Home Blog Page 491

Maré de Notícias #89

0
[cq_vc_backgroundbutton startcolor=”#875189″ endcolor=”#890489″ buttonlabel=”Fazer download ou visualizar o pdf” textcolor=”#ffffff” istooltip=”” icon_fontawesome=”fa fa-file-pdf-o” iconcolor=”#ffffff” linktype=”customlink” alignment=”left” buttonlink=”url:https%3A%2F%2Fdrive.google.com%2Fopen%3Fid%3D1C-WyaOH-ku2vejipMnL6lTjrXx8Yj–f|||”][/cq_vc_backgroundbutton]

150 BPM acelera para ganhar o mundo

0
[vc_video link=”http://youtu.be/lRHnT7kAzC8″]

Maré de Notícias #89 – junho de 2018

Criado na Maré, o funk sensação dos bailes mais bombados da cidade quer conquistar o Brasil

Maria Morganti

A última novidade do funk carioca, o som que hoje é a sensação dos bailes das favelas e casas de festas do Rio de Janeiro, nasceu aqui na Maré. O Funk 150 BPM, sigla que significa “batidas por minuto”, e na prática quer dizer aumentar a velocidade da música, foi registrado, pela primeira vez, no baile da Nova Holanda, que acontece sempre aos sábados. Seu criador, Diogo Lima Costa, de 27 anos, conhecido como DJ Polyvox, é cria de Bonsucesso. O som, que também é conhecido como ritmo louco ou putaria acelerada, que tem como palco principal o concorrido Baile da Gaiola, no Complexo da Penha, começou a ser experimentado na passagem de 2015 para 2016.

“Primeiro a gente explodiu no baile a música iba iba iba na Nova Holanda. Foi quando eu tive a ideia de produzir em 150 BPM”, conta, Polyvox, no estúdio 150 BPM records, em Campo Grande, na Zona Oeste. Ele mostra os 271 mil acessos que a música tem na plataforma da internet que disponibiliza as produções, a soundCloud, utilizada por profissionais de música. Polyvox relembra que a primeira música feita em 150 BPM, foi Esse é o baile do meu pai. Segundo o artista, foi essa música que deu o boom no baile da Nova Holanda. Criador também de um outro som de muito sucesso, a batida da coca-cola, Polyvox conta que o  estilo vem dando oportunidade pra muita gente que está começando.

 

Mercado de oportunidades

No rastro de Polyvox estão surgindo novos talentos. “Você não via esses DJs fazendo show. Outros DJs aí, como os garotos do youtube, a própria Iasmin, faz show. Tudo isso graças ao 150 BPM. Eu fico muito feliz, eu não pude ajudar muitos os DJs antigos, mas eu consegui dar muito emprego para os novos que aparecerem. Hoje você tem DJ com cachê de R$ 5 mil, R$ 6 mil”. Iasmin Turbininha, que é cria da Mangueira, junto com Rennan da Penha, da Vila Cruzeiro, que comanda o Baile da Gaiola, são os nomes mais famosos do movimento 150 BPM.

Turbininha gosta de música desde criança, mas a paixão foi profissionalizada em 2011, quando criou um canal no youtube. “Eu queria produzir, queria novidades”. Ela começou a ficar conhecida com o estilo arrocha com funk, ritmo encontrado nos hits Afronta, é guerra e o Arrocha da Penha. Em seguida, conheceu Polyvox. “Quando eu descobri o 150 BPM de verdade no baile, ele (o Polyvox) me abraçou por eu ser menina, e da comunidade.”

Críticas no caminho

O sucesso do presente não impede que Turbininha recorde as críticas do início. “Os DJs da antiga criticaram muito. Falavam que, acelerado, não dava pra dançar. Na prática, a gente mostrou que é totalmente diferente. Falavam que não ia tocar na Rádio, hoje em dia tem um programa. Hoje, o ritmo que é da comunidade, toca em todos os lugares, na pista e na própria favela”.

Dona do próprio estúdio, no Complexo do Lins, Turbinha fala sobre a felicidade de ver o trabalho crescendo. “A gente  está vindo da favela e  vendo os DJs estourarem, sendo ouvidos na Rádio. Isso inspira muito, porque nego te vê no dia a dia. Quando eu chego na favela vem um monte de criança me abraçar, cantando a música, pedindo para vir aqui no estúdio; acho maneiro, porque vai distraindo a mente deles também”.

Para Turbininha, é “uma revolução”: “O 150 BPM fez meio que uma união. Os DJs abraçam quem está chegando agora, que é das comunidades. E isso só aconteceu pelo fato do 150 BPM mesmo”, conclui.

Sobre as críticas, a jovem DJ lembra o DJ Byano, uma dos mais famosos do funk. “A variação de velocidade no funk, isso aí nunca foi novidade pra ninguém. Eles aumentavam as músicas produzidas no BPM bem baixo até a voz do MC ficar muito fina. Isso levava à crítica com os produtores mais antigos, pela galera que lutou e luta pelo funk até hoje. Eu critiquei muito o que eles estavam fazendo. Determinar uma música em 130 a 150, não tem como tocar uma coisa assim. Mas pegando uma produção, você fazendo naquela velocidade, aí sim seria algo plausível. BPM não tem criador, não tem essa vertente, tem as pessoas que tocam e começaram a tocar, assim, dessa forma. Mas o criador do BPM, isso não é novidade, entendeu?”

De início havia resistência, mas o ritmo acelerado do 150 BPM, que nasceu na Maré, vem agradando a funkeiros de todos os estilos | Foto: Douglas Lopes

Ritmo veio para ficar

Questionado sobre o 150 BPM ser um movimento passageiro, o DJ Byano reconhece: “Caiu no gosto da garotada, né? Não só da garotada, como de outras pessoas também, e antigamente, a gente produzia em 128, 129, porque o funk melody, internacional, muitas vezes vinha em 127. Fomos aumentando até chegar no 130, onde estamos há vários anos. Aí pra revolucionar começaram a pular. Deram um pulo muito alto, de 130 para 150. É muita coisa, entendeu?! Então isso assustou muita gente. Eu mesmo fiquei assustado, mas depois eu me conformei. E hoje em dia não se toca mais em 130, é difícil encontrar alguém que toque assim. Eu, particularmente, toco em 140 e em algumas produções, 150. Se é o gosto da garotada, eu tento agradar, veio para ficar, já ficou, já colou”.
Jovens como a moradora do Complexo do Alemão, Sthéphany Oliveira, de 22 anos, fazem coro: “Eu não costumo escutar muito funk, só na rua ou em alguma festa. Mas essa música é sucesso na favela. Todo mundo gosta”. Thamires Candida de Oliveira, artista e dançarina de modalidades como o passinho, aprova o ritmo.  “Eu  acho ele inovador, porque traz todo tipo de beat e recicla todos os estilos sonoros. É uma coisa nova, um ritmo acelerado, reciclável em questões sonoras, e livre. Porque quando danço em 150 BPM, me sinto muito solta e livre. A criatividade vem em peso”.

Funk na Academia

O antropólogo Dennis Novaes, que faz doutorado no Museu Nacional, ligado à Universidade Federal do Rio de janeiro,  comenta que as pessoas estavam acostumadas a saber do funk mais pelas páginas policiais  que pelas culturais, e isso está mudando:“o funk antes de tudo é uma música eletrônica de vanguarda. Uma cena experimental, rica e complexa, onde o foco é sempre inovar, procurar experimentações. No funk paulista, por exemplo, a gente não vê o mesmo nível de experimentação que no carioca. Que é uma cena muito mais undeground. Onde você experimenta os tipos mais diferentes, os arranjos mais criativos. Eu acho que é isso que acontece muito aqui no funk do Rio. E o 150 surge como surgem grandes novidades nesse processo, experimentando, com os artistas querendo se diferenciar. Modinha, o 150 BPM, definitivamente, não é. Até porque é o funk carioca hoje. O que pode acontecer é que esse funk vá se especializando cada vez mais e consiga tornar em Mainstream.

Polyvox afirma que o 150 BPM “tem muito o que melhorar em termos de produção; tem muitos colegas de trabalho que produzem em microfone de computador, sem qualidade e isso dificulta bastante a evolução do 150 BPM, mas eu e outros DJs já estamos ajudando os colegas, que têm um equipamento inferior, para que eles aprendam a produzir com mais qualidade, para que o nosso ritmo seja para o Brasil todo, até fora”.

A Empresa 150 BPM records, que tem cerca de oito funcionários diretos, segundo Polyvox, foi criada para dar uma estrutura para os DJs, para que eles possam liberar conteúdo com qualidade e estruturar um MC. “Nós hoje estamos fazendo o MC cantar e fazer o repertório dele todinho já no 150 BPM, então nós deveríamos ter uma escola estruturada para poder administrar isso, onde foi criada a 150 BPM records. Ali você ensina um DJ a produzir, ali você ensina o MC como cantar no tempo certo, uma doutrina dele no palco. Tudo é ali. Palestra, reunião, ‘vamos fazer isso, vamos acertar isso’, na nossa equipe”.

Para Polyvox, o futuro do 150 BPM é ser referência total do funk. “Não só do funk carioca como do paulista, de Belo Horizonte, do Espírito Santo. Vai novamente mostrar que nós, aqui, do Rio de Janeiro, somos os verdadeiros funkeiros, não diminuindo os outros, que em geral todo mundo é funkeiro, mas nós ditamos a regra de como é o funk. Então acho que é sem limite. A perspectiva é uma parada muito além dos nossos raciocínios”.

Maré

0

MARÉ

Toda a região à margem da Baía de Guanabara caracterizada por vegetação de manguezal e ocupada por pântanos é conhecida como Maré. A região compreendia ainda, as praias de Maria Angu e do Apicu, Praia de Inhaúma e alguns acidentes geográficos como o Saco de Viegas, o Saco de Inhaúma e Ilha dos Pinheiros.

O termo “Maré” tem origem num fenômeno natural, que afligia os moradores das palafitas, trazendo sujeira e lama. Ocupada desde meados do século XX por barracos e palafitas, a Maré se formou sobre os manguezais, que foram progressivamente aterrados, quer pela população e também o poder público.

Dos muitos projetos que visavam a transformação do espaço, com interesse político ou urbanístico, o que mais se destacou foi o Projeto Rio. Idealizado pelo Governo Federal, em 1979; e  executado na década de 1980, o projeto tinha como objetivo “sanear” a orla da Baía da Guanabara.

A Maré recebeu atenção prioritária, pois as favelas da área eram apontadas como as principais responsáveis pela poluição na Baía. O projeto incluía proposta de remoção das famílias residentes em palafitas, para casas populares dotadas de infraestrutura “básica”.

A delimitação do bairro Maré foi instituída pelo decreto nº 7.980, de 12 de agosto de 1988. E a fundação foi em 19 de janeiro de 1994 pelo Projeto de Lei nº 2119, sancionado pelo Prefeito da época, Cesar Maia. O surgimento do novo bairro provocou uma reorganização do espaço. Comunidades, algumas distantes, se agruparam à Maré.  Assim a Maré ganhou representação municipal, com uma Região Administrativa que congrega as dezesseis comunidades, espalhadas por 800 mil metros quadrados, próximos à Avenida Brasil e cortados pela Linha Vermelha e pela Linha Amarela.

A Maré é constituída por uma faixa contígua, que se estende do Conjunto Esperança à Praia de Ramos; ao longo de favelas que faziam parte dos bairros de Manguinhos, Bonsucesso e Ramos. Mas a delimitação não incluiu o território da comunidades de Marcílio Dias, situada em um dos extremos da Maré. No entanto, historicamente, é parte integrante do Conjunto de Favelas da Maré.

Hoje, em toda a Maré há um processo de verticalização, ou seja, a ampliação de casas com o surgimento de novos andares. E o comércio é variado.

Olá Morador da Maré, esse texto poderá sofrer ser acrescido com novas contribuições. Para isso, você vai pode enviar informações que nos ajudem a contar a História da Maré. Para compor a seção também recebemos fotos antigas, que vão ilustrar esse espaço. Então mãos à obra:  [email protected]. Sua opinião e colaboração serão valiosas.

* Abaixo estão listadas as comunidades, em ordem cronológica, a partir de suas constituições. A ideia é construir uma síntese do processo de expansão da Maré, por iniciativa dos moradores ou por meio de ações dos Governos Municipal, Estadual ou Federal.

  • 1940: Morro do Timbau
  • 1947: Baixa do Sapateiro
  • 1948: Conjunto Marcílio Dias
  • 1953: Parque Maré
  • 1954: Parque Rubens Vaz
  • 1955: Parque Roquete Pinto
  • 1961: Parque União
  • 1962: Nova Holanda
  • 1962: Praia de Ramos
  • 1982: Conjunto Esperança
  • 1982: Vila do João
  • 1983: Vila do Pinheiro
  • 1989: Conjunto Pinheiro
  • 1992: Conjunto Bento Ribeiro Dantas
  • 1996: Nova Maré
  • 2000: Salsa e Merengue

MORRO DO TIMBAU

Palavra nascida do tupi-guarani “thybau”, que quer dizer “entre as águas”, originalmente uma área seca entre os manguezais e alagadiços à margem da Baía de Guanabara. A ponta ou Morro do thybau era uma das única localidades em terra firme, constituído de rochas.

Com a abertura da Avenida Brasil, em meados das década de 1940, a ocupação nessa área tomou impulso. Com a instalação, nas proximidades, do antigo Regimento de Carros de Combate do Exército brasileiro, em 1947, hoje (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva), os militares passaram a controlar sistematicamente todo o Morro do Timbau, de propriedade da União. O acesso dos moradores era vigiado, sendo-lhe cobrada uma espécie de “taxa de ocupação”. A arquitetura das habitações também era controlada, sendo vedada a construção de qualquer estrutura permanente na área (paredes de alvenaria, cobertura de telhas), sob pena de demolição. Obras que pudessem trazer melhorias, como as que garantiriam serviços básicos, também eram reprimidas.

Esse controle conduziu à organização da população que, em 1954, fundou uma das primeiras Associações de Moradores de Favela do Rio de Janeiro. Aos poucos, a organização comunitária começou a render frutos, tais como a distribuição de água, eletricidade, esgoto, pavimentação e coleta de lixo.

Finalmente, com o Projeto Rio, os moradores da área conseguiram a propriedade da terra. Em torno do morro ficava a Praia de Inhaúma, que desapareceu com os aterros, hoje só restou a lembrança e uma rua que leva esse nome.

Associação de Moradores – presidente Glauco dos Santos (Caco) – Telefone: 3104-5114

BAIXA DO SAPATEIRO

Ao contrário do Morro do Timbau, cuja ocupação ocorreu em uma área elevada, com alguma organização, a da Baixa do Sapateiro, que lhe é adjacente, desenvolveu-se em uma área de baixada, alagadiça, sem maiores cuidados na organização.

Sua ocupação teve início em 1947, a partir de um pequeno grupo de palafitas de madeira conhecido como Favelinha do Mangue de Bonsucesso. Existem três versões para a origem do atual nome da comunidade:

  1. Haveria realmente um sapateiro na ocupação inicial da área;
  2. Seria uma alusão à Baixa dos Sapateiros em Salvador, na Bahia, uma vez que, na origem, a comunidade era integrada por vários imigrantes nordestinos;
  3. Seria uma referência à vegetação de manguezal, em que predominava a espécie Rhizophora mangle (mangue vermelho), denominada popularmente como sapateiro. Essa espécie era extraída para a produção de tamancos, um calçado popular entre a comunidade de origem portuguesa no Rio de Janeiro.

Iniciada a partir das obras para a abertura da Avenida Brasil, a comunidade tomou impulso com a construção do primeiro grande aterro, promovido dentro do projeto de construção da Cidade Universitária, em torno da Ilha do Fundão. Com a construção da ponte Osvaldo Cruz, a região tornou-se trânsito obrigatório para quem ia e vinha do Fundão. Por essa razão, moradores expulsos das ilhas aterradas e operários da construção iam erguendo os barracos à noite, com sobras de materiais de construção (madeira e latas), sobre palafitas de cerca de dois metros de altura.

A repressão à nascente comunidade era promovida pela Guarda Municipal que, utilizando-se de cabos de aço, puxados por tratores, cortava os esteios das palafitas, demolindo-as. Procurando organizar a luta e conquistar o direito à moradia, fundou-se a Associação de Moradores da Baixa do Sapateiro (1957).

As palafitas desapareceram gradualmente graças aos aterros promovidos pelos próprios moradores ao longo dos anos. As últimas foram demolidas na década de 1980, por iniciativa do Projeto Rio, do Governo Federal, sendo esses moradores transferidos para os novos conjuntos então construídos: a Vila do João e, mais tarde, a Vila do Pinheiro.

Associação de Moradores – presidente Charles Gonçalves – Telefone: 2290-1092.

CONJUNTO MARCÍLIO DIAS

Formada na antiga Praia das Moreninhas, entre os terrenos da Casa do Marinheiro e da fábrica Kelsons, a partir de 1948. O processo de ocupação começou quando oito famílias de pescadores que ali ergueram palafitas. O seu nome é uma homenagem ao marinheiro da Armada Imperial Brasileira, Marcílio Dias.

Apesar da proximidade com o Mercado São Sebastião, atualmente conta com um comércio de pequeno porte. Dentro dessa comunidade alguns moradores denominam uma parte como Kelsons. A comunidade da Marcílio Dias recebeu a visita de madre Teresa de Calcutá, em 1982. Na época, a favela nem de longe parecia o que é hoje. Eram 800 barracos de madeira onde se abrigavam cerca de quatro mil moradores em situações de pobreza extrema.

É a comunidade mais distante do restante da Maré. Marcílio Dias está a, aproximadamente, 2,300 km da Praia de Ramos e entre esses dois territórios existe um conjunto de unidades pertencentes à Marinha do Brasil. O Censo Populacional da Maré 2013 contou 6.709 residentes em Marcílio Dias, ocupando 2.248 domicílios. O Censo Demográfico 2010 do IBGE contou em Marcílio Dias 6.219 moradores, residindo em 1.768 domicílios.

Associação de Moradores – presidente Jupira dos Santos – Telefones: 2584-4534 e 2584-4527.

PARQUE MARÉ

Originalmente uma extensão da Baixa do Sapateiro, distinguia-se por sua proximidade da Avenida Brasil, apresentando, por essa razão, uma densidade demográfica mais elevada. As primeiras palafitas e precários barracos foram erguidos a partir do início da década de 1950, a partir dos mangues existentes no final da Rua Flávia Farnese e 17 de fevereiro. Os moradores pediam aos caminhões de entulho que transitavam pela Avenida Brasil, que despejassem a sua carga na área, promovendo desse modo um aterro coletivo.

O nome tem origem no fenômeno natural das marés que causava grande sofrimento aos moradores da localidade, a maioria vivendo em palafitas. Segundo moradores mais antigos, a maré cheia trazia cobras, ratos e muita lama. O Parque Maré aumentou sua expansão na década de 1960. Nessa mesma época, foi criada a sua Associação de Moradores que, dentre outros objetivos, tinha como missão principal lutar pela permanência da comunidade e pela não-remoção dos moradores, uma vez que as investidas dos governos para a erradicação dessa ocupação foram muitas. Sua ocupação consolidou-se após a atuação do Projeto Rio, do Governo Federal, nas décadas de 1980 e 1990, que demoliu as últimas palafitas, transformando-as em casas de alvenaria. Hoje em dia a comunidade conta com relativa infraestrutura.

Associação de Moradores – presidente Vavá – Telefones: 3105-6930 e 3881-9783.

PARQUE RUBENS VAZ

Formou-se a partir de 1954 e recebia o nome de Areal, uma vez que, devido à drenagem e à canalização do canal da Zona Portuária, a comunidade recebia a areia oriunda dessa obra, causando problemas aos moradores. Também ficou conhecida como Caracol, nome provindo de uma passarela próxima, que ficava na entrada da comunidade e que tinha esse formato. A ocupação surgiu junto ao canal do Rio Ramos, hoje transformado em um canal, chamado de valão.

O aterro foi realizado pelos próprios moradores que utilizaram carvão, serragem e entulhos. Um detalhe importante na demarcação do limite dos lotes era o seguinte: o barraco era construído na frente do terreno e o banheiro nos fundos para aumentar o tamanho do lote. Quando uma família não tinha condição de construir o banheiro, ela utilizava uma ponte de madeira para usar o banheiro do vizinho.

O nome Parque Rubens Vaz foi oficializado em 1965, homenagem do governo ao militar da Força Aérea Brasileira (FAB), o Major Rubens Vaz. O número de habitantes foi crescendo e não tardou a surgir entre eles um líder: João Araújo. Um paraibano que começou a organizar a área, alinhar as construções e formar as ruas. Em homenagem a ele, uma das ruas do local leva o seu nome. Recentemente outro líder foi homenageado, com nome de um Espaço de Desenvolvimento Infantil, o ex-presidente de associação João Crisóstomo.

Associação de Moradores – presidente Vilmar Gomes (Magá) – Telefones: 3105-7146 e 3014-5388.

PARQUE ROQUETE PINTO

Surgiu por meio de uma série de aterros realizados pelos próprios moradores, a partir de 1955, às custas do manguezal, no final da Rua Ouricuri. O processo de urbanização deu lugar a domicílios de alvenaria. O seu nome é uma homenagem a Edgar Roquette Pinto, fundador da primeira rádio do estado do Rio de Janeiro, hoje a Rádio MEC, pois na época da ocupação havia uma antena de transmissão de rádio na comunidade.

A comunidade de Roquete Pinto fica ao lado do terreno do antigo quartel do 24° Batalhão de Infantaria do Exército Brasileiro, hoje pertencente a Polícia Militar. E apesar da proximidade com o Piscinão de Ramos, que se tornou um ponto turístico da comunidade, a Roquete Pinto sofre com a ausência de infraestrutura.

Associação de Moradores – presidente Cristiano Anselmo – Telefone: 3104-5069.

PARQUE UNIÃO

Formou-se a partir de um loteamento promovido por um advogado ligado ao Partido Comunista Brasileira – Margarino Torres – que demarcou lotes, vendendo-os por valores acessíveis. Um facilitador desse processo foi o aterro realizado por uma empresa particular que, posteriormente, teve que abandoná-lo por motivos financeiros. Desta maneira, deu-se início à construção dos barracos.

As casas eram construídas primeiramente em madeira. Internamente os moradores levantavam as paredes em alvenaria, isso tudo feito às escondidas, pois, segundo a população, o governo proibia essa forma de construção. A madeira só era retirada quando a casa já estava praticamente pronta.

O projeto inicial era o de criar um bairro popular, com boa infraestrutura urbana. Outras fontes mostram que a comunidade é fruto de uma das primeiras invasões urbanas planejadas de que se tem notícia, em fins da década de 1950. No início da década de 80, ocorreria a desocupação da comunidade organizada pelos militares. Contudo, a moradora Mironeide Rezende Beleza enviou carta ao então presidente João Figueiredo. Depois da resistência, o presidente respondeu com outra carta descartando a ideia. Fica situado junto à Avenida Brigadeiro Trompowski, próxima a entrada da Ilha do Governador. A partir do ano 2000 teve ampliação, a partir da aquisição de antigas fábricas, que foram loteadas legalmente pelos moradores, chamadas de Sem Terra.

Associação de Moradores – presidente Edinaldo dos Santos (Deraldo) – Telefones: 3882-5510 e 3881-9783.

NOVA HOLANDA

A Nova Holanda teve um processo de formação que se distingue dos outros da época. Localizada sobre um aterro realizado ao lado do Parque Maré, no final da Rua Teixeira Ribeiro, ela foi planejada e construída pelo poder público na década de 1960, sob o governo de Carlos Lacerda. Tinha como objetivo ser um abrigo provisório destinado aos moradores de morros do Rio que foram demolidos para a ampliação da cidade. O grande porte desse aterro influenciou a escolha do nome do empreendimento – Nova Holanda – uma vez que aquele país europeu localiza-se, em grande parte, abaixo do nível do mar.

Não se constituía, entretanto, em um Conjunto Habitacional, uma vez que foi concebido como um Centro de Habitação Provisório (CHP). O seu projeto era regular, disposto sobre uma malha ortogonal, com casas em série, idênticas, erguidas em madeira, em duas tipologias:

  1. Unidades individuais, simples; e
  2. Unidades duplas, em dois pavimentos (denominadas como modelo “vagão” ou “duplex”).

Essa característica não permitia, originalmente, que fossem realizadas benfeitorias pelos moradores, registrando-se, em pouco tempo, a rápida degradação das unidades. Os seus primeiros moradores chegaram em 1962, oriundos da remoção da Favela do Esqueleto (atual campus da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ), da Praia do Pinto, do Morro da Formiga, do Morro do Querosene e das margens do Rio Faria Timbó, sob a coordenação da Fundação Leão XIII, que controlava tanto o processo de remoção quanto o gerenciamento dos CHPs.

Os alojamentos deveriam servir como uma etapa intermediária no assentamento definitivo dessas populações em Conjuntos Habitacionais na periferia da cidade. Entretanto, por falta de continuidade política do projeto, as casas provisórias de madeira acabaram por se tornar definitivas, registrando-se a favelização do conjunto na medida em que cada morador introduziu medicações arquitetônicas conforme as próprias necessidades e segundo próprio critério. A falta de serviços básicos e o rígido controle da Fundação Leão XIII ocasionou o surgimento de conflitos.

Tantos conflitos propiciaram a mobilização popular. Na década de 1970, solidificam-se grupos de apoio à comunidade, sendo eles: grupo das mulheres e o grupo de jovens da Igreja Católica. Em 1979 é instituída a primeira assembleia para a criação da Associação de Moradores de Nova Holanda, e, posteriormente, a Creche e Escola Comunitária de Nova Holanda e a Cooperativa Mista e de Consumo dos Moradores de Nova Holanda.

Em 15 de novembro de 1984, um fato inédito chama a atenção da sociedade para a comunidade. Uma jovem de 22 anos, Eliana Sousa Silva, vencedora da eleição para presidente da associação de moradores, toma posse, superando a discriminação por ser nova e mulher. O ato também inspirou as autoridades a atuarem junto às comunidades sobre a importância da eleição. Eliana continua atuando na comunidade com trabalhos por meio da instituição Redes de Desenvolvimento da Maré. Nova Holanda até hoje é referência de comunidade articulada e militante no cenário dos movimentos sociais oriundos das favelas no Rio de Janeiro.

Associação de Moradores – presidente Gilmar Gomes – Telefone: 3105-7148.

PRAIA DE RAMOS

Originalmente uma comunidade de pescadores que surgiu por volta de 1962. A praia mais famosa do subúrbio carioca aparecia nos mapas antigos como Mariangú, que na linguagem indígena significava mangue. A região era território de criação de caranguejos que serviam de alimentos para animais do entorno da Baía de Guanabara. O nome Maria Angú foi uma adaptação livre dos próprios moradores. Há ainda uma outra versão que fala sobre a existência de uma antiga moradora chamada Maria, conhecida na região por vender angu.

Apesar de fisicamente pertencer ao conjunto de comunidades que formam o Bairro Maré, a região também participa das comemorações anuais da festa do Bairro de Ramos. Pertence a essa comunidade a única praia existente hoje na Zona da Leopoldina. Esse antigo balneário está poluído e proibido para o banho de mar. Em substituição à área de lazer, foi inaugurado em dezembro de 2001 um grande lago artificial, chamado de Piscinão de Ramos. Hoje é administrado pela Prefeitura, e foi rebatizado de Parque da Vizinhança de Ramos.

Associação de Moradores – Cristiano Anselmo – Telefone: 3104-5069.

CONJUNTO ESPERANÇA

Conjunto habitacional erguido em 1982 pelo Projeto Rio, do Governo Federal, com 35 edifícios totalizando 1.400 apartamentos. Recebeu, à época, cerca de 7.000 pessoas. Fica localizado próximo ao prédio de expansão da Fundação Oswaldo Cruz, com acesso pela Avenida Brasil. Foi construído às margens do Canal do Cunha.

Com a ausência de comércio, a comunidade foi improvisando e criando novos espaços, além dos prédios. No fim da comunidade, às margens da Baía de Guanabara, surgiu também um novo espaço formado por casas construídas pelos próprios moradores, denominado Vila Esperança, também conhecido pelo apelido pejorativo de Pata Choca.

Associação de Moradores – presidente Pedro dos Santos – Telefone: 3104-7407.

VILA DO JOÃO

Antes da construção, no terreno funcionou o Aeroclube do Brasil. O conjunto habitacional foi erguido pelo Projeto Rio, do Governo Federal, no início da década de 1980. O Projeto Rio logo gerou grande controvérsia porque o governo se limitou a erradicar as áreas alagadas. Mas o que fazer com a população que era retirada desses espaços? Segundo levantamento inicial, nesta época um terço dos habitantes da Maré morava sobre palafitas, principalmente nas comunidades da Baixa do Sapateiro e Parque Maré. Depois de muita polêmica, os moradores começaram a ser transferidos para o primeiro conjunto habitacional do Projeto Rio.

O objetivo era acabar com moradias construídas precariamente. As casas pré-fabricadas sobre aterros na Baía de Guanabara eram destinadas a abrigar as pessoas que viviam em palafitas na Baixa do Sapateiro. As casas coloridas que caracterizaram a Vila do João foram inauguradas em plena campanha para o governo do Estado. O colorido das casas ficou conhecido preconceituosamente de “Inferno Colorido”, mas na década de 90 esse apelido caiu em desuso.

Essa comunidade representava um símbolo de prosperidade para os militares, que denominaram o nome como uma homenagem dos moradores ao então Presidente da República, General João Baptista de Oliveira Figueiredo (1979-1985). Outros pontos surgiram como a creche Tia Dulce, em alusão à primeira-dama Dulce Figueiredo, hoje rebatizada de Espaço de Educação Infantil. Outra creche também teve esse mesmo propósito, a Creche Municipal Tio Mário, que lembra Mário Andreazza, Ministro do Interior do governo militar.

Associação de Moradores – presidente Valtermir Messias (Índio) – Telefone: 3109-3143.

VILA DO PINHEIRO

Foi a segunda fase do Projeto Rio, uma grande intervenção na região da Maré, para reassentar os moradores das palafitas, em conjuntos habitacionais. Tais conjuntos foram erguidos sobre aterros dos manguezais e tinham o financiamento do extinto Banco Nacional de Habitação (BNH).

A área denominada genericamente como “Pinheiro”, é fruto de um aterro promovido à época do Projeto Rio, do Governo Federal, na década de 1980, que ligou a Ilha do Pinheiro, ao continente, o que resistiu até o aterro da Cidade Universitária. A ilha chegou a ser conhecida como Ilha dos macacos, por ser área de experiência com macacos da Fundação Oswaldo Cruz. O novo aterro destinava-se a assentar os antigos moradores das palafitas removidas da Baixa do Sapateiro e do Parque Maré.

Hoje a Ilha do Pinheiro passou a ser um parque ecológico, conhecido como “Mata”, que fica localizado bem no meio da comunidade. A Vila do Pinheiro foi constituída por casas de pequenas dimensões, geminadas, unifamiliares. Atualmente poucas casas guardam a estrutura original.

Nos anos 90, um projeto federal construiu na comunidade uma escola, o Centro Integrado de Atenção à Criança e ao Adolescente (CIAC), transformado em Centro de Atenção Integral à Criança (CAIC), posteriormente demolido por ter sido construído em área imprópria e apresentar rachaduras. Na mesma época, a Prefeitura usou outro terreno da Vila do Pinheiro para abrigar temporariamente 209 famílias removidas de áreas de risco da cidade.

Essa comunidade teve como característica a construção fragmentada. Os galpões – pequenos, coloridos e desconfortáveis, tinham apenas um banheiro para cada 25 famílias – foram logo apelidados de Kinder Ovo, em uma referência ao chocolate de embalagem colorida em moda na época. Hoje, esse espaço não existe mais. A penúltima fase, construída atrás da Associação de Moradores, seria um desligamento, que receberia o nome de Vila Pasqualini, algo não aprovado pelos moradores. E por fim, atrás do Ciep Ministro Gustavo Capanema, surgiu uma nova construção que recebeu moradores remanescentes de enchentes, e que não foram agraciados com residências em outras comunidades. Essas casas foram batizadas popularmente como Marrocos. Contudo, ambas são assistidas pela Associação de Moradores da Vila do Pinheiro. Já a Vila do Pinheiro, pela grande extensão, tem uma divisão na Via B/1, onde é assistida também pela Associação de Moradores do Parque Ecológico.

Associação de Moradores da Vila do Pinheiro – Jhonata Marques – Telefone: 3109-2576.

Associação de Moradores do Parque Ecológico – presidente Cláudia Santana – Telefones: 3104-8950 e 3109-2576.

CONJUNTO PINHEIRO

O Conjunto Habitacional Pinheiros, também erguido em 1989 pelo Projeto Rio, do Governo Federal, é constituído por grandes blocos de prédios multifamiliares de formas retas e modernistas. O Conjunto Pinheiro é a comunidade da Maré que permanece mais próxima dos traços retos e racionais do projeto original, apesar da construção de garagens dentro do terreno. Alguns desses puxadinhos foram transformados em biroscas para qualquer tipo de comércio gerador de renda.

Em 1999, os 34 prédios passaram por reformas custeadas pela Companhia Estadual de Habitação (CEHAB). A reforma consistiu na recuperação do revestimento externo, pintura externa das esquadrias, impermeabilização das caixa d’águas, reforma dos telhados e dos esgotos. Em 2011, a segunda obra também foi realizada pela CEHAB, com recuperação do revestimento, pintura externa, e reforma dos telhados. As reformas não mudaram a estética inicial.

Seus prédios margeiam a Avenida Bento Ribeiro Dantas, junto à ciclovia da comunidade.

Associação de Moradores – presidente Eunice Cunha – Telefone: 3104-7183.

CONJUNTO BENTO RIBEIRO DANTAS

Foi erguido em frente ao Conjunto Pinheiro, na década de 1990. Ocupa área onde existiu, no passado, a praia e o Porto de Inhaúma. No início, foi popularmente apelidado de “Fogo Cruzado”, uma vez que se encontrava na linha de tiro entre duas comunidades.

Inaugurado em 1992, o seu projeto é de inspiração pós-modernista, utilizando o tijolo e o concreto aparentes, que lhe dá uma estética própria, bem diferente dos prédios modernistas do Conjunto Pinheiro. Esse modelo seria repetido no Conjunto Nova Maré.

Os seus moradores vieram de outras favelas, consideradas de risco pelos técnicos da Prefeitura, por meio do Programa Morar Sem Risco e que não podiam ser urbanizadas pelo Programa Favela-Bairro, implantado a partir de 1994.

Associação de Moradores – presidente Raquel Lellis – No momento sem telefone.

CONJUNTO NOVA MARÉ

Conjunto habitacional inaugurado pela Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro em 1996 com o fim de assentar moradores removidos de palafitas da Parque Roquete Pinto. Situado em área de aterro vizinha à Baixa do Sapateiro, decorrente da construção da Linha Vermelha, o seu projeto tem o mesmo perfil que o Conjunto Bento Ribeiro Dantas.

Hoje a comunidade é beneficiada por um espaço de lazer próximo, a Vila Olímpica da Maré.

Associação de Moradores – presidente Alexandre Ribeiro – Telefone: 2270-1274.

CONJUNTO NOVO PINHEIRO (SALSA E MERENGUE)

Meses após inaugurar os galpões do Kinder Ovo, a Prefeitura precisou construir um novo Conjunto habitacional. Essa unidade foi inaugurada no ano 2000, com o nome oficial de Novo Pinheiro. Embora tenha história e características próprias, não conta ainda com uma Associação de Moradores, sendo incluído tradicionalmente na Vila do Pinheiro. O seu nome popular é uma alusão à novela televisiva Salsa e Merengue, devido ao colorido das casas. Foi criado com o fim de assentar moradores removidos da comunidade conhecida como Kinder Ovo e em torno do rio Faria Timbó. Está situada próxima à Vila do Pinheiro e ao Canal do Cunha.

Associação de Moradores da Vila do Pinheiro – Jhonata Marques – Telefone: 3109-2576.

Violência afeta a saúde na Maré

Maré de Notícias #89 – junho de 2018

A tensão permanente adoece os moradores e assusta os profissionais

Jorge Melo

No dia 8 de maio, a coordenadora do Eixo de Segurança Pública da Redes da Maré, Lidiane Malanquini, participou da 168ª sessão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), na República Dominicana, e falou sobre o impacto da intervenção nas periferias. “Historicamente, os moradores de favelas, em sua maioria negros, são os mais afetados por essa política de Segurança militarizada, baseada em ações pontuais e extremamente violentas. É importante destacar o caráter racista desta política perversa que ataca o direito à vida, provoca o adoecimento e limita o acesso a outros direitos básicos”, disse Lidiane em seu discurso.

 

Violação de direitos e saúde

A referência de Lidiane ao adoecimento das populações em função da violência está baseada na realidade fria dos números. Em 2017, 42 pessoas morreram e 17 ficaram feridas em confrontos armados na Maré. O Conjunto de Favelas sofreu 42 operações policiais, uma a cada nove dias, com um saldo de 41 feridos. Não bastasse a tensão e o estresse da população, particularmente as crianças e adolescentes, os diversos serviços de Saúde, que atendem diariamente milhares de pessoas, tiveram suas atividades suspensas por 45 dias. Os números são do Boletim Direito à Segurança Pública na Maré, levantamento anual, realizado de janeiro a dezembro. Os dados são coletados por uma equipe da Redes da Maré, que acompanha os confrontos armados e as operações policiais e também pelo serviço de orientação jurídica das denúncias de violações de direitos, reportagens e notícias veiculadas pelas assessorias de comunicação das Polícias Militar e Civil. E também das Secretarias Municipais de Saúde e de Educação.

Sady Marchesi é psicólogo do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e trabalha na Clínica Municipal de Saúde da Vila do João e na Clínica da Família Adib Jatene, ambas na Maré. Segundo ele, “o medo vira picos de pressão, vira açúcar alto, vira ansiedade, vira tristeza, vira pânico. Que precisa da compensação do Estado com remédios para baixar a pressão e o açúcar, calmantes para dormir e antidepressivos para sorrir”. Não existem números exatos e é impossível avaliar o prejuízo causado à população e aos profissionais de Saúde por esse estado de coisas. Mas não é difícil imaginar o estrago que provoca. Está provado que populações submetidas continuamente à violência têm a saúde afetada.

Sady alerta para o fato de que “nós, profissionais, também ficamos com medo. Por ouvir e vivenciar situações de violência. Alguns de nós passam mais tempo por, aqui,  que com a família. Quantos colegas foram afastados do trabalho por licença médica ou desistiram da Maré, após um conflito armado que atinge as paredes sem concreto da Unidade de Saúde, após uma ameaça, após um helicóptero policial passar atirando? É tão comum como triste a constante troca ou ausência de profissionais, o que dificulta a construção de vínculos com a população tão necessária para se produzir cuidado em Saúde”.

 

O que fazer? 

No dia 26 de março, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz, militantes dos direitos humanos, profissionais da Saúde e moradores de comunidades se reuniram na Fiocruz, para debater a violência e a intervenção federal na Segurança pública no Rio de Janeiro. Foi elaborada uma lista com algumas medidas a serem colocadas em prática. Entre elas estão reuniões com agentes comunitários de Saúde, campanhas contra o racismo e iniciativas para divulgar canais de denúncias de violações de direitos.

De acordo com Hermano Albuquerque de Castro, pesquisador da Escola de Saúde Pública da Fiocruz, “praticamente todos os dias temos tido notícias de violência e de morte. E esse é também um debate da Saúde pública, que vem sendo profundamente afetada. Os agentes de Saúde não conseguem trabalhar nos territórios. As populações ficam desassistidas e são penalizadas”.

“Arraiá da Paz” promete agitar a Maré

0

Maré de Notícias #89 – junho de 2018

Regada a caldos, maçã do amor e apresentação de quadrilha, tradicional festa acontecerá em três fins de semana de junho

Maria Morganti

O mês de junho chega aqui na Maré trazendo, além de temperaturas mais amenas, a promessa de muitas festas. A mais famosa, para 10 entre 10 moradores, é a da Paróquia Nossa Senhora da Paz, no Parque União, o tradicional Arraiá da Paz. Este ano, a festa que costuma receber milhares de pessoas em três fins de semana começará nos dias 8 e 9, seguindo os festejos pelos dias 15, 16, 22 e 23.

Apesar de ser realizada dentro da Paróquia, na Rua Guanabara, nº 2, “não é uma festa religiosa, é aberta ao povo, é para a comunidade”, enfatiza Maria de Fátima Donaria, costureira nascida e criada no Parque União, e uma das integrantes das Pastorais que realizam o evento. Fátima conta que frequenta a festa há mais de 20 anos, quando ainda era na Rua da Paz, antes da compra do terreno onde é realizada hoje. “Cada Pastoral assume um setor. As Pastorais da criança, cultura, jovem, terço dos homens, dos casais; cada uma fica com uma barraca. Todo o trabalho é dividido para sair tudo muito bonito e bacana”.

Nos dias de festa, as barraquinhas começarão a funcionar a partir das 18h, mas o evento completo só às 20h30. “A preparação começa na sexta-feira antes da festa. Um mês antes, eles já começam a armar as barracas, pedir doações, para a comunidade, de alimentos e de bandeirinhas para enfeitar, porque a Igreja se move com doações”. Segundo Fátima, no quesito guloseimas, caldo verde, sopa de ervilha e  vaca atolada. “Aí uma descasca batata, outro o aipim, outro o milho.” Nos doces, canjica, bolo de aipim, maçã do amor… “E tem muito mais”, comenta Fátima. “Não sou muito boa de dança, não. Mas é uma das coisas de que eu mais gosto?!”, conta, rindo, Fátima, sobre a quadrilha. Ao todo, três grupos de quadrilha irão se apresentar: o da catequese, dos jovens e a do grupo chamado Aliança de Casais.

Iuri Felipe Santos, 25 anos, também “cria” do Parque União, é um dos “marcadores” (responsável por ensaiar uma quadrilha), mais conhecidos da Paróquia. A primeira que marcou foi com 12 anos de idade. “A gente tem de marcar ensaio, montar passo, montar música, coreografia, uma coisa em cima da outra. Em outubro, eu já estava postando no Facebook:vamos dançar, vai ter quadrilha, estou com uma ideia boa’, e marcamos um aquecimento”.

Ele conta que uma quadrilha pode chegar a ter 18 casais, o mínimo é 12. O grupo de jovens da Igreja já conquistou sete troféus e se apresentou na Feira de São Cristóvão. Iuri, este ano, não  vai marcar a quadrilha, mas está fazendo a montagem das músicas e apoiando outros marcadores, para o momento que considera o auge da festa junina. E avisa: “tem um dia que todo mundo pode dançar. É no último domingo de festa, a famosa quadrilha do ‘cata-cata’,  entra qualquer um. É a maior quadrilha que tem. Chega a ter mais de 50 casais”.

“É um dos eventos mais esperados do ano”, diz a moradora do Parque Rubens Vaz, Letícia Felix, de 26 anos. A jovem conta que as principais festas são organizadas pelas Igrejas católicas da região, que tentam se articular, para não haver sobreposição de datas e os moradores terem a oportunidade de participar de todas. “A festa mais expressiva é o ‘Arraiá da Paz’, pela sua história desde muito cedo, de carinho, todo ano nesse evento. É uma festa democrática, para todos. Não importa se você é ateu, protestante… As festas juninas realizadas pelas paróquias não são só para os paroquianos, são preparadas com muita dedicação para todos os moradores da Maré. Vem pessoas de fora, de outros conjuntos da Maré, famílias, crianças, adultos, jovens, idosos. É um momento de muita alegria, de convivência, de escape da rotina e dos problemas diários”.

Além do Arraiá da Paz, outras paróquias realizarão festas, como a Paróquia Sagrada Família, na Nova Holanda, e a Nossa Senhora dos Navegantes, além das que acontecem pelas ruas. Opção é o que não vai faltar para se divertir!