A maior dificuldade relatada pelos dirigentes das duas escolas é a falta de verbas, já que a subversão só aparece muito perto do carnaval
Maré de Notícias #155 – dezembro de 2023
Hélio Euclides e Juliana Neris
As escolas de samba fazem a festa em pelo menos uma semana de folia, até o último toque do surdo de mão. O que para muitos é o encerramento, para os diretores e membros das agremiações é o início do processo de preparação para o carnaval seguinte. A menos de três meses de pisar na passarela, as escolas de samba da Maré estão trabalhando a todo o vapor para a festa de 2024.
A Série Bronze é composta por 25 agremiações, e duas delas são da Maré. O Gato de Bonsucesso será a 12ª escola a desfilar no dia 12 de fevereiro (segunda-feira de carnaval), e o Siri de Ramos, a quarta a entrar na avenida, na terça-feira, dia 13. O desfile retorna ao tradicional circuito da Estrada Intendente Magalhães, em Oswaldo Cruz.
A maior dificuldade relatada pelos dirigentes das duas escolas é a falta de verbas, já que a subversão (auxílio para cobrir as despesas de custeio dado por entidades públicas e privadas) só aparece muito perto do carnaval.
Desejo de vitória
Uma boa notícia é o fim da divisão criada há quatro anos. As escolas dissidentes, dentre elas a Siri de Ramos, voltaram a se filiar à Superliga Carnavalesca do Brasil, que organiza as séries Bronze e Prata, além do Grupo de Avaliação.
A escola vai reeditar para seu desfile do ano que vem o samba Doce Infância. Original de 2011, a música marcou o ano em que a escola passou de bloco carnavalesco para escola. Serão 760 componentes, sendo 180 ritmistas, mostrando o trabalho de três carnavalescos.
“Vamos respeitar as escolas irmãs, mas faremos um carnaval para ser campeã. Não é algo fácil. A ala das baianas, por exemplo, está cada vez menor, mas precisamos ter pelo menos 30 componentes nela”, diz o Edivaldo Pereira (conhecido como Vadão), presidente da agremiação.
Segundo ele, “o orçamento também é apertado: para colocar uma escola na avenida é necessário em média R$ 160 mil”.
Festa na rua
A Siri de Ramos já está montando as alegorias e se prepara para os ensaios abertos, marcados para os dias 13, 20 e 27 de janeiro. Outro ponto alto será a festa Siri Folia, que acontecerá no dia 4 de fevereiro. A escola promete apresentar palhaços, artistas de pernas de pau e outros profissionais de circo.
“Esperamos que a comunidade venha ajudar a agremiação, pois são os moradores que colocam o carnaval na rua. Não temos dinheiro, então para suprir essa falta é necessário conhecimento, boa vontade e gostar muito. Agradeço a Superliga pelo empenho”, conclui Edvaldo.
Alegria organizada
Uma das saídas para levantar fundos é justamente organizar eventos nas quadras para arrecadar verbas e conseguir desfilar. Mas esse é um trabalho a mais numa agenda já apertada. Vânia Silva, vice-presidente da Gato de Bonsucesso, confessa que os bastidores do carnaval são uma loucura.
“Agora é o momento que corremos atrás de parcerias, alinhar o grupo da harmonia, identificar as baianas e os passistas. A alegria precisa ser organizada, uma diversão com interação, que ajuda no desfile”, diz.
Ela adianta que “já montamos a sinopse do enredo e escolhemos o samba. Quando acaba o carnaval temos de correr para a articulação de construir o próximo. Não descansamos”.
A escola terá como enredo o mundo persa, com a preparação do carnavalesco Hugo Silva.
Sem verba
Uma preocupação da escola é o cuidado com a quadra localizada na Nova Holanda.
“Já pintamos, agora temos que cuidar do piso. O objetivo é trazer visibilidade para a escola e assim construir os dois carros necessários. Sempre falta verba para fazer a manutenção nos eixos dos carros, por isso acontecem as quebras na avenida. Estamos correndo na frente para que isso não ocorra”, explica Vânia.
O maior problema, comum às escolas, é o envio da verba perto do carnaval: “A Prefeitura não conversa com as escolas, só envia o recurso em cima da hora. É preciso verba para todos os setores da escola.”
Ela também pede a ajuda da comunidade, dizendo que “seria muito bom que os comerciantes locais nos apoiassem. Botar a escola na avenida não é como falar ‘Abre-te, Sésamo’ e pronto”.