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Maré de Notícias #94

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Quando um jogador não pendura a chuteira

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Maré de Notícias #94 – Novembro de 2018

Peladeiros da Maré mostram-se honrados em serem veteranos

Por: Hélio Euclides

A carreira de jogador de futebol é curta, isso foi retratado no Maré de Notícias, em sua Edição 88 deste ano. Para os peladeiros não é diferente: com o passar dos anos, as pernas não correspondem como antes e chega a hora de pendurar a chuteira. Um grupo resiste ao tempo e continua a jogar em times de veteranos. No contexto esportivo, são chamados de seniores, jogadores mais experientes ou com mais idade. Na Maré, diversas comunidades têm representantes acima dos 35 anos.

Para Bruno Pereira, do site Futebol Veterano, a prática do futebol sênior é bem antiga, embora não seja possível definir quando exatamente se iniciou. Nos gramados da Maré, Arides Menezes, de 67 anos, se intitula pioneiro. Ele recorda que organizou o primeiro campeonato de veteranos da Maré, em 1994. “No início, eram oito times que jogavam no campeonato do Campo do Oriente, hoje Paty, na Nova Holanda. E, depois, foram agregando outros”, conta. Ele também joga as tradicionais peladas dos cinquentões. “O que fazemos é um toque para lá e outro para cá, pois já somos cascudos”, revela.

Jocimar Pereira, com 65 anos, organiza todo sábado pela manhã, no Parque Ecológico da Vila do Pinheiro, a pelada do Grupo Veterano da Mata, com direito a coletes, que trazem escudo e nome de cada jogador. São atletas acima de 40 anos, que praticam o jogo cadenciado, com mais toque de bola e menos correria. “O objetivo é o incentivo de que o outro não pare a prática do esporte”, destaca. Ele conta que a meta do Grupo é a amizade e confessa que a maioria dos peladeiros toma remédio para pressão arterial elevada.  “Eu faço exames anuais e visito o cardiologista, mas não sei se o restante é acompanhado pelos médicos”, diz.

 Álvaro dos Santos Silva, enfermeiro da Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva, recomenda que os atletas procurem sempre um médico e realizem exames de rotina, entre eles, o eletrocardiograma.

 

O amor pelo campo e pela bola

Uma história de amor pelo futebol é a de Vilmar Gomes, conhecido como Magá, com 54 anos. O craque jogava num time da Maré, no qual os atletas foram se casando e acabou a “seleção”. Ele, no entanto, não se deu por vencido e fundou os Veteranos Amigos do Magá, que já completou 23 anos. O grupo joga todos os sábados pela manhã, no campo da Rubens Vaz e reúne atletas de 35 a 61 anos. “Eu me sinto como um garotão. Como sou o presidente do time, a camisa 10 ninguém tira de mim”, brinca.

Montar um time com 100% de veteranos não é tão fácil. Isso é o que acha Arlindo Noberto, de 69 anos. Para ele, os times mesclados de atletas seniores e novos são mais fáceis de serem formados, assim como para se marcar amistosos. Os atletas veteranos também sofrem com as contusões. Arlindo ficou 10 anos afastado dos campos, por causa do menisco. “Não desisti e voltei. O futebol nos mantém vivos”, afirma. Ele joga aos domingos, no Campo da Toca, no Conjunto Pinheiro, onde, bem cedo, joga os acima de 50 anos; e depois, os mais novos.

O coordenador das peladas no Campo da Toca é Sebastião Lessa, o Boi, de 58 anos. O seu time é o Raiz da Vila, que ostenta 42 troféus, alcançados desde 1998, quando organizava os campeonatos de veteranos da Vila do João. Ele lembra, com tristeza, que o último foi em 2009. “Os times de veteranos estão acabando, estamos perdendo espaço, tem lugar que só sobra o sábado para jogar. Continuo nessa jornada, pois o futebol está no sangue, é o nosso DNA, um meio de relaxar”, afirma.

Para evitar o calor do verão, a maioria dos campeonatos de veteranos é realizada no período das temperaturas mais amenas. Isso acontece na Praia de Ramos, com a organização de Luiz Carlos, o Lula, de 54 anos. “Os jogos acontecem das 9 às 14 horas, aos domingos. São 10 a 12 times, que se enfrentam durante quatro meses. Já são oito anos de campeonato. Mas o que o pessoal mais gosta é, após as partidas, jogar conversa fora acompanhado de uma cerveja. O encontro se torna um passatempo”, conclui.

 

Você sabia?

No Brasil, as categorias ainda são conhecidas por Fraldinha (7 a 9 anos), Dente de Leite (10 a 11 anos), Pré-Mirim (11 a 12 anos), Mirim (12 a 13 anos), Infantil (14 a 15 anos), Infantojuvenil (15 a 16 anos), Juvenil (17 a 18 anos) e Júnior (17 a 20 anos). Acima dessa idade são profissionais. Hoje a categoria de veterano é dividida em Sub 40 e Sub 50.

Pequena África – parte importante da nossa história em poucos quarteirões

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Maré de Notícias #94 – Novembro de 2018

Cais do Valongo, Pedra do Sal e Cemitério dos Pretos são alguns dos locais fundamentais para entender a história e a importância dos africanos na formação do povo carioca – e brasileiro

Por: Eliane Salles e Maria Morganti

Cinco da manhã do dia 20 de novembro é hora dos integrantes do grupo Afoxé Filhos de Gandhi lavarem o busto de Zumbi dos Palmares, no Centro. É assim há 29 anos. Em seguida, é feita a reverência à Escola Tia Ciata e, por último, a lavagem da Pedra do Sal, na Zona Portuária. Esse é um dos rituais que fazem parte do legado africano na cidade do Rio de Janeiro (e de todo o Brasil), que inclui comidas, estilos musicais, danças, festas e muito mais. Para celebrar o Dia da Consciência Negra (20 de novembro) e ressaltar a gigantesca contribuição dos negros na formação do povo brasileiro, o Maré de Notícias abordará, brevemente, a história e a importância de três espaços emblemáticos para entender a cultura, a história e a importância dos africanos na formação da nossa cultura e do nosso povo. Os espaços fazem parte do que foi denominado Pequena África, uma região que se estende do Bairro da Saúde à Praça Onze, que abrigou em momentos e por motivos diferentes, povos africanos e seus descentes e que se constitui – por si só – em um importante marco para o entendimento da história, cultura e costumes cariocas. Vamos a alguns desses marcos históricos:

 

Cais do Valongo

Em 2016, o Cais do Valongo foi apresentado como candidato à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para receber o título de Patrimônio da Humanidade. Em 2017, veio o reconhecimento: a Unesco elevou o sítio arqueológico à Patrimônio da Humanidade. “Foi reconhecido, mas para que seja de fato considerado como Patrimônio da Humanidade, o espaço precisa de uma série de investimentos, principalmente do Governo federal e municipal”, explica Ivanir do Santos, doutor em História Comparada pela UFRJ e também professor da Universidade.

O lugar, que fica na Zona Portuária, foi reconhecido por ser um importante espaço de memória do tráfico de escravos do Oceano Atlântico e símbolo da resistência cultural e política da população negra. De acordo com o livro “Roteiro da Herança Africana no Rio de Janeiro” (Editora Leya/Casa da Palavra), “em nenhuma outra parte do mundo aportaram tantos navios com cativos trazidos da África durante os mais de três séculos das rotas transoceânicas do comércio escravagista como no Rio de Janeiro e o Cais do Valongo, desde o final do século XVIII, era o lugar oficial de desembarque”.

Endereço: O Cais do Valongo fica na Gamboa e corresponde à área da Praça Jornal do Comércio e está delimitado pela Avenida Barão de Tefé, a Rua Sacadura Cabral e pelo limite lateral do Hospital dos Servidores do Estado, no nº 178, na Rua Sacadura Cabral.

 

Cemitério dos Pretos Novos

Também conhecido como Memorial dos Pretos Novos, localiza-se sobre o local onde funcionou, entre 1769 e 1830, o cemitério de escravos – por sinal, o maior das Américas. O sítio arqueológico foi descoberto em 1996, quando os proprietários do antigo casarão, que hoje abriga o Memorial, faziam uma reforma. Após pesquisas arqueológicas, descobriu-se que naquele local eram enterrados os pretos novos, escravos recém-chegados da África, que não aguentavam os maus-tratos da viagem. Estima-se que tenham sido enterrados de 20 a 30 mil pessoas, embora nos registros oficiais esses números sejam menores, 6.122 entre 1824 e 1830. Seus corpos foram jogados em valas, que também serviam como depósito de lixo, e queimados. A visita é uma aula de História.

Endereço: Rua Pedro Ernesto, 34, Gamboa.

Funcionamento: De terça a sexta, das 13h às 18h. Para visitar aos sábados, domingos e feriados, é preciso agendar pelo telefone (21) 2516-7089.

Pedra do Sal

A Pedra do Sal, também na Zona Portuária, é considerada um dos maiores marcos culturais da africanidade brasileira. Segundo os historiadores, o local tem esse nome por causa do carregamento do produto pelas redondezas. É reduto de samba, de rituais e, para os apreciadores, local de tomar uma cerveja gelada no Carnaval, após os Blocos que acontecem no entorno.

Endereço: Rua Argemiro Bulcão, s/nº – Saúde.

Deixa na régua

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O que é e o que tem o “Corte do Jaca”, estilo que saiu da favela e ganhou o mundo

Em 01/11/2018 – Por Maria Morganti

Página bombada nas redes sociais, vídeo “viralizado”, tema de filme, barbearias sempre lotadas. O “Corte do Jaca” saiu da favela e já ganhou a cabeça do mundo. Mas o que será que tem de especial o tal “disfarçadinho”? Quem usa? Como é? Quem faz? No “Salão do K-Beto – entra feio sai bonito”, na Nova Holanda, estão as respostas para todas essas perguntas. Segundo K-Beto, como gosta de ser chamado, barbeiro há mais de 20 anos, a procura é tanta que chega a atender de 40 a 50 pessoas por dia. Ele conta que todos os clientes – que mantêm a frequência semanal – pedem o corte estilo “disfarçadinho”.

Para alguns, o corte nasceu no Jacarezinho, favela da Zona Norte, por isso o nome: “Corte do Jaca”. Para outros, como K-Beto, o estilo começou a fazer sucesso em 2004. Lucas Lima, um dos administradores da página no Facebook “Eu mando o Corte do Jaca”, criada em 2012 para divulgar os cortes e com mais de 500 mil seguidores, defende a primeira tese e afirma que quem criou foi o “Barbeirinho do Fundão”, uma localidade do Jacarezinho. Bom, seja lá qual for o criador, o que não falta é gente atrás do “Corte do Jaca”. “Bem graduado, com uma boa finalização, com tintura ou não”, define Lucas como seria um corte perfeito.

Nas telas do cinema

“O barbeiro da maioria dos jogadores de futebol é de comunidade”, revela Lucas.
Além da cabeça dos craques, o tipo de corte também ganhou as telonas. O cineasta Emílio Domingos estava gravando o seu primeiro filme, “Batalha do Passinho”, de 2011, quando algo despertou sua curiosidade:  “todos os dançarinos do passinho tinham o ‘Corte do Jaca’ e aquilo me chamou atenção. Muitas vezes, eu tentava me encontrar com os dançarinos na sexta-feira, e eles nunca podiam, porque iam ao barbeiro e eu ficava intrigado com aquilo. Aí, eu vi que o salão era um lugar muito interessante, onde ficavam vários jovens conversando sobre a vida, sobre tudo, não só cortando cabelo. O filme não é sobre o ‘Corte do Jaca’, mas ele permeia o filme todo”.

 Vaidade masculina

Em pesquisa sobre o mercado de beleza masculina realizada, em 2016, pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), 45% dos homens se declararam vaidosos. Alison Willian Fidelis é um desses que mantém um ritual de cuidado religioso. Faz hidratação no cabelo duas vezes por semana, atualiza o corte “em dégradé” e o cavanhaque semanalmente na barbearia, além de ter cuidados com a pele, como limpeza facial. E se não conseguir se cuidar por algum motivo?  “Me sinto feio e desleixado”, confessa.

Boom de barbearias

O Censo de Empreendimentos da Maré, realizado em 2013, confirma o aumento cada vez maior e a solidificação de negócios envolvendo a vaidade masculina. A categoria “beleza e estética” teve o segundo maior número de empreendimentos de toda a Maré, 307, perdendo apenas para o número de bares, 660. Isso antes do boom de barbershops, espécie de barbearia com oferta de bebidas como cerveja, venda de roupas e outros artigos de beleza masculina, ressalta o coordenador geral do estudo, Dalcio Marinho. “A onda que fez proliferar os chamados barbershops na Maré, e em toda a cidade, é bem recente. Quando o Censo de Empreendimentos da Maré foi realizado, em 2013, ainda não havia tantos como se vê atualmente. A quase totalidade dos estabelecimentos do ramo era de barbearias comuns, daquelas mais convencionais. Havia 33 empreendimentos na Maré que eram denominados como barbearias por seus proprietários. Mas a barba também era cuidada em pontos comerciais, que são chamados de salão de cabeleireiro, o que nos leva a admitir que o número de pontos com este serviço era mais elevado. Não sabemos quantos babershops surgiram nos últimos anos na Maré. Só uma nova pesquisa poderia revelar. Mas é certo que o número de barbearias aumentou bastante com essa tendência, que responde a uma nova demanda dos homens em relação à aparência”, afirma.

Galpão do Banco do Brasil na Marcílio Dias é leiloado

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Maré de Notícias #94 – 01/11/2018

Moradores do entorno que tiveram suas construções removidas foram encaminhados à Defensoria Pública

Eliane Salles

O imóvel de cerca de 20 mil metros2 do Banco do Brasil, localizado na Marcílio Dias, foi arrematado em setembro, segundo informações obtidas em um site especializado em publicação de editais, por uma empresa de reprografia de publicações e livros, por cerca R$ 1,3 milhões. O leilão foi realizado uma semana após 25 casas de alvenaria, que estavam sendo construídas no entorno do galpão, terem sido derrubadas por agentes da Prefeitura. Antes da remoção, havia no local, conhecido como Favela do Arroz, 59 barracos (alguns de alvenaria, outros de madeira); alguns abrigavam famílias de até quatro pessoas. “Minha casa estava quase pronta. Os funcionários da Prefeitura disseram que não podia construir no local, mas não tinham ordem de despejo. Ainda falaram para os que ficaram sobre o prazo de dois meses para sair, e inventaram a mentira de que a Associação sabia da operação”, diz Simone do Nascimento, de 31 anos.

De acordo com a Associação de Moradores da Favela Marcílio Dias, não havia funcionamento regular no galpão, apenas a circulação de vigilantes e seguranças de uma empresa privada e nem a Associação nem os moradores foram notificados da remoção das construções. “A Prefeitura veio com a Guarda Municipal e policiais, para derrubar os barracos. O absurdo foi que informaram aos moradores que teriam notificado a Associação. Isso foi uma calúnia! Fomos ao local com um advogado que pediu algum documento que autorizasse a desocupação. Eles não apresentaram nenhum papel e, na mesma hora, foram embora”, conta Jupira de Carvalho dos Santos, presidente da Associação de Moradores de Marcílio Dias.

 

Acesso à Justiça

Acompanhados por representantes da Redes da Maré, 20 moradores (dez em cada reunião) foram atendidos pelo Núcleo de Terras e Habitação da Defensoria Pública do Estado (NUTH), especializado em remoções. O Núcleo informou que, do ponto de vista legal, casas em construção em lugar irregular não configuram direito à moradia (usucapião) e que, portanto, aqueles moradores não poderiam ser atendidos pelo Núcleo. Na ocasião, foram orientados que procurassem a Vara de Fazenda Pública, onde poderia ser avaliada a possibilidade de indenização por danos materiais. Aos moradores que tinham suas casas construídas e que já residiam no local, o NUTH sugeriu que aguardassem uma possível notificação de remoção.

O acompanhamento dos moradores à Defensoria Pública faz parte de um processo de orientação que a Redes, por meio de seu Projeto Maré de Direitos, vem dando aos moradores da Maré, que alegam terem tido suas casas demolidas pela Prefeitura sem mandado ou notificação prévia. O Projeto Maré de Direitos busca garantir e ampliar o acesso a direitos e interferir em práticas sociais que dificultam o acesso à Justiça.

Resistir é preciso

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Maré de Notícias #94 – 01/11/2018

Espaços culturais da periferia lutam pela existência e iniciativas públicas têm sido fundamentais para que a população da periferia tenha acesso à cultura.

Hélio Euclides

O acesso à cultura ainda é privilégio de poucos. Enquanto o Centro e a Zona Sul da cidade concentram as mais variadas opções de lazer, a população da periferia tem de usar a criatividade ou enfrentar muitas horas de transporte público para usufruir do direito à cultura. Para resistir a essa situação, os próprios moradores e instituições da periferia arregaçam as mangas para prover de cultura a população. A única alternativa têm sido os espaços pertencentes à Prefeitura ou que contam com seu apoio financeiro.

Apesar das dificuldades, as manifestações artísticas da periferia são ricas e, mesmo sem os espaços físicos tradicionais, pessoas engajadas tentam promover transformações sociais pela arte. Uma dessas pessoas é Adailton Medeiros, do Ponto Cine, um projeto de difusão do Cinema brasileiro, por meio de ações sociais, incluindo cursos, diálogos e festivais que, por falta de recursos e apoios, interrompeu as atividades por nove meses, reabrindo somente em 11 de outubro deste ano. “Estamos distantes dos cartões postais do Rio. Ainda sofremos por falta de empenho não só do poder público, mas também do setor privado. Cultura deveria ocupar sempre um lugar de destaque nos programas de desenvolvimento do País”, diz.

O Ponto Cine começou com um projetor de lente de cristal líquido que Adailton comprou, montando o primeiro espaço de exibição, a Casa de Artes de Anchieta. Mas logo o espaço ficou pequeno e foi então exibir filmes nas calçadas, praças, ruas e escolas. Até que, com um grupo, montou a Lona Cultural Carlos Zéfiro e levou o cinema para as lonas. Participou do Projeto CinemaBR em Movimento e, numa das exibições alternativas na praça de alimentação do Guadalupe Shopping, foi convidado, pela administração, para montar uma sala no local. Atualmente, o Ponto Cine é o cinema mais premiado do Brasil e um dos mais estudados por faculdades e universidades. Um modelo original e único.

Para Egeu Laus, coordenador de Economia Criativa da Secretaria de Cultura e Turismo de Duque de Caxias, é muito importante levar cultura a regiões periféricas. “Historicamente, sabemos que as periferias são centros potentes de produção cultural. Daí surgiram duas frases emblemáticas que circulam entre operadores culturais dessas regiões:  “toda periferia é um Centro e periferia não é carência, periferia é potência”, afirma. Para Egeu, o principal problema é que essas regiões ainda são pouco assistidas pelo poder público.

Iniciativas na Maré

A Lona Cultural Municipal Herbert Vianna foi aberta em 2005, com um show da banda Paralamas do Sucesso. Em 2009, a Redes da Maré assumiu a cogestão da Lona, numa parceria com a Secretaria Municipal de Cultura. O equipamento oferece espetáculos artísticos, cursos, oficinas e palestras. Na Lona, funciona também a Biblioteca Popular Municipal Jorge Amado. “É um espaço para crianças, que aprendem e se divertem. Além de diversão, é de graça, felicidade em dobro. Se não existisse esse ambiente, as crianças iam ficar na rua, como antes. É um lugar eclético, com circo, rock, funk, samba e teatro”, detalha Hudson Alves, pescador e morador da Nova Maré.

Com um público anual de 6 mil pessoas, a Lona conta com apresentações mensais como o Favela Rock Show, com bandas independentes do cenário carioca, levando sempre um grande público à Lona. No teatro, o destaque recente foi a encenação do espetáculo “O Pequeno Príncipe Preto”, que teve lotação máxima, com presença de crianças da Rede Municipal de Ensino. A Lona dispõe, ainda, de atividades principalmente voltadas para a arte e a educação, como oficinas de complementação pedagógica, iniciação musical, robótica e educação ambiental.

Aberto em 2009, o Centro de Artes da Maré (CAM) se encontra num galpão de 1,2 mil metros2 próximo à Avenida Brasil, na Nova Holanda. O Ponto de Cultura é fruto da parceria entre a Lia Rodrigues Companhia de Danças e a Redes da Maré, idealizado para a criação, formação e difusão das artes. “O importante, para nós, é a afirmação da dificuldade da manutenção de atividades de um espaço cultural sem apoio, bem como da importância das leis de incentivo nesse sentido e do entendimento dos apoiadores na valorização da arte e da cultura”, ressalta Isabella Porto, coordenadora da Escola Livre de Dança da Maré. O espaço vem se constituindo numa referência genuína para romper com a segmentação existente entre os diferentes territórios da cidade no campo do direito à arte.

Além de local de eventos, o CAM oferece oficinas – no momento são sete de dança e uma de teatro – atendendo a todas as faixas etárias. No CAM, há projetos da Escola Livre de Dança da Maré, que funciona desde 2011. Um ano depois, veio o Teatro em Comunidades, em parceria com a UNIRIO. “São ações continuadas promovidas no espaço. Além disso, há cineclube, shows musicais, debates, aulas públicas realizadas em parceria com diferentes parceiros”, lembra Isabella. Ela destaca a parceria com Lia Rodrigues, que realiza sua residência no local e um corpo de bailarinos cria e ensaia trabalhos, diariamente.

Alguns dos destaques do CAM foram a realização da Temporada Maré de Artes Cênicas, a estreia dos espetáculos da Lia Rodrigues Cia de Danças, entre eles: “Pororoca”, “Para que o Céu não Caia”, entre outros; o projeto “Ocupação”, com a apresentação da CIA Marginal, oficinas de Azulejaria e show da cantora Céu.

O Pontilhão Cultural, por sua vez, é tocado por um coletivo local e faz uso criativo do espaço debaixo da Linha Amarela. A iniciativa transformou, com sucesso, esse local de prática de esporte num point para eventos artísticos e culturais, que é usado por grupos de jovens em alguns finais de semana. No local, já ocorreu show de Frank Aguiar e diversos eventos dos funks das antigas, tudo a preços populares. Durante a semana, há atividades de lazer, como skate, escolinha de futebol, ginástica e outras práticas esportivas.