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Maré, terra de índio

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O trabalho da ONG “Mães da Maré Pescando Artes” no conjunto de favelas com mais de 800 indígenas

O Conjunto de favelas da Maré, esse mesmo em que você mora, também é Terra de índio. É o que prova o Censo Maré, realizado em 2013, pela Redes da Maré e Observatório de Favelas. Segundo a pesquisa, mais de 800 moradores, entre as 16 favelas, são indígenas. A maioria, mais de 200, no Parque Maré. Para o antropólogo da UFF-Universidade Federal Fluminense, Wallace de Deus, não nos reconhecemos enquanto indígenas por que pensamos o índio como o outro.

A maior parte da população brasileira se enxerga como parda, e não como indígena: isso se deve ao fato de que ainda se pensa os “índios” como aquelas pessoas que moram em terras longínquas, na floresta, em uma imagem contrastante do “outro”, explica.  

Wallace de Deus, o antropólogo da UFF-Universidade Federal Fluminense.

Se andando pelos becos não vemos ocas ou cocares, a ONG-Organização Não Governamental, “Mães da Maré Pescando Artes”, é a presença mais forte da representação indígena na Maré. O grupo foi Fundado em 2008, pela índia Pataxó Twry (fala-se Turi), que saudosa, decidiu voltar para a tribo dela na Bahia. Mas a semente ficou. O principal objetivo do grupo hoje é “trocar ideias, resgatar a auto-estima de mulheres que queiram aprender algo novo ou simplesmente fazer terapia”, como afirma, a professora Cida Oliveira, 31 anos, moradora da Nova Holanda.

Por causa de um curso de reciclagem, as idealizadoras começaram a fazer artesanato, com instrumentos achados no lixo; uma mistura de crochê com arte indígena: apoiador de panela, com tampinha de garrafa, fuxico com retalho de tecido; bolsa feita com lacres de PETs, entre outros.

Cida conta que se integrou ao coletivo em 2010, quando elas foram convidadas para expor no “Favela Fashion Rio”, no centro da cidade. Na época aprendia com a fundadora Twry, músicas na língua pataxó;  além de princípios da cultura indígenas.

“Ela sempre ensinou pra gente a dividir as coisas. Acho que foi uma das melhores coisas que ela ensinou. Ela compartilhava tudo, até a casa dela. Quando a gente ficou sem espaço por causa da chuva um tempo, era tudo na casa dela, e ela fazia a gente viver como se a gente estivesse na nossa casa”.

Cida Oliveira, professora

Atualmente, o grupo está composto por seis integrantes além de Cida: Maria da Gloria Paulino, Maria Silvino, Juliane Martins, Sheila, Angela, e Maria José. Antes, mais encorpado, o coletivo já chegou a produzir, através de conexão da empresa “Rede Asta” e sob demanda, produtos em lojas como a Zinzane, além de parcerias com a multinacional Coca-Cola. Até o início deste ano, elas se encontravam para trabalhar e oferecer oficinas gratuitas para outras mulheres, na sede da associação da Rubens Vaz. “O problema era a chuva. Quando chovia molhava todo o nosso material e dava mofo. Até que pediram a sala e desde então, estamos sem sede”, lamenta Cida.

Enquanto Cida continua procurando um novo espaço, este em fase de negociação, e com a nova página de divulgação em produção, o “Mães da Maré” segue recebendo encomenda pelo e-mail [email protected]. Sem frequência regular, é possível ver produtos da “Mães da Maré” em feiras como a do Lavradio, na Lapa, sempre no primeiro sábado do mês, e na feira de Ipanema, na Zona Sul, todo domingo.   

Calendário de matrícula e turmas do Ensino de Jovens e Adultos – EJA

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A Fundação Roberto Marinho em parceria com Redes da Maré e o Instituto Humanize, e o apoio da Somos, abriu ? ?15 turmas para Educação de Jovens e Adultos em 7 espaços distintos no Conjunto de Favelas da Maré. Serão mais de 500 alunos que em 3 turnos terão a oportunidade de voltar a estudar do segundo segmento do Ensino Fundamental (6 º e 9 º anos) ao Ensino Médio (1º a 3º anos). A duração dos cursos variam de 12 a 18 meses e as aulas acontecerão de segunda a quinta-feira.

A matrícula é para os candidatos que fizeram a pré-inscrição.

Confira o calendário com as datas, horários e locais para efetivação das matrículas e a documentação necessária.

Confira abaixo as listas das turmas:

Aula Inaugural do CPV teve Flávia Oliveira e Átila Roque num debate sobre Racismo

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No Centro de Artes da Maré, jovens refletiram cerca de três horas sobre racismo, segurança pública e representatividade.

 

Foto: Douglas Lopes

O Centro de Artes da Maré foi palco, na noite de ontem (9/04), da aula inaugural do Curso pré-vestibular da Redes da Maré que teve como tema o “racismo estrutural na sociedade brasileira”. Com a presença da jornalista e colunista do Jornal O Globo e da Globonews, Flávia Oliveira, e do historiador e diretor da fundação FORD, Átila Roque, o evento contou com a presença de cerca de 200 alunos e ex-alunos do curso coordenado por Ernani Alcides Alexandre.

A noite começou com o depoimento dos aprovados no vestibular em 2018. “Lutem, façam o máximo que vocês puderem, porque é tão difícil pensar que aquele lugar também é nosso, que quando você consegue, você não tem palavras. A minha mensagem é ‘não desista dos sonhos de vocês’”. Contou emocionada Jenifer, estudante da Vila do João, que passou para o curso de psicologia na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), e foi intensamente aplaudida pelos presentes.

Temas como “lugar de fala”, representatividade, e segurança pública também foram abordados, com perguntas feitas pelos alunos e funcionários da Redes aos palestrantes no evento que durou cerca de três horas. Para Flávia Oliveira, os questionamentos foram “sofisticadíssimos” e pertinentes. “Vocês são agentes da transformação que estamos vivendo. Precisamos contar nossas histórias sobre as delícias de ser preto, pobre e favelado”, disse a jornalista aos olhos atentos dos alunos.

“Muito produtivo, muita coisa que eu não sabia eu aprendi, muita coisa diferente”, avaliou Pedro Vinicius, aluno que prestará o ENEM para geologia. “Queria ficar a noite inteira aqui. Mas sem perguntas, porque elas não foram bolinho não”, disse rindo, o professor Átila. “Não desistam porque vocês têm o direito de ser o que vocês quiserem ser. Vão para cima”, finalizou o historiador.

Intervenção federal-militar no Rio de Janeiro: um olhar a partir da favela

Artigo de Eliana Sousa Silva, diretora da Redes da Maré, para a revista da OAB em abril de 2018.

Clique aqui para fazer download do artigo em pdf.

Sobre quebra de sigilo e afronta ao direito à privacidade nas abordagens policiais

Sobre quebra de sigilo e afronta ao direito à privacidade nas abordagens policiais

Ultimamente tem-se recebido diversas queixas por parte dos moradores da Maré a respeito da mais nova estratégia ilegal promovida pelas forças policiais durante as abordagens: a apreensão forçosa e sem ordem judicial dos seus celulares, e a consequente análise do conteúdo e das informações presentes nos aparelhos.

Não há dúvidas quanto à inconstitucionalidade da prática em questão, já que o sigilo à comunicação e o direito à privacidade são direitos humanos fundamentais, constituindo-se como direitos individuais e coletivos (CF, artigo 5º, X e XIII). Desta forma, claramente há abuso de autoridade por parte dos policiais quando vasculham os celulares, como também crime de quebra de sigilo, o que se dá em plena consciência deles, uma vez que estão cientes da necessidade de ordem judicial para realizar tal medida. Sendo que antes de qualquer quebra de sigilo nesse sentido, a Polícia é obrigada pela lei a tentar outros caminhos na investigação, pois a medida deveria ter caráter excepcional.

A situação é bem complicada, pois se sabe que ninguém está em completo domínio de sua vontade frente ao desconforto e à coação das abordagens, e frente a isso, em muitos os casos os moradores acabam cedendo o acesso ao próprio celular.  É importante, então, que os moradores tenham conhecimento da ilegalidade de tal estratégia da Policia Militar, e busquem resistir frente a isso, questionando em toda e qualquer oportunidade se existe uma ordem judicial para tanto.

O cenário se torna ainda mais crítico quando a autoridade policial disponibiliza o material coletado para a imprensa, a fim de se criar um estereótipo que implicará na culpabilidade e no respectivo julgamento antecipado do indivíduo que ainda está sendo julgado. Isto se viu na última operação policial na Maré, no dia 22 de fevereiro de 2018, quando um jovem que teve seu celular apreendido e o conteúdo do mesmo divulgado para a imprensa.

Casos como esses, demonstram tamanha as violências e violações de direitos sofridas pelas moradoras e moradores de favelas. Estas e tantas outras práticas das forças policiais reforçam o processo de criminalização da favela e de seus moradores, bem como, reforça a concepção de que o direito, e todo pressuposto legal, estaria em suspenso nas favelas. Neste sentido, mostra-se de suma importância reforçar a percepção da Segurança Pública e acesso a justiça como direito de toda população da Maré e de todas as favelas do Rio de Janeiro.