Home Blog Page 540

Maré de Notícias #34

0

 

 

 

 

 

 

 

[toggles class=”yourcustomclass”]
[toggle title=”Meu filho tem down…”]

Por Rosilene Miliotti

Programa piloto na Maré cria uma rede para facilitar o acesso ao tratamento para que os moradores com Down ganhem independência

A moradora da Nova Holanda, Francine Deodoro de Souza, mãe da pequena Gabrielle, é um exemplo a ser seguido. Desde que soube que a fi lha tinha síndrome de Down, ela lida com a situação com a maior naturalidade. “Tenho outros fi lhos sem Down e só soube que ela tinha quando nasceu. A médica me perguntou se eu havia notado algo de diferente na minha filha e eu respondi que não. Aí ela disse que a Gabrielle tinha um probleminha. Eu respondi que tudo bem”, relata.

Francine, que é diarista, acha apenas que vai ter dificuldade para voltar a trabalhar, pois imagina que não será fácil deixar Gabrielle com alguém. “Sei que ela vai me dar um pouco de trabalho”, afirma.

Uma parceria entre o Movimento Down, o Observatório de Favelas e a Redes da Maré – responsável pela pesquisa inédita sobre síndrome de Down nas comunidades locais, a partir do Censo Maré – já identificou, além de Gabrielle, outras 20 pessoas portadoras de Down na comunidade. Mas a projeção é que existam 32.

Uma das constatações da pesquisa é que, por falta de opções na Maré, as famílias precisam encaminhar os fi lhos para tratamentos e terapias em outros bairros da cidade, dificuldade que pode levar ao abandono das atividades. E assim como Francine, a maior parte das mães de crianças com Down tem medo de deixar seus filhos com outra pessoa e, por isso, não consegue voltar à rotina de trabalhar fora, por exemplo.

De posse dos dados já coletados pelo censo, os assistentes sociais da Redes vêm realizando visitas às casas dos moradores cada vez que é identificada a presença de uma pessoa com síndrome de Down. A família é encaminhada a uma equipe composta por psicólogos e assistentes sociais que fornecem informações e orientações sobre o desenvolvimento, estimulação, saúde, legislação e outras questões que envolvem a melhoria da qualidade de vida das pessoas com a síndrome.

Para a assistente social Alessandra Alves, os serviços de estimulação e a fonoaudiologia são os mais deficientes na comunidade. “Mas estamos bem servidos quando o assunto  é acesso à educação, esporte e cultura”, comemora.

Filhos criados sem restrição

O projeto de criar uma rede na Maré para as pessoas com Down é um piloto para a cidade do Rio, que pode ser adotado em outras partes do mundo. Além de identificar as famílias, é feito um acompanhamento para saber as demandas e identificar as dificuldades. Todos os meses, as mães se reúnem para discutir e falar sobre tratamento ou sobre o que desperta interesse nos filhos.

“Queremos fazer com que eles se tornem independentes. Esse é um projeto de acessibilidade e a intenção é criar um livro de recursos onde estarão incluídas todas as instituições da Maré que estão abertas a atender crianças com Down”, revela a assistente social.

Alessandra diz que aqui na Maré houve uma surpresa, pois nem todos os portadores apresentavam problemas de visão, no coração e fala. “As pessoas até brincam dizendo que a água da Maré deve fazer bem, já que todos falam, com dificuldade, mas falam, e as mães criam seus filhos sem restrições. Os filhos com e sem Down são criados da mesma forma”, observa.

[/toggle]
[toggle title=”Nosso atleta é OURO!”]

Por Victor Domingues

Após um histórico de lesões e correndo pela primeira vez com um guia com quem não havia sequer treinado junto, Felipe Gomes surpreendeu ao conquistar a medalha de ouro nos 200 metros na Paraolimpíada 2012, em Londres, no mês de setembro. Deficiente visual desde criança, o atleta, que é morador da Nova Holanda, conta que foi para os jogos com o guia que sempre o acompanha nos treinamentos e competições. Este guia, porém, chegou a Londres lesionado, com um estiramento de grau 3, e teve que voltar para o Brasil. Felipe, então, precisou correr com outros dois guias. O atleta nunca tinha treinado junto com o guia que ganhou com ele os 200 metros. “A gente só fez o aquecimento juntos. Não treinamos nada, fomos direto pra corrida”, revela.

Felipe chegou a Londres com o 5º melhor tempo do mundo nos 100 metros, modalidade em que era cotado para ganhar. Mas nos 200 metros, não era cotado nem para chegar ao pódio. Felipe conta que até então, em todas as competições deste ano, não se sentia muito seguro, pois ainda se lembrava do “trauma” dos Jogos Pan-Americanos de 2011, em Guadalajara, no México, quando teve um estiramento durante a final dos 100 metros. “Em Guadalajara, quando tudo estava caminhando para um sucesso – na eliminatória fiz 11s40, o melhor tempo; na semifinal, alcancei 11s23 e bati o recorde pan-americano –, tive essa infelicidade de me machucar na final da competição”, lembra.

Sonhada medalha paraolímpica

Felipe, que começou no atletismo em 2003, vem de um histórico de lesões. Mudou a estratégia e passou a investir mais na fase de alongamento e começou a praticar pilates. Apesar das lesões, o atleta possui uma coleção de medalhas conquistadas em eventos internacionais.

Felipe nasceu com glaucoma congênito, teve catarata e descolamento de retina aos 4 anos de idade. Ainda criança, ouviu do médico que ele não poderia pular, nem gritar e correr, pois assim fi caria cego. Perdeu a visão completamente aos 14 anos. Ele acredita que, de   qualquer maneira, perderia a visão e declara: “Hoje eu corro e sou campeão paraolímpico”. Além disso, ele é estudante de direito. Teve que trancar a faculdade para se dedicar ao esporte, mas pretende retornar aos estudos no próximo período.

Felipe sugere que os pais de deficientes coloquem seus fi lhos para praticar esporte, estudar braile e usar o computador, o que, por sinal, ele faz com desenvoltura. “Não apague o talento que seu fi lho pode ter. Vamos mostrar que ele é capaz de trabalhar, estudar, praticar esporte, viajar, namorar”. Ele conta ainda que o esporte o proporciona, além da possibilidade de subir ao pódio, a felicidade de viajar, conhecer novas culturas, pessoas e lugares diferentes.

[/toggle]
[toggle title=”Exposição reproduz a Maré dos anos 1970″]

Por Mirella Domenich

Recriar a Maré da década de 1970. Esse é o objetivo da exposição de artes plásticas “A Cor da Maré”, do pintor Chico Moreira. São 12 telas de couro pintadas com tinta acrílica, utilizando a técnica de pirografia, que reproduzem imagens do cotidiano da Maré de 40 anos  atrás. A exposição está exposta no Centro de Artes da Maré durante todo o mês de outubro, com entrada gratuita.

“Como a Maré de hoje, a Maré de 40 anos atrás também é cheia de vida, cheia de cores”, afirma Moreira. O pintor se baseou em fotos preto e branco da época para reproduzir imagens do cotidiano da região. Suas telas retratam cenas corriqueiras dos anos 1970, como a de mulheres transportando água com rola-rola (barril de vinho deitado na horizontal com pneus acoplados em suas extremidades e puxados com cabos de madeira), lençois estendidos nos varais, fachadas dos barracos e barcos usados para pesca.

Morador da Maré por 20 anos, Moreira é pintor autodidata e, atualmente, aos 54, dedica-se exclusivamente à arte, depois de se aposentar como gestor de recursos humanos. Em “A Cor da Maré”, ele pretende trazer aos que hoje ainda vivem na favela a reflexão sobre o passado, as lutas e os avanços na região. “A Maré sempre foi um lugar de oportunidades”, afirma ele, que veio com a família do Espírito Santo para a Maré quando era criança. “Meu pai veio para o Rio de Janeiro, para a Maré, em busca de dar melhores condições
de estudo para os quatro filhos”, lembra.

As cores da vida

Em suas telas, Moreira procura direcionar o olhar do observador, pintando com cores alguns elementos, e deixando outros em preto e branco. “Quero que as pessoas de hoje consigam ver o colorido do passado”, afi rma. Ao percorrer a exposição, o visitante tem a oportunidade de observar as fotos da época e entrar na alma do pintor, que retrata partes da cena geral, focando no que para ele ainda está mais vivo – e colorido- – em suas lembranças. Um exemplo é o amarelo das fachadas das casas construídas para habitação provisória. “A cor desse tipo de habitação, sempre igual, não refletia a diversidade das pessoas que por lá viviam”, afirma.

Outro destaque fica para a escolha do pintor em retratar o universo feminino da época e a presença marcante da mulher nas atividades rotineiras da Maré. “As mulheres lutavam muito. Eram elas que tinham o contato mais próximo com esse dia a dia da Maré. Elas lavavam suas roupas e também faziam serviços de lavadeira por encomenda, coletavam água, jogavam o lixo fora”, relembra.

Moreira avalia que houve mudanças positivas significativas para os moradores e as moradoras da Maré nas últimas quatro décadas. Com as telas, seu objetivo é captar a oportunidade para essas mudanças. “É fundamental que as pessoas não se esqueçam desse passado de lutas”, conclui.

[/toggle]
[toggle title=”Plano de Direitos Humanos em debate”]

Por Silvia Noronha

Moradores, trabalhadores e visitantes da Maré estão desde já convidados para o evento

A Conferência de Direitos Humanos da Maré será remarcada, com o objetivo de ampliar o debate sobre o Plano local de Direitos Humanos. O evento estava previsto para 1º de setembro, dia da operação policial que resultou na morte de dois jovens moradores, o que transformou o encontro em momento de solidariedade e mobilização em prol da apuração dos crimes.

Uma das vítimas é Fabrício de Souza Melo, de 18 anos, que portava seus documentos, foi levado com vida pela polícia primeiro para o Batalhão da Maré e depois para o Hospital, onde foi registrado já morto, como indigente, por estar estranhamente sem os documentos.  Desde então, os organizadores da conferência (Iser, Luta pela Paz, Observatório de Favelas e Redes) vêm acompanhando o caso, em conjunto com a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Ainda no dia da operação, uma senhora teve sua casa invadida pela PM e, de lá, foi furtado o dinheiro que ela juntava para uma cirurgia.

A operação acabou por reforçar a importância do Plano de Direitos Humanos da Maré, que posteriormente será levado ao governo do estado.

[/toggle]
[/toggles]

 

Maré de Notícias #33

0

 

 

 

 

 

 

 

[toggles class=”yourcustomclass”]
[toggle title=”A ponte que cai”]

Por Hélio Euclides

Depois de cinco meses da reclamação no Maré de Notícias (edição nº 28, de abril de 2012) sobre a necessidade de reforma da ponte que liga as comunidades Salsa e Merengue e Vila do João, pouco foi feito. Apenas um compensado foi instalado no local, que, evidentemente, não vem resistindo bem à chuva, sol e ao grande movimento de pedestres. Essa passagem é a única ainda de madeira na localidade. As  outras cinco já foram reformadas.

“Precisa fazer o piso de cimento, pois além de pessoas que a utilizam, ainda têm bicicletas e motos. Só faltam carros”, ironiza a moradora do Salsa e Merengue, que se identificou como Luzinete. A moradora da Vila do João, Sílvia dos Santos Carneiro, compartilha do mesmo pensamento. “Se não fizerem a base de cimento, depois de pouco tempo vai ficar do mesmo jeito”, observa.
“As pontes que atravessam os valões nos ajudam muito. Antes era muito ruim sem elas”, explica a moradora da Vila do João, conhecida por Nina.

A Associação de Moradores da Vila do João informa que as pontes foram reivindicadas junto à prefeitura, que nunca atendeu os pedidos. A instituição, então, se uniu à iniciativa privada. Espera-se a colocação de piso de concreto até o final de setembro.

[/toggle]
[toggle title=”…até quando?”]

Por Luciana Bento

Operação violenta da PM, em setembro, reforça a importância de a Maré elaborar seu próprio Plano de Direitos Humanos

A coincidência não poderia ser mais triste: no dia em que seria realizada a Conferência Livre de Direitos Humanos da Maré, no sábado, 1º de setembro, a Polícia Militar fez uma operação na favela e matou dois jovens. Com isso, a Conferência foi substituída por uma reunião, no Centro de Artes da Maré (CAM), na Nova Holanda, que discutiu estratégias de mobilização e denúncia de mais um caso de violência policial.

O camburão blindado da Polícia Militar, apelidado de “caveirão”, chegou cedo à Maré. Por  volta das 8h30 já havia troca de tiros na Nova Holanda. Segundo relatos de moradores, a ação policial desconsiderou a presença de pessoas inocentes nas ruas e uma saraivada de balas foi disparada a esmo, atingindo os dois jovens.

Um deles, Fabrício de Souza Melo, de 18 anos, estava indo para o trabalho quando foi atingido por uma bala e colocado em um camburão da Polícia Militar ainda com vida. Ele estava com todos os seus documentos no bolso, segundo relatou sua mãe, Elza de Souza. Mas Fabrício foi registrado, já morto, como indigente no Hospital Federal de Bonsucesso. A mãe, ainda chocada com o fato, foi acolhida no CAM e levada à delegacia, junto com dezenas de pessoas, para registrar queixa.

“Com este acontecimento, a construção de um Plano de Direitos Humanos da Maré ganha ainda mais importância”, ressalta a diretora da Redes de Desenvolvimento da Maré, Eliana Sousa Silva. “Temos que pensar a segurança pública a partir das necessidades dos moradores da favela, que tem que ser respeitados e protegidos como um morador de qualquer outra região da cidade”.

Roubo na casa de D. Deuzenir
Para completar, uma moradora teve sua casa invadida por policiais enquanto ela trabalhava em sua barraca na feira da Maré. A porta estava trancada e foi aberta com uma chave mestra. O cômodo que fica no segundo andar foi revirado e de lá roubados R$ 1.460 da moradora, que estava economizando para realizar uma cirurgia de catarata.

Todos os fatos ocorridos foram registrados na Delegacia de Bonsucesso e seus desdobramentos serão acompanhados por um  advogado contratado pelas entidades organizadoras da Conferência de Direitos Humanos: Instituto de Estudos da Religião (ISER), Luta Pela Paz, Redes e Observatório de Favelas. “Não podemos apenas nos indignar, é preciso reagir a estes absurdos e mostrar que a população não aceita este tipo de comportamento da Polícia, que deveria proteger os moradores”, assinala Eliana.

Nosso Plano de Direitos Humanos

A Conferência de Direitos Humanos seria o momento de revisar e finalizar o texto elaborado por moradores da comunidade durante oficinas de direitos humanos, realizadas desde maio deste ano. A ideia de construir um documento local surgiu após o processo de revisão do Plano de Direitos Humanos Estadual de 2010, realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com a participação da pesquisadora do Iser, Noelle Resende. Uma das idealizadoras do projeto na Maré, Noelle defende a produção de planos de ação para contextos específicos, mas que dialoguem com uma visão geral da questão no estado do Rio.

O plano será entregue a representantes do governo.Cerca de 200 pessoas estiveram envolvidas na construção do documento, entre elas moradores que participaram das oficinas. “Mais do que fazer um Plano de Direitos Humanos, trata-se de promover as condições para que as favelas escrevam o seu próprio plano. A possibilidade de participar da construção de suas próprias políticas públicas é um direito que deveria ser dado a todos os cidadãos, mas sabemos que não é assim que acontece”, explica Alice de Marchi, coordenadora e oficineira do projeto.

Alice esclarece que o Plano da Maré será um importante instrumento de luta. “Se a comunidade efetivamente se apropriar desse documento, ele pode servir não só para indicar o que precisa ser melhorado e servir de proposta de ação, como também ser uma forma de mostrar a capacidade de organização da população local”, ressalta.

Ela cita exemplos como o do Complexo do Alemão, onde a comunidade escreveu um Plano de Ação antes da entrada das Forças Armadas no final de 2010, e a Vila Autódromo, que apresentou à Prefeitura um Plano de Urbanização, fortalecendo a luta dos moradores para impedir que a favela seja removida em função da Copa e das Olimpíadas, como deseja a prefeitura.

[/toggle]
[toggle title=”E a ética no orçamento público?”]

Artigo escrito a quatro mãos por Luiz Mario Behnken, economista, e Talita Araújo, estudante de economia (UFRJ), do Fórum Popular do Orçamento.

Já há muito associam política, orçamento à corrupção, roubo. Mensalão, escândalo Cachoeira-Delta, privatizações etc., uma sucessão de escândalos sem fim. Em todos os casos foi apresentado o crime como um problema de natureza individual, isto é, o Brasil seria maravilhoso se os nossos governantes fossem éticos. Há ainda um pensamento mais ousado (e perigoso) de que o ideal seria acabar com os políticos, pois estes nasceram apenas para roubar o nosso dinheiro.

Sem querer aliviar nenhum corrupto ou corruptor – cadeia neles! – o problema vai muito além de um desvio de caráter. É preciso compreender que as maiores imoralidades da nossa sociedade são a desigualdade social e a concentração de renda e estas, juntamente com a corrupção e o suborno, são favorecidas pelas instituições e o sistema econômico que nos governam. Ora, não existe corrupção maior do que a política que transfere para os banqueiros a maior parte da riqueza produzida por toda a nação! Então, o quê fazer?

Conhecer, participar e lutar sempre! O Orçamento Público é o melhor instrumento para termos uma cidadania ativa. Na verdade, é na disputa orçamentária que se define como o nosso dinheiro é distribuído. O orçamento cheio de códigos e números parece muito complexo e difícil. E é assim justamente para impedir a participação popular! Desta forma, as negociações obscuras acontecem para que os governantes decidam, por exemplo, gastar em propaganda ao invés da creche ou reduzir os impostos daquele famoso  empresário que contribuiu em sua campanha.

Portanto, é nas decisões orçamentárias que o povo pode e deve saber quem paga e quem recebe o dinheiro público. É preciso exigir que os governos façam seus negócios à luz do dia,  explicando tintim por tintim – o porquê, como e para quê será feito qualquer gasto público. Assim, teremos menos corrupção e escândalos.

Transformar o orçamento num verdadeiro instrumento do povo é o desafio. Preparamos a cartilha “De Olho no Orçamento” para que todos possam participar dessa luta.

Mobilize-se para abalar os alicerces dos poderosos que fazem do orçamento um meio dos ricos ficarem mais ricos e os pobres mais pobres. Sem ética não há mudança e sem mudança não há ética!

[/toggle]
[toggle title=”Rock da MarYEAH!”]

Comunidades cedem cada vez mais espaço para o rock, contribuindo para divulgar as bandas locais

Por Victor Vianna

O rock nunca foi novidade na Maré. Desde anos 1980, o som já tocava por aqui. Isso contribuiu para a consagração do estilo na  comunidade e também serviu de influência para futuras bandas que representam hoje o movimento dentro da favela da Maré. Atualmente existem pelo menos 12 bandas em atividade e vários projetos voltados para a “tribo” do rock.

Henrique Gomes é morador da Maré, guitarrista da banda Café Frio e figura importante na divulgação do rock nas comunidades locais. Para ele, o ritmo sempre teve seu espaço. O predomínio de outros estilos, como o funk, pagode e forró, é que diminuem a visibilidade do rock, mas isso tem melhorado bastante de um ano pra cá, com a retomada dos espaços de apresentação dos grupos em vários pontos do bairro.

“O rock sempre esteve presente dentro da Maré, sempre teve público pra isso. Lembrome do começo dos anos 1990, uma banda muito presente no cenário musical da Maré era a Dartherium”, comenta Henrique. Ele acredita que grande parte do incentivo vem dos próprios moradores que curtem o som e estão sempre presentes nas apresentações.

Um dos instrumentos fundamentais na difusão do estilo e na divulgação das bandas é o Favela Rock, festival mensal organizado pela Lona Cultural Herbert Vianna,a Lona da Maré, evento que também conta com o apoio de Henrique. “No início, o festival ajudou bastante, mas não tinha muito a cara do que acontecia aqui na Maré. Foi quando a produtora da lá me convidou para ajudar na produção da festa. A partir disso fui chamando bandas daqui pra tocar e deixei o festival mais no estilo do que acontece aqui dentro”.

Além dos bares que voltaram a ceder espaço para apresentação das bandas, como o Zé Toré, no Timbau, e do Leandro, no Parque União, ressurgiu mais um point em setembro: a praça da Nova Holanda, onde, no dia 1º, rolou apresentações de rock, grafite e skate. “O evento ‘A Praça é Arte’ significou muito para nós porque os moradores mais jovens puderam se apropriar novamente da praça. Além disso, o skate voltou para cá e localizamos novos artistas na Maré”, ressalta Letícia Sousa, uma das organizadoras.

Há também o projeto Metanóia, onde a galera se encontra pra discutir religião e tocar um rock’n roll ao final dos encontros, entre outros projetos.

Bandas também tocam fora da Maré

Quem tem aproveitado bastante esse período é a banda Algoz, que está em atividade há 10 anos. “Na nossa adolescência tivemos muita influência de pessoas mais velhas que ouviam rock. Isso acabou ajudando na formação da nossa personalidade musical. A vontade de tocar um instrumento veio depois de conhecer o rock; então acabamos nos aproximando para tocar juntos”, conta o guitarrista Diogo Nascimento.

Embora o cenário seja promissor, o grupo conta que, durante esses 10 anos, o número de bandas diminuiu bastante. O pouco retorno financeiro dificulta e faz com que muitos músicos tenham outros trabalhos, mas a animação do público sempre compensa. “Tocamos em vários lugares do município do Rio e fora. Sempre há lugares novos nos convidando. A resposta tem sido muito positiva, mas tocar aqui dentro da Maré é sempre muito mais explosivo, pois o público conhece muito bem nossas músicas, canta junto e vivencia nosso dia a dia, o que acaba sendo muito gratificante para nós”, ressalta Diogo.

Montar uma banda não é fácil, torná-la conhecida pode parecer impossível, mas a Maré tem feito um bom trabalho. Luta e persistência são características importantes do mundo do rock, porque se fosse fácil não seria rock’n roll.

[/toggle]
[/toggles]

 

Maré de Notícias #32

0

 

 

 

 

 

 

 

 

[toggles class=”yourcustomclass”]
[toggle title=”Reciclando renda”]

Por Hélio Euclides

Projeto incentiva morador a reaproveitar materiais, que são transformados em pesos de porta e bandeiras de time de futebol

O Projeto Arte e Areia & Cia, na Vila do Pinheiro, tem como lema a valorização do trabalho da comunidade, por meio da reciclagem. Na Via C/12, funciona o pólo artesanal Maré, onde diversos moradores aproveitam materiais para a criação de bandeiras de clubes de futebol e pesos de porta em formato de cobra e de boneco. Além de incentivar a reciclagem, o projeto permite a complementação da renda dos moradores.

Tudo começou quando o casal Eduardo e Cida Fernandes, coordenadores do projeto, veio para o Rio de Janeiro para entrega de roteiro de novela e minissérie para uma rede de televisão. Como tinham que esperar a resposta, conversaram com um taxista que os trouxe até a Maré, bairro que nem estava nos planos dos dois. “Foi de paraquedas. Até pensávamos em iniciar um pólo na cidade, mas era na Mangueira”, comenta Eduardo.

Isso foi no ano passado, e o casal deu início aos preparativos até que no último dia 27 de julho ocorreu a inauguração o cial, com 35 trabalhadores parceiros.

Todos passam por um curso, que também ensina a gerir o negócio, para quando os coordenadores deixarem o espaço. O pólo Maré é o 18º do projeto e o primeiro do Rio. Os demais funcionam em São Paulo, vendendo os bonequinhos de peso de porta. “Costumo abrir e deixar que a comunidade que gerindo, mas compro o material concluído”, conta Eduardo. Segundo ele, o trabalho deu tão certo entre os cariocas, que um segundo pólo já vai surgir na Rocinha. “Estamos abertos para novas pessoas. O importante é gostar, e não perder a coragem”, relata Cida.

Bonecos vendidos em lojas e bazares

O carro-chefe do projeto são os bonequinhos. São 55 personagens, desenvolvidos conforme a época do ano. No Natal, não pode faltar o papai Noel. Para o mês de agosto, estava previsto o lançamento do boneco do Neymar. Ao preço de R$ 1,99, são produzidas 600 unidades por dia, atualmente vendidas para as redes Fama e Amigão e para pequenos lojistas da comunidade. “Os Reciclando renda!” produtos são feitos com a reciclagem de bolsas, plásticos, pet, tampas de garrafas, roupas velhas, retalhos e serragens. Além disso, levam ainda areia, única matéria-prima não reciclada. Para os olhos dos bonecos, o material reutilizado é a garrafa pet; já as tranças são feitas de qualquer tipo de pano.

“Já estou aqui há nove meses e estou bem satisfeita. Se não tivesse aqui estava desempregada. O dinheiro que ganho ajuda a sustentar a casa”, a rma a aluna e moradora do Salsa, Valquiria Marques, que tem seis lhos. O grupo conta com pessoas de todas as idades, inclusive mulheres aposentadas que desejam melhorar a renda mensal.

A monitora do Programa de Integração Cidadã, da Vila do João, Ailza Victor, preparou uma aula campo e levou seus 15 alunos ao pólo. “Eu já trabalho com material reciclado, e quando vi uma aluna com uma boneca de areia, resolvi visitar o projeto. Achei muito legal o local e vimos pessoas acolhedoras, que nos mostraram como tudo é feito. Foi uma sementinha que espalhou”, conclui.

[/toggle]
[toggle title=”Aumenta que isso aí é da Maré”]

A Maré não só respira música para todos os lados, como também produz música de qualidade.  Aqui no bairro nem tudo termina em samba, porque a diversidade é uma característica local. Além de grupos de pagode, têm bandas de forró, funk, MPB, rock. Por falar em rock, este é um estilo que muitos moradores curtem, tanto que o evento mais concorrido da Lona Cultural da Maré costuma ser o Favela Rock, que acontece uma vez por mês. Entre as bandas locais deste gênero que já se tornaram conhecidas na cidade estão D´Loks, Algoz, Café Frio e Canto Cego. De um ano para cá, mais espaços de apresentação para os músicos locais, principalmente roqueiros, vêm surgindo nas comunidades da Maré, como os bares do Zé Toré, no Timbau, e o do Leandro, no Parque União.

Dia 25 de agosto, a Praça da Nova Holanda promete entrar para este roteiro musical, com um primeiro evento que apresentará covers de Barão Vermelho, Legião Urbana e Charlie Brown. Entre as bandas já con rmadas está a D´Loks, que apresentamos a seguir.

O grupo se identifica com o rock alternativo. Já na sua terceira formação, a banda é composta por quatros integrantes: Jhony (bateria e vocal), Fabio Loks (vocal), Dásio (guitarra) e Gustavo (baixo). Atualmente, eles trabalham na gravação do primeiro EP e na gravação do clipe que será disponibilizado em suas redes sociais.

História da banda

A banda D’Loks tem como principal objetivo levar sua mensagem para fora das fronteiras mercadológicas. Suas letras abordam temas e/ou sentimentos comuns do cotidiano, como frustração, amor, ódio, tédio etc. A banda começou em 2005, quando Dásio e Jhony conheceram Fabio, e os três se identificaram tanto na bagagem de bandas antigas de cada um quanto nas in uências. Daí resolveram começar uma banda que pudesse produzir um rock atual, fazendo uma química entre sinceridade e atitude.

Com uma guitarra nervosa, bateria e backing vocal rasgada e baixo alucinante, a D’Loks tem um mix de in uências que aborda uma grande parte do rock, que vai desde bandas nacionais como Cazuza, Barão Vermelho, Legião Urbana, Detonautas, e outras mais pesadas como Angra, O cina G3, e as internacionais Audioslave, Rage Against The Machine, Soundgarden, entre outras, até o cenário Heavy Metal, como Ozzy e Dream Theater.

Processo de criação das letras

Inicialmente as letras são compostas por Dásio e posteriormente trabalhadas pelos demais integrantes. Segundo Dásio, não existe uma receita para composição musical. “A melhor forma de se fazer uma letra honesta é a verdade; me baseio em conversas, na minha vida e na dos outros integrantes da banda. Algumas letras vêm de comentários que escuto, às vezes tristes, dramáticos, melancólicos, outros felizes e motivadores”.

O grupo já se apresentou em diversos festivais, realizou shows cover, autorais e abriu shows para as bandas Moptop, Raimundos, Luxúria, Dr. Silvana, entre outros.

Na Maré

No cenário da música da Maré, a banda é bastante conhecida, e já se apresentou na Lona Cultural Herbert Vianna (a Lona da Maré), no Museu da Maré e nos bares do Zé Toré e do Leandro.

[/toggle]
[toggle title=”Moradora inspira diretor de teatro”]

Por Silvana Bahia

Teatro em casa. Essa é a proposta do novo projeto, intitulado Home Theater, dirigido por Marcus Faustini, criador e diretor da Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu, da Escola Livre de Teatro de Santa Cruz e da Agência de Redes para Juventude. Três mulheres, uma de cada lugar da cidade – Maré e Pavuna (Zona Norte), e Jardim Botânico (Zona Sul) – foram escolhidas, neste primeiro momento, para terem suas vidas interpretadas pela atriz Regiane Alves dentro da casa delas para um público de 20 pessoas.

Sandra Tomé, moradora da Maré, conta que  ficou muito emocionada ao receber o convite. “A Eliana Sousa Silva (diretora da Redes) me indicou para o Faustini. Ele disse que precisava de uma mulher com uma história legal; me senti honrada com o convite. Sou moradora da Maré, nascida e criada aqui, sou da época das pala tas. Na adolescência, as coisas eram muito difíceis. As pessoas da minha geração que conseguiam fazer o ensino médio era como se chegassem à faculdade. Concluir o ensino médio já era uma vitória”.

Aos 36 anos, Sandra voltou a estudar. Terminou o ensino médio e se matriculou no pré-vestibular que tinha sido aberto na Maré. Durante três anos tentou ingressar na universidade para cursar Serviço Social, até que conquistou a vaga. “Determinei que caria quatro anos na faculdade. Sou a primeira pessoa da minha família a se formar numa universidade. Depois de formada, trabalhei na Redes da Maré. Não entrei trabalhando na minha área, mas esse aprendizado foi fundamental. Só depois de um tempo, quando surgiu uma vaga, consegui trabalhar na minha área, e lá que por dois anos e meio”, comenta Sandra, que atualmente trabalha no Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibse) como assistente social.

A história chamou a atenção de Faustini. O projeto ainda não tem data certa para acontecer, mas tudo indica que será no mês de setembro. O laboratório com a atriz Regiane Alves já começou. Ela esteve na casa de Sandra para conhecê-la e ouvir as histórias da boca de quem as vivenciou.

[/toggle]
[toggle title=”Mais vazamento de esgoto na Maré”]

Saneamento adequado é uma das mais frequentes reivindicações dos leitores, que reclamam – com razão – especialmente do acúmulo de lixo nas ruas e de vazamentos de esgoto. Desta vez, foram os moradores da Rua B, na Nova Holanda, que entraram em contato com a Redação. Luana Conceição dos Santos (de vestido preto) e Mary Anjo (de bermuda) dizem que o vazamento no quarteirão entre as ruas do Canal e a Bittencourt Sampaio ocorre há cerca de sete meses e, desde então, só se agrava.

“Isso acontece justo na rua que tem mais criança. Várias crianças aparecem com o pé estourado de ferida”, a rma Luana. Mary, por sua vez, tratou de colocar cimento na entrada de sua casa, formando uma “ilha” de proteção.

O problema se repete nas ruas paralelas. Na Rua D, os moradores Paulo Sergio Rangel e Jandira Santos de Araújo convivem com o problema há cerca de três anos. Quando chove, ca ainda pior. Como o esgoto parece minar por baixo da rua, o local não fica seco nunca. A Rua das Maravilhas, ao lado, ganhou calçamento alto feito pelos próprios moradores. A elevação da rua é a saída que muitos encontram para fugir do convívio direto com o esgoto.

A Cedae Maré já esteve nessas ruas, mas não conseguiu resolver os problemas.

[/toggle]
[/toggles]

 

Maré de Notícias #31

0

 

 

 

 

 

 

 

[toggles class=”yourcustomclass”]
[toggle title=”Que saúde!”]

Integrantes do projeto A Maré que Queremos discutem melhorias efetivas com representantes da Secretaria Municipal de Saúde

Por Hélio Euclides

Em fins de dezembro de 2009, a Secretaria Municipal de Saúde e  Defesa Civil anunciou a implantação de cinco clínicas da família na Maré até o final de 2012 (ver edição n° 2 do Maré de Notícias). Entretanto, até o momento apenas uma unidade foi instalada, a Augusto Boal, no prédio do antigo Sesi, no Timbau. Para este ano, a prefeitura prevê inaugurar a segunda clínica da família do bairro, que incorporará as equipes que trabalham no postinho do Ciep Ministro Gustavo Capanema, da Vila do Pinheiro.

O postinho enfrenta problemas de manutenção predial, que geram goteiras, entre outros males. “Estamos no aguardo da unidade nova, pois precisamos ampliar os trabalhos. Hoje não oferecemos vacinação, por exemplo. Já escolhemos até o nome da clínica: Agostinho Neto, líder da  independência de Angola. Uma homenagem aos moradores angolanos”, conta a gerente do posto, Vera Quintela. Entre as novidades prometidas  estão equipamentos de RX e de ultrassonografia.

A falta de estrutura dos postinhos, que funcionam em salas emprestadas pelos Cieps, se repete na Maré. A precariedade explica, em parte, porque  a quantidade de equipamentos públicos não garante a qualidade do serviço oferecido ao cidadão. Essas unidades foram instaladas em 1996, como  solução provisória para a saúde ambulatorial na Maré. O improviso foi sendo mantido ano após ano, sem a devida manutenção e sem a necessária ampliação, que levasse em consideração o crescimento da população do bairro. Passados 16 anos, os postinhos não agradam nem a Secretaria de  Saúde nem a de Educação.

“Já foram descartados os postinhos do Operário Vicente Mariano e o Nova Holanda. A ideia é devolver o espaço dos mini postos para a educação.  Hoje existe uma cartilha de serviço que os postinhos não conseguem cumprir, até pelo espaço físico, que é precário”, explica o subsecretário  Municipal de Atenção Primária, Vigilância e Promoção de Saúde, Daniel Soranz.

Em junho e julho, Daniel participou de duas reuniões com integrantes do projeto A Maré que Queremos, no Centro de Artes da Maré (CAM), na  Nova Holanda. Este projeto, coordenado pela Redes, reúne as associações de moradores das 16 comunidades da Maré e instituições locais, em  torno de melhorias estruturantes que promovam a qualidade de vida local. O diálogo com a prefeitura teve início em maio passado, quando as  propostas dos líderes da Maré foram formalmente apresentadas ao poder público municipal, dando início a uma série de conversas com representantes de várias secretarias.

“Essas reuniões marcaram a necessidade de, no futuro, se criar mais duas novas clínicas da família, uma na Avenida Brigadeiro Trompowsky, na  antiga garagem do Ministério da Saúde, e outra na Avenida Brasil, no posto de gasolina desativado (na altura da passarela 9)”, reconheceu o coordenador de saúde da Área Programática 3.1, Hugo Fagundes, sem falar em datas.

Na Praia de Ramos, houve também o fechamento do postinho do Ciep 14 de Julho. O atendimento na comunidade passou a ser todo feito no Centro  de Saúde Américo Veloso. “O novo espaço está em obra, mas acredito que comporte, com salas em dois andares. O antigo posto no Ciep era  pequeno, no entanto espero que lá vire uma mini creche”, contou o presidente da Associação de Moradores, Cristiano Reis.

Para o conselheiro municipal de saúde, Gilberto Souto, para conquistar avanços na área, as lideranças da Maré devem se aproximar também deste  coletivo. “O conselho é formado por gestores, funcionários e usuários da saúde. Ele é uma conquista da sociedade, e tem que ter a participação da  organização. A Maré precisa estar inserida”, explicou. O Conselho se reúne toda terceira quarta-feira de cada mês, na Rua São Godofredo, número  45, na Penha.

Avanços lentos e manutenção dos improvisos 

Para somar ao trabalho do Posto de Saúde Hélio Smidt, em junho entrou em funcionamento o do Parque União, já considerado um improviso pela própria prefeitura. “O PS do Parque União é improvisado, por ter escada. Os dois postos não dão conta. A solução definitiva será a clínica da  família”, lembrou Daniel, sem citar data de quando isso pode acontecer.

Uma boa notícia foi o resultado obtido com a vacinação. Há três anos que não se tinha um número tão positivo. O diálogo entre os presidentes e os  responsáveis pela saúde resultou nesse crescimento de qualidade. “São poucos locais que se colocam os problemas com tanta clareza, esse fórum  é super necessário”, ressaltou Hugo.

Na saúde, a prevenção é sempre o melhor remédio. De acordo com Hugo, a clínica da família já faz parte de um plano estruturante para a Maré. Segundo a gerente da Clínica da Família Augusto Boal, Catarina Loivos, a unidade oferece uma série de atividades voltadas para a qualidade de  ida  da população local. “Trabalhamos com a prevenção nos projetos Academia Carioca de Saúde, que têm 540 alunos matriculados na Maré, com  grupo de diabéticos e hipertensos, planejamento familiar, tabagismo. Temos uma horta medicinal e outra comunitária, terapia e em breve teremos grupo de adolescentes”, contou Catarina. O projeto Academia Carioca desenvolve atividade física com foco na promoção da saúde.

Contudo, ainda há reclamações do trabalho da clínica. “O resultado dos exames ainda demora. Não é só o prédio, precisamos de estrutura”,  criticou o presidente da Associação de Moradores do Morro do Timbau, Osmar Paiva Camelo. O subsecretário garantiu em breve uma solução.

Daniel entende que a questão da saúde envolve muito mais do que atendimento médico e atividades físicas. “Só há saúde se existir saneamento  básico, e dessa forma monitoramos os espaços. Mas hoje o maior problema é o hábito de vida, que causa hipertensão e diabetes”, afirmou. Ele  acredita que a saúde da família é o ideal, com os médicos conhecendo a população. “É uma relação próxima, não é uma UPA (Unidade de Pronto  Atendimento) que chuta e pronto.  Ao conhecer o paciente, se tem o melhor desempenho do tratamento”, concluiu.

[/toggle]
[toggle title=”Favela na Cúpula dos Povos”]

Por Silvana Bahia

As favelas cariocas também foram palco de discussões dos temas abordados na Rio+20. Na Maré e no Complexo do Alemão, em dois dias, foram realizadas atividades autogestionadas da Cúpula dos Povos com o tema: “A Favela na agenda dos Direitos Sociais e Ambientais”. Os encontros,  organizados pelo Observatório de Favelas e instituições parceiras, reuniram pessoas de dentro e de fora das comunidades para discutir assuntos  abordados na conferência oficial, trocar experiências e propor estratégias para garantir direitos sociais e ambientais nos espaços populares.

Dia 16 de junho, no Galpão Bela Maré, teve uma mesa formada pelos representantes das organizações que atuam em favelas do entorno da Av.  Brasil: Jorge Luis Barbosa, do Observatório de Favelas; Alan Brum, do Instituto Raízes em Movimento; Edson Gomes, do Verdejar Socioambiental; e Eliana Sousa e Silva, da Redes da Maré. O grupo produziu um documento propositivo que foi apresentado na Plenária de convergência no eixo 1: “Direitos, por justiça social e ambiental”, na Cúpula dos Povos. O texto pontuou, entre outras questões, o direito à cidade em sua plenitude, com ênfase no direito à moradia.

No evento da Maré, moradores da Vila Autódromo, na Zona Oeste, que estão resistindo à tentativa de remoção para a construção de um Parque  Olímpico, também falaram sobre a incidência da Rio+20 nos espaços populares. Jane Nascimento, diretora social da Vila Autódromo, acredita que a  conferência não traz mudanças diretamente positivas, porém é uma oportunidade para expressar opiniões. “A mudança nós é que vamos  fazer, aproveitando a Rio+20 para colocar para fora o nosso direito de voz”, ressalta a diretora que vive há mais de 20 anos na Vila Autódromo.

Alan Brum, do Instituto Raízes em Movimento, do Alemão, disse que o momento atual pode ser uma ocasião de visibilizar as reivindicações das favelas. Eliana Sousa Silva, coordenadora geral da Redes, apresentou o projeto A Maré que Queremos, que reúne instituições locais e as 16 associações de moradores em torno de um projeto estruturante que melhore a qualidade de vida nas comunidades da Maré.

Outros grupos estiveram presentes, como o Coletivo Entre Sem Bater, que exibiu um vídeo com moradores do morro da Providência, que terão  suas casas demolidas pela Secretaria Municipal de Habitação para de um debate entre Luciana Meireles, da Retalhos Cariocas, Regina Tchelly, do  Favela Orgânica, e Robson Borges, da Cooperativa Eu Quero Liberdade. Todos atuam dentro e fora de favelas cariocas com iniciativas que têm o desenvolvimento sustentável como eixo das ações.

“Hoje todo mundo é eco”

Na continuação das atividades da Cúpula dos Povos nas favelas, em 19 de junho, foi a vez de o Complexo do Alemão reunir ativistas, moradores e  organizações da sociedade civil em torno do tema: “A favela como novo modelo de sociedade sustentável dentro da cidade insustentável”. Foram  apresentadas experiências desenvolvidas nas favelas como estratégias para o desenvolvimento local sustentável.

Rafael Carvalho, do Verdejar Socioambiental, falou sobre o descaso com a Serra da Misericórdia, que corta 27 bairros da Zona Norte do Rio, e que  a dimensão em relação à proteção ambiental devia ser mais efetiva e participativa. Por conta disso, em 2006, foi criado um comitê gestor de  desenvolvimento local da Serra da Misericórdia, com o objetivo de dialogar com o poder público sobre as questões ligadas ao desenvolvimento da  Serra da Misericórdia e das comunidades do entorno do maciço.

“A ideia é trazer todos os parceiros que possam contribuir de alguma forma para a construção de um plano de desenvolvimento sustentável  fetivo do Complexo do Alemão. Para isso é fundamental que a sociedade civil participe desse processo. Em 2001 foi decretado que a Serra da  Misericórdia é uma Área de Proteção Ambiental e Recuperação Urbana. Depois, em 2010, foi nomeada como Parque Urbano da Serra da  Misericórdia. Só que a ‘proteção’ nunca saiu do papel”, explicou Rafael Carvalho.

A Cooper Liberdade, que organizou a mostra Eco Periferia, também no Alemão, por meio de seu coordenador Robson Borges, apresentou as ações  de coleta seletiva e o reaproveitamento do óleo de cozinha, que depois é transformado em material de limpeza. A iniciativa existe desde 2005,  tendo sido formalizada em 2008 como cooperativa de reciclagem. Um de seus objetivos é buscar alternativas de inclusão de egressos do sistema  prisional na sociedade, além de usar a educação ambiental como ferramenta para sensibilizar, informar e mobilizar os moradores para a destinação correta de resíduos.

“Hoje todo mundo é eco, virou moda. Vai ser como uma onda: vai passar e aquele que não tiver amor não vai continuar lutando. Muitos aproveitam esse momento para capitalizar. O trabalho é importante, podemos transformar essa comunidade em uma comunidade sustentável de fato”, afirmou Robson Borges.

Pautar assuntos como o desenvolvimento sustentável nas favelas é uma forma de trazer para estes territórios as discussões da conferência oficial, como ponderou Melisanda Trentin, do Núcleo de Justiça Ambiental da Fase. “A Cúpula dos Povos é uma grande chance, não só para as favelas, mas também para outros grupos que estão fora desse eixo do discurso oficial que está colocado pela Rio+20. É o momento para trazer todo o trabalho que vem sendo feito há anos sobre o lugar da favela, sobre as soluções criativas que ela apresenta”, concluiu Melisanda.

[/toggle]
[toggle title=”Um apelo colorido”]

Alunos da Vila do Pinheiro fazem manifestação bem humorada pela correta destinação para o lixo

Por Jéssica Oliveira

A Vila do Pinheiro amanheceu diferente na última sexta-feira de junho, 29. As crianças da Ciep Ministro Gustavo Capanema saíram das salas de aula e tomaram a fachada da escola. A mobilização que uniu escola, agentes de limpeza e moradores da Vila do Pinheiro teve como objetivo conscientizar a todos para a importância do armazenamento correto do lixo e de sua reciclagem.

“Um dos grandes problemas da Maré é o lixo. Os moradores alegam que não têm local para jogar, mas embora a coleta seja diária e regular, eles ainda jogam em qualquer lugar”, afirma a diretora do Ciep Capanema, Carmem Lucia Ferreira.

Na Vila do Pinheiro, como em muitas outras comunidades da Maré, o mini-caminhão de lixo passa pelas ruas principais e mais largas, mas não pelas vielas. Dessa forma, moradores que não dispõem do serviço da Comlurb em sua porta nem sempre se preocupam em colaborar para que o  lixo seja armazenado de maneira a prevenir mau cheiro, doenças e infestações. “A Comlurb passa às 7h da manhã. Assim que ela recolhe o lixo, os  moradores jogam de novo”, observa Jaquelina Barbalho, mãe da aluna Daniela Barbalho. Com isso, a sujeira vai se acumulando até o dia seguinte, quando a situação se repete. Resultado: o local está sempre repleto de sacos de lixo. Daniela também opina: “Ao invés de ser cidade maravilhosa, o  Rio vira ‘cidade cheia de lixo’”. Jaquelina, que faz parte do Projeto de Alfabetização de Jovens e Adultos do Ciep, conta: “Eu separo o lixo. Facilita  a coleta e a reciclagem”.

Música, tinta, ação!

A mobilização foi batizada de “Atuação Transforma”, uma alusão à ideia de que “a tua ação pode fazer a diferença”. Esta conscientização, como  explica a diretora Carmem, foi necessária devido ao lixo jogado na frente da escola. “O muro estava tomado por lixo. Nossa escola está com  infestação de moscas, mau cheiro e entupimento”, pontua, acrescentando a importância da ação: “O importante é que as crianças levem essa conscientização para suas casas”.

Com a participação do grupo de pagode Só Limpeza, da Comlurb, e do “Super Gari”, os alunos exibiram cartazes, decoraram o muro recém- pintado da escola e cantaram músicas sobre o tema reciclagem e consciência ambiental, junto ao professor de música Guilherme Sá.

[/toggle]
[toggle title=”Joga fora no livro”]

Projeto pioneiro na Vila do Pinheiro incentiva a leitura por meio da troca de material reciclado por livros

Por Silvana Bahia

O que fazer com latinhas de refrigerante, sacolas plásticas, óleo de cozinha usado e garrafas pets? Existem diversos destinos para esses materiais  depois de usados, mas na Maré, na Vila do Pinheiro, os recicláveis podem ser trocados por livros na Livraria Ecológica. Inaugurada em novembro  e 2011, em oito meses de funcionamento, a livraria já distribuiu mais de 90 mil livros.

Aberta de segunda a sexta, de 9h às 17h, a livraria caiu no gosto dos moradores da Maré e de pessoas de diferentes lugares da cidade, segundo Demésio Batista, idealizador e coordenador do projeto. “Vem gente de toda parte da Maré, mas tem muita gente de fora também. Do Parque União,  Salsa e Merengue, Nova Holanda, Bonsucesso, Olaria, Ramos. Recentemente teve um rapaz que viu o nosso blog e veio trocar livros. Ele é professor de arquitetura e mora na Zona Sul, trouxe as latinhas e saiu daqui feliz da vida”, conta Demésio, que há 15 anos monta bibliotecas em  espaços populares.

A ideia de montar uma livraria surgiu do trabalho no projeto Fábrica de Bibliotecas, que teve início no Grajaú. As bibliotecas eram montadas, mas não tinham manutenção adequada. “Montamos bibliotecas em muitos lugares, mas uma vez abrimos uma em Vila Isabel e três meses depois tinha  dias que apenas duas pessoas apareciam. Durante três meses só 18 pessoas foram lá. Percebemos que só abrir a biblioteca por abrir não era legal”,  explica Demésio.

Incentivo à leitura

Incentivar a leitura foi o objetivo principal para a construção da Livraria Ecológica. Por isso, inicialmente, a proposta é fazer com que as pessoas se aproximem dos livros. “O projeto tem a meta de formar leitores primeiro e depois montar a biblioteca. Aqui, futuramente, vai ser uma biblioteca, onde as pessoas poderão ficar para ler os livros ou levá-los. Nós pensamos, ‘se as pessoas não vão à biblioteca, a biblioteca vai até as  pessoas’”, afirma o coordenador.

Os materiais recicláveis, após trocados pelos livros, têm destino certo. As latinhas são vendidas e o dinheiro é usado para abastecer o carro que  busca doações em qualquer parte do Rio de Janeiro. As garrafas pets e as sacolas plásticas são doadas para uma instituição na Nova Brasília, no  Alemão, que as transforma em instrumento musical e móveis, estimulando assim o trabalho em rede.

A Livraria Ecológica também promove feiras de livros nas escolas da prefeitura por meio da parceria com o Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável (Cieds Bairro Educador). Um dos objetivos da livraria é se tornar aos poucos itinerante, para alcançar  um número cada vez maior de pessoas.

A primeira cliente da livraria foi dona Marli Faria, moradora da Vila do Pinheiro desde que a favela existe. Trabalhou durante 10 anos alfabetizando alunos através de um projeto promovido pela igreja católica. “Sou professora e sempre gostei muito de ler. Assim que abriu,  comecei a frequentar a livraria. Acho uma iniciativa ótima, principalmente para as crianças que abraçaram o projeto”, comenta dona Marli, que já  trocou mais de 20 livros.

Crianças e adolescentes adoram

O público que frequenta a livraria é de todas as idades mas, sem dúvida, as crianças e os adolescentes são os principais frequentadores. Na hora da  saída das escolas na Maré, a livraria fica lotada. Demésio acredita que a troca estimula e valoriza o contato com os livros. “Se as pessoas entrassem  aqui e levassem o livro sem trocar nada, não daria certo, porque elas não teriam aquele prazer de comprar o livro. Por ser uma troca, as pessoas  dão mais valor. É como se o material reciclável fosse uma moeda. Tem criança que chega aqui com a bolsa cheia de latinha e troca tudo por  livros”, conta.

Sempre bastante frequentada por jovens, assim que foi inaugurada, dois adolescentes, em especial, chamaram a atenção de Demésio pela quantidade de livros que trocavam. O que ele veio a descobrir depois é que os dois estavam montando uma pequena biblioteca infantil em casa,  que é aberta depois da escola, onde eles se reúnem com outros amigos para rodas de leitura.

Patrícia Valéria Guimarães, professora em duas escolas na Maré, considera a iniciativa maravilhosa, que contribui de forma decisiva para a formação dos jovens. “Eles correm atrás das latinhas para trocarem por livros. Inclusive os pais já comentaram que estão muito felizes porque as crianças estão lendo mais”, comenta a professora, que acredita que quanto mais doações a livraria receber melhor será para quem a frequenta.

Rosinaldo Sales, morador da Maré há mais de 40 anos, descobriu a livraria andando pela favela. Estudante do curso de Direito, disse que a Livraria Ecológica é essencial para seus estudos. “Têm livros aqui que custariam de R$ 80 a 100 nas livrarias e aqui eu consigo trocar por uma pet”, entusiasma-se o estudante. A Livraria Ecológica fica na Avenida canal 1, nº 85 – Vila do Pinheiro, e funciona de e 2a a 6a das 9h às 17h

livrariaecologicadobrasil.blogspot.com.br

Para doar livros fale com o Demésio
Tels: 3868-3342 / 9939-5332
[email protected]

[/toggle]
[/toggles]

 

Maré de Notícias #30

0

 

 

 

 

 

 

 

[toggles class=”yourcustomclass”]
[toggle title=”A gente quer… Área de Lazer, projetos e moradia”]

Por Silvia Noronha

A comunidade de Marcílio Dias, que teve início com a construção de barracos sobre palafitas erguidos por pescadores em 1948, viveu dias agitados em maio. As famílias de Mandacaru tiveram de sair e seus barracos foram imediatamente destruídos pela prefeitura. Os moradores foram reassentados em um conjunto habitacional com apartamentos de dois quartos que passam a ser de propriedade deles, porém situados em Campo Grande, Zona Oeste da cidade.

As famílias esperavam por este momento desde fevereiro de 2010, quando a Secretaria Municipal de Habitação marcou casa por casa com as suas iniciais SMH. Na época, o Maré de Notícias (Ed. nº 4, de março de 2010) esteve no local e a reclamação era a falta de diálogo com a prefeitura. Os moradores queriam sair, devido à total falta de infraestrutura, mas não esperavam ir para tão longe. O Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Sustentável do Rio de Janeiro recomenda que as remoções sigam alguns parâmetros, entre eles que o reassentamento seja feito em áreas próximas, o que não foi respeitado.

Os comerciantes, por sua vez, pelo menos até fins de maio, não haviam recebido qualquer indenização. Segundo a prefeitura, as ruas desocupadas servirão para dar passagem para o Mercado São Sebastião.

Boas novas para Marcílio

Mas Marcílio Dias também vive boas novas, embora parte delas ainda esteja no campo da “promessa”, conforme frisa a presidente da Associação de Moradores, Jupira dos Santos, ao listar os planos anunciados. Um deles é a transformação de um trecho que contorna a Marinha na Av. Lobo Júnior em área de lazer. O projeto, porém, está emperrado, pois parte da obra é de responsabilidade da prefeitura, que precisa limpar o local, e a outra parte mais colada ao muro será feita pela Marinha.

A reforma da praça, pelo menos, já está em andamento. Além da reforma da quadra, a prefeitura prometeu a transformação dos trailers em quiosque. Bem ao lado, atrás da associação, segundo Jupira, será construído um Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI), com creche e pré-escola. “Por enquanto, tudo promessa”, ressalva.

Jupira deseja ainda melhorias no abastecimento de água potável. O programa Água para Todos foi desenvolvido no local, porém a água continua sem força. “As coisas são feitas picadas. Não existe um planejamento para a comunidade”, reclama o diretor da associação, Edmilson Joaquim da Silva.

Um projeto que anda a pleno vapor é a Colônia de Pescadores de Marcílio Dias, que recebe toneladas de pescado diariamente, a maior parte capturado dentro da Baía, e um bom movimento de compradores com seus caminhões frigoríficos. “Tem bastante peixe (na Baía). Sinto que melhorou de um ano e meio, dois anos pra cá. Os pescadores da própria colônia e de fora estão conseguindo trabalhar”, conta Igor Leonardo Cunha da Silva, que administra a Colônia junto com Milca Gino.

[/toggle]
[toggle title=”A gente quer…Um modelo sustentável”]

Por Thiago Ansel / Observatório de Favelas

Entre os dias 20 e 22 de junho, o Brasil recebe a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio + 20. O evento, no entanto, se aproxima sob a sombra de uma pergunta lançada já há algum tempo pelos movimentos sociais globais: “De que modelo de desenvolvimento sustentável a reunião dos líderes mundiais vai tratar?” Não faltam razões para este questionamento e no centro delas estão as variadas interpretações e apropriações da expressão “desenvolvimento sustentável”, por uma gama considerável de atores sociais, com interesses distintos e mesmo conflitantes.

O professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Jorge Barbosa, observa que o debate tende a caminhar na direção do chamado “uso racional” dos recursos naturais e da “gestão racional” do meio ambiente.

“As empresas privadas são escolhidas como instrumentos de recuperação e preservação daquilo que elas mesmas provocaram: escassez e destruição. É necessário colocar em causa o controle social sobre as ações das empresas, pelo menos no que disser respeito à emissão de gases, despejo de resíduos e ao uso predatório de recursos da natureza”, avalia.

Segundo Tica Moreno, representante do Comitê Facilitador da Cúpula dos Povos – evento paralelo à conferência oficial, que ocorre entre os dias 15 e 23 de junho no Aterro do Flamengo – a “erradicação da pobreza” nos termos do documento base da Rio + 20 nada tem a ver com alterar a atual lógica dominante da produção e do consumo.

“Não vemos nada a respeito da erradicação da desigualdade. Tudo que o discurso oficial da Rio + 20 almeja até agora é dar um rosto social para políticas que só fazem reforçar a desigualdade”, explica a ativista, que também fala em nome da Marcha Mundial das Mulheres.

Favelas na Cúpula

Durante a Cúpula dos Povos, as organizações da sociedade civil e os movimentos sociais debaterão questões em torno de três eixos: Denúncia das causas estruturais das crises, das falsas soluções e das novas formas de reprodução do capital; Soluções e novos paradigmas dos povos; e Como estimular as organizações a articularem processos de luta anticapitalista pós-Rio+20.

As atividades serão divididas em grupos de discussão autogestionados, assembleia permanente dos povos e espaço para que as entidades e movimentos sociais demonstrem, troquem e pratiquem suas experiências.

Um conjunto de organizações que atuam no entorno da Av. Brasil (Redes da Maré, Observatório de Favelas, Verdejar, Cooperativa Eu quero Liberdade, Raízes em Movimento, entre outras) fará uma intervenção durante a Cúpula dos Povos em duas favelas da região.

• No dia 16 de junho, no Galpão de Artes Bela Maré (Rua Bittencourt Sampaio, 169, Nova Holanda), acontecerá o debate “A favela na Agenda de Direitos Sociais e Ambientais”. Atividades a partir das 14h e debate às 15h.

• No dia 19, no Alemão (Travessa Soldado Adelino Cândido de Oliveira, Morro da Esperança – Pedra do Sapo), o Verdejar e a Cooperativa de reciclagem Eu Quero Liberdade demonstrarão tecnologias e soluções para as questões ambientais. Atividades a partir das 10h.

Destas atividades serão retiradas propostas enviadas a uma das plenárias da Cúpula dos Povos. De acordo com o Informe 2012 da Anistia Internacional, lançado em maio, no Brasil, projetos econômicos de grande escala, inclusive os que visam a preparar o país para a Copa e as Olimpíadas, estão deixando as comunidades pobres ainda mais vulneráveis, sob o risco de intimidações e remoções forçadas. Neste sentido, o risco de desastre ambiental, sobretudo, pela ocupação de encostas, continua sendo mobilizado como pretexto para as remoções de favelas. Acompanhando esse discurso, quase sempre, vem a responsabilização dos moradores por eventuais desastres ambientais nestes territórios.

“A gente sabe e entende que a realidade que vivemos é resultante de um processo histórico. Então, se hoje uma pessoa ocupa uma encosta de morro, beira de rio ou franja de unidade de conservação é porque, no passado, ela não teve condição de ocupar outras áreas seguras ou ditas ‘seguras’”, ressalta Edson Gomes, coordenador geral do Verdejar Socioambiental, organização que atua na Serra da Misericórdia, no Alemão.

Leia a matéria completa em http://www.observatoriodefavelas.org.br

Para saber mais: http://cupuladospovos.org.br

[/toggle]

[toggle title=”A gente quer… Diálogo e qualidade de vida”]

Eliana Sousa e Silva, coordenadora Geral da Redes da Maré

O mais importante resultado que buscamos após a reunião com o prefeito Eduardo Paes é tentar inaugurar uma forma diferente de fazer políticas públicas aqui na Maré. Oitenta por cento dos municípios do país não possuem o tamanho da Maré. Então aqui não é um bairro comum; é uma cidade de médio porte do Brasil. Estamos há muito tempo lutando para de fato garantir uma melhora na qualidade de vida local, tentando fazer com que os equipamentos públicos cheguem, permaneçam e tenham qualidade.

Se a gente está conquistando postos de saúde e clínica da família, queremos que a qualidade seja garantida, porque apenas instalar o equipamento não dá conta da qualidade. Quando você vê o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da Maré percebe que, apesar dos recursos públicos aplicados – os governos investiram muito aqui historicamente – a qualidade de vida ainda não é boa. A qualidade da educação não é boa, da saúde não é boa. O que acontece? Não adianta querer solução mágica. Esta lista de propostas (veja nas páginas 8 e 9 desta edição) que as lideranças comunitárias elencaram é porque as pessoas estão com isso na ponta da língua.

A proposta aqui é que a gente possa reconhecer os equipamentos, para que suas funções sejam exercidas adequadamente. A RA (Região Administrativa), por exemplo, por que ela está aqui? Porque a gente precisa fortalecer um equipamento que é público, a prefeitura precisa trabalhar de fato ali para a RA funcionar e fazer o conjunto de equipamentos públicos funcionar. Por exemplo, a Comlurb é uma empresa fantástica, do ponto de vista da resposta que ela dá. Representantes da Comlurb já vieram quatro ou cinco vezes na nossa reunião (do projeto A Maré que Queremos), visitaram todas as associações, listaram conosco os problemas, mas, de fato, falta estrutura para a companhia trabalhar. Então assim não pode ser.

Sabemos que a resposta não vai vir de imediato, mas precisamos estabelecer essa relação diferenciada, precisamos qualificar e valorizar os atores políticos. Os políticos têm que ser vistos de uma forma diferente, não como instrumentos pessoais. Não adianta ter equipamento público se você não sabe porque ele está ali, se você acha que é obra de uma pessoa.

O que a gente quer é olhar para o que já existe, parar de pensar pontualmente e tentar resolver os problemas de forma estrutural. Nós temos um Censo da Maré, conhecemos os problemas.

Todos os vereadores vão ganhar com isso, toda a prefeitura, todos ganham com isso. E a gente contribui deixando um legado: as pessoas vão aprender a lidar com os órgãos públicos de forma diferente. É uma questão pedagógica, das pessoas começarem a pensar que política é uma coisa séria e que político tem de ser sério. A gente elege e tem que cobrar, ir lá ajudar. Não pode só “malhar”. Agora, as coisas têm que ser corretas, porque assim a gente pode cobrar quando o cara coloca o lixo no chão ou quando o médico não está no posto de saúde.

O que a gente quer é legitimar as instituições que são sérias. O método que queremos estabelecer é justamente este (proposto pelo prefeito): marcar reuniões com os secretários municipais, se puder, a cada dois meses, porque é isso, as coisas não acontecem de forma mágica. Secretaria de Educação, de Saúde e também uma reunião com a presidente da Comlurb, que é uma demanda que temos há muito tempo.

Não espero que o prefeito seja mágico. Depende muito mais da gente do que dele. Porque se a gente começar a ter um movimento na Maré de cobrança, a gente vai ter o bairro que a gente quer. E não vai ser quando chegar a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) ou quando chegar outra coisa, porque já temos muito recurso público aqui. Tem que melhorar a relação com a população, ser mais transparente, mais sincero e parar de subestimar o povo.

[/toggle]

[/toggles]

 

Maré de Notícias #30

0

Clique aqui para fazer download do jornal em pdf.

Área de lazer, projetos e moradia

Por Silvia Noronha

A comunidade de Marcílio Dias, que teve início com a construção de barracos sobre palafitas erguidos por pescadores em 1948, viveu dias agitados em maio. As famílias de Mandacaru tiveram de sair e seus barracos foram imediatamente destruídos pela prefeitura. Os moradores foram reassentados em um conjunto habitacional com apartamentos de dois quartos que passam a ser de propriedade eles, porém situados em Campo Grande, Zona Oeste da cidade.

As famílias esperavam por este momento desde fevereiro de 2010, quando a Secretaria Municipal de Habitação marcou casa por casa com as suas iniciais SMH. Na época, o Maré de Notícias (Ed. nº 4, de março de 2010) esteve no local e a reclamação era a falta de diálogo com a prefeitura. Os moradores queriam sair, devido à total falta de infraestrutura, mas não esperavam ir para tão longe. O Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Sustentável do Rio de Janeiro recomenda que as remoções sigam alguns parâmetros, entre eles que o reassentamento seja feito em áreas próximas, o que não foi respeitado.

Os comerciantes, por sua vez, pelo menos até fins de maio, não haviam recebido qualquer indenização. Segundo a prefeitura, as ruas desocupadas servirão para dar passagem para o Mercado São Sebastião.

Boas novas para Marcílio

Mas Marcílio Dias também vive boas novas, embora parte delas ainda esteja no campo da “promessa”, conforme frisa a presidente da Associação de Moradores, Jupira dos Santos, ao listar os planos anunciados. Um deles é a transformação de um trecho que contorna a Marinha na Av. Lobo Júnior em área de lazer. O projeto, porém, está emperrado, pois parte da obra é de responsabilidade da prefeitura, que precisa limpar o local, e a outra parte mais colada ao muro será feita pela Marinha.

A reforma da praça, pelo menos, já está em andamento. Além da reforma da quadra, a prefeitura prometeu a transformação dos trailers em quiosque. Bem ao lado, atrás da associação, segundo Jupira, será construído um Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI), com creche e pré-escola. “Por enquanto, tudo promessa”, ressalva.

Jupira deseja ainda melhorias no abastecimento de água potável. O programa Água para Todos foi desenvolvido no local, porém a água continua sem força. “As coisas são feitas picadas. Não existe um planejamento para a comunidade”, reclama o diretor da associação, Edmilson Joaquim da Silva.

Um projeto que anda a pleno vapor é a Colônia de Pescadores de Marcílio Dias, que recebe toneladas de pescado diariamente, a maior parte capturado dentro da Baía, e um bom movimento de compradores com seus caminhões frigoríficos. “Tem bastante peixe (na Baía). Sinto que melhorou de um ano e meio, dois anos pra cá. Os pescadores da própria colônia e de fora estão conseguindo trabalhar”, conta Igor Leonardo Cunha da Silva, que administra a Colônia junto com Milca Gino.

Nossa história bem contada

Por Silvia Noronha

“Memória e identidade dos moradores de Nova Holanda”, primeiro livro de uma série que pretende apresentar a história das 16  favelas da Maré, nos transporta para os tempos de outrora, a partir da vivência dos próprios moradores. Eles contam sobre a chegada à comunidade, sobre a ligação com a cultura local, o estabelecimento dos laços familiares e demais fatores que contribuem para o assentamento de raízes.

O livro será lançado dia 15 de junho, às 17h, no Centro de Artes da Maré (CAM), pelo Núcleo de Memória e Identidade (Numim), da Redes da Maré, com o patrocínio da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro e do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac). O segundo e o terceiro volumes já começaram a ser produzidos e serão sobre o Morro do Timbau e o Parque Maré. O objetivo do projeto é resgatar a contribuição dos moradores da comunidade na construção da sociedade carioca e fluminense, reconhecendo-os como sujeitos plenos da história.

O livro da Nova Holanda, que também traz textos sobre as origens da comunidade, foi coordenado por Edson Diniz, diretor da Redes, Marcelo Castro Belfort e Paula Ribeiro. O trabalho contou ainda com a participação de quatro jovens estudantes da Maré: Higor Antonio, Marcelo Lima, Kelly San e Diogo Vitor. “A cidade precisa ser uma só, reconhecendo a diversidade de seus espaços, histórias e identidades como algo positivo, como uma característica que a torna mais bela, melhor de se viver e que marca de forma indelével a alma carioca”, avalia Edson.

Selecionamos alguns trechos para dar ainda mais vontade de ler o livro inteiro.

Seu Joaquim Severino da Silva

“Se o cara pergunta se você já encontrou um lugar que é melhor que a Nova Holanda, você diz: ‘Melhor que a Nova Holanda, só quando eu chegar no céu’, porque Nova Holanda é só aqui na Nova Holanda. Porque a Nova Holanda tem tudo, tem comércio, tudo, tudo, tudo. A gente tá  tomando um cafezinho, o homem passa aí, todo dia, a comunidade, cinco da manhã até oito da noite, perdi as contas, todos trabalham. Tem ônibus pra Barra, ônibus pra Alvorada, ônibus pro Leblon! Kombi, ih, meu Deus, quer melhor do que isso? Está tomando um cafezinho e o cabra diz: “Ôh, seu Joaquim!” E eu digo: “Ôh, meu filho, espera aí que tô tomando meu cafezinho aqui”. O cara para a Kombi, a gente toma o cafezinho, joga o copo dentro da pia e pega a Kombi e vai para Bonsucesso. ”

Seu Adevanir de Oliveira

“Lá no Esqueleto, a gente tinha fundado um blocozinho carnavalesco, mas com a saída de lá, aquilo se espalhou, mas aqueles que vieram pra cá fundaram um outro bloco: “Unidos de Nova Holanda”, do qual eu assumi a direção da bateria. E ali a gente fazia reunião toda semana, muito bonito aquilo também. Era um bloco sem compromisso, era simplesmente pra complementar um lazer que não tinha na comunidade. Eu me sentia muito bem fazendo aquilo, independente da diretoria do bloco da Nova Holanda, porque eu fiz uma diretoriazinha para ajudar a bateria. E a gente fez uns dois ou três desfiles. A gente preparava, se ajeitava, entrava no ônibus e ia pra  idade, porque não tinha que tirar licença. Então, a gente ia lá e desfilava na Rio Branco, fazia aquela farra. Depois, ia pra casa. Aí desfilava por aqui e aí acabava. Até que houve um ano em que a gente chegou no desfile na Presidente Vargas, a passarela era na residente Vargas, aí não deixaram a gente passar na passarela. Já tinha televisão e deu um problema danado lá com o pessoal que tomava conta. Aí, todo mundo me viu na televisão reclamando e tal. Acho que aquilo que me tornou muito conhecido na comunidade… E eu disse: “Não tem problema, vocês não deixam a gente passar pela pista, a gente vai passar por de trás”. Passamos por de trás da pista e a televisão filmando a gente. Fomos até o final, voltamos e cumprimos a nossa meta, que era de desfilar. Eu acredito que a gente tinha umas 800 pessoas mais ou menos e fizemos nosso desfile até chegar aqui. ”

Jurema Onofre de Souza, a Dona Noca

“Eu vim pra cá com dez anos, quando aconteceu a remoção. Não ficamos no albergue, não. Era barraco, tudo madeira. Era madeira, assim, azul e branquinha. A janelinha e as porta eram azuis. Era só barraco, mas tinha piso, tudo direitinho. O banheiro também, tudo de pau. O Carlos Lacerda removeu a gente pra cá. (…) Ah, eu gosto daqui, sim. A Nova Holanda era melhor do que o Esqueleto. Eu me lembro sabe o quê?! Aqui, na Teixeira Ribeiro, nós passamos com o caminhão da gente, da remoção, e era numa pinguela! Aí, tinha uns barraquinhos na água e, quando a gente passou, falaram assim: “Lá vêm os esqueletos humanos! Olha os esqueletos humanos chegando!” Eu me lembro disso até hoje. Hoje em dia, esse pessoal é grande amigo meu. Você tinha que ver a Teixeira Ribeiro como é que era! Hoje em dia, isso aqui está um sucesso. Isso aqui está a Zona Sul! ”

Dona Maria Lopes, a Maria da Cocada

Essa iniciativa que vocês estão tomando é muito importante. É muito importante que vocês tenham o que contar, contar o que foi a Nova Holanda e o que é a Nova Holanda. Como a Nova Holanda iniciou e o que ela é hoje e está se tornando. Muito abençoado. E talvez as pessoas que moram lá embaixo, na sociedade… aqui dentro tem pessoas com muito mais categoria. Entendeu?! ”

Seu Genival de Oliveira
“Isso aqui tudo era maré. Maré enchia, enchia tudo aqui. Começaram a aterrar e eu, quando vim para cá, ainda não tinham aprontado ela [a Nova Holanda]. Ainda faltava botar luz, água, calçada… Não tinha calçada aí na rua, não era asfalto, era barro! De manhã cedo, só via nego com um balde d’água, com uma criança atrás, até a mulher mesmo ia junto com ele, com o marido, ia levando um balde d’água e um pano pra ele enxugar os pés, que lavava lá na Avenida Brasil, se calçava e ia trabalhar. A lama dava no meio da canela, o barro. Porque… como ia pisar na lama calçado? Era um barro vermelho aqui, só você vendo. Chovia, pronto, acabava a graça aqui. E quando fazia sol era aquela poeira de barro… Era um sofrimento aqui. Depois botaram paralelepípedo e daí botaram o asfalto. Em 1961, já tinha a Light. Tinha uma associação já, de morador, que a gente pagava um trocado. Não tinha relógio ainda, não tinha nada. Tinha um cara que tomava conta lá da sede, o seu Ezaquiel, e se não pagava aquela taxa, ele ia lá e cortava a luz. Aí, o cara pagava, ele ia lá e ligava de novo. Quando estourava um transformador, queimava um fusível, a gente fazia vaquinha pra comprar outro. ”

Arrasta-pé na praça

Por Rosilene Miliotti

Localizada às margens da Avenida Brasil, a praça do Parque União, onde acontecem shows de forró, recebe uma média de público de 5 mil pessoas nos fins de semana e gera cerca de 250 empregos diretos e indiretos. Mas se engana quem pensa que são apenas moradores que frequentam o local. Um dos organizadores dos eventos e morador do Parque União, Edivan Valério, diz que “vem gente de todo lugar: Rio das Pedras, Rocinha, Copacabana, Pavuna, Baixada Fluminense. Em dia de show de bandas muito conhecidas, chegamos a receber 8 mil pessoas. Depois da feira de São Cristóvão é o local mais frequentado pelos forrozeiros, nordestinos ou não”, afirma.

A quem diga que prefere o forró da praça em vez da Feira de São Cristóvão. É o caso Antonio Carlos dos Santos, morador de Duque de Caxias, que frequenta o Parque União há 10 anos. “Aqui tem forró do bom, comida e bebida mais barata, não tem que pagar para entrar, tem segurança e tranquilidade. Além disso, é pertinho do ponto de ônibus e táxi”, relata ele. Já para o cearense recém chegado, André Santos, morador de Copacabana, o ambiente é muito bom e tem muita mulher bonita. “É um lugar ótimo para paquerar e foi um dos primeiros lugares que meus amigos me trouxeram para conhecer”.

Para Adriana Ferreira, moradora da Vila do João, os dois lugares são diferentes, mas prefere a praça por ser mais perto. “Dá para decidir na hora com os amigos, não precisa programar”, conta. Entretanto, sua amiga, Valéria Nunes, prefere a Feira de São Cristóvão por ter mais espaço para dançar. “Aqui é apertado. Na hora dos shows lota e a gente quase não consegue se mexer”, lamenta.

O Fazendeiro
Há 22 anos, Luis Fazendeiro, como era conhecido, um nordestino que gostava de forró, começou a organizar apresentações de bandas na Rua Roberto da Silveira, ao lado da praça. A primeira banda a se apresentar foi a Sol e Magia, composta por moradores da comunidade.

Na época, as bandas se apresentavam na rua, fora da praça, porque o local ainda não tinha a estrutura de hoje. Luis começou então a dividir as despesas dos shows com os comerciantes e, a partir daí, surgiu o modelo de cooperativa informal que funciona até hoje. Atualmente, a praça conta com 31 financiadores, entre donos de bares, restaurantes e quiosques.

A organização
Andre Gonçalves, coordenador dos seguranças, diz que o trabalho dele e de sua equipe consiste em manter a ordem durante os shows, evitando brigas, usando educação acima de tudo e energia se preciso for, mas nunca violência ou agressão. “Estamos aqui para manter a ordem de um local seguro e de diversão. Aqui, os frequentadores são, na maioria, cearenses. Domingo é o dia que mais enche e por isso requer mais atenção dos seguranças. O forró gera lucro e emprego para o comércio local. Além disso, os seguranças e todos os eventos são financiados pelos próprios comerciantes. Bandas famosas no meio artístico do forró como Gatinha Manhosa, Frank Aguiar, Bonde do Forró vêm pra cá e trazem mais público para o Parque União”, conta.

O paraibano Pedro Gomes de Sousa, mais conhecido como Cazuza, lembra que no início havia apenas três quiosques. “Antes de ser na praça ao ar livre, as pessoas iam para o Forró do Bola Branca, também conhecido como Forró do Lampião. Mas com o tempo o clube foi acabando e o forró da praça ganhando força. A primeira grande banda que veio foi a Magníficos; cerca de 10 mil pessoas estiveram aqui. A partir daí percebemos o potencial cultural e de entretenimento desse lugar”, conta.

Para o cearense Antonio Rodrigues, dono do quiosque Rei das Cabritas há 20 anos, seu trabalho não é apenas vender carne de sol com aipim e manteiga de garrafa, é uma forma de divulgar a cultura e a culinária nordestina. “Aqui sirvo pratos tipicamente nordestinos. Temos carne de sol, manteiga de garrafa e baião de dois”, conta.

A agenda de shows, vídeos e fotos: www.encontrodosartistas.com

Uma conversa cara-a-cara

Por Hélio Euclides

Presidentes de associações de moradores, várias lideranças e representantes de instituições locais tiveram o primeiro encontro com o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, para discutir as propostas contidas no projeto A Maré que Queremos. A reunião no Centro de Artes da Maré (CAM), na Nova Holanda, na manhã de 19 de maio, reuniu ainda três vereadores.

Os representantes da Maré manifestaram contentamento com o primeiro passo para a implantação de um projeto estruturante, com base nas demandas mapeadas pelos líderes comunitários. O coletivo A Maré que Queremos foi criado em fevereiro de 2010, reunindo os presidentes das associações de moradores, por iniciativa da Redes da Maré para, juntos, pensarem num projeto estruturante para o bairro. Desde então, o grupo vinha tentando se reunir com o prefeito. “Acho bom o incentivo à integração. Estão juntas as 16 associações e outras organizações da Maré, num só corpo”, resumiu o presidente da Associação de Moradores do Morro do Timbau, Osmar Paiva Camelo.

O prefeito elogiou a iniciativa e firmou compromisso de realizar reuniões periódicas com o fórum. A segunda reunião foi marcada para 14 de julho, às 15h. Saúde, Educação e Conservação foram os  temas escolhidos para serem tratados nos próximos dois meses, com a realização de reuniões com a presença dos secretários e executivos responsáveis por estas áreas. “Na próxima reunião eu vou ser o interlocutor. A proposta é fazer algumas rodadas com os secretários, para eles mapearem. Vamos trazer os representantes da educação, saúde e também a Comlurb. Esses encontros facilitam a minha vida”, afirmou o prefeito.

Ele firmou ainda o compromisso da continuidade do trabalho da Rio-Luz e da operaçãoTapa-buracos (Secretaria de Conservação). Ainda comentou que pretende investir na cultura, com aumento no número de arenas e melhoria das lonas. Sobre o transporte alternativo, Paes foi taxativo ao aceitá-lo apenas como complemento, dentro da comunidade.

Segundo Eliana Sousa Silva, coordenadora geral da Redes, um dos objetivos do grupo é acabar com práticas políticas de favor. “Somente organizados podemos mudar as coisas. Por isso, o envolvimento do conjunto das associações de moradores é fundamental. Temos de trabalhar na direção da autonomia das instituições locais”, ressaltou. ”Há muito investimento público aqui e, no entanto, o Índice de Desenvolvimento Humano da Maré, que mede a qualidade de vida de determinado território, é péssimo. Queremos não só que os equipamentos públicos cheguem até a Maré, mas sobretudo que tenham qualidade e sirvam permanentemente à comunidade”.

Nas pág. 8 e 9, conheça as reivindicações prioritárias da Maré entregues ao prefeito. Leia também o artigo de Eliana Sousa, na pág. 10. Fique por dentro e vamos todos cobrar resultados!