Evento abordou empregabilidade das mulheres no Carnaval, ofereceu oficinas e percorreu as ruas com cortejo
A Casa das Mulheres da Maré, equipamento da Redes da Maré, abriu as portas para celebrar a cultura carnavalesca na última quarta-feira (28). A tarde festiva começou com uma oficina de adereços com participação de Winnie Nicolau que encantou as mulheres e a criançada. Em seguida, a Casa abordou o tema Carnaval e Trabalho em uma roda de conversa que contou com Vânia Silva, vice-presidente do Gato de Bonsucesso, Ágatha Lacerda, responsável pelo ateliê de composição da Unidos da Tijuca, Dandara Vital, assistente do carnavalesco Leandro Vieira da Imperatriz Leopoldinense e Thamiris Vaz, instrutora e líder de Naipes de Xequerê no Cordão Me Enterra na Quarta; a mediação ficou com Quita Pinheiro, coordenadora do Projeto Favela Empreende LGBT. E para fechar com chave de ouro, um cortejo pelas ruas do Parque União com o bloco Me Enterra na Quarta para celebrar a cultura carnavalesca no território.
Geração de arte, trabalho e renda
O Carnaval envolve uma grande estrutura social e demanda enorme organização. Com isso, se faz necessária a profissionalização dos agentes envolvidos na produção do evento e a busca por parcerias e patrocínios que garantam a sustentabilidade financeira dos blocos, escolas de samba e tudo que envolve essa manifestação cultural.
“É muito importante entender o carnaval como arte mas entender também como forma de empregabilidade para diversas famílias”
Dandara Vital, assistente do carnavalesco Leandro Vieira da Imperatriz Leopoldinense
Além disso, Dandara destaca a profissionalização de todos os envolvidos na produção do Carnaval: “Não é uma produção só naquele período, é um trabalho desenvolvido durante todo o ano.”
Ao falar de empregabilidade, Ágatha Lacerda complementa: “É interessante falar disso porque muitos pensam que precisa de diploma, eu comecei como aderecista, bem pequenininha no ramo e hoje sou responsável por um ateliê gigantesco.”
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Mulher trans, Ágatha reforça que a celebração pode ser um caminho para muitas mulheres que passaram pela transição: “É uma porta que temos e às vezes não pensamos sobre isso. Na época que comecei não tinham mulheres trans no Carnaval e hoje em dia tem várias e cada uma no seu nicho. Isso tira mulheres da rua, e sem o estereótipo de ser apenas cabeleireira e maquiadora. Eu comecei como aderecista e hoje sou costureira. O Carnaval ensina muito.”
Participação popular
Vânia Silva, vice-presidente do Gato de Bonsucesso fala da jornada da escola do grupo Bronze dentro da Maré: “A quadra do Gato é muito discriminada por estar no centro da favela Nova Holanda e estamos oferecendo cursos para que as pessoas conheçam o espaço, se profissionalizem, se conectem com a escola e hoje o Gato [de Bonsucesso] dialoga com toda a Maré, com todas as 16 favelas do território”, diz.
Thamiris Vaz, instrutora e líder de Naipes de Xequerê no Cordão Me Enterra na Quarta, concorda com Vânia e revela que os blocos do Carnaval de Rua trabalham o ano inteiro com a população: “Fazemos divulgações, aulões e diversas propostas para atrair o público e tentar manter todos para que o bloco se mantenha. A participação social é fundamental em todo o processo.” Para a vice-presidente, a participação popular é uma via de mão dupla, no qual a escola também precisa entender as necessidades do público e moradores: “Não é só colocar uma roda de samba, é um trabalho de comunicação diária. Nunca houve um workshop de Harmonia realizado por nenhuma escola do grupo Bronze em todo Rio de Janeiro e nós fizemos isso aqui. Queremos não só atrair a participação da população, queremos também gerar empregos.”
“Eu vim aqui crua e sem nenhuma informação, agora eu vi uma possibilidade através do carnaval de ter uma renda extra ou até principal para sustentar minha família, os meus filhos. Fui convidada pela Casa das Mulheres como forma de boas-vindas para o curso Maré de Belezas que vou fazer e adorei.”
Thaianni Galvão, moradora do Parque União
Ao fim do dia, a Casa das Mulheres da Maré se transformou em um ponto de festa com o Cortejo do Bloco Me Enterra na Quarta com muita alegria e felicidade que percorreram as ruas do Parque União, criando uma atmosfera de energia contagiante. No cortejo, as cores vibrantes dos adereços feitos na oficina se misturaram com os sorrisos e abraços calorosos das mulheres da Maré, que dançaram, cantaram e compartilharam esse momento de festa e descontração.