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Da Maré para Paraty

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Maré de Notícias #92 – 03/09/2018

Escritor lança primeiro livro e participa do mais renomado evento literário do País

Hélio Euclides

Matheus de Araújo, de 20 anos, além de ser estudante de letras da UFRJ, é escritor e poeta. Morador do Rubens Vaz, ele sempre faz questão de dizer que, desde que nasceu, mora na mesma “bat-rua e no mesmo bat-lugar”. Ele lançou o livro “Maré Cheia”, em fevereiro e, em julho, foi convidado para participar da 16ª Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP).

Ele conta que o gosto pela escrita veio na juventude. “Na minha adolescência não gostava nem um pouco de ler. A matéria de que eu mais gostava era Geografia e, no Ensino Médio, a área profissionalizante que escolhi foi mecânica”, relembra. Segundo Matheus, o distanciamento da leitura se deve ao fato de, na adolescência, só conhecer a Literatura Clássica. “Era algo complexo, que não me instigava. Acredito que os professores devem frequentar saraus, para que tenham uma reformulação curricular. Isso aproximaria o aluno da poesia e da leitura”, acredita.

A mudança na sua vida veio quando escrevia para uma menina de quem gostava, no início do Ensino Médio. Era um jovem fechado, mas que, no papel, se soltava e conseguia expor seus sentimentos. Sem saber, já dava os primeiros passos para se tornar um poeta. Para se lapidar, conheceu os saraus e os Slams, que são batalhas de poesia. “Em 2016, conheci a poetisa Jenyffer Nascimento, na Vila Autódromo e, no mesmo ano, na Cidade de Deus, a Mel Duarte. E assim me encantei por esse mundo. Outra que me incentivou foi a MC Martina, e senti o desejo de viver da poesia. A poesia delas tem uma linguagem simples, que me aproximou da literatura”, confessa. A partir daí, passou a frequentar batalhas de poesia e se identificou cada vez mais com o meio.

Depois disso, nasce o livro “Maré Cheia”, que foi construído na favela e sobre o cotidiano dela. “Para escrever um livro, é preciso ter uma ideia boa, e muita paciência para superar os empecilhos. A Editora Multifoco confiou no meu trabalho. Em sete meses, após o lançamento no Centro de Artes da Maré, já vendi 200 livros, um bom número para uma época de crise no País”, comemora. Para Matheus, o livro deseja mostrar que a favela não é sinônimo de vida de sofrimento. “Aqui sorrimos e nos divertimos. Meu desejo é que, ao digitar “Maré” na busca da internet, apareça um livro ou uma poesia, e nunca mais a violência”, resume.

O livro traz histórias inspiradas no cotidiano do autor, incluindo a diferença de tratamento que ele recebe dentro e fora da favela. Ele aborda também, em suas poesias, a diversidade, a simplicidade e a esperança das pessoas da Maré. Isso chamou a atenção dos organizadores da FLIP. “Nunca passou pela minha cabeça lançar um livro, muito menos que um dia poderia estar participando da FLIP, em Paraty. Foi importante para mim, minha família e a Maré, até para os ancestrais. Em Paraty, estive ao lado de Elisa Lucinda e de mais 200 pessoas na plateia, foi um orgulho ter participado. Foi o momento mais importante da minha vida, me renovou como escritor. A ficha, até agora, não caiu”, revela. Em Paraty, o escritor ainda declamou em dois Slams, e encontrou uma pessoa da Maré – o que fez não se sentir sozinho.

Ao voltar da FLIP, nasceu o anseio de levar para todos os cantos o nome da Maré por meio da poesia. “Antes precisamos ter o desejo de que a nossa favela conheça a poesia. Para isso, estamos construindo o primeiro Slam da Maré, que deve acontecer até dezembro”. Para ele, é preciso lutar pela democracia da leitura, para que todos tenham direito ao conhecimento eàa escrita. “Precisamos descobrir a literatura, saber que ela não está morta, que ela vive. Um exemplo é o funk, que é uma poesia”, enfatiza.

Matheus entende que todos podem fazer um livro, que às vezes falta é oportunidade, mas que não se pode desistir. Para os fãs, ele garante que já está pensando em novos trabalhos.

Quem desejar conhecer mais o trabalho de Matheus de Araújo é só seguir o seu Facebook (math.araujo.poesia1) e Instagam (math.araujo.poesia) ou entrar em contato pelo e-mail: [email protected].

Cada vez mais visíveis

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Maré de Notícias #92 – 03/09/2018

Para celebrar, com certo atraso, O Dia da Visibilidade Lésbica, convidamos moradores da Maré para falarem da sua luta como lésbicas e faveladas

Eliane Salles

Os avanços sociais, científicos, de pensamento e de costumes não ocorrem, infelizmente, no mesmo ritmo que as necessidades individuais e coletivas exigem. Mas, apesar de caminharem lentamente, eles vão se dando. O Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, celebrado em 29 de agosto, é um desses passos adiante. Pode parecer algo pequeno (a data é pouca conhecida e menos ainda celebrada), mas sua instituição abre caminhos e reforça a esperança de dias mais fáceis para as milhões de lésbicas brasileiras – afinal, defender a visibilidade é defender o direito de existirem, de serem respeitadas e terem reconhecidas suas necessidades, afetividades e particularidades.


Ser lésbica na favela é…

Embora o Dia da Visibilidade Lésbica já tenha ocorrido, o Maré de Notícias convidou três mulheres lésbicas para compartilharem com os nossos

 leitores sua experiência em vivenciar sua orientação sexual no bairro em que foram criadas. Confira:

“Acho que o ser lésbica na favela é como ser lésbica em qualquer lugar, o que muda um pouco é o que é ser lésbica de favela. Começando pela lésbica de favela que não tem passabilidade*, ser “taxada” de lésbica favelada, mesmo sendo bem-educada ou coisas desse tipo, mesmo sabendo que ser favelada não é ruim ou errado, é complicado. A posição financeira da lésbica de favela implica círculos de amizade, o que ela faz pra se manter é uma pergunta muito recorrente. Quanto menos passabilidade ela tem, menos trabalho ela consegue. Aí tem de se colocar no mercado de favela, que são

 serviços como mototaxista, entregadora, assistente de obra. Eu, inclusive, sou mototaxista apesar de ser uma sapatão com passabilidade”. Carol Caldas, 25 anos, cake designer e mototaxista, nascida e criada na Maré.

“Ser lésbica na favela deve ser bem parecido como ser lésbica numa cidade de interior, onde todo mundo se conhece. A maioria das pessoas onde moro, no Sem Terra (Parque União), me conhece e conhece minha família. Senti minha sexualidade muito comentada tanto que, quando fui me assumir para minha mãe, ela nem se espantou, já que os comentários sobre eu beijar meninas rolavam pela rua há muito tempo. Uma das dificuldades que enfrento como lésbica de favela é a falta de órgãos públicos atuantes no lugar onde moro, pois se sofro lesbofobia*, não tenho a quem recorrer, já que o poder público não atua aqui, fora a negligência na [área] da Saúde. Mal consigo uma consulta com ginecologista e não tenho com quem tirar dúvidas sobre as IST* que podem ser transmitidas com o sexo lésbico e como me proteger”. Joana Dark, nascida em Itapetim (Pernambuco), chegou à Maré (onde vive até hoje) aos 8 anos. Tem 24 anos e é terapeuta holística.

“Acredito que em toda a sociedade há uma naturalização de diversos tipos de violência contra lésbicas, mas na favela isso, infelizmente, parece pior. Não conheço nenhuma sapatão de favela que não tenha sofrido violência (verbal, psicológica e, às vezes, até física) de familiares, vizinhos, etc., pela condição de ser mulher lésbica. Eu somente entendi que era lésbica com 16 anos. Mas antes disso as pessoas do meu convívio já tinham entendido e me rotulado a partir das brincadeiras que eu gostava (futebol, bola de gude, pipa, peão, etc.). Tenho amigas que adoravam todas essas brincadeiras e hoje são heterossexuais… Já sofri preconceito de vários tipos. Quando se é mulher negra lésbica favelada – sem vírgula – a gente mal sabe diferenciar qual tipo de ataque está sofrendo”. Kamilla Valentim, 24 anos, estudante de Psicologia (UERJ).

Mais um dia de medo e tensão na Maré

Maré de Notícias #92 – 03/09/2018

Operação policial, mais uma vez, é marcada por ilegalidade e violação de direitos

Eliane Salles

O dia 20 de agosto de 2018 entrará para a extensa lista de incursões policiais, caracterizadas por truculência, ilegalidade e homicídios, nas favelas cariocas. E, mais uma vez, a favela da Maré esteve no olho do furacão. Foram 14 horas ininterruptas de uma ação cuja tônica, como é recorrente, foi o menosprezo pela vida e pelos direitos dos favelados.

Por volta de 1 hora da madrugada, as Forças Armadas cercaram a comunidade, formando um cinturão na Avenida Brasil. Fogos de artifício e tiros foram disparados. Naquele momento, acontecia, no Parque União, o tradicional pagode do grupo Fundamental, que reúne todos os domingos mais de mil jovens.  Houve pânico e correria. Em meio ao tumulto, muitas pessoas se feriram. Era só o começo de mais um dia de terror na Maré.

Às 5 horas, o que era previsto se confirmou: policiais do 22° Batalhão, do Batalhão de Choque e do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) entraram nas favelas Nova Holanda, Parque Maré, Rubens Vaz e Parque União. Não se sabe, até o momento, quantos policiais foram destacados para essas comunidades. De acordo com o Comando Militar Leste, cerca de 4,2 mil homens – das Forças Armadas e das Polícias Militar e Civil – participaram da operação, deflagrada também na Penha e no Alemão. Não se sabe quantos foram deslocados para a Maré, mas é consenso que não foram poucos.

 A equipe de plantão da Maré de Direitos recebeu, ao longo do dia, várias denúncias de violação de direitos, entre elas, o arrombamento de um carro e a invasão de duas casas, uma no Parque Maré e outra na Nova Holanda. Em ambas, a polícia não tinha mandado de busca e apreensão e deixou rastros de destruição, danificando móveis e eletrodomésticos. Na Nova Holanda, chegaram ao cúmulo de arremessar o cachorro da casa, um poodle, do 3º andar. O animal sobreviveu.

 

Tiros a esmo e homicídio

Por volta das 18h, duas moradoras recorreram à Maré de Direitos. Precisavam que a equipe de plantão fosse à Favela da Galinha (Nova Holanda), onde quatro jovens estariam sendo torturados. Lá chegando, a equipe encontrou um grupo de 50 pessoas, a maioria mulheres, que discutiam com um policial. Eram cidadãos, entre eles, parentes e amigos dos jovens que se encontravam encurralados pela polícia em um beco, que exerciam o seu direito de acompanhar a abordagem policial. A equipe da Maré de Direitos, imediatamente, começou a mediar o conflito, conversando com o policial que estava de guarda, impedindo a entrada das pessoas no beco. “Comecei a conversar com o policial. E fiquei impressionada. Ele estava tão nervoso que não conseguia articular as palavras. Em determinado momento, ele disse: ‘a gente aqui desde às 4 horas da madrugada, de pé, sem comer, sem ir no banheiro, e essa gente vem aqui pra fazer tumulto. Como é que você quer que eu tenha calma?’”, conta Lidiane Malaquini, coordenadora do Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça.

Durante a conversa, alguns policiais saem do beco carregando um corpo, envolto em um cobertor. Não havia dúvidas: um dos jovens morrera. O grupo começou a gritar. Uma jovem tentou se aproximar do corpo. Foi o estopim. Um policial apontou seu fuzil para o grupo e outro disparou tiros a esmo. O grupo se dispersou. Pouco se sabe sobre o rapaz, inclusive sobre sua morte. O que se sabe, apenas, é que seu corpo foi retirado da cena do assassinato antes que a perícia pudesse ser feita.

 

Defensoria Pública vai à Maré

No dia seguinte à operação, a Redes da Maré e outras organizações da região acompanharam representantes da Defensoria Pública do Estado em uma incursão pelos pontos críticos da ação. A Defensoria integra o Circuito Favelas por Direito, um conjunto de organizações da sociedade civil e instituições públicas que se mobilizam para ir aos territórios impactados pelas operações e promoverem uma escuta qualificada dos moradores. O objetivo é coletar informações de violações de direitos para produzir relatórios unificados das operações e, assim, monitorar as violações no contexto da intervenção militar.

 

Repercussão nacional

Reportagens publicadas pelo Maré Online (http://redesdamare.org.br/mareonline/) e posts no Facebook e no Twitter da Redes repercutiram na imprensa nacional. Colunas de jornalistas prestigiados e veículos de grande acesso, como os sites dos jornais O Globo, O Dia e o JB, entre outros, reproduziram as denúncias feitas pela Redes da Maré. Não é esse tipo de notícia que a Redes gosta de divulgar sobre um território tão rico em cultura, costumes e talentos, mas naquela semana, mais uma vez, se fez necessário denunciar para o Rio de Janeiro e para o Brasil o terror frequentemente imposto às nossas favelas.

Driblando a crise com criatividade

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Maré de Notícias #92 – 03/09/2018

Outras possibilidades de renda são criadas para enfrentar a crise

Hélio Euclides

O termo “empreendedorismo” se refere à busca de novas oportunidades por meio da inovação e da autonomia. A definição de empreendedorismo pressupõe colocar em prática uma ideia nova, oferecendo uma maneira criativa de fazer algo que já existe. Para isso é necessário pensar, planejar, organizar o plano de negócio e, claro, formalizá-lo.

Segundo Carol Machado, consultora do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), existem duas formas de se tornar microempreendedor. “Para quem não precisa emitir Nota Fiscal, é só entrar no Portal do Microempreendedor, fazer o Cadastro Nacional de Pessoal Jurídica (CNPJ), emitir o Documento de Arrecadação do Simples Nacional (DAS) para pagamento mensal e fazer a declaração de morador de favela, que fica isento de impostos. Já para quem necessita da Nota, primeiro é preciso entrar no Portal da Prefeitura, o Nota Carioca Digital, e fazer a consulta sobre o local, e verificar se é viável a atividade no endereço. Se a Prefeitura aprovar, faz-se o CNPJ e emite-se os DAS. Depois gera-se o alvará definitivo, no Nota Carioca Digital. Deve-se também solicitar no mesmo site, pela inscrição municipal, a concessão da Nota. Qualquer dúvida é só procurar o Sebrae Maré”, lembra a consultora.

Segundo o Portal do Empreendedor, mais de sete milhões de pessoas já pertencem à categoria Microempreendedor Individual (MEI). O número de MEIs no País cresceu 14,4% em fevereiro de 2018 na comparação com o mesmo mês do ano passado, aponta pesquisa da empresa de consultoria Serasa Experian. O aumento do número de MEIs também está ligado ao crescimento do desemprego no Brasil e à falta de oportunidades, em especial para os jovens que procuram o primeiro emprego, ou para aqueles que já passaram dos 50 anos de idade.

Para que o empreendedor não tenha prejuízo, é necessário também elaborara um plano de negócio, para planejar os passos que devem ser dados para que os objetivos sejam alcançados, diminuindo os riscos e as incertezas. “Resumidamente, pode-se dizer que o planejamento procura responder três questões principais: Onde estamos? Para onde queremos ir? Como chegar lá? Para tanto, faz-se necessário seguir uma linha de orientação do trabalho: análise do cenário, definição de objetivos, definição de estratégias e elaboração de um programa de ações”, enfatiza Carol.

A visão de empreendedor: enxergar uma oportunidade para abrir o próprio negócio é o desejo de muitos

Alzira Ramos, de 60 anos, ficou desempregada. Resolveu fazer bolos e vender fatias no botequim ao lado da casa. De uma história de superação, nascia no ano de 2008 a primeira loja da Fábrica de Bolo Vó Alzira, no bairro da Tijuca. Esse início de trajetória reflete a experiência de muitas pessoas que, ao perder o emprego, se transformam em empreendedoras.

Com dificuldades na aposentadoria, Neuza Josefa, de 61 anos, é conhecida como a Tia do brownie. Ela vende brownie e bolo de pote pelas ruas e instituições da Nova Holanda. A Naná Doces acabou virando um negócio da família. A nora de Neuza, Aline de Oliveira, é quem bota a mão na massa. “A minha filha Geovana faz a planilha, com entrada, saída e fluxo de caixa. Minha sogra assumiu a função da venda, algo que ajuda na nossa renda”, afirma Aline.

Muitos trabalhadores não se veem como empreendedores, como é o caso de Virginia Lúcia, de 39 anos. “Não sei se sou empreendedora, mas procuro aprender para crescer, e lutar por uma vida melhor”, diz. Ela trabalhou em pensão e tinha o desejo de trabalhar por conta própria. Então veio a ideia de trabalhar com um carrinho de bolos e salgados pelas ruas da Nova Holanda. Ela sobrevive dos seus quitutes, paga dois aluguéis, da casa e da loja onde prepara os lanches, que ela chama de minifábrica. “Meu sonho é ter uma “empadaria”, que fabrica empadas e bolos”, conta.

A criatividade é a palavra de ordem

No momento mais difícil de sua vida, David Portes descobriu que podia ser empreendedor. Em 1986, sem emprego, sem casa, pediu emprestado o equivalente a R$ 12,00, seguiu seu instinto e arriscou: deixou de comprar remédios para a esposa, que estava grávida, para adquirir alguns doces para revenda. Em menos de uma hora nas calçadas do Centro do Rio, ele já tinha arrecadado o dobro do que havia investido. Resolveu se estabelecer no local como camelô. Hoje, faz sucesso com sua história de superação, dando palestras ao redor do mundo.

Cristian Gomes, de 20 anos, relembra a história de David. Cristian começou fazendo cursos profissionalizantes de administração e, na época, trabalhava na pizzaria da tia. “Ela me deu a sugestão de abrir um negócio próprio. Tentei várias coisas, ter um negócio é muito complexo. Pensei em doces, mas faltava conhecimento, alguém para me guiar. Em 2006, no pré-vestibular tive outra visão de mundo. Então, fui estudar, seguir uma trajetória”, detalha.

Seu único capital era R$ 90,00, que tinha reservado para quitar uma dívida. “O que me fez mudar de ideia foi ver no Facebook uma página de cone de chocolate. Isso ficou martelando na minha cabeça. Assim nascia os cones Chocorela, o nome que mistura chocolate com muçarela, queijo que Cristian tanto manuseou na pizzaria onde trabalhava. Três lojas adotaram o produto e mais cinco parceiros venderam aos amigos. “Um passo foi um curso no Sebrae, para ter um olhar profissional. Penso numa faculdade para me qualificar ainda mais”, destaca. O preço de cada cone é R$ 5,00.

Uma rede de conhecimentos

Para obter sucesso no empreendedorismo é vital uma rede de contatos. Cristian criou um grupo no WhatsApp. “São empreendedores, que trocam ideias, e um ajuda o outro. Nem todos sabem lidar com o empreendedorismo. Uma pena que não tenho tanto tempo para assessorar. A pessoa começa o negócio e desiste por não obter resultados sólidos em curto prazo”, acrescenta.

No futuro, ele deseja ter um canal no You Tube que possa ajudar na vivência dos empreendedores. “Falar das questões, pois há pessoas que nem sabem que têm cursos gratuitos, que não há procura”, revela. Uma das pessoas que participam dessas trocas de ideias é uma amiga formada em Administração. Ela acrescenta o teórico e Cristian, a prática, uma via de mão dupla. “Também faço consultoria na Unisuam, são vários projetos locais, durante o ano. Lá, aprendo sobre gestão e planejamento. Tem pessoas da comunidade que têm medo de ser empreendedor. O conselho é insistir e tentar entender o negócio”, enfatiza.

Onde encontrar ajuda

A Coordenação Comunidade Sebrae atua nas favelas para apoiar pequenos negócios, oferecendo os seguintes serviços: orientações sobre a formalização e como se tornar um MEI; indicações sobre a obtenção de alvará e nota fiscal; oficinas e cursos sobre gestão. Há ainda calendários de capacitações, com cursos, oficinas e palestras sobre gestão de negócios. O Sebrae Maré funciona às segundas e às terças, das 10 às 16h, na sede da Redes da Maré. O Sebrae Maré oferece as seguintes capacitações: “Como atrair, conquistar e manter clientes” (25 de setembro, às 14h); “ Sua empresa no Facebook” (30 de outubro, às 14h) e “Preparando-se para o Natal” (27 de novembro, às 14h).

A Luta pela Paz, em parceria com a Aliança Empreendedora, oferece um curso intensivo voltado para jovens entre 18 e 35 anos, com sete encontros. O conteúdo programático busca oferecer aos empreendedores algumas ferramentas de gerenciamento de negócio, inovação e gestão. O objetivo é a formação de 100 empreendedores, com valorização da vivência, conhecimento e rede de contatos. Inscrições e informações na Rua Teixeira Ribeiro, 900, Nova Holanda, ou pelo e-mail: [email protected].

A Unisuam oferece o programa de Pré-aceleração, uma iniciativa do Pólen – Polo de Inovação e Empreendedorismo. A próxima etapa consiste no processo de entrevistas, em que são selecionados os empreendedores participantes da Pré-aceleração, que ocorre durante seis meses. No programa, os empreendedores, por meio dos módulos ministrados, recebem instruções de como construir e consolidar um negócio. Eles aprendem sobre: Canvas (ferramenta de planejamento estratégico), modelagem de negócio, marketing, gestão financeira, análise de risco, estudos de mercado, entre outros assuntos. Mais informações podem ser obtidas na Diretoria de Inovação & Novos Negócios (tel.: 99726-1277).

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Sarampo: prevenir para não remediar

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Maré de Notícias #92 – 03/09/2018

Erradicada no Brasil desde 2015, vírus volta a ser motivo de preocupação

Hélio Euclides

Os casos recentes de sarampo no País reacenderam o alerta sobre a doença. Muito comum entre crianças brasileiras, o sarampo tinha desaparecido do Brasil. O último caso relatado da doença tinha ocorrido no Ceará, em julho de 2015. Este ano, porém, foram novamente registrados casos da doença. A Secretaria Municipal de Saúde reforça a orientação de que a vacina é a única forma de prevenção ao sarampo. “Não é recomendado deixar de vacinar uma criança. É a saúde dela que está em jogo”, enfatiza Kelly Alves, mãe de um menino de quatro anos.

O dia D da vacinação foi em 18 de agosto, com uma boa adesão na Maré. Só na Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva, na Nova Holanda, foram vacinadas cerca de 700 crianças. “As carteirinhas de vacinação dos meus três filhos estão em dia, nenhum deles teve sarampo. A vacina é uma proteção, não só para a família, mas para a vizinhança. Agora se fala do sarampo, mas são várias doenças existentes, e precisa estar com as vacinas atualizadas”, destaca Andrea Vieira, mãe de dois meninos, um de três anos e outro de quatro anos, e de uma menina de seis meses.

 

Unidades de Saúde da Maré possuem a vacina

Otto Faber Júnior, médico da equipe técnica do Serviço de Vigilância em Saúde do Centro Municipal de Saúde Américo Veloso, da Praia de Ramos, diz que apesar de não existir casos na Maré, não se pode deixar de aplicar a vacina tríplice viral, que protege de três doenças: sarampo, caxumba e rubéola. “Essa proteção está disponível, conforme calendário de vacinação, para crianças aos 12 e aos 15 meses. É importante destacar que a vacina contra o sarampo, para adultos até 49 anos, é direcionada às pessoas que não foram vacinadas anteriormente. Quem já tiver esquema completo, não precisa se vacinar novamente”, explica o médico.

Quem necessitar de mais informações deve procurar uma Unidade de Saúde, levando a caderneta de vacinas para avaliação. “A vacinação acontece de segunda a sexta, das 8 às 17h, nas Unidades de Atenção Primária da Maré: as Clínicas da Família Diniz Batista dos Santos, Adib Janete, Augusto Boal e Jeremias Moraes da Silva e os Centros Municipais de Saúde Vila do João, Américo Veloso e João Cândido”, esclarece Dr. Otto. A convocação acontece para crianças até quatro anos, 11 meses e 29 dias.

As contraindicações para as duas vacinas, Tríplice Viral e Tetra Viral, são: hipersensibilidade grave conhecida a algum componente do insumo, imunodeficiência, pessoas com HIV e quem tenha história de evento adverso grave em dose anterior da vacina. E também levar a Caderneta de Vacinação! Em caso de dúvidas, os pais ou responsáveis poderão pedir orientação ao profissional na unidade de saúde.

Maré Longboard, um estilo de vida

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Maré de Notícias #92 – 03/09/2018

A história do coletivo que integra e multiplica esporte, mobilidade e cultura

Maria Morganti

Um grupo de amigos começou a se reunir nas ruas da Nova Holanda por causa da paixão em comum pelo skate. Se reunir e dar rolés. Muitos, vários, por todos os cantos da cidade. Da repetição desses encontros – e desses rolés – nasceu, em 2014, o coletivo Maré Longboard. “Nasceu em frente a essa instituição (a Redes da Maré). A gente parava aqui pra conversar, fazer debates. Todos os integrantes são “crias” da Maré, somam desde sempre, moram aqui”, relembra Diego Reis, o DG, de 21 anos, e um dos 10 integrantes do coletivo.

 O estouro do Longboard

 Além de Diego, Allan Santos, de 21 anos e Marvin Pereira, de 24, já andavam de skate da favela para Madureira “todo domingo”; davam rolés pelas praias de Copacabana, na Zona Sul, mas, segundo eles, o boom de skates aconteceu quando a Maré foi ocupada pelo Exército entre abril de 2014 e junho de 2015. “Eu sempre via nosso grupo andando junto, ia pra Madureira todo domingo. A galera via e queria fazer parte disso. Quando teve a ocupação do Exército, em que as motos pararam de circular, começaram a tomar como opção as bicicletas e o Longboard”, conta Allan.

Assim como a ocupação do Exército, o fechamento da Avenida Brasil para as obras do BRT Transbrasil, no início de 2015, é considerado pelos integrantes outro marco na história do Maré Longboard. “Foi lindo. Rolou tudo, churrasco, todos os esportes, rolimã, patins, bambolê, pique e pega…”, conta Marvin, o mais velho do grupo e um dos primeiros do coletivo a começar a andar de skate. “Ali, a gente pôde ver que a questão não é que a galera não goste de fazer esporte, que a galera é sedentária. É que, realmente, não tem um espaço para desenvolver aquilo ali. Quando teve o espaço disponível, a galera fez coisa pra caramba”, comenta Allan.

“Minha mãe quebrou três skates meus”

“Bem no início, a minha mãe achava coisa de doido”, conta, rindo, DG. Até que ele começou a ganhar campeonatos. Em um deles, voltou para casa com uma caixa de Guaravita. “Eu saía e voltava com alguma coisa ou com alguma parada que demonstrasse felicidade e ela foi agarrando, foi agarrando, e hoje em dia super apoia”. Para Marvin, a desaprovação dos pais rendeu três skates quebrados, de diversas maneiras. “Minha mãe já quebrou três skates meus. Já jogou da janela, já quebrou, já jogou fora inteiro”.

Entre um rolé e outro para fora da favela, e alguns tombos também, confessa Marvin mostrando as cicatrizes, o grupo pensou:  “por que não fazer algo dentro da própria favela? A gente começou a pensar como podia atuar dentro da nossa favela. Já que a gente estava saindo muito, buscando os rolés de Zona Sul, buscando os rolés de Madureira. Pô, mas a gente só vai pra Madureira, só vai pra Zona Sul? Vamos fazer alguma coisa aqui dentro, para as crianças, vamos fazer um evento na Maré”, relata DG.

De lá pra cá, o grupo já realizou, por meio de parcerias, cinco eventos beneficentes. Um dia não só com o skate, mas reunindo nas ruas da favela, grafite, batalha de MCs, apresentação de Slam (espécie de declamação de poesias). Uma edição chegou a contar com a apresentação de nomes da música, como o Ghetto Zn e MV Bill. Agora, estão na produção do sexto, previsto para acontecer no Dia das Crianças, 12 de outubro.

Maré Longboard nas escolas

Olhando para trás, DG avalia que o coletivo, que não tem hierarquia – por isso não existe um “presidente”, está vivendo um processo de solidificação e estruturação. O programa mais atual é o “Maré Longboard nas Escolas”, que duas vezes por semana oferece aulas teóricas e práticas, de 1 hora, sobre temas, como equilíbrio, estratégia para evitar quedas de risco e entendimento de consciência corporal, na Escola Municipal Bahia. Segundo DG, a ideia é atender todas as escolas da região Maré, ficando dois meses em cada. “O nosso objetivo geral sempre foi tentar trazer oficinas e incentivar a juventude, crianças e adolescentes, no setor desse esporte Longboard e mostrar que ele pode ser usado como objeto de transporte, socialização e mobilização”.

Reconhecimento do trabalho

As demonstrações do reconhecimento desse trabalho de quatro anos do coletivo Maré Longboard vêm dando frutos. O grupo foi selecionado no programa Active Citizens, uma parceria da Redes da Maré com o Consulado Britânico, para desenvolver projetos na Maré. Eles também receberam a doação de um imóvel, feita por um morador da própria comunidade, que é usado pelo grupo como escritório. Aberto ao público, o escritório disponibiliza livros, filmes, brinquedos e jogos como dama e dominó. Sobre o futuro do Maré Longboard, DG deixa em aberto: “eu não sei onde a gente vai chegar, o céu é o limite”.

Como participar do Maré Longboard:

 

Se identificou com os valores do Maré Longboard? Quer interagir com o que eles fazem? Chegar junto para somar?

Entre em contato pelas redes sociais ou chegue no escritório:

Facebook: @MLongboard 

Instagram: @marelongboard 

Endereço do escritório:  Rua Almirante Tamandaré, nº 48, fundos, Nova Holanda.