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Por que tanta gripe entre os cariocas? 

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Estação do frio traz oscilação de temperatura e gripe entre os cariocas

As mudanças bruscas de temperaturas podem deixar o corpo humano um pouco “confuso”. Durante o inverno vira rotina na vida dos cariocas a tosse e o nariz congestionado. Muito disso em decorrência da oscilação de temperatura, com calor durante o dia e frio na parte da noite. Resultado: muitos casos de gripe.

Desde 21 de junho, quando o inverno chegou, os casos de gripe dispararam. Em reportagem do RJ1, a Secretaria Estadual de Saúde divulgou dados de ocorrência de mais de 12 mil casos de síndrome gripal, um aumento de mais de 16% nos atendimentos em postos médicos e unidades de pronto atendimento do Estado. Os pacientes relataram tosse seca, congestão nasal, alergias e sinusite, entre dez e 12 dias. Já a maioria dos diagnósticos foi de gripe, pneumonia nos adultos e bronquiolite nas crianças. 

O infectologista pediátrico e professor André Araújo da Universidade Federal Fluminense explica o porquê desse aumento de casos nesse período. 

“Todo ano existe uma coisa chamada sazonalidade dos vírus respiratórios, ou seja, é um período no qual esses vírus circulam com frequência entre as pessoas. Então por isso a gente verifica tantos casos de pessoas com doenças respiratórias, incluindo crianças e adultos. É uma época que ocorre aqui no Rio de Janeiro normalmente um pouquinho antes do inverno, então começa no outono e se estende até mais ou menos no primeiro mês e segundo mês do inverno”.

André Araújo infectologista pediátrico e professor da Universidade Federal Fluminense

Como prevenir?

Ainda de acordo com o infectologista, a prevenção da gripe se faz através da vacina: “Todo ano a gente tem disponível na rede pública a vacina contra essa infecção causada pelo vírus influenza. Até pouco tempo atrás ela era dada para alguns grupos específicos como crianças, gestantes, idosos, mas esse ano foi possível a gente aumentar essa cobertura e oferecer para toda a população”, Araújo ressaltou ainda a importância da vacinação antes do inverno já que o vírus da gripe tem a capacidade de se modificar a cada estação.

Além da vacina, recomendações como: manter a higiene, evitar contato com outras pessoas se estiver com sintomas gripais, frequentar ambientes ventilados também foram mencionadas pelo especialista.

Um inverno frio e seco

Este inverno, diferente do ano passado, não trouxe muitas chuvas. Sendo uma estação seca, isso se reflete no ar, com umidade relativa baixa, trazendo preocupações à população. A baixa umidade do ar pode causar transtornos como dores de cabeça e o ressecamento das mucosas das vias aéreas, aumentando o risco de infecções. A recomendação é o aumento no consumo de líquidos, a não realização de exercícios em local de sol e tentar umidificar o ambiente, com soluções caseiras ou aparelhos elétricos. 

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O clima seco causa preocupações com a natureza. No dia 13 de julho foram detectados 105 focos de incêndio só no Estado do Rio de Janeiro. Foi o dia mais seco desde que começaram as medições pelo Instituto Nacional de Meteorologia, há nove anos, com umidade do ar em 14%. Segundo o Centro de Operações Rio (COR), a temperatura máxima foi de 37,2°C. Já no dia seguinte não passou dos 23 graus, uma diferença de 14 graus, o que pode trazer prejuízo para a saúde. 

Os médicos recomendam que todos preservem a imunidade alta. Para isso, a sugestão é consumir alimentos ricos em vitaminas e minerais essenciais, a prática de atividades físicas, uma boa rotina de sono, fugir do estresse, cuidar da saúde física e mental, o tratamento adequado para resfriados, gripes e alergias, ter medidas de higiene como higienização das mãos e manter a carteira de vacinação em dia.

Lorrayne Gomes, moradora da Vila do João, confessa que ela e o filho não tem problema nesse período, sem alergia e quase nunca ficam gripados. “Mas este ano a minha vida mudou, meu filho fez recentemente uma traqueostomia, dizem que nessa época ficam com mais secreção, então vou precisar gastar mais com coisas que vou usar com ele. O que é certo é que nesta estação a gente fica mais preguiçosos”, conclui. Para quem já está contando nos dedos a chegada da estação das flores, é bom lembrar que a Primavera só chega no dia 23 de setembro. 

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que desde fevereiro deste ano foram abertos 54 leitos de retaguarda exclusivamente para bronquiolite no Município do Rio. Segundo dados da SMS, no final de junho, 110 crianças estavam internadas com quadro de pneumonia e bronquiolite. Em um total de 235 pacientes internados em leitos da rede SUS, em decorrência de quadros respiratórios. 

A SMS enfatizou que a melhor forma de prevenir os quadros graves de doenças respiratórias é com a vacinação contra a gripe. Completou que a vacina está disponível em todas as unidades de atenção primária, como clínicas da família e centros municipais de saúde, para toda a população a partir dos seis meses de vida.

Nosso nome tem história: as pessoas por trás do Maré de Notícias

Saiba como estão os três moradores que, há 14 anos, deram nome a um dos maiores jornais comunitários do Brasil

Por Samara Oliveira

Maré de Notícias #150 – julho de 2023

Em dias de celebração, especialmente no dia do nosso aniversário, lembramos de pessoas que fazem parte da nossa trajetória. Com o Maré de Notícias não é diferente. Neste mês, completamos a marca de 150 edições e muitas pessoas possibilitaram isso, no entanto viemos falar sobre três delas. Pessoas essas que com sua criatividade e iniciativa permitiram que o jornal aderisse ao nome que permanece até hoje. 

Vamos brevemente voltar alguns anos no tempo para contar a história de criação do nosso jornal. Fundado pela Redes da Maré já na versão impressa em dezembro de 2009, com 30 mil exemplares, o jornal foi publicado por duas edições ainda sem nome definido. O intuito era a participação do morador na escolha do nome do veículo de comunicação que em pouco tempo se tornaria um dos maiores jornais comunitários do Brasil com tiragem de 50 mil exemplares.

Leia também as outras notícias da edição especial #150

O concurso “Por um jornal da Maré: diga que nome você quer!” atraiu mais de 500 pessoas, entre elas: Felipe Meireles, com 11 anos na época , Maria Euzete de 48 e Cristiano Magalhães, com 35. Sem saber, os três estariam se eternizando no Conjunto de Favelas da Maré ao empatarem escolhendo o nome da principal fonte de informação de qualidade da Maré. 

Por causa do empate, um sorteio definiu que Felipe, morador da Nova Holanda, ganharia um computador.

Prêmio para a vida

O vencedor Felipe Meireles, 25 anos, conta que o concurso impactou diretamente suas decisões profissionais no futuro

Felipe Meireles, hoje com 25 anos e pai de uma menina de seis anos, se define como um rapaz família e que gosta de estar com os amigos, seja no Maracanã vendo o Flamengo ou nos “pagodinhos”. Ele conta que ter ganhado o concurso impactou diretamente suas decisões no futuro. 

Quando chegou a hora de escolher a profissão, o jovem optou ser técnico de informática e, em seguida, operador audiovisual: “O computador despertou uma grande vontade de permanecer sempre com um por perto durante a minha vida.”

Com a experiência que adquiriu, em 2022 Felipe conseguiu trabalhar na produção do maior reality show brasileiro, o Big Brother Brasil: “Tive muito orgulho de mim e tudo isso por conta de um computador que ganhei pela Redes [da Maré]. Também já viajei para alguns lugares do Brasil como João Pessoa, Goiânia, Salvador, Belo Horizonte e São Paulo por causa do meu trabalho.”

Escritora favelada

Maria Euzete conta da emoção de ter participado do concurso – Foto: Affonso Dalua

Maria Euzete hoje tem 62 anos e conta da emoção de ter participado do concurso: “Foi uma alegria enorme assim no meu coraçãozinho. Sei que não fui só eu que dei esse nome, mas para mim é como se o Maré de Notícias fosse um filho que cresceu. É uma honra saber que o nome Maria Euzete faz parte dessa história.” 

Há três anos ela mudou-se para Xerém, em Duque de Caxias, mas conta que continua conhecendo o território como a palma de sua mão. Euzete morou no conjunto por mais de 50 anos e, apesar de ter vivido por mais tempo na Baixa do Sapateiro e no Conjunto Esperança, ela garante que já morou em todas as favelas da Maré:

“Meu pai era igual um nômade”, brinca sobre o tempo em que a família se mudava com frequência. Esse conhecimento foi bastante útil: depois do concurso, Euzete trabalhou como distribuidora do jornal por cerca de quatro anos.

Com uma memória viva e carinhosa da sua trajetória na Maré, Euzete relembra dos momentos marcantes da sua infância e adolescência no território, uma jornada que começou ainda na época das palafitas.

“Quando fui morar na Maré eu era uma criança, a Maré é o meu lar. Eu corria descalça por aquelas pontes finas, entre as palafitas. Caí tanto naquela Maré que, se cair na Maré matasse, eu não estava viva”, relembra, sorridente. 

Casada e com três filhos, ela fala com orgulho sobre também ser escritora. Euzete chegou a participar de um concurso de poesia e, junto com outros autores, teve seus escritos publicados na antologia Vozes. Entre seus poemas, ela destaca O Complexo da Maré pede socorro” e A cara do mal, que ela chama de “poemas atemporais”.

“Você escreve uma coisa, acha que não vai dar em nada e dá em tudo. Tive tarde de autógrafos, olha só! Uma favelada tendo tarde de autógrafos, que coisa linda!”

Legado 

Cristiano Magalhães contou à reportagem de onde veio a inspiração para o nome do jornal – Foto: Affonso Dalua

Cristiano Magalhães chegou à Maré em 1997 e viveu aqui tempo suficiente para guardar na memória um território que poucos conhecem. Ele morou nos alojamentos provisórios em torno do CIEP Ministro Gustavo Capanema, na Vila dos Pinheiros, construídos para abrigar desalojados pelas fortes chuvas que caíram na cidade na época. 

A localidade ficou conhecida como Kinder Ovo, uma alusão ao tamanho e à precariedade do espaço, que reunia 25 famílias em cada alojamento, equipado com apenas um banheiro. Posteriormente, Cristiano morou na Baixa do Sapateiro e depois voltou para a Vila dos Pinheiros, desta vez para uma casa. 

Ele viveu 13 anos no conjunto e conta com orgulho que foi um dos pintores da Vila Olímpica da Maré. Foi trabalhando lá que soube do concurso para a escolha do nome do novo jornal. 

Ao inscrever sua sugestão do nome, Cristiano explicou de onde veio a inspiração: “O nome tem origem de gíria popular, tipo: teve uma Maré de Notícias hoje”. Em entrevista, ele brincou que a raiz disso seriam as fofocas que circulavam sobre a vida dos moradores, espalhadas principalmente pelas senhoras das ruas.

“Tenho uma tia que ainda mora na Maré. Na minha época lá, percebia que ela nem saía de casa, mas mesmo assim tinha notícias da rua toda. Aí me peguei pensando nisso, nas senhoras que trazem as notícias de quem brigou, de quem foi embora, de tudo. Aí pensei, ‘isso aqui é uma maré de notícias’, aí coloquei lá na caixinha”, diz, gargalhando.

Hoje com 48 anos, morador do bairro de Brás de Pina, casado e pai de três filhos, Cristiano disse se sentir útil à sua comunidade ao ver o crescimento do Maré de Notícias e a permanência do nome. Ele revela ter planos de voltar para a Maré: “Fico muito feliz que o jornal chegou nesse patamar, agora até com site, tenho orgulho. Acabei me perpetuando na Maré, mesmo sem querer.”

Seis lugares na Maré para assistir aos jogos do Flamengo

Final de semana ou não, dia de jogo do Flamengo é dia que a favela se movimenta. Por isso, separamos 6 lugares na Maré para você assistir aos jogos do rubro-negro carioca

Neste sábado (22), o Flamengo enfrenta o América-MG pela 16ª rodada do Campeonato Brasileiro, às 16h, no Maracanã. O favorito do Rio, e da Maré —  segundo o Censo da Maré (2013), tem mais de 45 mil torcedores espalhados pelos territórios mareenses. A disputa com o lanterna do campeonato é – não só pelos três pontos da vitória – mas também para tentar chegar mais perto do Botafogo, líder do campeonato com 39 pontos.

Ocupando a vice-liderança com 27 pontos e com favoritismo nesta disputa contra o América-MG, já foram vendidos mais de 50 mil ingressos para assistir o Flamengo do Gabigol, do Bruno Henrique, do Pedro e do Arrascaeta. No entanto, há aqueles torcedores que por diversos motivos, vão assistir seu time do coração nos pequenos maracanãs dos seus territórios. Por isso, nós perguntamos (e fomos atrás das respostas): 

Onde assistir aos jogos do Flamengo na Maré? 

1- Sede Fla B3 (Bar do Flamengo)

A parceria entre o Bar do Nem, com o Bar do Rafa resultou na Sede Fla B3 ou Bar do Flamengo, como é conhecido o espaço. Com isso, já fica bem claro que o local virou mais que um bar para se tornar um point dos torcedores do Flamengo mareenses. Como tradição, os bares colocam um telão para os torcedores que fazem da rua o seu próprio Maracanã. Os bares ficam localizados na Vila do Pinheiro, Via B3.

2- Bar da principal 61

O Bar 61, como é conhecido, também é um dos points preferidos dos jogos decisivos e dos clássicos entre os times do Rio. Para quem gosta de assistir aos jogos com mais tranquilidade, sem grande volume de pessoas e de torcidas, lá é o lugar certo. Os mareenses que param no bar que fica na Rua Principal, na Nova Holanda, contam com venda de petiscos e de bebidas.

3- Restaurante Galeto Dourado

Com variados drinks, sobremesas e petiscos instagramáveis, o restaurante Galeto Dourado oferece comidas nordestinas e é um dos mais tradicionais do Parque União. O estabelecimento fica na Rua Roberto da Silveira, nº 17.

4- Boteco Tô Chegando

“Bar que transmite e pratica o respeito”, é assim que uma frequentadora do Boteco Tô Chegando define o espaço. O bar é como um reduto para pessoas LGBTQIAP+ serem quem são sem medo de opressões. E para os amantes de futebol, o estabelecimento garante a transmissão dos jogos dos times do Rio com venda de bebidas e petiscos. O boteco fica localizado em frente ao Bloco 13 no Conjunto Pinheiro, Maré.

5- La Casa de Fumaça

A tabacaria e Whiskeria do Parque União da Maré, deu o match perfeito com parcerias de dois estabelecimentos ao seu redor. Com a prática de transmitir os jogos dos times do Rio, La Casa de Fumaça atrai os torcedores que além de consumir as bebidas e os serviços de tabacaria, pedem os petiscos que ficam por conta da Dona Rose Dos Caldos e o Restaurante Bom Lugar. A tabacaria fica na Rua Tiradentes n° 21, Parque União.

6- Picanha Red Maré

“Música, futebol e muita resenha”, é assim que os amantes de futebol curtem uma partida no Picanha Red Maré, localizado na Avenida Guilherme Maxwel, 95 – Maré. Com dose dupla de caipirinha em todos os dias do inverno até as 21h, amantes de futebol — ou não — poderão ir sábado assistir ao jogo do Flamengo contra o América e aproveitar essa e outras promoções.

Ampliando vozes e transformando narrativas

O papel dos jornais comunitários na Rocinha e na Maré na luta contra estereótipos e desigualdades

Por Michel Silva

Maré de Notícias #150 – julho de 2023

Os jornais impressos e digitais de favelas do Rio de Janeiro herdaram as pautas de outras mídias comunitárias que existiram nas décadas de 1980 e 1990. A pauta é como um guia que nos ajuda, como jornalistas, a decidir quais notícias ou histórias devem ser contadas. 

Cresci vendo minha favela sendo mostrada pelas mídias tradicionais como um lugar violento, em que as pessoas não tinham perspectivas de vida e nem direitos básicos, como saneamento. Apesar das notícias, eu como morador sempre soube que a Rocinha era lugar de coisas boas e ótimas histórias, que mereciam ser mostradas e contadas. São dessas dores geradas pela desigualdade e falta de visibilidade que nascem os jornalistas de favelas, e foi assim que eu e outros jovens fundamos o jornal Fala Roça em 2013.

O papel do jornalismo comunitário é ampliar vozes e dar visibilidade a questões que afetam a vida dos moradores da localidade. No Fala Roça, chamamos de jornalismo de favela, para reafirmar a importância histórica desses territórios; muitas vezes, nosso papel é contrapor as narrativas das mídias hegemônicas.

O Maré de Notícias e o Fala Roça fornecem informações relevantes todos os dias sobre infraestrutura, acesso a serviços básicos, questões de segurança, atividades culturais e eventos comunitários. São assuntos que nem sempre ganham a atenção da chamada grande imprensa. E quando acontece, muitas vezes é porque a pauta partiu de nós.

Leia também as outras notícias da edição especial #150

Fazemos jornalismo há dez anos na Rocinha e perdemos as contas de quantas reportagens escrevemos sobre injustiças e desigualdades. O lixo, por exemplo, é um assunto recorrente por aqui e por aí também. Em vez de só culpar o morador, produzimos reportagens contextualizadas, apontando responsáveis e cobrando de quem deve tomar providências.

O jornalismo de favela também é um aliado no fortalecimento comunitário porque cria um senso de coesão, traz informações para as reuniões das associações e compartilha histórias de moradores e seus projetos sociais. No início da pandemia de covid-19, o Fala Roça não só combateu à disseminação de notícias falsas, como também doou milhares de cestas básicas.

A gente mora, vive, sente a favela todos os dias. O jornalismo é aliado da favela quando bem utilizado. Parafraseando o pesquisador Marco Morel, no livro Jornalismo Popular nas Favelas Cariocas, “engana-se quem pensa que por trás dessas folhas de jornal estão apenas uma imitação barata da mídia tradicional. Nesses jornais de favelas estão a História do Povo”.

Que venham mais edições dos jornais mais queridos da Maré e da Rocinha!

Campeonato de futebol reúne times de favelas no campo da Rubens Vaz

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Campeonato de futebol promete competição para os futuros craques e entretenimento para os moradores

As “peladas” dos fins de semana já são práticas comuns nas favelas. Mesmo quando a estrutura não é das melhores, as crianças e também jovens e adultos se juntam naturalmente para jogar bola com os pés descalços. É um movimento quase orgânico pelas ruas, becos e travessas. No período de férias, é ainda mais comum ouvir as crianças pelas ruas organizando uma partida, ou “agitando um fut”.

Com os chinelos para marcar as traves, três gols são suficiente para definir quem ganha e assim desperta a vontade de ser jogador. Já nos campeonatos é diferente. No campo da Rubens Vaz está acontecendo desde junho o campeonato sub 13. Os jogos tem duração de 40 minutos, e são divididos em dois tempos de 20. Os técnicos são os professores. O campeonato conta com árbitros e treinamento para a garotada. A competição vai até setembro.

Leia também: O campo de futebol é minha casa

A união das favelas faz o amistoso

A organização do campeonato é feita pela Associação Esportiva Beneficente Amigos da Maré (AEBAM), presidida por Edson da Silva, morador da Nova Holanda, de 60 anos. Dez times, com cerca de vinte crianças cada, estão competindo.

Representando a Vila do João o Ameriquinha FC, da Ilha do Governador tem o ABCW do Futebol e Playmobil FC. Do Parque União tem o Projeto Esportivo JTA e a Escolinha do Jardel. A Nova Holanda está bem representada pelos times Futuro da Maré, Leo 49 FC e AEBAM. Edson explica que o campeonato está acontecendo graças a reforma do campo e o convite do presidente da associação dos moradores.

Quando acabar o sub13 estão pensando em começar uma outra edição com adolescentes. (Foto: Reprodução)

Um campeonato movido pelo amor

“A gente que ama o mundo da bola desde pequeno não pode abandonar depois de velho, temos que fazer alguma coisa para os nossos netos, nossos filhos e de vizinhos.” justifica o presidente da Associação de Rubens Vaz, Vilmar Gomes, conhecido como Magá.

Edson explica que o AEBAM não tem patrocinador, ele que custeia o lanche e equipamentos para as crianças treinarem e as famílias contribuem com os uniformes. “Eu sou vigilante, o salário do vigilante o piso tá dois mil pô. Mais ou menos gastamos aqui por baixo, uns R$800 por mês, eu faço por amor”, conta.

Campeonato de futebol tem coordenação de Edson, Maga e Marcelo Ferreira conhecido como Uva, os três ao centro da foto. (Foto: Edson da Silva / Arquivo Pessoal)

Das Olimpíadas à luta por justiça: memórias e mudanças sociais de uma década

Uma retrospectiva das histórias marcantes que tornaram-se memória da Maré contadas pelo Maré de Notícias

Por Hélio Euclides, Teresa Santos e Viviane Couto

Ao olhar o relógio e ver seus ponteiros a girar, é possível constatar que o tempo não para. O Maré de Notícias é um contador de histórias de pessoas que constroem a favela. E suas 150 edições, o Maré de Notícias acompanhou o que aconteceu não apenas nos territórios, como também a história se desenrolando no mundo, analisando e trazendo aos moradores todas as mudanças que, de uma forma ou de outra, influenciaram nossas vidas — e como os moradores das favelas estão impactando o mundo de volta.

Poluição persistente

Em 2012 e já dentro dos preparativos para os Jogos Olímpicos de 2016, uma obra prometia a recuperação ambiental do Canal do Fundão. Para os pescadores da Maré, ela gerou muita expectativa.

Marcos Firmino é administrador financeiro da Colônia de Pescadores do Parque União – Foto: Hélio Euclides

“Teve grande melhora no início, mas o projeto não foi á frente e a lama se assolou, voltou tudo ao que era antes”, lembra Marcos Firmino, administrador financeiro da Colônia de Pescadores do Parque União, uma das quatro que existem hoje na Maré. 

Segundo ele, “somos uma classe que sofre com a poluição, que atinge redes e hélices dos barcos. Hoje só tiramos o nosso sustento e do combustível. Nas Olímpiadas o que se viu foi apenas ganância. É preciso investimento na baía, valorizando o turismo e a pesca”.

Cidade vulnerável

Para o engenheiro sanitarista Alexandre Pessoa, professor e pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz (EPSJV /Fiocruz), a limpeza do Canal do Fundão já apresentava um erro de origem, pois o projeto não previa a dragagem do Canal do Cunha. 

Na prática, a remoção de sedimentos foi feita apenas em trechos do Canal do Fundão e não em sua extensão total: “Não foi uma obra para diminuir as inundações nas comunidades, o que eu considero um grave equívoco”, diz o especialista.

Para o engenheiro, “a cidade do Rio de Janeiro pode ser considerada vulnerável porque nunca foi minimamente preparada para as chuvas fortes. E, agora, a questão se intensificou, sendo ainda mais dramática nas favelas mais baixas como Maré e Manguinhos”.

Atletismo local

Enquanto pensávamos no saneamento público, em 2013, a Jornada Mundial da Juventude prometia agitar o Rio de Janeiro, trazendo jovens de todos os lugares do mundo para um grande evento religioso e a Maré não ficou de fora. 

“A Vila do João acolheu peregrinos de outros estados, que não hesitaram em vir para Maré. Eles perceberam que somos potência, temos criatividade e resiliência, que podemos ocupar qualquer espaço, onde quisermos, com seus desafios e superações”, diz a jornalista Priscila Xavier, entrevistada na primeira edição do Maré de Notícias. À época, Priscila era carateca e tinha o sonho de participar dos Jogos Olímpicos do Rio. 

Em 2009, Vinícius contou ao jornal seu sonho com o esporte. Hoje é professor de natação – Foto: Hélio Euclides

Em 2009, o Maré de Notícias já acompanhava os atletas locais. Além de Priscila Xavier, Vinícius Pereira, que tinha 14 anos na época e era atleta amador, trazia a expectativa de que o evento pudesse mudar sua vida. 

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Ele não chegou a participar das Olimpíadas, mas continuou na natação. “Consegui uma bolsa integral em uma faculdade e concluí o curso de educação física. Fui aluno e atleta da Vila Olímpica Municipal Seu Amaro e sigo como professor. Pretendo no futuro cursar a licenciatura para ingressar numa escola municipal”, diz.

Violência 

Em 2013, os moradores vivenciaram momentos de terror com uma operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope), uma chacina na qual dez pessoas foram mortas — um episódio que deu visibilidade à violência nas favelas do Rio. 

Historiador e professor, ex-diretor da Redes da Maré Edson Diniz acredita que os eventos trouxeram mudanças significativas.  “O massacre que ocorreu em 2013 na Nova Holanda foi algo terrível, mas mobilizou todos para um ato pacífico na Avenida Brasil que foi capa de todos os jornais no dia seguinte, fazendo a sociedade criar formas de enfrentamento à violência”, lembra.

A ocupação militar dos territórios em 2015 assustou até os especialistas em segurança pública, gerando um período de medo, incertezas e enfrentamento armado quase que diário que acabou com a saúde física e mental de muita gente. 

Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2017, a área onde vivem 130 mil pessoas recebeu mais de 23 mil militares de diversas regiões do país ao longo de 15 meses. O contingente era constantemente renovado, e o efetivo variou entre dois mil e três mil soldados, ocupando a favela em caráter contínuo e permanente. 

Essa operação das Forças Armadas na Maré custou aos cofres públicos mais de R$ 1,5 milhão ao dia — verba que, para Diniz, poderia ter sido melhor aplicada. 

Ele acredita que “esse dinheiro poderia ter sido investido em saúde e educação. Não ficou legado nenhum dessa operação; militarizaram a rotina da população e não melhorara a vida de ninguém”. 

Luta pela educação

O ano de 2016 foi importante para a educação na Maré: o conjunto ganhou dois campi educacionais com 16 unidades, dentre espaços de desenvolvimento infantil e escolas de Ensino Fundamental. 

Mas para Edvaldo Lourenço, morador da Vila dos Pinheiros, a criação dos campi não foi uma solução. “Apesar do aumento do número de escolas, a educação piorou. Não há vagas para os alunos das creches e do segundo segmento do Ensino Fundamental”, reclama.

Marielle, presente!

O ano de 2016 também trouxe vitórias. Em sua primeira disputa eleitoral, Marielle Franco, cria da Maré, foi eleita vereadora na capital fluminense, a quinta mais votada. Foram dois anos de um mandato combativo, marcado pela mobilização popular e luta pela garantia dos direitos humanos. 

Sua trajetória foi interrompida em 2018, quando Marielle foi assassinada na noite do dia 14 de março. Até hoje, sua família, os moradores da Maré, organizações e instituições do Brasil e do exterior lutam para que os culpados e os mandantes sejam identificados e punidos. 

Entretanto, Marielle está presente em muitas lutas e ações que surgiram a partir do seu trabalho e luta. Jonatan Peixoto, educador social e morador da Nova Holanda, lembra com carinho da trajetória de Marielle Franco.

Ele recorda como “Marielle representava a esperança da juventude para colocar as favelas dentro do debate. Por ela, surgem as sementes, mulheres engajadas na luta. Também temos a vitória do governo Lula, mas do outro lado, há um governo estadual com uma política de extermínio da população preta e pobre”.

Pandemia na Maré

O ano de 2020 começou com o surgimento do coronavírus, que parou o mundo. Mesmo em escalas diferentes, os impactos do isolamento social atingiram toda a população da Maré e foi preciso criar ações para enfrentar esses desafios. Por meio da campanha Maré diz NÃO ao coronavírus, foram garantidas cestas básicas para quase 70 mil pessoas.

Para além do sofrimento e das incertezas, a pandemia da covid-19 trouxe também trabalho, solidariedade e criatividade. 

As ações do projeto Conexão Saúde: De olho na covid-19 levaram a uma redução de 46% na taxa de mortalidade semanal pela doença e um aumento de 23% nas notificações de casos de covid-19. 

O projeto foi fruto de uma parceria entre Redes da Maré, Conselho Comunitário de Manguinhos, Dados do Bem, SAS Brasil, Fiocruz e União Rio. As ações foram desenvolvidas entre o segundo semestre de 2020 e o primeiro semestre de 2021, e os resultados alcançados, consolidados em um estudo divulgado em 2023 no BMJ Global Health.

O médico Fernando Bozza, pesquisador do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz (INI/Fiocruz) foi coordenador da pesquisa. Para ele, o sucesso da iniciativa foi fruto de uma intervenção de base comunitária. “O Conexão Saúde é, de alguma maneira, uma inovação do ponto de vista organizacional de como a academia, a sociedade civil organizada, o poder público e os incentivadores privados podem trabalhar juntos”, diz ele.

Pescadores sofrem com a poluição, que atinge redes e hélices dos barcos. Hoje resistem apenas quatro colônias na Maré – Foto: Affonso Dalua