Caminhada marca conscientização pelo autismo na Maré

Data:

Mobilização de moradores do conjunto de favelas pede respeito aos autistas

Por Hélio Euclides, em 06/04/2022 às 07h. Editado por Edu Carvalho

Como forma de lembrar o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, comemorado no primeiro final de semana de abril, moradores da Maré farão uma caminhada para conscientização. O evento acontece amanhã (07/04), com saída da Clínica da Família Adib Jatene, na Vila dos Pinheiros. O percurso tem como ponto de encontro final a Praça das Nações, em Bonsucesso. A previsão é que reúna mais de 100 moradores.

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é uma condição de saúde caracterizada pelo comprometimento da interação social e da comunicação verbal e não verbal, e pelo comportamento restrito. Os aspectos nem sempre são identificados imediatamente, o que atrasa o início do tratamento. Outro problema ainda é o preconceito por parte da sociedade, que ainda acredita que o autismo é uma doença. 

Como forma de conscientização e mobilização, Leonardo Borges, profissional de educação física do Programa Academia Carioca/Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), da Clínica da Família Ministro Doutor Adib Jatene, na Vila dos Pinheiros e no Centro Municipal de Saúde da Vila do João, organiza caminhadas temáticas. Depois de duas edições sobre a não violência contra a mulher e uma sobre a prevenção ao suicídio, agora chegou a vez da luta pela compreensão do autismo. “A ideia da caminhada partiu por ter uma sobrinha de nove anos que é autista. É uma homenagem a ela e uma forma de conscientizar a sociedade sobre o transtorno que é diferente de uma doença”, resume. 

Borges antecipa que a próxima mobilização será em prol da doação de sangue ao Hospital Federal de Bonsucesso, no mês de junho. 

Uma luta de 365 dias

No ano passado, o Centro de Controle de Doenças e Prevenção divulgou dados a respeito da prevalência de autismo entre crianças de oito anos no mundo. Os números foram coletados em 2018 e mostram que uma a cada 44 crianças são autistas, um aumento de 22% em relação ao estudo anterior. No Brasil, ainda não há estudos que mostram números exatos. 

A falta de dados, e por se conhecer pouco sobre a TEA, resulta numa luta constante para acesso a informação. Andreza Carla, moradora da Vila dos Pinheiros, faz parte do grupo Especiais da Maré. Ela ajuda mães do território a entender sobre o diagnóstico. No caso dela, não foi fácil a análise do seu filho Luiz Miguel, que só foi possível aos quatro anos. Uma professora observou o desenvolvimento e rendimento escolar do menino, fez um relatório e orientou a procura de uma psicóloga para avaliação. A profissional levantou a hipótese de autismo e o menino foi examinado por um neurologista que confirmou a suspeita. Ela conta que já são três anos na luta pela inclusão.

No grupo, mães são acolhidas e compartilham experiências antes não reconhecidas. “Elas se sentem sozinhas e desamparadas em relação aos cuidados que devem ter, como terapias, consultas e dificuldade em encontrar vaga nas escolas. Ajudamos a lutar pelo direito de inclusão e acessibilidade, a não abandonar as terapias e o tratamento das crianças”, comenta. O grupo também orienta a mãe, para que ela se sinta importante, com incentivo a natação, tratamento dos cabelos e unhas. “Tudo é possível por meio de parceria. Ações que ajudam a levantar a bandeira de que quando o diagnóstico chega a vida não acaba, só começa de uma forma diferente”, diz. 

Sobre a caminhada, da qual também vai participar, ela acredita que é uma porta de entrada para as pessoas que não conhecem a luta e especificamente o que é o autismo. “É de suma importância para que os autistas alcancem cada vez mais lugar na sociedade. A sociedade deveria estudar mais sobre o assunto, entender e ajudar cada vez mais. Os autistas estão cada vez mais visíveis e não admitimos mais exclusão por falta de conhecimento. Eles são potentes e podem contribuir, e muito, para um futuro totalmente diferente”, conclui.

Leia mais sobre o TEA:

Compartilhar notícia:

Inscreva-se

Mais notícias
Related

Série “Amar É Para Os Fortes” será exibida gratuitamente na Maré

Série sobre violência das operações policiais em favelas será exibida na Maré nesta quarta (05)

Das pistas de atletismo da Maré para solo estadunidense

A trajetória do atleta mareense de 22 anos que, por meio da corrida, pôde voar.

Rene Silva e Flavia Oliveira são homenageados pela deputada Renata Souza

Renata Souza entrega Medalha Tiradentes a Rene Silva e...

Saiba quem são os ganhadores do Comida de Favela

Além dos ganhadores do Comida de Favela três comerciantes ganharam uma menção honrosa pelo trabalho que realizam em seus estabelecimentos