Campanha incentiva a Maré a tomar 2ª dose da vacina Covid-19

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Por Luciana Bento (Conexão Saúde), em Agência Fiocruz – 08/10/2021 às 07h

Com o sucesso da primeira fase da campanha #VacinaMaré, ocorrida no início de agosto, o desafio agora é completar o ciclo de imunização, aplicando amplamente a segunda dose da vacina nos moradores adultos da Maré. Para isso, a Fiocruz, as Redes da Maré e a Secretaria Municipal de Saúde se unem novamente em um mutirão de vacinação que acontecerá entre os dias 14 e 16 de outubro. A ação conta com apoio do SAS Brasil, da PUC-Rio e do Conexão Saúde – De Olho na Covid.

Atualmente, 96% da população adulta do território está vacinada com pelo menos uma dose de um dos imunizantes contra a Covid-19. Referência no combate à pandemia em favelas, a Maré apresenta taxa de letalidade abaixo da média do município do Rio de Janeiro e a Fiocruz lidera estudo no território para avaliar efetividade da AstraZeneca, além de monitorar variantes, contaminação de vacinados, entre outros aspectos.

“O projeto #VacinaMaré foi um sucesso já na primeira fase, superando as expectativas. Agora vamos acelerar o processo com a aplicação da segunda dose, possibilitando já avaliarmos alguns resultados da vacinação em massa na proteção da comunidade local, incluindo as crianças”, ressalta o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz.

A iniciativa antecipará o retorno dos moradores vacinados com a primeira dose às unidades de saúde para que completem o ciclo de imunização, recebendo a segunda dose. Por isso, embora na carteira de vacinação possa constar outra data, moradores que já tenham sido vacinados com a primeira dose há pelo menos dez semanas estão aptos a tomar a segunda dose.

A campanha #VacinaMaré – 2ª Dose acontece a partir de uma grande mobilização no território, que envolve organizações não-governamentais, associações de moradores, clínicas da família, voluntários, moradores, artistas, comunicadores e influenciadores digitais. A ideia é incentivar e esclarecer a população sobre os benefícios da vacinação em massa e celebrar a alta taxa de imunização de moradores da Maré contra a Covid-19.

“É essencial que os moradores compareçam em massa para garantirmos a imunização de toda a comunidade. A proteção só acontecerá após a aplicação da D2 e não podemos perder esta oportunidade mobilizando 100% das pessoas para comparecer. O vírus ainda circula e não podemos relaxar. Venceremos a Covid-19 mantendo o uso de máscaras, as medidas de higiene e com vacina no braço”, destaca Valcler Rangel, assessor de Relações Institucionais da Fiocruz.

Desta vez, clínicas da família e associações de moradores formarão a rede de pontos de vacinação, que acontecerá das 8 às 17h, prioritariamente na população entre 18 e 33 anos. A Maré apresenta um perfil populacional majoritariamente jovem (51,9% com menos de 30 anos) e esta faixa etária forma a maior parte da população vacinada na primeira fase da campanha. No entanto, todos os moradores acima de 18 anos que ainda não se vacinaram com a primeira ou segunda dose estão aptos a se vacinar nos dias da campanha.

Apresentações culturais e intervenções artísticas com coletivos e artistas da Maré acontecerão próximas aos locais de vacinação, reforçando o caráter de comemoração de resultados que a campanha propõe. “Vamos celebrar, tomando o cuidado de não formar aglomerações, com pequenas intervenções artísticas. Mas temos resultados a comemorar, depois de tantos desafios causados pela pandemia e agravados pelos problemas históricos do território: a taxa de letalidade na Maré é menor do que a do município e conseguimos, com um projeto pioneiro, dar um tratamento adequado e com base científica para os moradores da favela”, avalia Eliana Silva, diretora da Redes da Maré.

A expectativa, ao final da ação, é de que casos graves e óbitos pela doença caiam ainda mais na Maré. Dados do boletim Conexão Saúde – De Olho no Corona mostram que a taxa de letalidade por Covid-19 na Maré é praticamente metade da taxa do município do Rio de Janeiro. De todas as pessoas infectadas pela doença na Maré, desde o início da pandemia, 4% faleceram. Na cidade do Rio, este percentual ficou em 7%.

O combate à pandemia no maior conjunto de favelas do Rio de Janeiro se tornou referência a partir do projeto Conexão Saúde – De Olho na Covid, que oferece gratuitamente – desde junho do ano passado – serviços de testagem, telessaúde e apoio no isolamento domiciliar a pessoas com Covid, além de ampla campanha de esclarecimento sobre a doença e combate a notícias falsas no território.

Estudo sobre efeitos da vacina

A vacinação em massa de moradores faz parte de um estudo liderado pela Fiocruz, que acompanhará por seis meses (até janeiro de 2022) os efeitos da vacina em duas mil famílias da Maré, totalizando cerca de 8 mil pessoas. Desde a primeira fase da #VacinaMaré, moradores estão sendo chamados a participar voluntariamente do estudo, assinando um termo de consentimento e se comprometendo a notificar os pesquisadores sobre sintomas e possíveis contaminações por Covid-19. Pontos para seleção e inscrição de moradores da Maré que se interessem em participar dos estudos da Fiocruz serão montados nas clínicas da família durante os dias de vacinação da segunda dose.

A pesquisa está dividida em dois estudos que acontecem simultaneamente. O primeiro pretende medir a efetividade do imunizante AstraZeneca contra infecções, levando em conta os critérios de idade, gênero, tipo de vacina ministrada, tempo de infecção após a vacinação, tempo até a segunda dose, ocorrência de casos graves e prevenção de óbitos.

O segundo estudo vai monitorar a circulação de variantes da Covid-19 entre os moradores, a ocorrência de casos entre pessoas vacinadas, possíveis efeitos adversos da vacina e o nível de proteção de crianças e adolescentes não vacinados.

“Este é um projeto único do ponto de vista do entendimento da efetividade das estratégias de vacinação em territórios urbanos e periféricos. Ela combina múltiplos desenhos de estudo e inova na forma como a pesquisa é feita, uma vez que temos a participação direta da população e das organizações locais na formulação e na execução do projeto”, esclarece o infectologista da Fiocruz Fernando Bozza, coordenador da pesquisa.

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