “Evitar água parada. Um simples vaso sanitário descoberto, não usado por um período, pode ser local de foco. Outros principais pontos são lixo, ralo do banheiro, pneus, garrafas e caixas d´água”, indica Álvaro dos Santos Silva, enfermeiro da Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva, na Nova Holanda. “A população deve fazer o dever de casa, que é eliminar os criadouros do mosquito”. A sua colega Norma Rezende, enfermeira da Clínica da Família Adib Jatene, na Vila do Pinheiro, recomenda observar o paciente. “Os sintomas são febre, cefaleia (dor de cabeça), dor no corpo, em especial nas articulações e podem ter pintinhas pela pele. O ideal é o doente beber bastante líquido”, destaca. Ela lembra que, ao aparecer os sintomas, a pessoa deve procurar uma Unidade de Saúde mais próxima de casa, para exame e tratamento.

Saiba mais sobre a Chikungunya

A doença é uma arbovirose causada pelo vírus Chikungunya. O período de incubação é, em média, de 3 a 7 dias e a presença do vírus no sangue persiste por até 10 dias, após o surgimento das manifestações clínicas. A fase inicial da doença é caracterizada, principalmente, por febre de início súbito e surgimento de intensa dor articular. Os sintomas costumam persistir por 7 a 10 dias, porém a dor nas articulações pode durar meses ou anos e, em certos casos, transformar-se em uma dor crônica incapacitante para algumas pessoas.

“É doloroso, tinha noite em que eu achava que eu não iria amanhecer. Na época, fiquei com imunidade baixa e fraca. Para ir ao médico, só de carro. E não conseguia sair sozinha, não tinha forças. Dois anos depois, ainda sinto dor no tornozelo. Conheço gente que ficou com sequela nas mãos”, enfatiza Maria Avelina da Cruz, de 82 anos, moradora da Baixa do Sapateiro.

A Secretaria Municipal de Saúde informou que vem intensificando o combate ao Aedes aegypti e que a população pode denunciar possíveis focos por meio da Central de Atendimento da Prefeitura do Rio, no número 1746. Na Maré, os agentes comunitários de saúde auxiliam na orientação dos moradores sobre como evitar o surgimento de focos do vetor.

Dona Maria Avelina: dores persistem mesmo após dois anos de ter tido a doença | Foto: Douglas Lopes

Uma estação que é sinônimo de calor

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Verão traz alegria e preocupação com temperaturas elevadas

Maré de Notícias #96 – janeiro de 2019

Por: Hélio Euclides

“Vem chegando o verão, o calor no coração, essa magia colorida, são coisas da vida…”, a música Uma Noite e Meia, composta por Renato Rocketh e gravada em 1987 por Marina Lima, empolga a estação há 31 anos. Mas para continuar empolgado no verão é preciso seguir alguns cuidados, para que a estação não vire um pesadelo. Beber bastante água, ingerir comidas leves de 4 em 4 horas, usar protetor solar e cuidar para que crianças e idosos evitem ficar expostos ao sol em horário inadequado são algumas dicas que devem ser seguidas.

Paulo Cesar, conhecido com PC do Piscinão, lembra bem do susto que levou na estação do sol. “Em 2007, tive lúpus, que piorou com a exposição ao sol. Agora uso protetor solar, camisa e óculos, pois o sol está forte”, recomenda. Frequentadora do Piscinão há anos, Cintia Santos, moradora de Vicente de Carvalho, acredita que com crianças todo cuidado é pouco. “Tenho dois filhos de 7 e 10 anos. Passo protetor e dou bastante água, suco e frutas. Gosto dessa área de lazer de segunda a sexta, pois no final de semana é muito cheio e já vi muitas crianças perdidas”, enfatiza.

Rafael Valdomiro é morador da Baixa do Sapateiro, instrutor de primeiros socorros, técnico de segurança do trabalho e bombeiro civil, ele recomenda a prevenção como o melhor remédio. “Nessa estação, um bom amigo é o protetor solar, pois o sol pode causar queimaduras de 1º, 2º e 3º graus, com danos, como bolhas avermelhadas. A exposição excessiva aos raios ultravioletas pode trazer febre, tonteira e princípio de desmaio. Se ocorrer algum desses casos, a pessoa deve ser amparada e encaminhada para pessoas preparadas, como numa emergência”, aconselha.

Para ele, o verão não traz só riscos na praia. “Nesse período, ocorre muitos incêndios. Alguns por excesso de horas de ar condicionado e ventilador ligados. Ao viajar, deve-se desligar todos os equipamentos, tirando-os da tomada. Outro cuidado e evitar benjamins, gambiarras e velas. Ao sair de casa, fechar o botijão e sempre verificar a validade da mangueira e se há vazamentos. Qualquer emergência desse tipo, deve-se ligar para 192 ou 193, dando informações corretas da localização e evitar trotes”, indica.

Um verão de alegria

O médico Dagoberto Valente de Miranda Chaves, da Clínica da Família Augusto Boal, no Morro do Timbau, lembra que, durante o verão, aumentam as atividades ao ar livre, como ir à praia ou tomar banho de piscina. Segundo o médico, nessa época do ano, a radiação solar incide com mais intensidade sobre a Terra, aumentando o risco de queimaduras, câncer de pele e outros problemas. No entanto, é possível aproveitar a estação mais quente do ano sem colocar a saúde em risco.

“Além do filtro solar, no verão é importante usar chapéu e roupas de algodão, pois bloqueiam a maior parte da radiação. Outro acessório que tem extrema importância são os óculos de sol, que previnem catarata e outras doenças. A dica é evitar a exposição solar entre 10 e 16 horas”, recomenda. Ele destaca que o momento é de intensificar o uso de filtro solar, que deve ser utilizado diariamente. “Em crianças, inicia-se o uso de filtro solar a partir dos seis meses de idade, utilizando um protetor adequado para a pele que é mais sensível. Recomenda-se buscar orientação com pediatra ou dermatologista sobre qual o melhor produto para cada caso”.

O médico recomenda ainda o aumento da ingestão de líquidos e abusar da água, do suco de frutas e da água de coco. Mas alerta que a combinação sol, areia, praia, piscina e excesso de suor elevam o risco de algumas doenças da pele. “A micose é uma infecção causada por fungos, que pode ocorrer na pele, unhas e cabelos. A melhor forma de evitá-la é manter hábitos de higiene, como secar-se bem após o banho. Deve-se também evitar andar descalço em lava-pés, vestiários e saunas. Outra doença comum é a brotoeja, que são pequenas erupções que surgem, especialmente em bebês. A recomendação é usar roupas leves e soltas e evitar locais muito abafados”, conclui o médico.

PC do Piscinão: após susto, ele usa protetor solar, camisa e óculos para se proteger | Foto: Douglas Lopes

A saúde pública doente

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Com redução de gastos, município corta verba de prevenção a doenças

Maré de Notícias #96 – janeiro de 2019

Por: Hélio Euclides

Em 2018, a Saúde municipal recebeu um baque com a decisão de demitir profissionais das Clínicas da Família. Essa notícia tirou o sono de inúmeras pessoas. Não é para menos. Serão extintas 184 equipes e demitidos 1.400 profissionais. Para cada equipe retirada, a Prefeitura economizará 1 milhão de reais. Na Maré, a Clínica da Família Doutor Abib Jatene e o Centro Municipal de Saúde Vila do João devem perder uma equipe, cada um. Segundo o Secretário da Casa Civil, Paulo Messina, os gastos da Saúde estão muito elevados e precisam de cortes para caber no orçamento. No meio do impasse, a população sofre com greves e paralisações por falta de salário e de material de trabalho.

Rosemi Nunes é paciente da equipe Praça do Salsa, da Clínica da Família Doutor Abib Jatene, na Vila do Pinheiro. Para ela, a Saúde municipal está em crise há muito tempo. “Tenho dúvida se a Saúde pública está agonizante ou já morreu. Sou da opinião de que é necessário acabar com as OSs (Organizações Sociais), pois é muito dinheiro pago e nada de atendimento. Tem de colocar todos na folha de pagamento, por meio de concurso público, isso vai diminuir os gastos. O projeto das Clinicas da Família no papel é bonito, mas faltam especialidades. Outro problema é que a equipe que atende a minha região não tem médico todo dia. O meu medo é passar mal no dia errado”, declara.

Ela já fez reclamação na Ouvidoria da Prefeitura, pelo telefone 1476. “É caótica a situação. Meu pai ficou 39 dias esperando a liberação de um exame de urina. O que não concordo é xingar médico, gritar e ofender o profissional de Saúde, essa não é a solução do problema. No grito, não se resolve. Quem se sentir lesado dos direitos deve procurar a Ouvidoria, correr atrás por meios legais. Pagamos impostos, e devemos cobrar do Prefeito, que não é patrão e, sim, gestor, pois administra o dinheiro público”, explica.

Para Luciana Barbosa, a Saúde pública está um caos. “O pior é que dependemos dela. Busco um atestado para minha filha ingressar na creche, só que falta médico que atenda à área do Salsa e Merengue. Temos de torcer para não cair numa UPA, na qual falta dipirona e gaze. Na Clínica da Família não tem pomada, xarope e dipirona”, revela. Para especialistas, a situação deve piorar. O orçamento proposto para a Saúde caiu 12%, de 6,01 bilhões para R$ 5, 28 bilhões, em 2019.

Durante a apuração, um paciente, que preferiu não se identificar, procurou a equipe de reportagem para fazer um desabafo. “Desde abril para remarcar uma consulta. Assim, minha pressão fica cada vez mais alta. Dessa forma, só Deus”, reclama. Selma Silveira, moradora do Salsa e Merengue também fala da situação precária no atendimento. “O ideal era a reformulação de tudo, com contratação de pessoas capacitadas. Não entendo o ‘Outubro Rosa’ [campanha de prevenção do câncer de mama] e o Sisreg (Sistema de Regulação), estou na fila de um exame de mamografia que nunca consigo fazer”, conta.

Profissionais também reclamam da situação

Uma agente de saúde, que preferiu não falar o nome, confirmou a falta de remédios e insumos nas clínicas. Disse, ainda, que tem equipes sem médicos. “Estamos há quase dois meses sem pagamento e não há previsão do 13º salário. Os cartões Riocard já não são carregados, dessa forma a passagem está sendo paga com dinheiro do bolso. Tem sala com ar-condicionado quebrado e, assim, trabalhamos de portas e janelas abertas. O atendimento primário está difícil com essa nova gestão”, declara.

A agente explicou algumas ações que podem servir para justificar a extinção das equipes. “O cartão do SUS e a internet foram retirados do ar por 15 dias. É complicado trabalhar sem essas ferramentas. Acredito que essa é uma forma de diminuir o número de atendimento e, assim, a Prefeitura ter motivos de extinguir as equipes”, revela. Uma outra agente disse que sucatear a Saúde é estratégico. “Uma justificativa é que o público não funciona, então tem de acabar. O povo tem o direito de cobrar ao gerente ou na Ouvidoria“, esclarece.

Um outro profissional disse que falta apoio da população, mas que isso ocorre por falta de entendimento sobre a Saúde. “Falta esclarecimento, o que é um fator preocupante. A mercadoria que vem não é suficiente para a grande população atendida, mas não é culpa dos profissionais. Assim, a falta de recursos gera insatisfação do povo. Tem gente que transforma a Clínica da Família em Unidade de Pronto-Atendimento. Só que, aqui, não temos condição nem de fazer sutura. É necessário ensinar na escola o que significa cada Unidade de Saúde”, diz. Para ele, esse é o motivo de a população não apoiar o movimento de greve.

Médico é minha vocação

O médico Carlos Vasconcelos atua há quatro na Maré. Ele fica triste com a falta de recursos. “A população está mais empobrecida e a Saúde deveria ir na contramão. Acredito que os problemas na atenção primária atingem tanto o público, como o particular. O cidadão, hoje, não tem o respeito a seus direitos à Saúde, e acha normal, se conforma com a realidade. É preciso uma maior participação das pessoas nos processos. Se culpa o governo e as instituições, mas o problema é de todos nós. Se fala em crise, mas não se planejam melhorias”, revela.

Ele detalha que as equipes não cobrem toda a população, e não entende como, mesmo assim, vai ter diminuição de pessoal. “Nós tínhamos uma médica cubana, que não foi substituída, pois não apareceu ninguém para a vaga. A Maré sofre com saneamento, violência e saúde, não há investimento. Os conflitos armados causam problemas de saúde, como dependência de remédios de uso contínuo. Outro problema são as drogas não serem reconhecidas como um problema de saúde, e aqui não há uma estrutura para o tratamento do dependente químico”, confessa. Ele acredita que são necessárias políticas públicas.

Prefeitura se defende das críticas

A Superintendência de Atenção Primária esclarece que a reestruturação da atenção primária, que inclui o redimensionamento de equipes, está mantida e sendo feita de acordo com os trâmites legais. Segundo a Superintendência, a reestruturação vai possibilitar a melhor distribuição do orçamento, garantindo a realização de exames, compra de medicamentos, pagamento de pessoal dentro do prazo, ao longo de todo o ano. Esclareceu ainda que o acesso à atenção básica e ao serviço de saúde mental está garantido à população. Para substituição dos médicos cubanos, a Secretaria declarou que o processo de apresentação do Projeto Mais Médicos, do Ministério da Saúde, está em andamento.

O povo fala

“Preciso de um encaminhamento para um ortopedista, mas antes é necessário passar por um clínico, só que falta médico. Sofro com dor no joelho e só indicam compressa de gelo. A Saúde pública está horrível, agora em greve. O atendimento é ruim, precisa ter conhecimento de alguém para ser atendido. Isso não é só nas Clínicas das Famílias, o Hospital Municipal Evandro Freire se encontra da mesma forma”. [Maria da Luz Ribeiro, moradora da Vila do Pinheiro].

“Falta médico, isso é um caos. Se eu fosse prefeita, melhoria o salário dos médicos, pagaria em dia todos profissionais, daria atenção à população e à Saúde pública. Temos de cobrar, não se pode deixar para lá. Não se pode aceitar falta de pagamento, está tudo errado”. [Benedita Maria, moradora da Vila do Pinheiro].

“Está terrível, não temos médicos. Ele vem atuar na Maré, mas fica pouco tempo. O médico vem de longe para atuar aqui, temos amor ao profissional, e entendemos que é difícil trabalhar sem pagamento. A falta de dinheiro já atinge a farmácia, com ausência de dipirona. A Saúde está doente, com o risco iminente de demissões”. [Enir Santos, moradora da área no entorno do Parque Ecológico].

Surfando em outras Marés

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Do surfe de TV ao posto de professor. Conheça a história da “cria” da Vila do João, Matheus Ribeiro da Cruz

Maré de Notícias #96 – janeiro de 2019

Por: Maria Morganti


                O professor da escola de surfe “Team Bispo”, Matheus Ribeiro da Cruz, de 20 anos, saiu da segunda maré do dia, quando, na manhã de uma terça-feira de quase verão, finalizou sua primeira aula. Mais cedo, havia deixado outra Maré, essa com M maiúsculo. Naquele dia, como de costume, Matheus acordou às 4h30 da manhã, tomou banho, escovou os dentes e engoliu uma vitamina de frutas para, às 5h, já estar na rua e, de bermuda e mochila, caminhar da Rua Principal, na Vila do Pinheiro, onde mora, até o ponto de ônibus, na Avenida Brasil e, de lá, seguir para o Arpoador, em Ipanema, onde ensina e pratica surfe.

Da água do mar, Matheus sai com um sorriso solar. Sua jornada de trabalho está apenas começando: normalmente, ele costuma atender 12 alunos por dia. “Cria” da Vila João e, ao mesmo tempo, das bandas de Ramos e Bonsucesso, Matheus é o primeiro da família e do ciclo social a praticar o esporte. “Eu comecei a surfar há dois anos. Eu assistia a alguns campeonatos na TV e quando tinha

[algum]

aqui por perto eu também ia ver. Mas quando tinha pesquisado umas escolinhas, ‘tava’ meio caro pra mim. A maioria nos bairros da Barra, Recreio, o que dificultava ainda mais”.
                A relação do surfe com o Matheus era considerada inviável por ele. Isso até uma certa segunda-feira do mês de agosto de 2016. “As férias foram em agosto por causa das Olimpíadas, então vim para curtir uma praia normal, com os amigos. Aí vi a escolinha lá e pedi informação. Até aí, a mesma coisa. O moleque que trabalhava lá disse que era R$ 100 a aula avulsa e o pacote com cinco, R$ 400. Mas falou pra eu tentar falar com o professor. Quando o professor saiu da água, eu falei com ele, que me perguntou onde eu morava”.

Na época, Matheus morava com a mãe biológica, falecida no ano passado, na área limítrofe entre Ramos e Olaria. O professor, Marcelo Bispo, dono da escolinha, disse que faria o valor das aulas pela metade do preço para Matheus, que conseguiu pagar com a “mesadinha” que ganhava da mãe. Apesar de a distância entre Matheus e o surfe ter encurtado, nessa época, o jovem ainda era só mais um aluno. Mas seu talento, sua força de vontade e seu senso de gratidão fizeram essa condição logo mudar. “Teve um tempo que o moleque que trabalhava com o professor saiu e ele estava guardando as pranchas e equipamentos sozinho. Aí, como eu recebia essa ajuda, eu ajudava ele a levar algumas coisas no final da aula. Um dia ele me perguntou se teria como eu chegar cedo pra trabalhar com ele, fazendo o serviço de levar as pranchas no início e recolhendo no final das aulas. Foi aí que eu aprendi um pouco mais do surfe e, em 2018, comecei a dar aula”.

De acordo com Matheus, antes de trabalhar com surfe, seu primeiro emprego, não tinha ideia do que gostaria de fazer profissionalmente. Hoje, planeja ingressar na Faculdade de Educação Física. “Dar aula é 50% do aluno e 50% do professor. Eu fico muito feliz quando vejo que consigo dar os meus 50% e o aluno também. Uma vez, vi o desenvolvimento de uma aluna e tive essa sensação. Eu quero continuar dando aulas de surfe”.

No entanto, Matheus confirma o estereótipo de que o esporte seja “coisa de rico”. “Uma roupa desta (aponta para a que está vestindo) custa R$ 1500. É muito caro. É muito difícil encontrar por aqui, na praia, surfando, gente da favela, do subúrbio, da Baixada Fluminense. Além de ser longe, os equipamentos são muito caros”.

Mas dificuldade é combustível para Matheus, que fala com brilho no olhar – e com o sorriso, sempre com o sorriso – que tem o sonho de mudar essa realidade. “O que eu tenho vontade de fazer mais pra frente, no dia em que eu ver que eu sou um professor, que já tiver a minha escolinha, é um projeto para a galera que tem menos acesso, como eu. Para ajudar a eles, como eu fui ajudado. Para mostrar pra eles que é possível, mesmo sendo difícil. Um projeto que tenha aula de graça, um ônibus, uma coisa que vá buscar essa galera que mora até mais longe, na Baixada Fluminense, para aumentar esse ciclo de pessoas que vêm da favela, que vêm de longe, que pegam ônibus. Eu quero quebrar esse paradigma para ter outros meninos como eu”, diz. Se depender da garra do jovem, esse sonho, sem dúvidas, será realizado. Afinal, a praia, o mar e o surfe são nossos também!

O que esperar da educação em 2019

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Sugestões e mudanças que influenciam a vida dos estudantes

Projeto Nenhum a Menos: complementação pedagógica e reinserção escolar para crianças das favelas da Maré | Foto: Douglas Lopes

Maré de Notícias #96 – janeiro de 2019

Por: Hélio Euclides e Eliane Salles

A Educação do Brasil sofreu um susto: quando ainda era candidato, o presidente Jair Bolsonaro afirmou, em entrevistas, ser a favor de permitir a modalidade de ensino a distância, inclusive no Ensino Fundamental, que vai do 1º ao 9º ano, com estudantes de 6 a 14 anos. Para ele, apenas provas e aulas práticas têm de ser presenciais. O argumento seria para diminuir o custo e evitar a doutrinação ideológica. A proposta não fez parte do seu programa de governo.

Professores discordam dessa proposta, por acreditarem que a escola não é só um local de trabalhar os conteúdos, aprender e fazer provas. Para a categoria, a escola é também um lugar de se relacionar, de aprender a viver em sociedade, que o ensino presencial envolve elementos relacionados à troca de experiências e à convivência social. “Essa ideia do ensino a distância não vai funcionar. Como o aluno vai estudar em casa? Nem quem faz faculdade a distância sabe administrar o tempo. E quem não tem com quem deixar as crianças? E as notas? Como saber se a criança fez a prova sozinha ou não? Estão querendo colocar, mas não vão conseguir no Ensino Fundamental”, comenta Raquel Mattos de Souza, professora do Espaço de Educação Infantil Armando de Salles Oliveira, na Praia de Ramos. Raquel é professora há 19 anos.

Erika Fernandes, professora do Centro de Estudos de Jovens e Adultos (CEJA-Maré), acredita que o mestre precisa estar dentro da sala de aula com o aluno. “Na minha perspectiva, a figura do professor é fundamental, necessária e imprescindível”, afirma. Jaqueline Luzia, professora de educação da UERJ vai além: “já existe o ensino a distância, mas não pode ser uma obrigação e, sim, uma opção. A reforma do Ensino Médio abriu a brecha para o ensino on-line. A proposta é ampliar no Ensino Médio para 40% e no de Jovens e Adultos para 60% – o que é um problema. O resultado será o fechamento de escolas e a demissão de professores. Aqui, na cidade do Rio de Janeiro, a Secretaria de Educação há um tempo fala sobre isso. Não é nada oficial e não tem documento sobre isso. É uma especulação que torcemos para que não vá adiante”, afirma.

Para Guilherme de Macedo Moreira, professor de Sociologia na Escola Estadual Tim Lopes, no Alemão, e no Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (CAIC) Theophilo de Souza Pinto, na Nova Brasília, essa proposta já é aplicada em alguns países. “Aqui, essa ideia vai aumentar o nível do analfabetismo e de pobreza. Esse conceito é para enxugar gastos, e ainda corta as duas refeições a que a criança tem direito. Como ficam os pais que não puderem acompanhar a trajetória da criança? Além do risco de crianças ficaram mais tempo na rua. Isso não é projeto de governo e, sim, de um grande aglomerado de empresas brasileiras e estrangeiras. Essa proposta segue a cartilha do Banco Mundial. Como falava Darci Ribeiro: a crise na educação é um projeto”, argumenta.

Até o fechamento desta Edição, a informação obtida na Secretaria Municipal de Educação é que estavam procedendo à organização do encerramento do ano letivo de 2018 e das novas inscrições, e que só se pronunciaria sobre 2019 no início do ano.

Um Ensino Médio em pauta

O Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou, em dezembro, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o Ensino Médio. O documento aprovado prevê que apenas Português e Matemática tenham carga horária obrigatória em todos os três anos do Ensino Médio. As demais áreas de conhecimento poderão ser distribuídas ao longo destes três anos. A previsão é que as mudanças estejam em vigor no início do ano letivo de 2020. A reforma estabeleceu um currículo com base em cinco itinerários formativos: Linguagens e suas tecnologias; Matemática e suas tecnologias; Ciências da Natureza e suas tecnologias; Ciências Humanas e Sociais aplicadas; Formação técnica e profissional.

“Essa reforma do Ensino Médio é muito ruim, pois dá peso apenas para as disciplinas de Português e Matemática. Só que no Enem outras matérias são exigidas – o que elimina o aluno do ensino público da prova”, reclama Jaqueline.

Guilherme concorda com sua colega de profissão. “A reforma do Ensino Médio é algo que começou a ser planejada em 2013, com o propósito de diminuir as disciplinas, incluindo Sociologia e Filosofia. É um projeto de classe, atrelado a grandes empresários. Categoricamente é uma mentira e ilusão dizer que os alunos vão escolher”, lamenta.

Para o professor, essa reforma foi a perda de uma batalha. “Nos últimos anos, vimos os estudantes e professores lutarem, mas, com as mudanças, vem a fragmentação, acaba com a resistência. A reforma abre brechas para o notório saber, ou seja, a contratação de pessoas sem formação em Educação. Isso é a precarização da escola e do professor. Pela lei, o ensino a distância pode chegar no diurno a 20% e no noturno 30%. Um dos problemas é acessar a internet, algo que não é fácil. E quem depende da escola para a alimentação?”, questiona.

Ele acredita que a “Escola sem Partido” vai ao encontro da reforma. “O professor se torna um reprodutor do currículo, se torna neutro. Mas sabemos que não existe neutralidade. É uma forma de calar e tirar a autonomia, a crítica, o questionamento e a criatividade. Se torna uma escola que reproduz os valores dominantes, e o resultado é o aumento da desigualdade. O estudante e o professor são amordaçados, e a escola fica fragmentada e sem vínculo. São dois elementos: centralizar e controlar a educação, deixando a autonomia de lado. A Base Nacional Curricular ignora a diversidade. Precisamos construir a resistência para a revogação imediata dessa reforma criminosa”, conclui.

A luta pelo Ensino Médio na Maré

Até 2017, a Maré tinha apenas três Unidades que ofereciam o Ensino Médio. Em 2018, a Maré conquistou uma Unidade com Ensino Médio diurno de tempo integral. O Colégio Estadual João Borges de Moraes funciona com três turmas de 1º ano do Ensino Médio. Para uma avaliação, balanço e planejamento para 2019, foi realizada, em dezembro, uma reunião com o Secretário Estadual de Educação, Wagner Victer, e o Subsecretário de Gestão de Ensino, Paulo Fortunato de Abreu. Os diretores da Redes da Maré, Andréia Martins e Edson Diniz, e o diretor do Colégio Estadual João Borges de Moraes, Marcelo Belfort, também estavam presentes.

A conclusão foi de que, apesar das dificuldades enfrentadas, houve avanço no sentido de consolidar o Colégio João Borges como referência de Educação Integral na Maré. Ainda durante a reunião, foi entregue ao Secretário Victer um relatório com as necessidades do Colégio, condições necessárias para que o número de turmas em 2019 seja ampliado. Questões como a melhoria no abastecimento de água, convocação de novos profissionais, mobiliário para novas salas de aula e a liberação de recursos adicionais para a escola foram assumidos pelo Secretário de Educação como compromissos no sentido de garantir uma educação de qualidade para os jovens moradores da Maré.

Em 2018, 90 alunos cursaram o 1º ano do Ensino Médio. Em 2019, o colégio também terá turmas para o 2º ano. “O Colégio Estadual João Borges talvez seja o maior case de sucesso de construção, de solução com a comunidade. Não tenho nenhuma dúvida de que a nova gestão vai continuar esse trabalho, pois quando é construído com muita vontade, com muitas mãos, é difícil alguém derrubar”, afirma o Secretário.

Atenção: a direção do Colégio João Borges ressalta que ainda há vagas na escola.

Fique de olho nas datas abaixo:

  • Confirmação da reserva de vagas para o Ensino Fundamental e Ensino Médio: 03/01/2019 a 08/01/2019.
  • Pré-matrícula (2ª fase- Internet – www.matriculafacil.rj.gov.br), para os alunos não alocados, os que não confirmaram matrícula e os novos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio (sendo 15 e 16/01/2019 exclusivos para alunos não alocados na 1ª fase):       15/01/2019 a 18/01/2019.
  • Confirmação da 2ª fase da matrícula nas escolas para os alunos do Ensino Fundamental e Ensino Médio: 23/01/2019 a 25/01/2019.
  • Solicitação de matrícula nova e transferências com as vagas remanescentes da matrícula informatizada devem ser feitas no site www.matriculafacil.rj.gov.br para candidatos que não participaram da 1ª e 2ª fase da matrícula (lista de espera): a partir de 30/01/2019.

Periferia tech

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Tecnologia e inovação social são criadas nas favelas

Conheça moradores e iniciativas das periferias que estão capacitando jovens para atuar no complexo e elitista mundo tecnológico

Maré de Notícias #96 – janeiro de 2019

Realidade virtual, robôs inteligentes e jogos em outra dimensão: escassez estimula criatividade de jovens das periferias | Foto: Gato Mídia

Por: Maria Morganti

À primeira vista, parece coisa de filme futurista: realidade virtual, robôs inteligentes e jogos em outra dimensão. Só que essa já é a realidade de um mercado de trabalho que, até 2020, vai ser um dos mais valorizados no Brasil. Segundo dados da consultoria PWC, só o segmento de games deverá crescer 13,4% até 2020, alavancando o mercado de trabalho nessa área. Estima-se que a participação brasileira no mercado mundial de games tenha sido de 2% em 2011 – o que representa uma receita de R$ 2 bilhões. Jovens moradores de favela, como Thamyra Thâmara, do Complexo do Alemão, estão ligados nesse “papo de futuro” (ou de presente) desde antes de 2014, quando criou, o que define como uma “escola”, que forma, em média, 100 alunos por ano em áreas como tecnologia e inovação, o GatoMÍDIA.

“O Mercado para tecnologia está crescendo muito. Até 2020, o trabalho que mais vai ganhar dinheiro, que mais vai estar sendo buscado no mercado, é o designer de game, porque a realidade virtual está crescendo muito e ela está sendo muito usada em game, na chamada ‘gameficação’. Então, quem aprender a programar game, que é a nova linguagem, o novo inglês, ou fazer designer de game, vai estar com muitas oportunidades no futuro. Por isso, a gente tem investido tanto em trazer formação em tecnologia”, afirma a coordenadora de metodologias do GatoMÍDIA.

A favela em 360o

                Até o fim de 2018, o ?GatoMÍDIA, local de aprendizado em mídia e tecnologia para jovens negros e moradores de espaços populares, ofereceu cursos e oficinas no Complexo do Alemão, como a “Residência Favelada 2.0”, com formação em mídia e tecnologia para mulheres, a “Residência Wagikisa” (nome inspirado em um povo angolano que significa ‘corpo forte’), que tinha como foco o aprendizado em programação, buscando utilizar tecnologias para mulheres, negros, LGBTs e periféricos, além do laboratório afrofuturista, com foco em produção 360o, realizado em outubro do ano passado, no qual os participantes receberam mentoria em estética e narrativa afrofuturista, afrocentricidade, processos criativos, produção 360o, pós-produção 360o, tecnologias imersivas e realidade virtual, com foco em jornalismo.

                George Ferreira dos Santos, 26 anos, “cria” da Vila Vintém, favela da Zona Oeste do Rio, foi um dos participantes dessa Oficina que, pra ele, foi “uma experiência incrível”.  “Estar junto de pessoas que vivem a mesma realidade que eu, pretos vindos de várias favelas, tendo acesso a uma nova tecnologia, conhecimento e podendo produzir novas narrativas foi emocionante. Tivemos três momentos diferentes: o primeiro foi uma introdução ao conceito de afrofuturismo, o que levou a diversos debates e troca de experiências entre os participantes, que nos deixou muito conectados uns aos outros. O segundo foi como trabalhar a criatividade em ambiente de escassez, o que nos estimulou ainda mais a trabalhar a criatividade para produzir, usando papelão e fios como ferramentas para fazer óculos de realidade virtual, por exemplo. E o terceiro foi a tecnologia 360o e realidade virtual. Tivemos uma aula que passou desde o atual momento ao que é esperado para o futuro próximo com essa tecnologia, sobre equipamentos, como utilizar e a pós-produção. Depois nos dividimos em grupos para poder produzir um material para concluir o laboratório. O resultado foram três vídeos incríveis em 360o, produzidos por nós, mostrando nossas narrativas”.

Tecnologia preta

O jovem conta que a Oficina “agregou muito positivamente”, por estar em ambiente de total afeto e, principalmente, pelo lado profissional. “Profissionalmente, abriu uma janela gigantesca de possibilidades. Poder ter acesso a uma tecnologia que ainda não se popularizou no Brasil e estar aprendendo e produzindo é importantíssimo, pois é um mercado que está se abrindo e se expandindo cada vez mais e que ainda não tem tantos profissionais na área. Então, trazer isso pra favela foi uma sacada fantástica das meninas do GatoMÍDIA. Eu só tenho a agradecer a Thamyra, Morena e Nicole por essa oportunidade”, relata George, se referindo à equipe que realizou o programa.

                Publicitário e produtor de audiovisual, George conta que, após o laboratório, começou a trabalhar seu próprio canal de vídeos e fotos em 360°. “Comecei com o Instagram (@nugrau360) e agora uma página no Facebook (NuGrau 360°), onde já venho exibindo um pouco do conteúdo que estou produzindo. Já estou trabalhando para lançar o canal no YouTube, onde não só vou expor esses materiais como vou lançar outros conteúdos falando dessa tecnologia, de afrofuturismo, com tutoriais, etc. Minha ideia é produzir o máximo de conteúdo possível até o começo do ano que vem para ter um portfólio e aí conseguir equipamentos para oferecer um serviço de produção audiovisual em 360° para eventos, festas, etc. E meus projetos pessoais com algumas parcerias que já estou alinhavando”, conta o jovem.

Gambiarra é tecnologia

          Um dos diferenciais do GatoMÍDIA em relação a outros cursos de produção em 360° é o estímulo ao uso da criatividade. As ferramentas são criadas a partir de gambiarras, com óculos virtuais feitos com material reciclável como papelão, CDs e fios velhos. Thamyra explica que essa forma de se reinventar é uma característica das favelas há anos. “Tecnologia é quando você tem uma ferramenta para resolver um problema e tem capacidade de ser replicável. Na entrada da Grota (no Complexo do Alemão), a gente já vê aquela estátua daquele senhor que colocou água na casa de muita gente quando não tinha. Ele fez a encanação. Esse fazer da favela em meio à ausência do Estado ou à presença seletiva do Estado, em meio à escassez, é potência, isso é inovação. São esses os fazeres populares. Então, essas tecnologias sociais de colocar água na casa dos outros, de colocar luz, de colocar internet, tudo isso é tecnologia, mas é sempre visto de forma pejorativa quando vem da favela, como o jeitinho brasileiro, ou ‘ah, isso aí é uma gambiarra’, no sentido pejorativo, e não como alguma coisa de inovação, sendo que é uma inovação. Porque vem de um problema social. Toda vez que você resolve um problema social e você tem um impacto social sobre aquilo, isso é inovação”.

PretaLab

Assim como o GatoMÍDIA, iniciativas como a PretaLab, projeto criado em março de 2018, trabalham para ampliar o espaço e a representatividade de mulheres negras e indígenas na ciência e tecnologia. Atualmente, esse mercado é predominantemente, masculino, branco e não periférico. Para se ter uma ideia sobre a necessidade e pertinência de incluir mais mulheres negras na inovação e na tecnologia, uma pesquisa da Accenture Stategy, empresa especializada em empregos, estima que a economia global digital representava 22,5% da economia mundial em 2015, o que significa um montante de US$ 19,5 trilhões. A previsão é de que esse percentual cresça para 25% até 2020, com um movimento de US$ 24,6 trilhões. A pesquisa pode ser conferida no site www.pretalab.com. O estudo aponta ainda que, nos Estados Unidos, apenas 2% da força de trabalho em todo universo da ciência e engenharia sejam de mulheres negras. No Brasil, esse dado sequer existe. “As tecnologias estão carregadas com as visões políticas, econômicas e culturais de quem as cria – e esse poder, hoje, está centrado nas mãos de homens, brancos, heterossexuais, classe média/ricos. Isso já potencializa uma grande desigualdade, em um mundo cada vez mais digital”, explica Silvana Bahia, diretora de projetos do Olabi e coordenadora do PretaLab.

Silvana, que é jornalista e mestre em cultura, explica que o PretaLab é uma “causa”, que oferece oficinas voltadas para tecnologia, divulgadas pelas redes sociais do Olabi, como o “Minas de Dados”, direcionado para o trabalho em cima de dados produzidos por qualquer usuário da internet. A própria jornalista relembra que tinha interesse em aprender a programar, mas achava que nunca ia conseguir fazer isso na vida. Até que teve oportunidade de fazer um curso e viu que “era difícil, mas não impossível”. E então, o episódio ficou marcado como “um estalo”. Hoje, Silvana acredita que, no futuro, vão ter mais mulheres pretas e indígenas trabalhando na área da tecnologia. “Tem muita menina preta de favela que está se interessando. Uma puxa a outra”.

Se interessou? Então, fique ligado para saber das oportunidades de capacitação nos mercados de tecnologia e inovação:

PretaLab

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GatoMÍDIA

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