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MARÉ DE NOTÍCIAS #55

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[toggle title=”Pedestres pedem socorro!”]

 

Por Hélio Euclides

Por sugestões de leitores, o Maré de Notícias por diversas vezes abordou o tema passarela em suas páginas, em função de reivindicações de manutenção ou construção de uma nova. Agora moradores reclamam da passagem provisória ao lado da Avenida Brasil, em frente à passarela 10 e próxima a Escola Municipal Clotilde Guimarães, em Ramos.

Ela foi construída para ajudar na passagem de pedestres sobre o novo BRT Transcarioca. O problema é que, além de ser alta, só têm degraus e nenhuma rampa, balança e possui piso de tábuas já deterioradas, deixando as pessoas inseguras.

Antes do BRT, inaugurado em junho, os pedestres usavam uma pequena rua com pouco movimento, opção que não existe mais. A passarela precisa de reforma. A Secretaria Municipal de Obras informou que estuda a substituição desta passagem por uma permanente. O órgão desenvolve projeto para a nova estrutura, mas ainda não há valor estimado e data para licitar.

Apesar de ter a estrutura metálica, a queixa maior vem do piso de compensado de madeira. É unânime a opinião de quem usa a passagem diariamente. “Isso é uma injustiça, em especial com idosos e cadeirantes, que muitas vezes só desejam ir ao médico, algo que se torna impossível.  Essa passagem tinha que ser organizada; só porque é favela não tem planejamento”, critica o morador do Parque União, Luiz Couto.

Para piorar, a passarela tem grande acesso de estudantes. “No horário de escola tem engarrafamento de estudantes. Fica mais fácil ir até Ramos e usar a travessia via sinal do que passar nisso”, orienta Ednardo Sousa. A passarela já deixa marcas. É o caso do morador de Ramos, Tiago Campinho, que sofreu um acidente. “Já me machuquei e fiquei um mês com o pé arrebentado, e olha que não sou idoso”, diz ele.

O que dizem os pedestres

“A travessia é perigosa, as madeiras estão soltas, podem causar um acidente”, disse Jorge Antonio, morador da Nova Holanda.

“Na foto não sai o balanço, uma sorte para o leitor. Essa passarela é o acesso a cinco escolas, em três turnos. Fizeram o trabalho bonito para a passagem dos ônibus, mas para nós algo com escada. E os doentes como o meu marido que vão para o médico?”, diz Terezinha de Jesus e Silva.

“Somos cidadãos, merecemos uma passagem decente. A obra é bonita para quem usa o BRT e nós ficamos com a indignação”, relata Maria do Socorro Soares, moradora de Olaria.

“Está ruim, daqui da minha casa eu vejo o balanço. Sem falar na tábua podre, está afundando, tem que passar devagarzinho. É triste ver idosos e grávidas com dificuldades e medo”, conclui Valmir Jorge de Alexandre, morador de Ramos.

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[toggle title=”Inscrições abertas para várias oficinas”]

 

Gastronomia para mulheres

O Maré de Sabores, projeto dirigido a mulheres e composto por oficinas de gastronomia, gênero e cidadania, abrirá uma nova turma no segundo semestre. Ao final do curso, as alunas poderão fazer parte da cooperativa do Maré de Sabores, que oferece bufês para os mais variados tipos de eventos em toda a Região Metropolitana do Rio.

Inscrições até 31/07, na Secretaria da Redes (Rua Sargento Silva Nunes, 1.012, Nova Holanda, de 7h30 às 21h e sábado até 14h) ou na Lona Cultural da Maré, onde acontecem as aulas(na Rua Ivanildo Alves, s/n, Nova Maré , de 8h às 17h, de segunda a sexta). Mais informações pelo tel. 3105-5531.

Oficinas socioculturais no CRMM

O Centro de Referência de Mulheres da Maré Carminha Rosa (CRMM-CR), projeto da UFRJ na Vila do João, está com vagas para as seguintes oficinas: Arte em tecido (turmas às segundas-feiras de 9h30 às 11h30); Bordado (terças de 9h30 às 11h30); Dança (terças de 13h30 às 15h30 ou sextas de 9h30 às 11h30); Fuxico (quintas de 9h30 às 11h30); e Crochê (quintas de 13h30 às 15h30).

O CRMM também oferece gratuitamente atendimento social, psicológico e jurídico para mulheres maiores de 18 anos. A instituição fica na Rua 17, s/n, (ao lado do posto de saúde da Vila do João). Horário: segundas, terças e quintas, de 8h30 às 12h e de 13h às 16h30; e quartas e sextas, de 8h30 às 12h. Tel.: 3104-9896

Foto, vídeo e blog

Até o dia 8 de agosto estão abertas as inscrições para o projeto “Do Chão da Maré às Nuvens”, uma parceria entre Observatório de Favelas e Criança Esperança. O curso é para estudantes do 6º ao 9º ano, de 12 a 16 anos, que queiram aprender sobre fotografia, vídeo e blog. Saiba mais em http://dcmn.org.br/wp ou no Observatório, na Rua Teixeira Ribeiro, 535, Parque Maré. Tel.: 3105-0204

Capacitação profissional

O Banco da Providência está com vagas para uma série de cursos de capacitação. Os cursos ocorrem em Realengo, mas a instituição paga a passagem. Inscrições de 11 de agosto a 5 de setembro, na paróquia São José Operário, na Via A1, 120, Vila do Pinheiro, às terças e quintas-feiras. Após a formatura, os alunos são encaminhados a uma agência de emprego.

Há cursos de Beleza (cabeleireiro, mega-hair e entrelace), Confecção (corte e costura, modelagem, costura em malha e lycra), Gastronomia (lancheiro de doces e salgados, bolos e tortas), Informática (Windows, Word, Excel, Power Point e Internet), e Básico em montagem e manutenção de micro computadores. Tel.: 98578-0628, com Vânia.

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[toggle title=”Serviço de cartório no Parque União”]

Foi inaugurada no Parque União uma loja que oferece serviços de autenticação, assessoria jurídica e previdenciária (INSS), além de corretagem de imóveis e orientação para financiamento da Caixa. Fruto de parceria com a Associação de Moradores do Parque União, a Mix Service fica na Rua Darcy Vargas, 69.

Os serviços de assessoria jurídica e previdenciária são gratuitos, mas é necessário ligar para marcar horário de atendimento (tel.: 2507-1089 / e-mail: [email protected]). A associação luta para que seja aberto no mesmo local um posto de pagamento do
Caixa Aqui.

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[toggle title=”Rondelli de presunto e queijo ao molho branco”]

 

RECEITA – Por: Itamar Isidoro, a Tânia da Principal

INGREDIENTES :

• 9 fatias de presunto (a gosto)

• 9 fatias de queijo mussarela (a gosto)

• 300g de massa de lasanha

MOLHO:

• 3 colheres de azeite

• 1 cebola pequena picada

• 1 colher de margarina

• 1 caixade creme de leite

• ½ litros de leite

• 1 copo de requeijão

• Pimenta e cominho (a gosto)

• 1 colher de sobremesa de sal

• 1 caldo Knorr

• 150g de queijo parmesão ralado

 

PREPARO:

RONDELLI: Abra a massa de lasanha, passe o requeijão e coloque as fatias de queijo e presunto uma em cima da outra. Corte a massa um pouco maior que as fatias de queijo e presunto. Logo depois, enrole a massa.

MOLHO— Refogar o alho e a cebola no azeite. Colocar o creme de leite, requeijão, leite, pimenta e o cominho. Deixar cozinhar de 1 a 2 minutos. Mexa o molho até ter uma consistência mais firme. Quando o molho estiver com uma forma mais firme, desligue o fogo e acrescente o queijo, mexendo bem, para ele não grudar. Com o molho cubra o rondelli que deve estar previamente arrumado em uma assadeira. Leve ao forno por 20 minutos. Antes de servir cubra com o queijo parmesão ralado.

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Maré por Justiça

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Por: Eliana Sousa Silva

As dez mortes ocorridas em uma madrugada de junho de 2013 na Maré, maior conjunto de favelas do Rio de Janeiro, poderiam ser apenas mais um triste episódio, dentre tantos registrados no violento cotidiano carioca, sem que deles resulte debate ou consequência digna de nota. O clamor da população local por justiça e o seu questionamento da atuação da polícia naquele território propiciaram um desenvolvimento diferente da situação.

A investigação pela Divisão de Homicídios resultou na instauração de oito inquéritos. Um ano após as mortes, busca-se esclarecer o que pode ter gerado as ações e reações da Polícia Militar, que — mesmo ao enfrentar grupos civis armados — jamais poderiam ter o padrão ocorrido. Não sem razão, a mobilização de moradores da região e de vários cantos da cidade, num misto de revolta e busca por justiça, vem tornando as mortes na Maré tema de reflexões sobre a ação das polícias no Rio.

O caminho trilhado pela sociedade civil para obter a elucidação e a reparação por parte da polícia tem sido o acompanhamento sistemático dos procedimentos investigativos. Para que a investigação tenha qualidade, é preciso garantir a participação das pessoas que testemunharam as violências relatadas — objetivo nada banal, dado o contexto histórico de intimidação e receio dos moradores de favelas no relacionamento com as forças policiais. Este tem sido o grande desafio para os que querem chegar aos responsáveis pelas brutalidades assinaladas.

Nesse sentido, preocupam indícios de que dificuldades inerentes ao contexto e ao processo de investigação podem não levar ao esclarecimento de como cada morte aconteceu e quem as provocou. A perspectiva de que, de dez homicídios, oito poderão ser caracterizados como autos de resistência, categoria em que a autoria do crime recai sobre a própria pessoa vitimada, nos deixa perplexos e causa grande frustração.

Um avanço em direção oposta a esse sentimento pode ser a aprovação da Lei 4.471/2012, em tramitação no Congresso Nacional. A sua aprovação poderá significar o fim da caracterização dos homicídios ocorridos em confronto com a polícia como ‘autos de resistência seguidos de morte’. Dessa forma, espera-se que os crimes cometidos por policiais passem a ser rigorosamente esclarecidos, e fatos incompreensíveis e inaceitáveis como os ocorridos na Maré deixem de acontecer, já que os profissionais da segurança pública devem ter como princípio a proteção e o respeito à vida.

Fonte: O Dia

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Opinião – iG

05/07/2014 10:24:38 pm

Maré for Justice

Eliana Sousa Silva

The path walked by civil society to obtain elucidation and reparation by the Police has been the systematic follow-up of investigation proceedings.

O DIA

Rio – The ten deaths occurred at down in June 2013 in Maré, the largest complex of favelas (slums) in Rio de Janeiro,  could have been just another sad episode, among so many recorded in Rio de Janeiro violent routine, that don’t result in debate or consequence worthy of note.  The local population call for justice and its questioning of the police actions in that territory have provided a different development to the situation.

The Homicide Division investigation resulted in eight proceedings. One year after the deaths, the investigation seeks to elucidate what may have generated the actions and reactions of the Military Police, which – even while facing groups of armed civilians – could not have that pattern. Not without reason, the mobilization of the region residents and residents from different areas of the city, in a mixture of revolt and seek for justice, has been making of the deaths in Maré a theme for reflections on the actions of the police in Rio.

The path walked by civil society to obtain clearing up and reparation by the Police has been the systematic follow-up of investigation proceedings. To confer quality to the investigation, the participation of persons who witnessed the violence reported – not a trivial objective, given the historical intimidation context and the fear of slum residents with regard to relationship with police – must be ensured. This has been the big challenge for those who want to reach the persons responsible for the brutalities.

In this sense, indications that difficulties inherent to the context and to the investigation process may not lead to the elucidation of each death, how they occurred, and who caused them, are of concern. The perspective that, in ten homicides, eight can be characterized as resistance to arrest followed by death, a category in which the crime authorship fall on the victim itself, leaves us perplex and causes too much frustration.

An advance towards the opposite direction can be the approval of Act 4.471/2012, in progress in the National Assembly. Its approval may mean the end of the characterization of homicides occurred during confrontation with the police as ‘resistance to arrest followed by death’.  Hence it is expected that crimes committed by policemen will start to be rigorously elucidated, and incomprehensible and unacceptable facts like those occurred in Maré will not happen again, since public security professionals should be guided by the principle of protection and respect to life.

Eliana Sousa Silva é diretora da Redes da Maré e da Diuc/PR-5/UFRJ

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MARÉ DE NOTÍCIAS #54

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[toggle title=”A Copa da polêmica”]

Por: Silvia Noronha

Dias antes do início dos jogos do Mundial, o visual na Maré era bem diferente das Copas anteriores. A ani- mação dos moradores para decorar as ruas foi bem mais tímida este ano do que em 2010, mas aos poucos o verde e o amarelo foram surgindo aqui e ali. Pelas conversas era pos- sível perceber que as críticas sobre os gastos públicos com os megaeventos Copa e Olimpíada estavam presentes também pela Maré.

“Eu nem estava animado desta vez, mas uma vizinha apareceu com um pacote de fita verde e amarela e aí começamos a arrecadar dinheiro com o pessoal. É muita polêmica, mas é tradição da nossa rua”, explica Carlos Friedrich, o Fred, morador da Rua 1, uma das primeiras situadas na Vila do João a pendurar bandeirinhas. Nos dias de jogo do Brasil, a programação inclui telão na rua e música no final. “A gente precisa de muita coisa, saúde, educação, concordo com a polêmica, mas brasileiro gosta de futebol, né, então vou torcer”, ressalta Fred.

Muitas pessoas com quem o Maré de Notícias conversou têm opinião semelhante, a exemplo do presidente da Associação de Moradores da Vila do João, Marco Antonio Barcellos, o Marquinho Gargalo. Na Copa de 2010, ele instituiu até uma premiação para as ruas mais enfeitadas. Este ano não haverá prêmio, mas a torcida pelo Brasil está garantida.

“Estou sentindo que as pessoas levam o evento para o lado político”, diz ele, que apoia as manifestações, mas vai sim torcer para o Brasil. “Podiam ter feito um plebiscito para ver se o povo queria a Copa no Brasil. Queríamos mais hospitais funcionando e outros serviços públicos, é verdade, mas agora é preciso usar o bom senso. Quem não quer o Brasil campeão?”, questiona ele.

José Maciel, morador da Travessa 4, uma das ruas premiadas na Copa de 2010, também sente diferença no clima. “Investiram muito nessa Copa e estamos vendo saúde e segurança pública horríveis, mas sou brasileiro. Estou confiante
de que a taça vai ficar aqui.”

Na Vila do Pinheiro, uma das primeiras ruas enfeitadas foi a Travessa 8, onde os moradores contribuíram com R$ 5 cada um para alegrar o visual. Antônia Monteiro de Lima aprovou. “A ideia é ver o jogo na rua. Fica bom para caramba, com bebida, comida e os vizinhos reunidos”, conta.

Pluralidade de opiniões

Nem tudo será festa. Um grupo de moradores está organizando uma decoração em forma de protesto na Rua São Jorge, na Nova Holanda. A escolha é uma referência simbólica à chacina da Maré, que completa um ano durante a Copa. Nessa rua, três pessoas foram mortas em uma mesma casa, na madrugada de 24 para 25 de junho do ano passado, na operação do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope) que vitimou nove pessoas. Os crimes ocorreram após um sargento ter sido morto.

Assim, seja comemorando com as vitórias da seleção brasileira de futebol, seja protestando contra os gastos com a Copa, o importante é que o espírito democrático se fortaleça e se amplie. Que todos possam expressar o que pensam e se manifestar do jeito que acham mais justo. Pode ser enfeitando as ruas, organizando o churrasco com os vizinhos ou realizando atos e manifestações de contestação. O fundamental é garantir a pluralidade de opiniões. Todos têm o direito de manifestar suas ideias. Respeitar esse direito é fundamental para construirmos uma sociedade mais democrática, tolerante e aberta ao diálogo.

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[toggle title=”Maré terá plano de atuação da Comlurb”]

Dirigentes das Associações de Moradores das 16 comunidades da Maré estão cobrando da prefeitura a implantação de um plano local de atuação da Comlurb, que atenda as reais necessidades locais.

No dia 10 deste mês de junho, os líderes estiveram reunidos com a representante da prefeitura na Maré, Terezinha Lameira, que pediu um pouco de paciência. “A intenção é atender a Maré como bairro”, explica ela. Entre as principais reivindicações está aumentar o número de garis para varredura das
ruas e também para os caminhões.

Outra novidade foi anunciada por Terezinha: até julho, a Clínica da Saúde da Família Augusto Boal passará a contar com aparelho de ultrassonografia. Falta ainda o Raio-x também prometido, porém sem data para ser instalado.

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[toggle title=”Maré recebe Flupp Brasil”]

Escritores do Brasil e de outros quatro países participaram da primeira Festa Literária das Periferias (Flupp) realizada na Maré, para debater sobre suas obras e a diversidade. Mas assuntos como a Copa no Brasil e a violência contra a mulher também surgiram durante o encontro.

Inspirada na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), a Flupp é um projeto que se diferencia por buscar um processo continuado de formação de leitores e autores nas periferias. A ideia é promover encontros com autores profissionais para afirmar que é possível ser escritor. “O poder público ainda não leva fé na possibilidade de discutir literatura na periferia. Além disso, fomos educados a acreditar que não podíamos ser algo que prestasse, que dirá escritor”, afirma Ecio Sales, idealizador do projeto junto com Julio Ludemir.

O evento aconteceu no Galpão Bela Maré, na Nova Holanda, no início de junho, contando na abertura com um jogo de futebol no Campo da Paty, no Parque Maré, disputada por escritores brasileiros e alemães.

Entre os moradores presentes aos debates estavam Aline Melo, da Vila do Pinheiro, e Ana Maria de Souza, da Vila do João. Ambas gostam de escrever, principalmente poesia, mas também prosa. “Senti a necessidade de escrever contos infantis e recentemente lancei o livro ‘A fadinha Maria e sua boneca de pano’ e a venda ajuda a manter o projeto Maré Latina”, conta Aline. O projeto desenvolve atividades gratuitas, entre elas curso de espanhol.

Autores da periferia em livro

Antes de chegar à Maré, a Flupp Brasil passou pela periferia de Curitiba, Salvador e São Paulo. De acordo com Ecio, essa trajetória ajudou a acumular experiência e a travar diálogos com vários atores. Julio, por sua vez, diz que “hoje a Maré está no foco do Rio de Janeiro e que é preciso atrair olhares para cá que não sejam a mira de um fuzil.”

A Flupp Brasil apresentará 40 novos autores que terão seus textos reunidos em um livro, com lançamento previsto para agosto. “A diferença desta vez é que o tema remeterá a uma reflexão sobre o país. Por isso, foram eleitos quatro pensadores brasileiros que terão suas obras discutidas com total abertura crítica”, explica Júlio. Os nomes dos escolhidos ainda não foram divulgados.

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[toggle title=”Nosso leitor também é escritor”]

Elpídio Bernardes da Costa, morador da Maré há 50 anos, é um camarada de ideias criativas. “Minhas histórias são inspiradas em fatos reais que eu fantasio”, conta ele.

Seu Elpídio veio de Ivolândia, município de Goiás. Primeiro foi para São Paulo, depois para o Rio de Janeiro. Passou uma temporada na casa de um amigo que ele conheceu logo que chegou e que lhe deu abrigo. Era na Rua Teixeira Ribeiro. Em seguida foi para o Morro do Timbau e há 32 anos está no Conjunto Esperança.

“Cheguei sem ter onde morar. Aqui conquistei esposa, moradia, tive uma filha”, afirma ele, que há seis anos é agente de saúde do Posto da Vila do João.

Escolhemos um de seus textos para publicar no mês de seu aniversário (ele completou 70 anos em 15 de junho). Parabéns, Seu Elpídio, pelo aniversário e pelas histórias!

O GORDO

Por: Elpídio Bernardes da Costa

— O gordo ta de travesso, com aquela guimba de cigarro atravessada na boca… a baforar fumaça,a empestear de picumã as suas narinas… — A não conseguir-se realizar o seu objetivo, o dono de um restaurante na rua principal da Vila
do João intenta convencê-lo a deixar o nocivo vício: — Esse Inácio Normandes é um jongo, nas garras do vício… enxertado na hipertensão e adoçado na diabete, o seu confete…

— Esse gorducho é um bruxo, só que não existe vassoura que o aguente… a sua vassoura é especial, a varrer o lixo do luxo… — Ao prosseguir-se, o comentário é irônico a afetar diretamente o cozinheiro, que era indivíduo tranquilo, a não
importar-se com os indiscretos ditos: — Ao descortinar-se da fama, na medida certa do tempero… ele, que anda a cheirar alho e cebola, sob o seu labor de cozinheiro, o seu destempero…

— Ora, destemperado o Gordo sempre foi… assim diz o falso feirante Boi, seu amigo… — A uma afirmativa injuriosa, acrescenta um outro cozinheiro, que investigava os seus conhecimentos culinários, após sentir-se liberto para impor-se as suas minguadas habilidades de mestre cuca: — Ultimamente, ele só estava sabendo, era só preparar farofa com toicinho de fumeiro… que já vem temperada, e dá cheiro…

— Uai Batista, levanta a crista… ao cozinhar-se do falo, vai-se um e vem-se outro… — Ao perceber-se que o dono do restaurante estava deprimido, com a passagem do cozinheiro, um mineiro se amigo intenta reanimá-lo, a utilizar-se palavras de conforto: — O Gordo foi-se, e o Magro vem-se… pois a vida é emprestada, ela não é de ninguém…

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Luto: um ano da chacina que marcou a história da Maré

* Por Eliana Sousa Silva

A noite de 24 e a madrugada de 25 de junho de 2013 ficarão assinaladas na memória dos moradores da Maré e da cidade do Rio de Janeiro pela tristeza.  Durante uma operação do Bope, dez pessoas foram mortas em um episódio que deu visibilidade à violência que na época caracterizava os conflitos entre os grupos criminosos armados e as polícias. Marcado pela dor e perda de vidas como tantos outros, o evento foi, no entanto, singular pela forma como a população local se mobilizou para impedir uma tragédia maior e garantir alguma repercussão dos eventos ocorridos. O episódio também foi peculiar pela forma – claramente, em consequência da mobilização dos moradores – como se iniciaram as investigações realizadas pela Polícia Civil, através da Divisão de Homicídios, DH.

No bojo das manifestações que marcaram o mês de junho de 2013 no Brasil, instituições e indivíduos atuantes na Maré realizaram um protesto no dia 2 de julho daquele ano, sete dias após as mortes. Moradores do Complexo e de vários cantos da cidade, num misto de revolta e busca por justiça, se reuniram e tornaram as mortes na Maré parte da pauta das reflexões sobre a ação das polícias do Rio de Janeiro.

A repercussão mundial da tragédia nas mídias sociais e imprensa, após aquela  madrugada sangrenta, gerou uma reação das autoridades, que deram agilidade à investigação.  No mesmo dia das mortes, foram iniciadas as perícias pela Polícia Civil, que acompanhei, juntamente com integrantes das Comissão de Direitos Humanos, da Assembleia  Legislativa do Estado, de instituições que trabalham na Maré e representante do Ministério Público estadual.

Foram necessários muitos dias para identificar as vítimas e convencer seus familiares a contribuir com depoimentos e pistas para as investigações da Divisão de Homicídios. Um número significativo de testemunhas se dispôs a vencer o medo de falar – fato incomum no contexto das favelas cariocas. A participação dos familiares, apesar das dificuldades históricas inerentes a esse processo, foi determinante para o que se acumulou sobre os possíveis esclarecimentos dos fatos  até o momento.

Infelizmente, não houve, ainda, o anúncio final pela DH dos resultados das investigações dos homicídios ocorridos na Maré a partir das dez mortes identificadas. Dos atingidos, um era policial sargento do Batalhão de Operações Policiais Especiais –BOPE.  As operações, no Parque Maré, na Nova Holanda e no Parque União, três  das 16 favelas da Maré,  foram motivadas por furtos a transeuntes na  Avenida Brasil, filmados e apresentados, ao vivo, em um canal de TV. Um grupo de agentes da segurança pública entrou na Maré; logo de início, foi morto um dos policiais. A partir dali, segundo os depoimentos dos moradores, houve uma sequência de ações brutais em diferentes locais, aparentemente como forma de vingar o policial. Além disso, as cenas das distintas violências estavam em diferentes locais da Maré, deixando de forma explícita o embate ocorrido.

Após um ano desses tristes acontecimentos, o responsável pelas investigações, o delegado Rivaldo Barbosa, informa que o trabalho será concluído em breve e apresentado à sociedade. As perícias realizadas indicam que uma das mortes – a do policial – ocorreu no confronto com integrantes de grupos locais armados. Outras oito foram decorrentes de resistências seguidas de morte; uma última vítima trabalhava em um bar no momento em que a polícia, avançando para os fundos da favela Parque União, atirou na direção do estabelecimento comercial.  É importante frisar que, após a entrada das Forças Militares na Maré, recentemente, foram feitas novas perícias em locais onde ocorreram as mortes.

As informações preliminares acerca das investigações sobre as mortes na Maré em junho de 2013 já são suficientes para instigar a reflexão sobre mortes em favelas e periferias e sobre o esclarecimento de crimes em nosso país. Dos dez vitimados, presume-se – já que ainda não foram finalizados os inquéritos – que oito serão caracterizados como mortos ao resistir à ação policial. Isso significa dizer que essas pessoas serão apontadas não como vítimas, mas como autores das próprias mortes, num contexto de confronto com a polícia.

Tramita no Congresso Nacional o projeto de lei número 4471/2012, que propõe o fim da caracterização dos homicídios que acontecem em confronto com as polícias como “autos de resistência” seguidos de morte.  Essa expressão, que se tornou corriqueira, vem servindo para justificar, historicamente, a falta de esclarecimentos sobre muitas ações criminosas envolvendo profissionais da segurança pública e integrantes de grupos criminosos armados. O texto do projeto sugere uma série de medidas para que estes delitos sejam, de verdade, investigados e punidos. Seria a chance de reduzir o número de processos investigativos policiais nunca esclarecidos, gerando impunidade, abuso de autoridade e fraudes e atingindo diretamente, de maneira perversa, pessoas que não têm força para se contrapor na Justiça à ação equivocada do Estado .

Apesar do esforço de registro e esclarecimento dos homicídios ocorridos na Maré em junho de 2013, será necessário muito mais tempo e determinação por parte das autoridades de segurança pública para que as populações de áreas de favela desenvolvam a confiança nas forças policiais. Os confrontos entre os grupos criminosos armados e as polícias são quase sempre caracterizados por abusos, falta de identificação dos agentes e pela ausência de procedimentos legais no trato com a população das favelas. Tudo isso, sem dúvida, tem gerado descrédito e dificultado as investigações desses casos.

Em outro aspecto, a população de favelas e periferias não reconhece e não confia nos procedimentos e formas de registro dos órgãos investigativos no caso das violações, abusos e homicídios no contexto desses territórios.  O medo impera e paralisa muitas famílias que perderam seus entes queridos, sejam eles policiais ou civis, no sentido de investigar  sobre como os fatos aconteceram e em que condições. Reconstituir as cenas desses crimes requer muito empenho e disposição das partes envolvidas. Acima de tudo, deve ter como pressuposto o fato de que é inaceitável que tantas pessoas sejam mortas e não haja esclarecimento e punição dos responsáveis.

Na Maré, os moradores ainda carregam as marcas das violências ocorridas naquela noite de junho, em que os tiros não paravam de soar. Além dos mortos nas ruas, que geraram perplexidade e revolta, foram muitas as violações ocorridas. Casas foram invadidas; portas, quebradas; pertences, revirados. Os moradores sofreram abordagens truculentas e ameaçadoras e o medo se instaurou de maneira generalizada.

A comprovação de que as mortes resultaram de uma vingança pela morte do sargento do Bope coloca o Estado, por meio da Secretaria de Segurança Pública, numa situação que exige atenção e resposta das autoridades. É incompreensível e inaceitável que profissionais da segurança pública, que deveriam atuar na direção da proteção e do respeito à vida, sejam responsáveis por mortes brutais e injustificadas.

* Diretora da Redes da Maré e da DIUC/PR-5/UFRJ.

Artigo publicado na versão online do jornal Folha de São Paulo no dia 25 de junho de 2014: http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/tendenciasdebates/

O luto da Maré

A noite do dia 24 e a madrugada de 25 de junho de 2013 ficarão assinaladas na memória dos moradores do complexo de favelas da Maré e da cidade do Rio de Janeiro pela tristeza.

Um grupo de agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) entrou no complexo para reprimir furtos a transeuntes na avenida Brasil, via que corta a região. Logo de início, foi morto um dos policiais. A partir dali, segundo os depoimentos dos moradores registrados na investigação que se seguiu, houve uma sequência de ações brutais nas comunidades de Parque Maré, Nova Holanda e Parque União, aparentemente como forma de vingar o policial. A Maré amanheceu chorando nove moradores mortos.

A mobilização da comunidade e de instituições da Maré ajudou a impedir que houvesse ainda mais vítimas e impulsionou as investigações pela Polícia Civil, por meio da Divisão de Homicídios. Uma semana depois, uma manifestação por justiça e contra a violência policial reuniu moradores e pessoas de vários cantos da cidade, ajudando a ampliar a repercussão internacional da tragédia.

Foram necessários muitos dias para identificar as vítimas e convencer seus familiares a contribuir com depoimentos e pistas para as investigações da Divisão de Homicídios. Um número significativo de testemunhas se dispôs a vencer o medo de falar –fato incomum no contexto das favelas cariocas.

Um ano após os tristes acontecimentos, o responsável pelas investigações, o delegado Rivaldo Barbosa, informa que o trabalho será concluído em breve.

As perícias indicam que o policial morreu no confronto com integrantes de grupos locais armados. Outras oito pessoas foram decorrente de resistência seguida de morte; uma última trabalhava em um bar no momento em que a polícia, avançando para os fundos da favela Parque União, atirou na direção do estabelecimento comercial.

As informações preliminares das investigações instigam a reflexão sobre mortes em favelas e periferias e sobre o esclarecimento de crimes em nosso país. Tudo indica que oito vitimados serão caracterizados como mortos ao resistir à ação policial. Isso significa que essas pessoas serão apontadas, não como vítimas, mas como autores das próprias mortes, num contexto de confronto com a polícia.

Tramita no Congresso Nacional o projeto de lei nº 4471/2012, que propõe o fim da caracterização dos homicídios que acontecem em confronto com as polícias como “autos de resistência” seguidos de morte. Essa expressão, que se tornou corriqueira, vem servindo para justificar a falta de esclarecimentos sobre muitas ações criminosas envolvendo profissionais da segurança pública e integrantes de grupos criminosos armados. O texto do projeto sugere medidas para que tais delitos sejam, de verdade, investigados e punidos. Seria a chance de reduzir o número de processos investigativos policiais nunca esclarecidos, os quais geram impunidade, abuso de autoridade e fraudes.

A comprovação de que as mortes resultaram de vingança pelo assassinato do sargento do Bope exige atenção e resposta das autoridades. É incompreensível e inaceitável que profissionais que deveriam atuar na proteção e no respeito à vida sejam responsáveis por mortes brutais e injustificadas.

ELIANA SOUSA SILVA, 51, é diretora da Redes de Desenvolvimento da Maré e da Divisão de Integração Universidade-Comunidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro

The evening of the 24th and the morning of the 25th of June, 2013 will be marked in the memory of the residents of Maré shantytown complex and the city of Rio de Janeiro by sadness.

A group of Special Operations Battalion (BOPE) agents entered the complex to curb thefts to passersby on Avenida Brasil, a road that crosses the region. Early on, one of the policemen was killed. From there, according to the testimonies of the residents registered in the investigation that ensued, there was a string of brutal actions in the communities of Parque Maré, Nova Holanda and Parque União, apparently as a means to avenge the police officers. Maré dawned crying nine dead residents.

The community’s mobilization and Maré institutions helped prevent even more victims and spurred investigations by the civil police, through the Homicide Division. A week later, a demonstration for justice and against police violence brought together locals and people from various corners of the city, helping expand international repercussions of the tragedy.

It took several days to identify the victims and convince their families to contribute with testimonies and clues for the investigation by the Homicide Division. A significant number of witnesses was willing to overcome the fear of speaking – an unusual fact in the context of Rio’s slums.

One year after the sad events, the person in charge of the investigations, delegate Rivaldo Barbosa, said that the work will be completed soon.

The investigations indicate that the policeman died in the confrontation with members of armed local groups. Eight other people were charged with resistance followed by death; and one more was working at a bar at the time the police, advancing towards the back of Parque União slum, shot towards the business establishment.

Preliminary information from investigations instigates reflection on deaths in slums and suburbs and on solving crime in our country. All indications point towards eight victims being proclaimed dead while resisting police action. This means that these people will be identified not as victims, but as authors of their own deaths in a context of confrontation with the police.

In the National Congress, the draft law No. 4471/2012 is being processed, which proposes the end of the characterization of the homicides that happen in confrontation with the police as “resistance” followed by death. This expression, which has become commonplace, has served to justify the lack of clarification on many criminal actions involving professionals of public safety and armed criminal gang members. The draft text suggests measures to ensure that such offenses are, in fact, investigated and punished. It would be a chance to reduce the number of police investigative processes never clarified, which generate impunity, abuse of authority and fraud.

Proof that the deaths were the result of revenge for the BOPE sergeant’s murder requires attention and response from the authorities. It is incomprehensible and unacceptable that professionals who should act in the protection and respect for life are responsible for brutal and unjustified killings.

ELIANA SOUSA SILVA, 51, is director of Maré Development Networks and of the Division of University-Community Integration of the Federal University of Rio de Janeiro.

Favelas e cracolândias que ninguém vê

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O que favelas e cracolândias têm em comum?Ambas sofrem do mesmo mal: são definidas usualmente por meio de estereótipos e transformadas em bodes expiatórios, em escudos contra a assunção de responsabilidades diante de problemas sociais que não se quer enfrentar. Mais do que isso, visões preconceituosas das favelas e cracolândias acabam autorizando formas desrespeitosas e truculentas de lidar com as pessoas que habitam esses espaços.

No caso das favelas e periferias das grandes cidades, a imagem corrente é de moradias inacabadas e condições urbanas precárias, onde prevalecem a miséria, a ilegalidade e a violência. Enxergar as favelas apenas dessa perspectiva significa ignorar o universo social e cultural produzido por seus moradores, a vida pulsante que corre diariamente por suas ruas e vielas, a rede de sociabilidade e solidariedade ali construída. Significa ignorar uma história de organizações e de lutas, e tudo o que os moradores de favelas representaram e representam para a construção do país.

Com relação às cracolândias, existe a crença generalizada de que são espaços povoados por “zumbis”, por pessoas de comportamento imprevisível, violento e repugnante, por autômatos guiados unicamente pelo desejo da droga, sem capacidade de discernimento. No entanto, basta ter a coragem de visitar uma cracolândia real, como fizemos numa das favelas do Complexo da Maré, para enxergar sujeitos usando crack, sim, ingerindo bebidas alcoólicas e eventualmente brigando, mas também compartilhando alimento, afeto e solidariedade. Homens e mulheres cujas vidas viraram de cabeça para baixo num piscar de olhos: perda de emprego, desestruturação familiar, abandono. E que encontraram nas ruas, entre os usuários de crack, o apoio necessário para sobreviver. Ao contrário do que se acredita comumente, muitos desses indivíduos não chegaram ali por causa do crack, e sim por numerosos outros motivos pessoais, econômicos e sociais. O crack é o que hoje lhes proporciona os poucos momentos de prazer que ainda têm na vida.

Vimos na cracolândia algumas dezenas de pessoas miseráveis, morando em minibarracos improvisados e cercados de montes de lixo, sem a atenção dos mais elementares serviços públicos. Mas, mesmo assim, capazes de construir arranjos de convivência e de auxílio mútuo, de refletir sobre suas histórias e sua situação atual, de tomar decisões e de formular demandas.

Nada disso implica negar a existência dos graves problemas decorrentes do uso abusivo do crack. Mas não é com estereótipos que se poderá enfrentá-los adequadamente. Pelo contrário, as imagens estereotipadas servem ora a uma estratégia avestruz para sequer enxergá-los, ora à aceitação de “soluções” truculentas, por trás das quais se escondem muitas vezes interesses pecuniários escusos, como os de certas “comunidades terapêuticas” a quem favorece enormemente a política de internação compulsória financiada pelos cofres públicos.

O abandono a que as favelas foram historicamente relegadas é o mesmo que hoje se observa em relação às chamadas “cracolândias”. É a tendência a lidar com esses espaços por meio de rótulos preconcebidos que geram medo, desconfiança e desrespeito. Se a visão da favela como antro de bandidos justificou por décadas ações violentas e ilegais da polícia, no lugar de políticas públicas para integrar esses espaços ao tecido urbano, a imagem da cracolândia como antro de “zumbis” vem dando força a medidas também violentas e discriminatórias, em vez da assistência devida ao atendimento das reais necessidades dos usuários.

Carl Hart é professor da Universidade de Columbia, Eliana Sousa Silva é diretora da ONG Redes da Maré, Julita Lemgruber é socióloga e coordenadora do Cesec/Ucam

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For the original by Carl Hart, Eliana Sousa Silva and Julita Lemgruber in Portuguese in O Globo click here.

What do favelas and ‘cracolândias’ (‘crack lands’) have in common? Both suffer the same problems: they are de?ned through stereotypes and made into scapegoats, preventing the attribution of responsibility for social issues that no one wants to face. More than this, prejudiced views of favelas and cracolândias end up justifying disrespectful and violent ways of approaching the people who live in these spaces.

In the case of the favelas and suburbs of large cities, the popular image is of un?nished houses and precarious living conditions, where poverty, lawlessness and violence prevail. Seeing the favela just from this perspective ignores the social and cultural universe produced by its residents, the vibrant life that ?ows daily through its streets and alleys, and the networks of sociability and solidarity built there. It means ignoring a history of organization and struggles, and all that favela residents have represented and represent in the construction of the nation.

With regard to cracolândias, there is the widespread belief that they are spaces populated by ‘zombies,’ by violent and repugnant people with unpredictable behavior, by automatons guided only by the desire for the drug, with no capacity for discernment. However, it only takes the courage to visit a real cracolândia, as we did in one of the favelas of the Complexo da Maré–to see people using crack, yes, drinking alcohol and eventually arguing–but also sharing food, affection and solidarity. Men and women whose lives have been turned upside down in the blink of an eye: job loss, family breakdown, abandonment. And what they found in the streets, among crack users, was the necessary support to survive. Unlike what is commonly believed, many of these individuals did not come here for crack, but for numerous other personal, economic and social reasons. Crack is what today offers them the small moments of pleasure they still ?nd in life.

In the cracolândia we saw dozens of miserable people, living in makeshift shacks surrounded by piles of trash, unattended by the most basic public services. Yet even like this, they are capable of building arrangements for co-living and mutual support, of re?ecting on their stories and their current situation, of making decisions and formulating demands.

This is not to deny the existence of the serious problems resulting from abuse of crack. But we can’t confront these problems with stereotypes. On the contrary, the stereotypical images sometimes serve as an ostrich-like strategy, as with the acceptance of hostile ‘solutions’ behind which are often hidden vested interests, such as those of certain ‘therapeutic communities’ which promote compulsory hospitalization policies ?nanced with public funds.

The abandonment that favelas have historically faced is the same that can be observed today in relation to the so-called ‘crack lands.’ There is a tendency to deal with these spaces using prejudiced labels that generate fear, distrust and disrespect. If the image of the favela as the den of bandits justi?ed decades of violent and illegal action on the part of the police, rather than public policy to integrate these spaces into the urban fabric, the image of cracolândias as a den of ‘zombies’ gives strength to similarly violent and discriminatory measures, in place of appropriate support to meet the real needs of users.

Carl Hart is a professor at Columbia University, Eliana Sousa Silva is director of the NGO Redes da Maré, Julita Lemgruber is a sociologist and coordinator of Cesec/Ucam

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