Por Hélio Euclides, em 08/06/2021 às 06h
Editado por Edu Carvalho
Um desafio nas grandes cidades está relacionado à mobilidade urbana. Algo que envolve o deslocamento das pessoas, que precisa ser feito de uma forma rápida, rentável, acessível e garantindo qualidade de vida. A Maré é cercada por três vias expressas, mas grande parte dos moradores não têm acesso a alguns pontos da cidade, como regiões das zonas sul e norte. Com apenas uma linha de ônibus circulando em duas favelas do território, a Maré precisa diariamente do transporte alternativo para se locomover.
A pesquisa realizada em 2018 pela empresa inglesa de consultoria ExpertMarket, divulgada pelo Observatório de Metrópoles, avaliou a mobilidade urbana em 74 cidades espalhadas pelo mundo. O resultado aponta a cidade do Rio de Janeiro com o pior sistema de transporte. O estudo levou em conta tempo de viagem, espera para pegar a condução, número de baldeações, distâncias percorridas e custo financeiro mensal. Um exemplo do atraso na mobilidade é o metrô que na cidade do Rio começou a operar em 1979 e conta com três linhas. Ainda assim, os problemas para o término das obras de estações são grandes. Se comparado com Xangai, no Japão, que começou os trabalhos em 1993, os cariocas ficam comendo poeira, pois lá são 18 linhas.
Um meio comunitário para melhorar a mobilidade
Quando se fala em favela, os transportes alternativos ou complementares são a mão na roda. Na Maré, ao todo, 18 linhas levam os moradores a diversos locais da cidade. Antes, os mareenses precisavam fazer baldeações e gastavam muito mais com passagens. Uma dessas linhas é a 818, que antes saía de dois pontos da Nova Holanda. Por falta de estrutura nas ruas da favela, a cooperativa optou em ficar em um só ponto final, que fica na Rua Bittencourt Sampaio, próximo à Avenida Brasil. As vans levam os moradores para diversos pontos da Rua Dom Helder Câmara, com ponto final no Norte Shopping, no Cachambi.
Iniciada há 20 anos, apesar da importância na mobilidade urbana de moradores, a linha só foi legalizada nos últimos dias do ano passado, como Sistema de Transporte Público Comunitário (STPC), que só pode circular em uma determinada área programática, que é a AP3, que reúne bairros da Zona Norte. O meio de transporte faz uma integração com o Metrô, possibilitando que passageiros possam seguir para a Zona Sul. A linha circula em uma área que não tem ligação de ônibus entre a Nova Holanda e Cachambi. Ela faz o trajeto em sub-bairros, respeitando os critérios estabelecidos pela Prefeitura.
A linha tem 12 kombis e vans legalizadas e outras em processo. Elas circulam pela Avenida Brasil, Linha Amarela, Avenida dos Democráticos e Avenida Dom Hélder Câmara. Por terem o validador, os veículos legalizados aceitam cartão Riocard, onde o passageiro só paga R$ 4,05. Valdete Pergentino, administradora da linha, deseja que o governo municipal não volte atrás nas autorizações. “É muita luta para conseguir cada van legalizada. Espero que a Prefeitura continue a entender a necessidade da população de favela de ter esse modal comunitário. Nós somos necessários. O povo da comunidade já sofre tanto, ter o transporte próximo de casa é um direito”, emfatiza.
“O meu sentimento é de cooperação com pessoas que antes não tinham o transporte e isso atrapalhava o desenvolvimento. As pessoas precisam se locomover, ter acesso ao local de trabalho, escola, hospital, cultura e lazer. O transporte alternativo também é geração de renda dentro da comunidade com o trabalho de motoristas, mecânicos e até restaurantes”, comenta. A linha circula todos os dias da semana, das 5h20 até 23h30.