Corona nos coroas

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Pequenos cuidados como lavar as mãos e evitar beijos podem ajudar a conter o vírus na favela. Idosos e pessoas com doenças crônicas merecem mais atenção

Maré de Notícias #111 – abril de 2020

Dani Moura

Historicamente, periferias e favelas sofrem o abandono do Estado e a precariedade das políticas públicas. Com a chegada da pandemia da COVID-19, esse panorama só piorou. As especificidades das favelas e periferias nem sempre foram contempladas pelo Estado, e quem mais sofreu com isso foram os idosos.  E são esses moradores que, em geral, guardam a memória da luta pela garantia destes direitos. São eles, também, que muitas vezes são a principal referência das famílias. Sustentam netos e  filhos e ajudam a cuidar das crianças enquanto os pais trabalham. E agora, em tempos de isolamento social, como explicar que, de uma hora para outra, não devem mais manter contato com as crianças, que não devem mais sair de casa, nem irem às Clínicas da Família pegarem seus remédios? Um desafio que uma campanha promovida pela Fiocruz, Redes da Maré e outras instituições comunitárias de Manguinhos está tendo pela frente.

Idosos merecem atenção

Segundo o Censo da Maré, realizado pela Redes da Maré, são cerca de 10 mil moradores com mais de 60 anos no conjunto de favelas. Eliana Silva, diretora da Redes da Maré, defende que o poder público foque na população idosa de favelas e periferias, criando projetos específicos para minimizar os efeitos do coronavírus sobre ela.  “Essas pessoas são mais vulneráveis, por serem parte do grupo de risco, e os idosos nesses contextos nem sempre podem contar com o apoio da família. Há uma necessidade urgente de se pensar numa forma de dar suporte às famílias pelo fato de as crianças estarem em casa.”

Há muitos idosos que cuidam de seus netos e as crianças e jovens podem transmitir o vírus, mesmo que não apresentem sintomas da doença.  E a COVID-19 nos idosos aparece de forma mais grave, podendo levar à morte. Contudo, ninguém está isento da contaminação!

 Outro ponto destacado pela diretora da Redes da Maré é o agravamento do problema, por causa do sucateamento das unidades básicas de saúde, cujos profissionais, hoje, não encontram condições adequadas de trabalho. Nas favelas da Maré funcionam, precariamente, 11 clínicas de família e uma UPA. “O governo precisa buscar ações. Já existe uma estrutura de saúde nessas regiões que poderia atuar de maneira organizada na prevenção. Tem de trabalhar o emergencial, pensando também no depois,” afirma Eliana.

Atualmente, todos os atendimentos regulares foram suspensos nas unidades de saúde. Pessoas que sofrem com asma, diabetes, hipertensão e problemas cardíacos estão sem atendimento nas unidades públicas e são elas as que mais precisam de atenção, em especial os maiores de 60 anos de idade. Em todo o planeta, esse grupo de pessoas foi o que mais morreu com a doença. Isso não significa que eles têm mais chances de serem contaminados. O coronavírus, neste sentido, é muito democrático, já que todos são vulneráveis à COVID-19, mas o grupo de pessoas, além dos que possuem doenças autoimunes ou preexistentes têm mais chances do coronavírus aparecer de forma grave, levando à morte. São os chamados “grupos de risco”. Essas pessoas não devem sair de casa.

Quais cuidados tomar?

Segundo o infectologista e pesquisador da Fiocruz, André Siqueira, a maior prevenção é evitar aglomerações, ficar em casa o máximo de tempo possível e lavar as mãos antes de tocar no rosto. Pessoas com diabetes, hipertensão e cardíacas devem continuar tomando seus remédios normalmente.

Recomenda-se estar com as vacinas em dia. Caso a pessoa não tenha tomado a vacina contra influenza/gripe, o ideal é se vacinar o quanto antes. Em pacientes que sofrem com asma ou outros problemas respiratórios, é aconselhado tomar a vacina pneumocócica, que evita o desenvolvimento da pneumonia.

A Campanha Nacional de Vacinação contra a Influenza para idosos acima de 60 anos e profissionais de saúde já começou e vai até 22 de maio. A vacina está disponível nas 233 unidades de Atenção Primária (Clínicas da Família e Centros Municipais de Saúde), de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.  Idosos acima de 80 anos cadastrados nas Clínicas da Família serão vacinados em casa.  

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