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O corpo como obra de arte

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Maré de Notícias #89 – junho de 2018

Tatuagens: moda, forma de expressão ou apenas estética?

Jorge Melo

O nome de um filho, uma homenagem ao pai ou à mãe, um desenho descolado, caracteres japoneses ou chineses, até um desenho tribal. É difícil encontrar alguém hoje com menos de 40 anos, que não tenha uma tatuagem. No ano passado, o Brasil sediou o maior evento de tatuagem e body piercing do mundo, o Tattoo Week, realizado em São Paulo, em julho, que reuniu, durante três dias, segundo os organizadores, mais de 60 mil visitantes e três mil tatuadores, no Expo Center Norte. Além desse, que é o maior, centenas de outros eventos menores acontecem ao longo do ano pelo País afora. E existem vários sites onde os interessados podem procurar informações e orientações.

Não existem números oficiais, mas em 2013, a Revista Superinteressante realizou o Primeiro Censo da Tatuagem no Brasil, com 80 mil entrevistados. Nesse universo, as mulheres representam 59,9%. E os jovens, entre 19 e 25 anos, correspondem a 48,2%.

A tatuagem, ou tattoo, em inglês, já não sofre preconceito como nos velhos tempos e não é mais uma atividade alternativa. De acordo com o Sebrae, considerando apenas Microempreendedores Individuais (MEI), o aumento no setor foi de 24,3% entre 2016 e 2017, de 9.151 para 11.380 negócios. A tatuagem também avançou institucionalmente. Em 2016, o Supremo Tribunal Federal decidiu que ninguém pode ser desclassificado de um Concurso por causa de uma tatuagem.

 

Música e poesia

Em 1972, o compositor Chico Buarque de Holanda compôs uma música, que se tornou clássica na voz da cantora Elis Regina, Tatuagem, uma declaração de amor passional. “Quero ficar no teu corpo feito tatuagem; que é pra te dar coragem; pra seguir viagem…”

Em 1980, Caetano Veloso compôs Menino do Rio, em homenagem a um surfista carioca. Aliás, surfistas e roqueiros foram os responsáveis por recuperar o charme das tatuagens que, até então, eram usadas por marinheiros e presidiários.   “Menino do Rio; calor que provoca arrepio; dragão tatuado no braço”

 

Tatuado pode doar sangue       

Entre os muitos mitos que cercam a tatuagem está o de que quem tem tatuagem não pode doar sangue. Leonardo Borges de Mello tem 39, é professor de Educação Física e trabalha no Centro Municipal de Saúde da Vila do João e na Clínica da Família Adib Jatene, na Vila do Pinheiro, ambas na Maré. Ele tem duas tatuagens. E diz que, ao contrário do que muita gente pensa, quem tem tatuagem não fica impedido de doar sangue. “Deve apenas guardar um período de seis a 12 meses depois de finalizar uma tatuagem”. Mas, na dúvida, consulte um médico. Aliás, uma das campanhas nas quais Leonardo trabalha é exatamente a de incentivo à população para que doe sangue. “É muito importante e qualquer um pode colaborar, mesmo que tenha tatuagem”.

Ronaldo dos Santos Maia tem 38 anos e há 19 é tatuador profissional. Tem um estúdio muito concorrido, na rua principal da Nova Holanda. Começou grafitando paredes e desenvolveu o traço. “Vivo da tatuagem, faço pelo menos três por dia, não há mais preconceito contra as tatuagens, hoje em dia todo mundo tem”, diz ele, enquanto trabalha no braço de um cliente. Ronaldo dá uma dica para quem quer fazer tatuagem: procurar um profissional capacitado, que siga todas as regras de higiene e segurança.

No estúdio de Ronaldo encontramos Joelson Salles de Carvalho, de 27 anos, morador da Maré. Ele é cliente fiel de Ronaldo, com quem faz todas as tatuagens, tem sete: “eu faço tatuagem, porque curto os desenhos. No meu caso as tatuagens não têm mensagem nem significado; uso porque acho bonito”.

Comuns na Antiguidade, as tatuagens viveram séculos de ostracismo. Banidas pela Igreja Católica, foram redescobertas em 1769, quando o navegador inglês James Cook realizou expedições à Austrália e Nova Zelândia e conheceu os Maori, que praticavam tatuagens rituais, inclusive no rosto, conhecidas como tatau. Essa palavra faz referência ao ruído provocado pela batida do osso fino que introduzia a tinta na pele. Daí para tattoo foi um pulo. Tatuagens como motivos maoris fazem muito sucesso na atualidade.

Chikungunya ameaça Maré

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Maré de Notícias #89 – junho de 2018

Segundo especialista, epidemia da doença não pode ser descartada

Maria Morganti

Dores no corpo, principalmente nas articulações, febre alta, falta de disposição.  “É muita dor. Deus me livre, eu não desejo isso pra ninguém. Dói muito. Os ossos, as articulações, ficam duras, inchadas”, desabafa Floracir da Silva Pinto, aposentada e moradora da Nova Holanda. Onde dona Floracir mora, na Rua Marcelo Machado, a maioria dos moradores relata ter tido os mesmos sintomas. Todos foram diagnosticados com chikungunya, doença viral transmitida pelos mosquito Aedes aegypti, o mesmo da dengue e da zika. Apesar de a grande semelhança com as outras doenças transmitidas pelo mosquito, o que diferencia a chikungunya é a continuidade dos sintomas, que podem durar meses após o episódio da sua detecção, dificultando atividades simples, como escovar os dentes.

Risco dobrado para as grávidas

No caso de Juliana e Anderson Silva, o diagnóstico veio como um susto ainda maior. Juliana estava no fim da quinta gestação, a da pequena Maria Eduarda, com 38 semanas, quando sentiu muita dor na barriga e no calcanhar,mas achou que fosse por ter batido em algum lugar e não deu muita importância. Mas o marido alertou: “vamos para a maternidade, porque você gemeu muito de madrugada”.

Juliana conta que os médicos disseram que Maria estava em sofrimento fetal e indicaram uma cesariana de emergência. Tudo correu bem no parto. Três dias depois, os primeiros sintomas da chikungunya começaram a aparecer. “Ela nasceu superbem e as minhas dores passaram. Dias depois, ela estava chorando muito e a médica foi examinar. Quando colocou a bebê no berço, ela teve uma convulsão”.

Um exame confirmou que Juliana teve a doença e que Maria foi infectada, na hora do parto. Uma das características do vírus é causar fortes queimaduras em crianças pequenas. Maria continuou internada, e a previsão é que tenha alta nesse início de junho. “Só consegui dormir essa noite, quase um mês depois, não vejo a hora de ela vir pra casa”, conta o pai.

Pacientes como Márcia Barreto, 61 anos, aposentada, além do tratamento com medicamentos durante a fase aguda da chikungunya, muitas vezes precisam fazer fisioterapia, para reduzir as dores nas articulações, que podem perdurar  meses. “Eu fiquei quase três meses sem andar, com muita dor. Até enrolado eu falava, porque atacou o meu sistema neurológico. Depois o médico mandou eu fazer fisioterapia, porque os tendões ficaram inflamados, acho que fiz 10 sessões”.

Maré na rota da chikungunya

Segundo dados da Prefeitura, a Maré é um dos bairros com maior índice de registros na cidade. Foram 59 casos só nos primeiros quatro meses deste ano. Perde apenas para bairros, como Campo Grande, Guaratiba e Santa Cruz, na Zona Oeste. Para o infectologista Rivaldo Venâncio, pesquisador e coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, apesar da grande quantidade de pessoas infectadas, os números não representam – neste momento – um risco de epidemia. “Se, de fato, nós caminharmos para uma epidemia de chikungunya no Estado do Rio,esses números iniciais não são suficientes para fazer tal afirmação. Há de se considerar, no entanto, a provável existência de um número razoável de casos que ainda não foram inseridos no Sistema de Notificação. Caso ocorra, de fato, uma epidemia, devemos esperar que até o final do ano tenhamos números  10 a 15 vezes maiores, que esses registrados até agora”. No entanto, o médico não descarta o risco. “Temos elevados índices de infestação domiciliar do mosquito transmissor do vírus. Nesse momento, não podemos afirmar que estamos caminhando para uma epidemia, muito menos descartar essa possibilidade”.

Rivaldo explica que, como a população teve pouco contato com esse vírus, existem poucos anticorpos para que o corpo humano proteja-se da enfermidade, o que aumenta o potencial de infecção. “Diante da inexistência de uma  vacina contra a chikungunya, a única forma de a pessoa criar anticorpos é sendo infectada pelo mosquito. Uma parcela das pessoas infectadas desenvolverá a doença e outra não apresentará manifestações clínicas”.

Fatores de risco

O primeiro caso de chikungunya registrado no Brasil, ou seja, em que a transmissão ocorreu em território nacional, segundo o Ministério da Saúde, aconteceu em setembro de 2014. Em 2010, três casos tiveram o diagnóstico confirmado em pessoas que tinham acabado de voltar de viagem ao Exterior. No mundo, a doença começou a se espalhar em 2013, quando foram identificados casos no Caribe, Venezuela, Guiana, Panamá, Porto Rico e Suriname.

Em todo o Rio de Janeiro, inclusive aqui na Maré, são encontradas condições ideais para a proliferação do mosquito que transmite a doença: lixo acumulado e água parada são fatores decisivos, e os períodos de chuva também exigem mais cuidados. Por isso, o pesquisador Rivaldo Venâncio avalia que a expectativa é de que os índices de infestação não continuem crescendo no ritmo atual. A temporada de chuvas já acabou. Ele salientou, no entanto, que existem outros fatores que propiciam a proliferação do mosquito.

“A dificuldade na manutenção do abastecimento de água para o uso doméstico, de forma regular, em várias localidades do Estado do Rio, faz com que a população não seja abastecida todos os dias. O problema é que, no dia em que a água está disponível, as pessoas costumam acumular, muitas vezes, em locais inapropriados, criando potenciais focos de proliferação do mosquito Aedes aegypti. Já em outras localidades, a coleta do lixo produzido pelos domicílios não é eficiente, o que faz com que os objetos descartados, no meio desse lixo, acumulem água, propiciando a reprodução do mosquito”.

Para o pesquisador, o desemprego e a violência nas favelas agravam o quadro. “O elevado índice de desemprego contribui para que um percentual maior de pessoas permaneça em seus domicílios, tornando-se alvo dos vetores do vírus chikungunya. Além do ambiente de violência existente em várias comunidades do Estado do Rio de Janeiro que dificulta o desenvolvimento do trabalho de equipes que atuam no controle do mosquito transmissor”.

Apesar de a expectativa ser de diminuição dos casos ao longo do ano, Rivaldo alerta que, com a volta do verão, os riscos de uma epidemia se mantêm altos. Projetos como o “Eliminar a dengue: desafio Brasil”, da Fiocruz, que libera mosquitos infectados com a bactéria wolbachia, inofensiva ao homem, mas que impede a transmissão dos vírus pelo Aedes, prometem ajudar nesse combate. Mas nada que substitua o dever de cada um de eliminar os possíveis focos do mosquito em casa. Ritual que inclui fechar bem as caixas d’água, deixar todos os baldes e outros recipientes virados com a boca para baixo e pneus sem água e em lugares cobertos.

Construindo um festival para as mulheres do (meu) mundo

Maria é repórter do jornal Maré de Notícias | Foto: Gabi Carrera

Assim que soube que participaria para escrever de um dos grupos de reflexão que está reunindo mulheres para discutir temas a serem abordados no Festival Mulheres do Mundo (WOW), que acontecerá pela primeira vez na América Latina aqui no Rio, em novembro, fiquei pensando o que eu tinha no meu repertório de feminismo como mulher suburbana e periférica para oferecer e somar.

Algo não que eu tivesse lido, mas que eu praticasse na minha vida, ou que pelo menos tivesse visto alguma mulher que vivesse perto de mim fazer no dia a dia que pudesse representar aquele movimento nas áreas faveladas e suburbanas da cidade.

Nesse intervalo de tempo, encontrei uma amiga que trabalha em um salão de beleza perto da minha casa. Com expediente de cinco dias por semana, ela sustenta os três filhos e o marido, desempregado. O ensino médio que não completou não a impediu de ter casa própria e carro na garagem. Com menos de 25 anos! “Papai do céu abençoou”, como ela sempre diz, apertando a mão com os dedos e só o polegar para cima.

Entre uma gargalhada e outra de alguma bobeira que uma de nós contávamos, ficava martelando sobre como falar de feminismo com ela sem ser acadêmica. Sem falar em tom de aula, de transmissão de conhecimento erudito. Estava cara a cara com o assunto principal que levaria para a reunião. Estava cheia de perguntas sem respostas. Inundada de inquietações. Já sabia que nada ou muito pouco sabia sobre feminismo, mas me deparar sem repertório pra comentar isso em linguagem coloquial com a minha parceira me deu um tapa na cara.

No dia da reunião, um círculo lindo, só mulheres. Tanto só para participar quanto trabalhando. Na apresentação que passava o microfone de mão em mão, de depoimento em depoimento, percebi que o Festival Mulheres do Mundo está sendo construído para ser plural de verdade. Heterogêneo desde a idade até a classe social. Que incrível!

Na hora da divisão dos grupos, quatro ou cinco, formados com cerca de 15 mulheres cada, com uma “mentora” e uma relatora, expus a minha angústia de fazermos sempre eventos para convertidas. Gente que já sabia de feminismo, sobre equidade de direitos e etc. Disse que precisávamos chegar lá na minha amiga avessa à literatura e a “questões” freudianas, para falar que não é “obrigação” dela ter que limpar a casa mesmo com um companheiro que não trabalha, fazendo com que ela tenha jornada tripla. Os pares de olhos atentos, mesmo sem resposta, me deram a certeza de que só descobriremos isso juntas. Ansiosa para novembro.

Tirando os óculos escuros do Pós Abolição

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Foto: Elisângela Leite

Por: Angélica Ferrarez de Almeida 

(NUMIM)

Este ano de 2018 estamos diante de um duplo desafio, refletir sobre a sociedade e a democracia no país, já que vivemos os chamados dos “130 anos do pós Abolição” e no próximo ano viveremos os “130 anos de Proclamação da República”.

Ainda hoje, a memória do cativeiro e toda a sua estrutura colonial, racista e escravocrata estão presentes no projeto de Brasil, que foi pensado pós Abolição da escravidão. Seja nas relações sociais, na arquitetura, na economia, nas entranhas do racismo, nas narrativas das gerações de descendentes de libertos e seus sucessores. Seja na constituição de caminhos para compreendermos as experiências das comunidades remanescentes de quilombo, na cultura urbana da cidade, no processo de favelização, na criminalização da cor negra, na construção de nosso complexo político ou num projeto de República frágil que só favoreceu aos grupos poderosos.

Entretanto, o pós Abolição ganha, principalmente nestes 130 anos pós 1888, um novo óculos hermenêutico, a fim de descolonizar o olhar, desconstruir certos mitos. O primeiro deles, o de que a lei Áurea foi uma bondade da princesa imperial – na verdade, a escravidão não servia mais aos interesses de grupos poderosos, havia virado um “peso econômico” – ; o segundo, mais recente:  o da democracia racial onde “todos seriam iguais” independentemente da cor da pele, mas que não se sustenta diante de qualquer dado que mostre as respeito de como vivem os descendentes dos negros e negras na sociedade brasileira. É um momento único quando a gente se pergunta: “pós Abolição para quem? ”.

É preciso refletir sobre a complexidade das relações raciais no contemporâneo e cada vez mais as sobre as relações de gênero na sociedade brasileira. Quando a gente se pergunta quem ocupa os espaços de poder na sociedade, vem outra interrogação, onde estão os descendentes do pós Abolição?

Estamos vivenciando, a partir da organização do povo negro, um movimento de ampliação dos estudos que consideram trajetórias e formas de associações da população negra, no período do chamado Pós-Abolição. Movimento que cresce, seja na cidade ou no campo, como caminho para a compreensão das estratégias assumidas diante da exclusão social, que tomou corpo com a estrutura do racismo, após o fim do sistema socioeconômico escravista.

Considerar que a sociedade brasileira do Pós-abolição resolveu todas as mazelas, injustiças e o racismo provocados pelos mais 300 anos de escravidão, é um posicionamento que cega e impede o aprofundamento e a compreensão de diferentes aspectos políticos e sociais aí implicados.

Ao mesmo tempo, é preciso considerar toda a luta da comunidade negra por se fazer presente a partir de um novo lugar de fala. É preciso ainda lutar pelo reconhecimento de que a cidadania plena implica direitos iguais para todas as pessoas e que a cor da pele não pode ser, jamais, critério para o não reconhecimento desses direitos. Enxergar a importância histórica, sociocultural e econômica do povo negro para o Brasil é fundamental para consolidarmos nossa democracia, 130 anos depois da Abolição.  

A celebração do feminino

Festival  Mulheres do Mundo, WOW,  chega ao Brasil pela primeira vez em novembro 2018

Apesar da luta incessante pela igualdade de gêneros, ainda hoje há quem acredite que as mulheres são seres inferiores aos homens e que a sua única função social se resume ao cuidado da casa e dos filhos. No mundo,  18% das pessoas acreditam nisso, e 4 em cada 10 mulheres creem que não temos os mesmos direitos reservados ao gênero masculino. Os dados, assustadores, são de uma pesquisa feita de 2017 pela Ipsos Global Divisor.

Mas temos muito a comemorar. Nos dois últimos séculos, foram inúmeros avanços: o direito ao voto, ao uso da pílula anticoncepcional; a maior inserção no mercado de trabalho; o crescimento da escolaridade; a promulgação da Lei Maria da Penha; a garantia de direitos constitucionais; o Programa Nacional de Direitos Humanos; o Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres; a Lei do Feminicídio; enfim, a desconstrução do papel até então convencionado para as mulheres na sociedade.

No entanto, a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres ainda está longe do ideal. Para entender as diferenças no mercado de trabalho, por exemplo, a PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, de 2007 – diz que a equiparação de salários só deve acontecer daqui a 87 anos, para a execução das mesmas funções. E sem falar nos afazeres domésticos e maternais, que fazem que as mulheres tenham dupla jornada – em média mais que o dobro em relação aos homens.

Quando vamos para o quesito violência, porém, a história é mais séria ainda. Segundo o Mapa da Violência de 2015, entre 1980 e 2013, mais de 106 mil mulheres morreram apenas por serem mulheres. Só entre 2003 e 2013, esse tipo de crime, chamado de feminicídio aumentou em 54%. E na maior parte das vezes, quem mata é o parceiro, ex-parceiro, o seja, o assassino é familiar a vítima.

Como se sabe, um ponto fundamental para o desenvolvimento humano e social das nações é a igualdade de gêneros. Nesse sentido, o Pacto Global das Nações Unidas (UNGC) e a ONU Mulheres têm como premissa fundamental o direito das mulheres e meninas a uma vida livre de discriminação, violência e pobreza.

Debater sobre o papel das mulheres na sociedade, celebrar suas conquistas, abrir espaço de escuta e de acolhimento é um dos objetivos do Festival Mulheres do Mundo (WOW). A primeira edição deste Festival foi em 2010, em Londres, no marco do centenário do Dia Internacional da Mulher. O evento já passou por mais de 30 países e, neste ano de 2018, terá lugar em mais 53, inclusive no Brasil, pela primeira vez.

Idealizado por Jude Kelly – importante referência feminina no mundo das artes e presidente de um dos maiores centros culturais da Europa, o  Southbank Centre(*), em Londres –, o festival visa a promover diálogos entre meninas e mulheres sobre seus potenciais e os desafios contemporâneos e será realizado pela Redes de Desenvolvimento da Maré, em parceria com o British Council,  em novembro, na Praça Mauá, no Rio de Janeiro, tendo como espaços de referência o MAR (Museu de Arte do Rio), Museu do Amanhã e a Praça Mauá.

Dois principais objetivos do Festival Mulheres do Mundo são: 

  1. celebrar as conquistas de mulheres e meninas para que expressem suas vozes no sentido de compartilhar seus sonhos, medos e lutas, por meio de várias formas de expressões artísticas e culturais, de  diálogos em diferentes formatos (debate público, rodas de conversas, troca de experiências, mentoria) numa perspectiva de visibilizar  múltiplas identidades femininas; e
  2.  fornecer um espaço seguro e aberto para a expressão criativa, em que o protagonismo feminino  seja reconhecido e celebrado,  gerando a construção de solidariedade e incentivo a mudanças de atitudes.

Serão três dias de debates, palestras, encontros, conversas, acolhimentos, apresentações culturais e artísticas nas mais diversas linguagens, além de uma feira de inovações criativas no campo da gastronomia, da tecnologia, dos ativismos, do meio ambiente, da moda,  da beleza e  da saúde. A estimativa é promover mais de 123 conversas com mais de 393 convidadas internacionais e nacionais.

(*) : Southbank Centre é um complexo de locais artísticos em Londres, Inglaterra. São três locais: o Royal Festival Hall, incluindo a Saison Poetry Library, o Queen Elizabeth Hall e o Purcell Room, juntamente com a Hayward Gallery, é o maior centro de artes da Europa. Atrai anualmente mais de seis milhões de visitantes.