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MARÉ DE NOTÍCIAS #57

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[toggle title=”A luta das sete cores”]
Por Fabíola Loureiro

No dia 7 de setembro aconteceu a 3ª Parada LGBT da Maré, começando no Parque União e terminando na Nova Holanda. Gilmar Cunha, coordenador do grupo Conexão G e organizador do evento, disse que a data foi escolhida por posicionamento político. “Pensamos nessa data da mesma forma que existe o Grito dos Excluídos e por sermos uma população invisibilizada”, explica.

O Grito é uma manifestação popular que acontece desde 1994, reunindo movimentos sociais e pessoas comprometidas com as causas dos excluídos.

O estudante Bruno (que preferiu não revelar seu sobrenome), de 25 anos, também conhecido como Hillary, disse que o evento é importante, pois é um local onde os gays se encontram. “Não queremos mostrar que o mundo é colorido, mas que lutamos por nossos direitos. Todas as pessoas merecem respeito, inclusive os gays”.

Paula Santos, 19 anos, disse que já apanhou na rua (fora da Maré) por conta de sua orientação sexual. Ela estava com a namorada quando foi abordada por quatro rapazes que a xingaram e a agrediram. “Acho ruim quando o preconceito chega a um ponto em que as pessoas agridem os homossexuais. E eu só estava de mãos dadas. Acho esse evento importante, pois durante o dia tem a feira com várias atividades e discutimos nossos direitos. Mesmo que não aceitem, as pessoas têm que respeitar”, ressalta a estudante.

O evento LGBT da Vila do João, intitulado Maré sem preconceito, está marcado para 28 de setembro, no campo. De 10h às 14h acontecerá a feira de serviços e em seguida a Parada, que vai percorrer a Rua Principal (Rua 14).

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[toggle title=”Conexão G no Conselho Nacional de Juventude”]

 

Por Silvia Noronha

Em agosto, o Conexão G tomou posse no Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), em Brasília. Nesta entrevista, Gilmar Cunha, coordenador do grupo, diz que o objetivo é desenvolver uma política voltada para a população LBGT de favelas. O Conselho tem, entre suas atribuições, a de formular e propor diretrizes voltadas para as políticas públicas de juventude, desenvolver estudos e pesquisas sobre a realidade socioeconômica dos jovens e promover o intercâmbio entre as organizações juvenis nacionais e internacionais.

Maré de Notícias: O que motivou o Conexão G a buscar essa participação em nível nacional?

Gilmar Cunha: Hoje em dia precisamos estar em espaços onde não só acontecem discussões, mas onde haja de fato uma efetivação de políticas. O grupo vem estimulando diversos movimentos a vestirem a camisa e lutarem por uma população invisibilizada, levando em consideração que 1’este espaço é de troca. Estar no conselho nacional se faz necessário como suporte para a implementação das demandas que o grupo vem defendendo e lutando na conquista de direitos da população LGBT de favelas. Percebemos que o conselho nacional tem se mostrado um caminho onde as políticas voltadas para a juventude estão de fato sendo efetivadas.

Maré: Quais as principais pautas a serem levadas?

 Gilmar: Existem várias demandas; a primeira é o reconhecimento dessa população, depois a criação de dados sobre a questão da violência dentro desses territórios a fim de dar subsídio para a construção de uma política voltada para esse grupo específico.

 

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[toggle title=”Fla / Uevom – 6 anos”]

Por Rosilene Miliotti

Virginia Lucia G. dos Santos,moradora da Nova Holanda e mãe do atleta Frederico Alfredo, o Fred, de 13 anos, conta que o projeto fez muita diferença na vida dela e na de seu filho. Fred joga como fixo no Fla/Uevom, é filho único e até os 11 anos de idade não estava matriculado na escola. Hoje ele está no sexto ano e é bem diferente de dois anos atrás. “Eu brigava, mas não sei o porquê. O futsal me deixou mais calmo e o pessoal do projeto me colocou na escola”, conta ele.

O núcleo de futebol de salão (futsal) da Maré é resultado da parceria entre o Clube de Regatas Flamengo e a União Esportiva Vila Olímpica da Maré (Uevom). O projeto, além de descobrir talentos, trabalha junto com a família e exige que o participante frequente a escola. Em seis anos, cerca de 300 meninos já participaram do grupo e quatro estão em clubes cariocas.

O coordenador do projeto, Antonio Bezerra, explica que os profissionais do Fla/Uevom devem ser professores na essência, cuidando da criança dentro e fora da quadra. Ele também incentiva a presença dos responsáveis nos jogos, porque sente que isso influencia positivamente o desempenho dos jovens.

Por conta dessa recomendação, Virginia passou a assistir aos jogos, torcendo mais perto do filho. Fred, como muitos meninos, sonha em ser jogador de futebol para ajudar a mãe que vende bolo pelas ruas da favela. “Um dia eu perguntei a ele o que ele queria ser e ele respondeu que queria ser jogador de futebol. Eu disse ‘vamos lutar juntos’”, lembra Virginia.

Da Maré para a Gávea

 O sonho de virar profissional também é incentivado pelo status que um jogador conquista na sociedade, aparecendo na mídia, ganhando fama e dinheiro. Porém descobrir um talento entre tantos meninos não é fácil, mas alguns estão conseguindo o seu espaço. “Se o Flamengo chegar aqui hoje e falar que quer um atleta, nós não prendemos ninguém”, afirma o coordenador.

Ele cita um garoto que passou pelo Fla/Uevom, José Araújo, de 14 anos, que atualmente joga no Fluminense. “O Flamengo quer tê-lo de volta”, conta Bezerra.

O coordenador cobra disciplina. No treino pode ir de sandália, mas no jogo o uso do tênis é regra. Ele justifica a rigidez dizendo que quando o menino for para um emprego, vai ter que cumprir regras e saber se apresentar.

Bezerra confia nos atletas e afirma que se qualquer time da Maré quiser jogar futsal, dentro das regras com o Fla/Uevom, ninguém ganha. Alguém se habilita?

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[toggle title=”Maré resiste à remoção”]

 

Por: Higor Antonio da Silva/Numim

Há mais de 35 anos, em 11 de junho de 1979, foi assinado pelo então ministro do Interior em exercício, Mário Andreazza, um documento que, embora muitos moradores não conheçam, faz parte e é símbolo de um momento histórico da Maré. Trata-se da “Minuta Carta”, documento no qual o ministro reconhece a Comissão de Defesa das Favelas da Área da Maré (Codefam) como representante dos moradores junto às autoridades que tratavam do Projeto Rio.

 Dois dias antes, na manhã de sábado 9 de junho de 1979, o jornal O Globo havia publicado uma reportagem intitulada “Governo acaba com as 6 favelas da Maré”. Na matéria, o governo federal, na figura do mesmo ministro Andreazza, apresentava o Projeto Rio. Este projeto, entre outras ações, pretendia remover as favelas da Maré do seu lugar de origem. Para os moradores isso despertava o medo daquilo que eles mais temiam, ou seja, a remoção para lugares distantes e afastados do Centro do Rio de Janeiro, longe do trabalho, da família e dos amigos.

Detalhes dessa história e desses momentos de medo e angústia foram relembrados por Atanásio Amorim, morador do Timbau e um dos fundadores da Codefam, em entrevista à equipe de pesquisadores do Núcleo de Memória e Identidade dos Moradores da Maré (Numim).

Ele começa por citar a contribuição de Hortência Dunshee de Abranches, secretária de Serviço Social do extinto estado da Guanabara e diretora da antiga Companhia de Desenvolvimento de Comunidades (Codesco), cuja colaboração foi fundamental para a formação da Codefam, entidade que passou a organizar a defesa dos moradores e a luta pela permanência na Maré.

Atanásio conta que Hortênsia o alertou sobre a ameaça de remoção. “Tinha uma senhora que foi presidente da Codesco que me tinha sempre aquela consideração, essa coisa toda, me telefonou, mandou um cartãozinho para mim: ‘Ô Atanásio, você sabe o quê que ta acontecendo?’ Eu disse: ‘Não’. Ela: ‘Você num leu O Globo de hoje? Saiu uma nota que vocês daí vão ser despejados e que aí vai passar uma linha vermelha’. Eu: ‘Poxa, eu num sei de nada, num to sabendo de nada’. Procurei o jornal e vi e perguntei: ‘E agora o quê que a gente vai fazer?’ Ela disse: ‘Ó, você vai, procura os presidentes daí e vai se arregimentar pra ver o quê que pode ser feito, porque vocês num podem ficar aí de mão atadas porque se não eles vão fazer e acontecer’. Pensei então: ‘E agora?’ Aí chamei o Clóvis, aí o Clóvis mandou chamar o Agamenon, aí todo mundo se reuniu…”, recorda-se.

A partir desse encontro, começa uma série de articulações entre os seis presidentes das associações de moradores e de outras lideranças da Maré, na tentativa de construir uma resistência à remoção. Assim nasceu a Codefam, instituição responsável pela articulação junto ao governo federal sobre o que poderia ser feito em termos de melhorias dentro do território da Maré sem que acontecessem as temidas remoções.

Como conta Atanásio: “Sei que todo mundo se reuniu lá na Nova Holanda pra ver o que poderia ser feito em prol da comunidade, isso no próprio domingo. Quando foi de noite ela [Hortência] esteve aqui, nós nos reunimos, eu fui com ela lá, aí foi feita uma associação na mesma hora, era a (…) Codefam (…) para defender nossos direitos, direitos do povo, e foi eleito o presidente da Codefam o Manuelino Silva, que era o presidente da Maré [Parque Maré] na época. E assim ela [Hortência] disse: ‘Bom, vai todo mundo pra casa, vai fazer uma minuta do que necessita e amanhã todo mundo aqui reunido’”.

Assim ficou combinado que haveria na noite de segunda feira, 11 de junho de 1979, uma nova reunião para que fosse feita uma carta a ser entregue às autoridades do governo federal. Hortência redigiu a carta para aprovação de todos. Mas ainda durante o dia Atanásio recebe uma ligação de Hortência para que fosse ao seu encontro. Nesse encontro, segundo Atanásio, ela disse: “’Eu fiz uma minuta da carta pra vocês e nós vamos levar essa minuta lá à noite pra vê o que a gente vai fazer’. Eu disse: ‘Tá bom!’. Aí me mostrou: ‘É essa minuta aqui, ta aqui!’ [mostrando o documento para os pesquisadores do Numim], e ela disse: ‘A gente já ta aqui na [centro] cidade, [aproveitando] vamos no gabinete do ministro na [rua] Marechal Câmara’. Aí eu fui com ela na Marechal Câmara”.

Hortência e Atanásio se dirigiram ao gabinete do ministro Andreazza. Atanásio assim conta: “Chegamos lá, conversamos. Ela era doutora, já tinha sido administradora, [e diz Hortência ao ministro]: ‘Olha ministro, acontece o seguinte: é que o senhor lançou um projeto da linha vermelha e a linha vermelha vai passar em cima de uma comunidade que tem muita gente boa lá e o pessoal tá meio apavorado lá, sem saber o que vai fazer’. Aí ele [ministro] disse: ‘Hortência, eu não quero prejudicar ninguém não, mas tem que ser feito, alguma coisa tem que ser feita. E o pessoal lá como está?’ Aí ela: ‘tá todo mundo apavorado!’ [ministro] ‘Eles não têm nada? Eles não se reuniram pra fazer alguma coisa?’ Ela disse: ‘Não, nós nos reunimos ontem, eu me reuni com eles ontem, vou reunir agora de noite com eles pra ver como é que a gente vai fazer  esse pedido para o senhor [ministro]’. ‘Mas vocês não tem nada escrito?’ [Hortência] ‘Não. Nós temos uma minuta escrita que cada comunidade

vai se reunir lá [para] fazer uma minuta. E dessa minuta a gente vai tirar um crivo e mandar para o senhor’. [ministro diz] ‘Cadê essa minuta de vocês? Você representa o quê?’ Aí ela ‘Eu represento a Baixa do Sapateiro porque seu Atanásio é de lá’. [ministro diz] ‘Deixa eu ver aqui’. Aí ele pegou essa minuta leu, leu… [ministro] ‘Ah! Tá muito bom, muito bom, é isso que eu quero…’ Aí escreveu aqui [apontando para o documento] muito bom! [lendo a assinatura do ministro] ‘Mario de Andeazza’. Aí ele deixou e deu a carta pra gente (…) Aí quando foi de noite ela veio pra cá com a gente, ela morava lá na Lagoa, aí de noite ela tava aqui junto com a gente, aí nós fomos pra lá, chegamos lá todo (…) orgulhoso (…) estava lá todos os presidentes, Agamenon tava lá, o Clovis que já tava lá e o Zé Careca…”

A consequência dessa ação foi a realização de uma reunião do Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) com representantes da Codefam, em 18 de junho de 1979. Nessa reunião, a Codefam apresentou as reivindicações dos moradores da Maré ao ministro Andreazza e ao diretor geral da DNOS. Como efeito prático do encontro, a Codefam recebeu garantias de que os moradores da Maré seriam ouvidos e de que seus representantes poderiam dialogar com os técnicos que elaborariam o Projeto Rio.

Manoelino Silva, presidente da comissão, ficou satisfeito com o resultado da reunião porque ela garantia a participação dos moradores nas discussões sobre as mudanças que deveriam ser feitas no Projeto Rio. Em reportagem do dia 19 de junho de 1979, o jornal O Globo, na página 09, noticiava as decisões tomadas na reunião entre o governo federal e os moradores da Maré.

Desse modo, a história da Codefam e de suas ações para evitar as remoções, bem como a organização para intervir no Projeto Rio, são fatos importantes não apenas porque se conseguiu reverter a decisão de retirar os moradores, mas também porque mostrou que mesmo no enfrentamento com o governo militar (não podemos esquecer que o Brasil vivia sob a ditadura) os moradores conseguiram impor suas reinvindicações. Fatos como esse mostram que a história das favelas, como é o caso da Maré, é rica em exemplos de luta, organização e perseverança de seus moradores na busca por melhores condições de vida.

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MARÉ DE NOTÍCIAS #56

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[toggle title=”Mudança que vem pelas mãos”]

Por Rosilene Miliotti

Depois de vencer três Ligas Nacionais e um Pan-Americano, de 1999, Maria José Batista de Sales, a Zezé, ensina handebol a crianças e adolescentes no Piscinão de Ramos. Alguns alunos já competem e ela espera que o esporte mude suas vidas, como aconteceu com ela mesma.

Zezé não é somente uma referência nacional quando se fala de handebol. Ela é, para as dezenas de seus alunos do Piscinão, uma referência de motivação, experiência e técnica. Revelada pelo Clube Esportivo Mauá, em São Gonçalo, Zezé, hoje aos 45 anos, subiu ao pódio mais de cem vezes em competições estaduais, nacionais e internacionais. Atualmente, ela joga na equipe de handebol de areia Z5, da qual é também treinadora.

Zezé conta que seus objetivos, no projeto, vão desde movimentar as crianças até levá-las a se apaixonar por esportes. Para estimular os alunos, ela organiza jogos amistosos e torneios freqüentemente. Suas aulas fazem parte de uma série de cursos promovidos pela prefeitura no local, onde os alunos recebem também suporte alimentício, nutricional e médico.

A treinadora conta que trabalhar com projetos sociais não estava nos seus planos iniciais. “Aos 19 anos, eu era uma atleta de alto rendimento, convocada para a seleção brasileira e nunca imaginei que poderia trabalhar com projetos sociais”. Ela começou este tipo de trabalho depois de dar aulas no Projeto Caravana, do canal de TV ESPN Brasil. “Sempre pensei em ser treinadora, com toda a estrutura que eu tinha como atleta. Mas eu vi que no Rio de Janeiro não tinha essa realidade. Na Caravana, vi que para dar aulas de handebol eu não precisaria de toda aquela estrutura que eu imaginava. Hoje eu consigo dar aula na grama, na areia ou no barro, mas ainda adoraria ter uma equipe com toda a estrutura”, analisa.

Um dos destaques do projeto é Layla Santos, de 13 anos. Ela joga no Piscinão há 2 anos e durante um mês treinou no Olaria Atlético Clube, mas teve que parar pois não foi possível encontrar alguém que pudesse levá-la. “O handebol é um esporte que entrou de vez na minha vida e não consigo mais parar”, afirma a menina.

Assim como Zezé espera que aconteça aos seus alunos, ela teve sua vida transformada pelo esporte. “O handebol é minha vida. Venho de uma família humilde e não teria conseguido pagar uma faculdade ou viajar para mais de 20 países se não fosse o esporte”, afirma a atleta.

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[toggle title=”Terceira idade em forma no Conjunto Esperança”]

Por Hélio Euclides

Dia 12 de agosto foi inaugurada no Conjunto Esperança uma Academia da Terceira Idade (ATI), com equipamentos para a prática de atividade física. O espaço escolhido foi a praça situada atrás da Escola Municipal Teotônio Vilela. Até então, somente a Praia de Ramos contava com ATI no conjunto de favelas da Maré.

Como em todas as academias ao ar livre, é importante lembrar que as instalações são de uso exclusivo para exercícios, e que precisam ser preservadas por todos.

“Essa é uma conquista que faz parte das reivindicações que fizemos junto à prefeitura com as outras 15 associações, dentro do Projeto Maré Que Queremos. Como associação, cobramos outros serviços, pois nos sentimos abandonados há mais de 20 anos. Para nos ajudar contamos apenas com moradores e comerciantes”, afirma o presidente da Associação de Moradores do Conjunto Esperança, Pedro Francisco dos Santos.

Ele lembra que trabalhar em parceria é muito importante. Por isso, realiza reuniões trimestrais com todos os síndicos e lideranças na associação, para debater as demandas locais.

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[toggle title=”Imagens do povo artista da Maré”]

 

Por: Rosilene Miliotti

De 23 de agosto a 16 de novembro acontece na Nova Holanda o Travessias 3, exposição de arte contemporânea que reúne artistas consagrados que, este ano, incluirá também o coletivo de fotógrafos do Imagens do Povo (IP), projeto desenvolvido pelo Observatório de Favelas, com sede no Parque Maré. O grupo é composto por nove fotógrafos, que farão uma projeção de imagens do banco Imagens do Povo no Galpão Bela Maré, local da exposição,fruto de um trabalho de documentação de artistas e personagens da cultura local.

 Rovena Rosa, fotógrafa e coordenadora do IP, acredita que o convite foi feito a partir do reconhecimento do trabalho do grupo e também para integrar a Maré na mostra. “Essa é uma forma de aproximação, para que as pessoas se sintam incluídas, não só por terem um centro de artes dentro da Maré, mas se sentirem incluídas nas obras, estarem retratadas”, avalia.

Uma das imagens projetadas será sobre o músico Bhega Silva, morador do Parque União, que sente orgulho de ter seu trabalho acompanhado de perto pelo fotógrafo veri-vg. “Estou feliz de ser reconhecido e ver todo trabalho de formiguinha sendo valorizado pelos meios de comunicação da nossa Maré. Dedico esse trabalho a todos que torcem pela coisa tão simples e importante: o nosso planeta. Nunca pensei que isso poderia chegar a uma galeria de arte”, emociona-se.

Bhega, além de exibir filmes em becos e vielas da comunidade de cima de sua bicicleta, compõe canções que alertam para a questão do meio ambiente e recolhe óleo de cozinha usado. Ele ressalta que o trabalho que faz é por amor e respeito ao planeta.

Para o fotógrafo veri-vg, demorou para que o IP tivesse o trabalho reconhecido como arte. A escolha de Bhega para ser fotografado não foi difícil. “Considerei o trabalho dele porque mistura cultura e questões políticas e ambientais. Ele é um cara que trabalha com música, reciclagem e cinema no beco, isso é incrível”, ressalta.

O fotógrafo lembra que por onde passou com o Bhega, o artista era reconhecido por pessoas de todas as idades. “Ele cumprimentava todo mundo, chamava pelo nome. As pessoas pedem opinião a ele a respeito de política, por exemplo. Além disso, aprendi e estou aprendendo muito com ele sobre a Maré. Às vezes me pergunto: ‘Como não documentar esse cara?’”, brinca veri-vg.

Fotografando a multiartista da Maré

 O fotógrafo Fábio Caffé acompanhou o cotidiano da mineira Ana Maria, de 84 anos, moradora da Vila do João. “Ela é uma simpatia, brinco dizendo que ela se tornou nossa musa. Ela é uma guerreira e uma multiartista incrível. Ela pinta, faz poesia e é atriz. São lindas as pinturas e poesias que ela faz”, conta.

Segundo Caffé, os momentos de conversa são muito ricos por também serem de aprendizado. “Ela sugere fotos e nos recebe com tanto carinho e alegria que é sempre um prazer encontrá-la e a família dela. Estamos tendo o privilégio de conhecer essa mulher porque é contagiante ver o amor que ela tem pela arte”, ressalta Caffé, que cita o fundador do IP, o fotógrafo João Roberto Ripper, para falar sobre o trabalho do fotógrafo. “O Ripper sempre diz que o trabalho do fotógrafo deve ser a extensão da maneira como ele sente e vivencia o mundo e que fotografar é reconhecer valores”, afirma.

O fotógrafo acredita ser importante valorizar os artistas da Maré e do Brasil. “É uma luta diária que eles enfrentam e muitas vezes não conseguem espaço para expor o trabalho. Com essas fotografias, esperamos ajudar na divulgação do trabalho desses artistas”, conclui.

Fotógrafos do IP e respectivos artistas fotografados

Fábio Caffé e Renan Otto (Ana Maria), AF Rodrigues (Seu Manuel), Rosana Rodrigues (Klaus), Thiago Diniz (Zé Toré), Rosilene Miliotti (Victor), Rovena Rosa (Addara Macedo), Monara Barreto (Felipe Reis) e veri-vg (Bhega).

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[toggle title=”Semana da Diversidade Sexual da Maré”]

A Semana da Diversidade Sexual da Maré acontece de 1º a 7 de setembro, com atividades voltadas à temática dos direitos humanos e da promoção da saúde da população LGBT de favelas.

 O objetivo é mobilizar, articular e dialogar sobre as diversas formas de preconceito e sobre a incidência de AIDS na população. O evento é organizado pelo Grupo Conexão G em parceria com CAP 3.1, Luta Pela Paz, Observatório de Favelas, Redes da Maré e Fase.

A semana abrirá com um seminário no dia 1º, às 19h, em local a ser definido (informação pelo email: gilmarconexaog@ gmail.com). No dia seguinte, haverá oficina sobre saúde às 14h, no Observatório (R. Teixeira Ribeiro, 535). Dia 4, às 15h, será lançada uma cartilha sobre a temática na Unidade de Saúde Samora Machel (R. Principal); e no domingo, dia 7, na R. Teixeira Ribeiro, terá feira de saúde de 9h às 16h, seguida da Parada do Orgulho LGBT.

A sigla LGBT refere-se a lésbica, gay, bissexual, travestis e transexual. “A iniciativa se mostra necessária e visa estimular o respeito à orientação sexual decada um”, diz Gilmar Cunha, coordenador do Grupo Conexão G, que em 26 de agosto tomará posse no Conselho Nacional de Juventude.

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MARÉ DE NOTÍCIAS #55

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[toggle title=”Pedestres pedem socorro!”]

 

Por Hélio Euclides

Por sugestões de leitores, o Maré de Notícias por diversas vezes abordou o tema passarela em suas páginas, em função de reivindicações de manutenção ou construção de uma nova. Agora moradores reclamam da passagem provisória ao lado da Avenida Brasil, em frente à passarela 10 e próxima a Escola Municipal Clotilde Guimarães, em Ramos.

Ela foi construída para ajudar na passagem de pedestres sobre o novo BRT Transcarioca. O problema é que, além de ser alta, só têm degraus e nenhuma rampa, balança e possui piso de tábuas já deterioradas, deixando as pessoas inseguras.

Antes do BRT, inaugurado em junho, os pedestres usavam uma pequena rua com pouco movimento, opção que não existe mais. A passarela precisa de reforma. A Secretaria Municipal de Obras informou que estuda a substituição desta passagem por uma permanente. O órgão desenvolve projeto para a nova estrutura, mas ainda não há valor estimado e data para licitar.

Apesar de ter a estrutura metálica, a queixa maior vem do piso de compensado de madeira. É unânime a opinião de quem usa a passagem diariamente. “Isso é uma injustiça, em especial com idosos e cadeirantes, que muitas vezes só desejam ir ao médico, algo que se torna impossível.  Essa passagem tinha que ser organizada; só porque é favela não tem planejamento”, critica o morador do Parque União, Luiz Couto.

Para piorar, a passarela tem grande acesso de estudantes. “No horário de escola tem engarrafamento de estudantes. Fica mais fácil ir até Ramos e usar a travessia via sinal do que passar nisso”, orienta Ednardo Sousa. A passarela já deixa marcas. É o caso do morador de Ramos, Tiago Campinho, que sofreu um acidente. “Já me machuquei e fiquei um mês com o pé arrebentado, e olha que não sou idoso”, diz ele.

O que dizem os pedestres

“A travessia é perigosa, as madeiras estão soltas, podem causar um acidente”, disse Jorge Antonio, morador da Nova Holanda.

“Na foto não sai o balanço, uma sorte para o leitor. Essa passarela é o acesso a cinco escolas, em três turnos. Fizeram o trabalho bonito para a passagem dos ônibus, mas para nós algo com escada. E os doentes como o meu marido que vão para o médico?”, diz Terezinha de Jesus e Silva.

“Somos cidadãos, merecemos uma passagem decente. A obra é bonita para quem usa o BRT e nós ficamos com a indignação”, relata Maria do Socorro Soares, moradora de Olaria.

“Está ruim, daqui da minha casa eu vejo o balanço. Sem falar na tábua podre, está afundando, tem que passar devagarzinho. É triste ver idosos e grávidas com dificuldades e medo”, conclui Valmir Jorge de Alexandre, morador de Ramos.

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[toggle title=”Inscrições abertas para várias oficinas”]

 

Gastronomia para mulheres

O Maré de Sabores, projeto dirigido a mulheres e composto por oficinas de gastronomia, gênero e cidadania, abrirá uma nova turma no segundo semestre. Ao final do curso, as alunas poderão fazer parte da cooperativa do Maré de Sabores, que oferece bufês para os mais variados tipos de eventos em toda a Região Metropolitana do Rio.

Inscrições até 31/07, na Secretaria da Redes (Rua Sargento Silva Nunes, 1.012, Nova Holanda, de 7h30 às 21h e sábado até 14h) ou na Lona Cultural da Maré, onde acontecem as aulas(na Rua Ivanildo Alves, s/n, Nova Maré , de 8h às 17h, de segunda a sexta). Mais informações pelo tel. 3105-5531.

Oficinas socioculturais no CRMM

O Centro de Referência de Mulheres da Maré Carminha Rosa (CRMM-CR), projeto da UFRJ na Vila do João, está com vagas para as seguintes oficinas: Arte em tecido (turmas às segundas-feiras de 9h30 às 11h30); Bordado (terças de 9h30 às 11h30); Dança (terças de 13h30 às 15h30 ou sextas de 9h30 às 11h30); Fuxico (quintas de 9h30 às 11h30); e Crochê (quintas de 13h30 às 15h30).

O CRMM também oferece gratuitamente atendimento social, psicológico e jurídico para mulheres maiores de 18 anos. A instituição fica na Rua 17, s/n, (ao lado do posto de saúde da Vila do João). Horário: segundas, terças e quintas, de 8h30 às 12h e de 13h às 16h30; e quartas e sextas, de 8h30 às 12h. Tel.: 3104-9896

Foto, vídeo e blog

Até o dia 8 de agosto estão abertas as inscrições para o projeto “Do Chão da Maré às Nuvens”, uma parceria entre Observatório de Favelas e Criança Esperança. O curso é para estudantes do 6º ao 9º ano, de 12 a 16 anos, que queiram aprender sobre fotografia, vídeo e blog. Saiba mais em http://dcmn.org.br/wp ou no Observatório, na Rua Teixeira Ribeiro, 535, Parque Maré. Tel.: 3105-0204

Capacitação profissional

O Banco da Providência está com vagas para uma série de cursos de capacitação. Os cursos ocorrem em Realengo, mas a instituição paga a passagem. Inscrições de 11 de agosto a 5 de setembro, na paróquia São José Operário, na Via A1, 120, Vila do Pinheiro, às terças e quintas-feiras. Após a formatura, os alunos são encaminhados a uma agência de emprego.

Há cursos de Beleza (cabeleireiro, mega-hair e entrelace), Confecção (corte e costura, modelagem, costura em malha e lycra), Gastronomia (lancheiro de doces e salgados, bolos e tortas), Informática (Windows, Word, Excel, Power Point e Internet), e Básico em montagem e manutenção de micro computadores. Tel.: 98578-0628, com Vânia.

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[toggle title=”Serviço de cartório no Parque União”]

Foi inaugurada no Parque União uma loja que oferece serviços de autenticação, assessoria jurídica e previdenciária (INSS), além de corretagem de imóveis e orientação para financiamento da Caixa. Fruto de parceria com a Associação de Moradores do Parque União, a Mix Service fica na Rua Darcy Vargas, 69.

Os serviços de assessoria jurídica e previdenciária são gratuitos, mas é necessário ligar para marcar horário de atendimento (tel.: 2507-1089 / e-mail: [email protected]). A associação luta para que seja aberto no mesmo local um posto de pagamento do
Caixa Aqui.

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[toggle title=”Rondelli de presunto e queijo ao molho branco”]

 

RECEITA – Por: Itamar Isidoro, a Tânia da Principal

INGREDIENTES :

• 9 fatias de presunto (a gosto)

• 9 fatias de queijo mussarela (a gosto)

• 300g de massa de lasanha

MOLHO:

• 3 colheres de azeite

• 1 cebola pequena picada

• 1 colher de margarina

• 1 caixade creme de leite

• ½ litros de leite

• 1 copo de requeijão

• Pimenta e cominho (a gosto)

• 1 colher de sobremesa de sal

• 1 caldo Knorr

• 150g de queijo parmesão ralado

 

PREPARO:

RONDELLI: Abra a massa de lasanha, passe o requeijão e coloque as fatias de queijo e presunto uma em cima da outra. Corte a massa um pouco maior que as fatias de queijo e presunto. Logo depois, enrole a massa.

MOLHO— Refogar o alho e a cebola no azeite. Colocar o creme de leite, requeijão, leite, pimenta e o cominho. Deixar cozinhar de 1 a 2 minutos. Mexa o molho até ter uma consistência mais firme. Quando o molho estiver com uma forma mais firme, desligue o fogo e acrescente o queijo, mexendo bem, para ele não grudar. Com o molho cubra o rondelli que deve estar previamente arrumado em uma assadeira. Leve ao forno por 20 minutos. Antes de servir cubra com o queijo parmesão ralado.

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Maré por Justiça

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Por: Eliana Sousa Silva

As dez mortes ocorridas em uma madrugada de junho de 2013 na Maré, maior conjunto de favelas do Rio de Janeiro, poderiam ser apenas mais um triste episódio, dentre tantos registrados no violento cotidiano carioca, sem que deles resulte debate ou consequência digna de nota. O clamor da população local por justiça e o seu questionamento da atuação da polícia naquele território propiciaram um desenvolvimento diferente da situação.

A investigação pela Divisão de Homicídios resultou na instauração de oito inquéritos. Um ano após as mortes, busca-se esclarecer o que pode ter gerado as ações e reações da Polícia Militar, que — mesmo ao enfrentar grupos civis armados — jamais poderiam ter o padrão ocorrido. Não sem razão, a mobilização de moradores da região e de vários cantos da cidade, num misto de revolta e busca por justiça, vem tornando as mortes na Maré tema de reflexões sobre a ação das polícias no Rio.

O caminho trilhado pela sociedade civil para obter a elucidação e a reparação por parte da polícia tem sido o acompanhamento sistemático dos procedimentos investigativos. Para que a investigação tenha qualidade, é preciso garantir a participação das pessoas que testemunharam as violências relatadas — objetivo nada banal, dado o contexto histórico de intimidação e receio dos moradores de favelas no relacionamento com as forças policiais. Este tem sido o grande desafio para os que querem chegar aos responsáveis pelas brutalidades assinaladas.

Nesse sentido, preocupam indícios de que dificuldades inerentes ao contexto e ao processo de investigação podem não levar ao esclarecimento de como cada morte aconteceu e quem as provocou. A perspectiva de que, de dez homicídios, oito poderão ser caracterizados como autos de resistência, categoria em que a autoria do crime recai sobre a própria pessoa vitimada, nos deixa perplexos e causa grande frustração.

Um avanço em direção oposta a esse sentimento pode ser a aprovação da Lei 4.471/2012, em tramitação no Congresso Nacional. A sua aprovação poderá significar o fim da caracterização dos homicídios ocorridos em confronto com a polícia como ‘autos de resistência seguidos de morte’. Dessa forma, espera-se que os crimes cometidos por policiais passem a ser rigorosamente esclarecidos, e fatos incompreensíveis e inaceitáveis como os ocorridos na Maré deixem de acontecer, já que os profissionais da segurança pública devem ter como princípio a proteção e o respeito à vida.

Fonte: O Dia

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Opinião – iG

05/07/2014 10:24:38 pm

Maré for Justice

Eliana Sousa Silva

The path walked by civil society to obtain elucidation and reparation by the Police has been the systematic follow-up of investigation proceedings.

O DIA

Rio – The ten deaths occurred at down in June 2013 in Maré, the largest complex of favelas (slums) in Rio de Janeiro,  could have been just another sad episode, among so many recorded in Rio de Janeiro violent routine, that don’t result in debate or consequence worthy of note.  The local population call for justice and its questioning of the police actions in that territory have provided a different development to the situation.

The Homicide Division investigation resulted in eight proceedings. One year after the deaths, the investigation seeks to elucidate what may have generated the actions and reactions of the Military Police, which – even while facing groups of armed civilians – could not have that pattern. Not without reason, the mobilization of the region residents and residents from different areas of the city, in a mixture of revolt and seek for justice, has been making of the deaths in Maré a theme for reflections on the actions of the police in Rio.

The path walked by civil society to obtain clearing up and reparation by the Police has been the systematic follow-up of investigation proceedings. To confer quality to the investigation, the participation of persons who witnessed the violence reported – not a trivial objective, given the historical intimidation context and the fear of slum residents with regard to relationship with police – must be ensured. This has been the big challenge for those who want to reach the persons responsible for the brutalities.

In this sense, indications that difficulties inherent to the context and to the investigation process may not lead to the elucidation of each death, how they occurred, and who caused them, are of concern. The perspective that, in ten homicides, eight can be characterized as resistance to arrest followed by death, a category in which the crime authorship fall on the victim itself, leaves us perplex and causes too much frustration.

An advance towards the opposite direction can be the approval of Act 4.471/2012, in progress in the National Assembly. Its approval may mean the end of the characterization of homicides occurred during confrontation with the police as ‘resistance to arrest followed by death’.  Hence it is expected that crimes committed by policemen will start to be rigorously elucidated, and incomprehensible and unacceptable facts like those occurred in Maré will not happen again, since public security professionals should be guided by the principle of protection and respect to life.

Eliana Sousa Silva é diretora da Redes da Maré e da Diuc/PR-5/UFRJ

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MARÉ DE NOTÍCIAS #54

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[toggle title=”A Copa da polêmica”]

Por: Silvia Noronha

Dias antes do início dos jogos do Mundial, o visual na Maré era bem diferente das Copas anteriores. A ani- mação dos moradores para decorar as ruas foi bem mais tímida este ano do que em 2010, mas aos poucos o verde e o amarelo foram surgindo aqui e ali. Pelas conversas era pos- sível perceber que as críticas sobre os gastos públicos com os megaeventos Copa e Olimpíada estavam presentes também pela Maré.

“Eu nem estava animado desta vez, mas uma vizinha apareceu com um pacote de fita verde e amarela e aí começamos a arrecadar dinheiro com o pessoal. É muita polêmica, mas é tradição da nossa rua”, explica Carlos Friedrich, o Fred, morador da Rua 1, uma das primeiras situadas na Vila do João a pendurar bandeirinhas. Nos dias de jogo do Brasil, a programação inclui telão na rua e música no final. “A gente precisa de muita coisa, saúde, educação, concordo com a polêmica, mas brasileiro gosta de futebol, né, então vou torcer”, ressalta Fred.

Muitas pessoas com quem o Maré de Notícias conversou têm opinião semelhante, a exemplo do presidente da Associação de Moradores da Vila do João, Marco Antonio Barcellos, o Marquinho Gargalo. Na Copa de 2010, ele instituiu até uma premiação para as ruas mais enfeitadas. Este ano não haverá prêmio, mas a torcida pelo Brasil está garantida.

“Estou sentindo que as pessoas levam o evento para o lado político”, diz ele, que apoia as manifestações, mas vai sim torcer para o Brasil. “Podiam ter feito um plebiscito para ver se o povo queria a Copa no Brasil. Queríamos mais hospitais funcionando e outros serviços públicos, é verdade, mas agora é preciso usar o bom senso. Quem não quer o Brasil campeão?”, questiona ele.

José Maciel, morador da Travessa 4, uma das ruas premiadas na Copa de 2010, também sente diferença no clima. “Investiram muito nessa Copa e estamos vendo saúde e segurança pública horríveis, mas sou brasileiro. Estou confiante
de que a taça vai ficar aqui.”

Na Vila do Pinheiro, uma das primeiras ruas enfeitadas foi a Travessa 8, onde os moradores contribuíram com R$ 5 cada um para alegrar o visual. Antônia Monteiro de Lima aprovou. “A ideia é ver o jogo na rua. Fica bom para caramba, com bebida, comida e os vizinhos reunidos”, conta.

Pluralidade de opiniões

Nem tudo será festa. Um grupo de moradores está organizando uma decoração em forma de protesto na Rua São Jorge, na Nova Holanda. A escolha é uma referência simbólica à chacina da Maré, que completa um ano durante a Copa. Nessa rua, três pessoas foram mortas em uma mesma casa, na madrugada de 24 para 25 de junho do ano passado, na operação do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope) que vitimou nove pessoas. Os crimes ocorreram após um sargento ter sido morto.

Assim, seja comemorando com as vitórias da seleção brasileira de futebol, seja protestando contra os gastos com a Copa, o importante é que o espírito democrático se fortaleça e se amplie. Que todos possam expressar o que pensam e se manifestar do jeito que acham mais justo. Pode ser enfeitando as ruas, organizando o churrasco com os vizinhos ou realizando atos e manifestações de contestação. O fundamental é garantir a pluralidade de opiniões. Todos têm o direito de manifestar suas ideias. Respeitar esse direito é fundamental para construirmos uma sociedade mais democrática, tolerante e aberta ao diálogo.

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[toggle title=”Maré terá plano de atuação da Comlurb”]

Dirigentes das Associações de Moradores das 16 comunidades da Maré estão cobrando da prefeitura a implantação de um plano local de atuação da Comlurb, que atenda as reais necessidades locais.

No dia 10 deste mês de junho, os líderes estiveram reunidos com a representante da prefeitura na Maré, Terezinha Lameira, que pediu um pouco de paciência. “A intenção é atender a Maré como bairro”, explica ela. Entre as principais reivindicações está aumentar o número de garis para varredura das
ruas e também para os caminhões.

Outra novidade foi anunciada por Terezinha: até julho, a Clínica da Saúde da Família Augusto Boal passará a contar com aparelho de ultrassonografia. Falta ainda o Raio-x também prometido, porém sem data para ser instalado.

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[toggle title=”Maré recebe Flupp Brasil”]

Escritores do Brasil e de outros quatro países participaram da primeira Festa Literária das Periferias (Flupp) realizada na Maré, para debater sobre suas obras e a diversidade. Mas assuntos como a Copa no Brasil e a violência contra a mulher também surgiram durante o encontro.

Inspirada na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), a Flupp é um projeto que se diferencia por buscar um processo continuado de formação de leitores e autores nas periferias. A ideia é promover encontros com autores profissionais para afirmar que é possível ser escritor. “O poder público ainda não leva fé na possibilidade de discutir literatura na periferia. Além disso, fomos educados a acreditar que não podíamos ser algo que prestasse, que dirá escritor”, afirma Ecio Sales, idealizador do projeto junto com Julio Ludemir.

O evento aconteceu no Galpão Bela Maré, na Nova Holanda, no início de junho, contando na abertura com um jogo de futebol no Campo da Paty, no Parque Maré, disputada por escritores brasileiros e alemães.

Entre os moradores presentes aos debates estavam Aline Melo, da Vila do Pinheiro, e Ana Maria de Souza, da Vila do João. Ambas gostam de escrever, principalmente poesia, mas também prosa. “Senti a necessidade de escrever contos infantis e recentemente lancei o livro ‘A fadinha Maria e sua boneca de pano’ e a venda ajuda a manter o projeto Maré Latina”, conta Aline. O projeto desenvolve atividades gratuitas, entre elas curso de espanhol.

Autores da periferia em livro

Antes de chegar à Maré, a Flupp Brasil passou pela periferia de Curitiba, Salvador e São Paulo. De acordo com Ecio, essa trajetória ajudou a acumular experiência e a travar diálogos com vários atores. Julio, por sua vez, diz que “hoje a Maré está no foco do Rio de Janeiro e que é preciso atrair olhares para cá que não sejam a mira de um fuzil.”

A Flupp Brasil apresentará 40 novos autores que terão seus textos reunidos em um livro, com lançamento previsto para agosto. “A diferença desta vez é que o tema remeterá a uma reflexão sobre o país. Por isso, foram eleitos quatro pensadores brasileiros que terão suas obras discutidas com total abertura crítica”, explica Júlio. Os nomes dos escolhidos ainda não foram divulgados.

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[toggle title=”Nosso leitor também é escritor”]

Elpídio Bernardes da Costa, morador da Maré há 50 anos, é um camarada de ideias criativas. “Minhas histórias são inspiradas em fatos reais que eu fantasio”, conta ele.

Seu Elpídio veio de Ivolândia, município de Goiás. Primeiro foi para São Paulo, depois para o Rio de Janeiro. Passou uma temporada na casa de um amigo que ele conheceu logo que chegou e que lhe deu abrigo. Era na Rua Teixeira Ribeiro. Em seguida foi para o Morro do Timbau e há 32 anos está no Conjunto Esperança.

“Cheguei sem ter onde morar. Aqui conquistei esposa, moradia, tive uma filha”, afirma ele, que há seis anos é agente de saúde do Posto da Vila do João.

Escolhemos um de seus textos para publicar no mês de seu aniversário (ele completou 70 anos em 15 de junho). Parabéns, Seu Elpídio, pelo aniversário e pelas histórias!

O GORDO

Por: Elpídio Bernardes da Costa

— O gordo ta de travesso, com aquela guimba de cigarro atravessada na boca… a baforar fumaça,a empestear de picumã as suas narinas… — A não conseguir-se realizar o seu objetivo, o dono de um restaurante na rua principal da Vila
do João intenta convencê-lo a deixar o nocivo vício: — Esse Inácio Normandes é um jongo, nas garras do vício… enxertado na hipertensão e adoçado na diabete, o seu confete…

— Esse gorducho é um bruxo, só que não existe vassoura que o aguente… a sua vassoura é especial, a varrer o lixo do luxo… — Ao prosseguir-se, o comentário é irônico a afetar diretamente o cozinheiro, que era indivíduo tranquilo, a não
importar-se com os indiscretos ditos: — Ao descortinar-se da fama, na medida certa do tempero… ele, que anda a cheirar alho e cebola, sob o seu labor de cozinheiro, o seu destempero…

— Ora, destemperado o Gordo sempre foi… assim diz o falso feirante Boi, seu amigo… — A uma afirmativa injuriosa, acrescenta um outro cozinheiro, que investigava os seus conhecimentos culinários, após sentir-se liberto para impor-se as suas minguadas habilidades de mestre cuca: — Ultimamente, ele só estava sabendo, era só preparar farofa com toicinho de fumeiro… que já vem temperada, e dá cheiro…

— Uai Batista, levanta a crista… ao cozinhar-se do falo, vai-se um e vem-se outro… — Ao perceber-se que o dono do restaurante estava deprimido, com a passagem do cozinheiro, um mineiro se amigo intenta reanimá-lo, a utilizar-se palavras de conforto: — O Gordo foi-se, e o Magro vem-se… pois a vida é emprestada, ela não é de ninguém…

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Luto: um ano da chacina que marcou a história da Maré

* Por Eliana Sousa Silva

A noite de 24 e a madrugada de 25 de junho de 2013 ficarão assinaladas na memória dos moradores da Maré e da cidade do Rio de Janeiro pela tristeza.  Durante uma operação do Bope, dez pessoas foram mortas em um episódio que deu visibilidade à violência que na época caracterizava os conflitos entre os grupos criminosos armados e as polícias. Marcado pela dor e perda de vidas como tantos outros, o evento foi, no entanto, singular pela forma como a população local se mobilizou para impedir uma tragédia maior e garantir alguma repercussão dos eventos ocorridos. O episódio também foi peculiar pela forma – claramente, em consequência da mobilização dos moradores – como se iniciaram as investigações realizadas pela Polícia Civil, através da Divisão de Homicídios, DH.

No bojo das manifestações que marcaram o mês de junho de 2013 no Brasil, instituições e indivíduos atuantes na Maré realizaram um protesto no dia 2 de julho daquele ano, sete dias após as mortes. Moradores do Complexo e de vários cantos da cidade, num misto de revolta e busca por justiça, se reuniram e tornaram as mortes na Maré parte da pauta das reflexões sobre a ação das polícias do Rio de Janeiro.

A repercussão mundial da tragédia nas mídias sociais e imprensa, após aquela  madrugada sangrenta, gerou uma reação das autoridades, que deram agilidade à investigação.  No mesmo dia das mortes, foram iniciadas as perícias pela Polícia Civil, que acompanhei, juntamente com integrantes das Comissão de Direitos Humanos, da Assembleia  Legislativa do Estado, de instituições que trabalham na Maré e representante do Ministério Público estadual.

Foram necessários muitos dias para identificar as vítimas e convencer seus familiares a contribuir com depoimentos e pistas para as investigações da Divisão de Homicídios. Um número significativo de testemunhas se dispôs a vencer o medo de falar – fato incomum no contexto das favelas cariocas. A participação dos familiares, apesar das dificuldades históricas inerentes a esse processo, foi determinante para o que se acumulou sobre os possíveis esclarecimentos dos fatos  até o momento.

Infelizmente, não houve, ainda, o anúncio final pela DH dos resultados das investigações dos homicídios ocorridos na Maré a partir das dez mortes identificadas. Dos atingidos, um era policial sargento do Batalhão de Operações Policiais Especiais –BOPE.  As operações, no Parque Maré, na Nova Holanda e no Parque União, três  das 16 favelas da Maré,  foram motivadas por furtos a transeuntes na  Avenida Brasil, filmados e apresentados, ao vivo, em um canal de TV. Um grupo de agentes da segurança pública entrou na Maré; logo de início, foi morto um dos policiais. A partir dali, segundo os depoimentos dos moradores, houve uma sequência de ações brutais em diferentes locais, aparentemente como forma de vingar o policial. Além disso, as cenas das distintas violências estavam em diferentes locais da Maré, deixando de forma explícita o embate ocorrido.

Após um ano desses tristes acontecimentos, o responsável pelas investigações, o delegado Rivaldo Barbosa, informa que o trabalho será concluído em breve e apresentado à sociedade. As perícias realizadas indicam que uma das mortes – a do policial – ocorreu no confronto com integrantes de grupos locais armados. Outras oito foram decorrentes de resistências seguidas de morte; uma última vítima trabalhava em um bar no momento em que a polícia, avançando para os fundos da favela Parque União, atirou na direção do estabelecimento comercial.  É importante frisar que, após a entrada das Forças Militares na Maré, recentemente, foram feitas novas perícias em locais onde ocorreram as mortes.

As informações preliminares acerca das investigações sobre as mortes na Maré em junho de 2013 já são suficientes para instigar a reflexão sobre mortes em favelas e periferias e sobre o esclarecimento de crimes em nosso país. Dos dez vitimados, presume-se – já que ainda não foram finalizados os inquéritos – que oito serão caracterizados como mortos ao resistir à ação policial. Isso significa dizer que essas pessoas serão apontadas não como vítimas, mas como autores das próprias mortes, num contexto de confronto com a polícia.

Tramita no Congresso Nacional o projeto de lei número 4471/2012, que propõe o fim da caracterização dos homicídios que acontecem em confronto com as polícias como “autos de resistência” seguidos de morte.  Essa expressão, que se tornou corriqueira, vem servindo para justificar, historicamente, a falta de esclarecimentos sobre muitas ações criminosas envolvendo profissionais da segurança pública e integrantes de grupos criminosos armados. O texto do projeto sugere uma série de medidas para que estes delitos sejam, de verdade, investigados e punidos. Seria a chance de reduzir o número de processos investigativos policiais nunca esclarecidos, gerando impunidade, abuso de autoridade e fraudes e atingindo diretamente, de maneira perversa, pessoas que não têm força para se contrapor na Justiça à ação equivocada do Estado .

Apesar do esforço de registro e esclarecimento dos homicídios ocorridos na Maré em junho de 2013, será necessário muito mais tempo e determinação por parte das autoridades de segurança pública para que as populações de áreas de favela desenvolvam a confiança nas forças policiais. Os confrontos entre os grupos criminosos armados e as polícias são quase sempre caracterizados por abusos, falta de identificação dos agentes e pela ausência de procedimentos legais no trato com a população das favelas. Tudo isso, sem dúvida, tem gerado descrédito e dificultado as investigações desses casos.

Em outro aspecto, a população de favelas e periferias não reconhece e não confia nos procedimentos e formas de registro dos órgãos investigativos no caso das violações, abusos e homicídios no contexto desses territórios.  O medo impera e paralisa muitas famílias que perderam seus entes queridos, sejam eles policiais ou civis, no sentido de investigar  sobre como os fatos aconteceram e em que condições. Reconstituir as cenas desses crimes requer muito empenho e disposição das partes envolvidas. Acima de tudo, deve ter como pressuposto o fato de que é inaceitável que tantas pessoas sejam mortas e não haja esclarecimento e punição dos responsáveis.

Na Maré, os moradores ainda carregam as marcas das violências ocorridas naquela noite de junho, em que os tiros não paravam de soar. Além dos mortos nas ruas, que geraram perplexidade e revolta, foram muitas as violações ocorridas. Casas foram invadidas; portas, quebradas; pertences, revirados. Os moradores sofreram abordagens truculentas e ameaçadoras e o medo se instaurou de maneira generalizada.

A comprovação de que as mortes resultaram de uma vingança pela morte do sargento do Bope coloca o Estado, por meio da Secretaria de Segurança Pública, numa situação que exige atenção e resposta das autoridades. É incompreensível e inaceitável que profissionais da segurança pública, que deveriam atuar na direção da proteção e do respeito à vida, sejam responsáveis por mortes brutais e injustificadas.

* Diretora da Redes da Maré e da DIUC/PR-5/UFRJ.

Artigo publicado na versão online do jornal Folha de São Paulo no dia 25 de junho de 2014: http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/tendenciasdebates/