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Um quintal de esgoto

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Moradores de Marcílio Dias sofrem com entupimento crônico

Hélio Euclides

Um “mar de esgoto” no quintal, essa é a triste situação em que se encontram os moradores de Marcílio Dias. A visão da água suja parada, com bastante lixo, é assustadora, e deixa a impressão de que não tem solução. O grande receio é que esse esgoto esteja minando por baixo das edificações – o que pode trazer risco de desabamento. Moradores antigos contam que, antes, existia um valão, que foi aterrado e ficou sem saída, sem escoamento. “É precária a situação, uma mistura de esgoto e lixo. Sem falar no grande número de ratos. Os que podem fazer algo pela gente, será que eles têm filhos? Espero que alguém olhe por nós”, desabafa Samanta Gracie, moradora de Marcílio Dias, que está grávida.

Marcílio Dias foi formada na antiga Praia das Moreninhas, entre os terrenos da Casa do Marinheiro e da Fábrica Kelson; seu processo de ocupação começou em 1948, com algumas famílias de pescadores que ergueram palafitas. De lá para cá, a favela cresceu, a praia sumiu, teve aterramento, e os espaços foram ocupados cada vez mais por habitações. Os canais, conhecidos como valões, foram exprimidos e alguns desapareceram.  A situação ainda é pior quando chove, o “mar de esgoto” já atinge as ruas próximas. “Está muito ruim, sem condição de moradia. Quando chove, enche; já ficamos oito dias alagados. No passado, a vala era aberta, mas o povo trouxe as manilhas e o esgoto foi canalizado. Não sei o que aconteceu, virou um valão, e para piorar os moradores jogam lixo”, reclama Lourdes da Silva, moradora da Rua Marcílio Dias, local que precisa urgentemente de uma nova tubulação de esgoto.

A Associação de Moradores já foi à Secretaria Municipal de Conservação e Meio Ambiente (SECONSERMA) e também à Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (CEDAE): “tanto a Prefeitura quanto o Estado, não mostram uma solução, apesar de saberem de tudo o que acontece. A CEDAE Maré fez o estudo e encaminhou para instância maior, agora aguardamos respostas”, relata Jupira dos Santos, presidente da Associação de Moradores de Marcílio Dias. Luciano Aragão, vice-presidente, está inconformado com a situação. “Todos os órgãos competentes estão informados, mas não há solução. Se pelo menos fizessem algo paliativo, para diminuir o sufoco, já era alguma coisa. O pior é que não fazem nada, e o povo fica no meio do cocô”, conclui.

A CEDAE informou que estuda a elaboração de um projeto para alterar o traçado da rede de esgoto, danificada pelas construções irregulares num trecho de 220 metros de extensão sobre o coletor – o que impossibilita sua manutenção. E não deu prazo para resolver a questão.

 

Fique ligado! Dia 25 de outubro o sinal analógico das TVs do Rio será desligado

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Famílias inscritas em programas sociais do governo têm acesso ao Kit digital de graça

No dia 25 de outubro de 2017, o sinal analógico de televisão será desligado na cidade do Rio de Janeiro e em mais 18 municípios do entorno. A programação dos canais abertos de televisão será transmitida apenas pelo sinal digital. Para continuar assistindo aos programas, todas as residências precisam ter uma antena digital e um aparelho de televisão preparado para receber o sinal.  Famílias inscritas em programas sociais do Governo Federal têm direito a receber os kits gratuitos com antena digital, conversor e controle remoto. É só acessar o site www.sejadigital.com.br/kit ou ligar gratuitamente para o número 147, com o NIS [Número de Identificação Social] em mãos e fazer o agendamento. “Os kits são entregues no local, dia e horário que as famílias escolhem quando fazem o agendamento pelo site ou pelo telefone”, afirma Vivian Bilhim, gerente regional da Seja Digital no Rio de Janeiro. “Já estamos trabalhando para que a informação sobre o desligamento do sinal analógico de TV chegue a toda população e todos possam se preparar com antecedência, pois o sinal digital já está disponível”, afirmou Vivian.

Escolas unidas pela Paz

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Mais de mil escolas no Rio realizaram atos contra a violência em diferentes regiões da cidade no último dia 17 de agosto. Os encontros descentralizados fazem parte da mobilização da comunidade escolar pela Campanha “Aqui é um lugar de Paz”, que vem sendo desenvolvida desde maio nas escolas, com o apoio da Secretaria Municipal de Educação. Espaços importantes da cidade, como o Museu de Arte do Rio (MAR), Engenhão, Parque Olímpico, Lona Cultural João Bosco (Vista Alegre), Arena Carioca Jovelina Pérola Negra (Pavuna), a Cidade das Crianças (Santa Cruz) e a Vila Olímpica da Maré se transformaram em territórios de paz para brincadeiras e jogos da garotada. A Campanha não tem data para acabar. A violência no Rio já provocou o fechamento de 381 escolas desde o início do ano, deixando 131.783 alunos sem aulas e expõe centenas de vidas ao risco de morte diariamente.  “As escolas vão aos jornais na condição de vítimas da violência, isso é verdade, mas não é toda a verdade. As escolas são polo de resistência de civilização contra a barbárie, desenvolvendo um trabalho cotidiano para disseminar uma cultura de paz”, disse o Secretário Municipal de Educação, César Benjamin, que esteve na Vila Olímpica da Maré, participando das atividades da Campanha. Rebeca Neves, de 13 anos, aluna da Rede pública municipal da Maré, espera que a realidade triste que vive esteja próxima do fim: “é triste não conseguir estudar por causa dos tiros. Eu gostaria muito de poder aprender e evoluir, mas a cidade está muito violenta. ”

Artigo: Uma Onda de Artes com Maré Potente

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Eduardo Alves

A favela da Maré, assim como o amplo, diverso e múltiplo território das periferias, é um impactante ambiente de criação, invenção e superação das condições de vida impostas pelo poder dominante. Nesse grande mar, destacam-se as intervenções artísticas com beleza e com falas que apresentam as potências existentes. A arte chega na Maré como uma onda, que faz o mar de pessoas se movimentar para ampliar a vida em todos os seus aspectos.

São comunicações públicas, com profunda humanização em todos os aspectos, impregnadas de amor e empatia, que circulam nas ruas ou pulsam nas telas dos computadores de mão (celulares) ou nos computadores de mesa. Amplia-se, assim, a aproximação de todos os corpos existentes, por meio de uma ação coletiva, que faz registrar na cidade uma significativa e atual pedagogia de potência da periferia por direitos, para garantir a vida com dignidade.

São artistas produzindo o espelho e o que queremos da vida nas várias favelas desse grande e apaixonante complexo. Música, dança, artes cênicas, artes visuais das mais variadas, saraus, teatro seguem aproximando todos os corpos existentes em um reconhecimento de sujeitos das grandes mudanças que precisamos construir no novo século.

No rastro desta perspectiva, artistas das periferias ocupam a centralidade na cidade. Isso ocorre em toda a Maré, seja no Bela Maré, no Centro de Artes, na Praça do Parque União, na Lona da Maré, na Rua Principal, na Teixeira Ribeiro, nos campos de futebol, nas diversas rodas de encontros e manifestações criativas nos vários locais desse grande complexo com mais de 140 mil habitantes. Pigmenta, em todas as ruas, além de Nova Holanda e Parque Maré – centralidades que abrigam as sedes da Redes da Maré e do Observatório de Favelas -, uma criatividade intensa, que tem a marca, a identidade e os objetivos das pessoas que fazem o território das periferias ganhar seu significado de potência. A arte circula e penetra na vida todo o tempo na comunidade. Há a arte que produz críticas sobre a realidade existente na Maré e na cidade, e alternativas para ações por mais direitos e vida digna, como ocorre com o Travessias ou com as entusiasmantes peças da Cia Marginal (companhia de teatro). Há a arte que explode na criação de culturas, com estéticas, atitudes, sinais comuns, formas de vestir, danças, sons próprios e comportamentos de várias artes que transbordam no funk, no rock, no samba e na música nordestina.

Há ainda a arte que brota daquilo que está guardado mais internamente, manifesto em expressões absolutamente livres e espontâneas, em cartazes nas ruas, escritos e desenhos diversos em telas populares. Seja como for, a produção artística que percorre toda a extensão da Maré torna-se um convite para os olhos brilharem em identificação de uma cor, um desenho, um som, que chamam a atenção de muitos. A arte ocupa papel e dimensão contundentes na vida de cada uma das pessoas. Mas, muitas vezes, passa despercebida, sem sacudir cada corpo para sua grande importância.

Esse papo sobre arte, por meio das letras, tem o grande objetivo de convidar cada pessoa para uma ação de conquistas por mais direitos na Maré. Conquistar o direito à vida, acabando com a onda de violência letal. Conquistar a dignidade na vida, com mais direitos ao transporte, à educação, a tratamentos das várias doenças e para a manutenção da saúde. Unificar essa grande multidão das favelas, parte desse imenso grupo da periferia, para conquistar uma cidade de direitos e ser reconhecido por todos e todas, na cidade, como potência – e não carência, como predomina na ideologia dominante.

A onda de artes existente na Maré, por si, já mostraria a centralidade do território e superaria os discursos de que há bandidos, coitados e carentes. Aquilo que aparece como carência para os vários olhares paralisados é produto das desigualdades existentes que colocam o lucro e os interesses privados acima da vida. Justamente o contrário do que é produzido com as artes na Maré, pois trata-se de uma grande explosão de vida, pungente, para a superação das situações atuais e para a criação de uma nova realidade, com direitos, nas favelas e em toda a cidade.

A Baía de Guanabara em debate na Maré

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Fórum Itinerante é realizado no Centro de Artes

Hélio Euclides

 “Quem seria capaz de descrever as belezas que apresenta a Baía do Rio de Janeiro, esse porto que, na opinião de um dos nossos almirantes mais instruídos, poderia conter todos os navios da Europa? ” Há 164 anos, o pensador francês Saint-Hillaire fez esse relato a respeito da Baía de Guanabara.  Um dos símbolos mais importantes da nossa cidade, desde a chegada dos portugueses, já foi descrito por muitos famosos e anônimos, desde escrivães das frotas e viajantes, até cronistas, poetas e estudiosos. Mas mesmo com tamanha importância histórica e ambiental, a Baía de hoje não tem nada a ver com aquela que os europeus avistaram. Toneladas de lixo foram despejadas, junto com bilhões de reais em projetos de “despoluição” que nunca foram concluídos.  O ex-morador da Maré, Edson Diniz, lembra que a região era formada por oito ilhas: Cabra, Catalão, Baiacu, Fundão, Pontal do França, Bom Jesus, Sapucaia e Pinheiro. “O aterro da Avenida Brasil e para a construção de habitações prejudicou o Canal do Cunha. Recordo, com carinho, da infância, quando ia tomar vacina no Centro Municipal de Saúde Américo Veloso, e depois frequentava a Praia de Ramos. Hoje esse lazer é impossível, a Baía virou um banheiro, com esgoto lançado in natura”, destaca.

Fórum Baía Viva

Dado o estado periclitante que está a Baía de Guanabara, estudiosos, representantes da sociedade civil e moradores resolveram criar um Fórum Itinerante, para mobilizar a população e também o Governo. Na Maré, no dia 27 de julho, aconteceu o 5º Fórum Itinerante, que teve como tema “Saneamento Ambiental do Complexo de Favelas da Maré e dos Rios do Canal do Cunha e Políticas para a Pesca Artesanal”, de dez que já foram realizados, na área da bacia hidrográfica da Baía de Guanabara.  Ao todo, os dez encontros reuniram cerca de 500 pessoas e 100 instituições para a elaboração de uma carta-programa, para a saúde ambiental das Baías de Guanabara e Sepetiba. “Essa carta será encaminhada aos órgãos públicos, e vamos batalhar para virar políticas públicas setoriais. O objetivo é obter o reconhecimento dos povos que vivem das baías, cerca de dez milhões de pessoas”, detalha Sérgio Ricardo, ambientalista.

“O Fórum da Maré foi um dos mais ricos em debate. Isso comprova o histórico de mobilização social da favela. Todos ficaram impressionados com o documentário “Pescadores da Maré”, que mostra um grupo de trabalhadores que busca seu sustento, e no final acaba reprimido pela Marinha. Enquanto os órgãos ambientais e a própria Marinha fazem “vista grossa” para as diversas formas de poluição da Baía, como o fundeio das embarcações (ato de ancorar), que não tem licença do IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e nem do INEA (Instituto Estadual do Ambiente) ”, expõe o ambientalista.

Ronaldo Lúcio de Souza Teixeira, da Diretoria de Serviços Norte da Comlurb, disse que só da Maré são recolhidas 150 toneladas de lixo por dia. “A coleta é feita na porta e por meio dos “laranjões”. O lixo da cidade é 40% passível de reciclagem, mas por falta de investimento só 5% são realizados”, declarou. Os participantes no evento avaliaram que a cidade necessita de uma gestão do lixo urbano, educação ambiental e a coleta seletiva nas favelas.

 Já Carlos Braz, da Diretoria de Engenharia da Cedae, relatou que houve investimento em estações de tratamento, mas faltou verbas para realizar as ligações até elas. “É preciso concluir a segunda fase, de construir as redes coletoras e extinguir algumas elevatórias. Para o tronco coletor da Zona Norte é necessário o valor de 35 milhões de reais. A novidade será um encontro que a Cedae terá com o Ministério das Cidades. Estamos preparando uma carta-consulta, para entregar ao Governo federal, com a possibilidade de financiamento de uma obra para a Maré”, revelou.