As vacinas salvam vidas de crianças e adultos
Andrezza Paulo, Michel Silva e Teresa Santos
Maré de Notícias #158 – Março de 2024.
Desde o início de 2024, já foram registrados mais de 500 mil casos prováveis de dengue no Brasil, de acordo com o painel de monitoramento de arboviroses do Ministério da Saúde. A cidade do Rio de Janeiro, por sua vez, soma mais de 23 mil casos da doença, segundo dados do Observatório Epidemiológico da Cidade do Rio de Janeiro (EpiRio). O total de casos computados entre janeiro e fevereiro de 2024 já ultrapassou o registrado em todo o ano de 2023. O conjunto de favelas da Maré já registrava, até meados de fevereiro, 178 casos.
Um deles foi André Luiz dos Santos, de 53 anos. O morador relata que diante dos sintomas, resolveu procurar a Clínica da Família e já suspeitava que fosse a doença. “Tive febre, dor no corpo, diarreia, cansaço e muita dor de cabeça. Ainda tô sentindo os sintomas e essa semana estou sentindo muita dor no lado direito do abdômen”, conta. André Luiz é motorista autônomo e diz que a doença mexeu com a sua rotina: “Impactou muito meu trabalho e acho que pode ter afetado outra área do corpo, como o meu fígado”.
Nova aliada
Diante deste cenário preocupante, a boa notícia é que, agora, temos uma aliada importante: a vacina contra a dengue. Ela se junta aos mais de 30 imunizantes oferecidos de forma gratuita pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) no Sistema Único de Saúde (SUS).
A vacina da dengue, conhecida como Qdenga, será aplicada primeiro nas crianças de 10 a 11 anos, avançando a faixa etária progressivamente (por enquanto, até 14 anos), assim que novos lotes forem entregues pelo laboratório fabricante.
Nem sempre é fácil lembrar de manter a caderneta de vacina em dia. Mas agora é possível acompanhar e manter as doses atualizadas através do calendário digital de vacinação, onde qualquer pessoa pode checar e pesquisar todas as doses atualmente disponíveis no PNI. A plataforma digital ainda oferece informações sobre doenças que podem ser prevenidas, público-alvo, faixa etária e, dentro de cada público, os imunizantes recomendados. A iniciativa é do Movimento Nacional pela Vacinação, lançado em fevereiro de 2023 pelo Governo Federal, a fim de retomar as altas coberturas vacinais no país.
Outra novidade é a vacina contra Covid-19 que, em 2024, também passa a fazer parte do calendário anual de vacinação para grupos prioritários (crianças de 6 meses a menores de 5 anos, idosos, imunocomprometidos, gestantes e puérperas, bem como demais pessoas em maior risco de desenvolver formas graves da doença).
José Fernando Verani é pesquisador do departamento de Epidemiologia da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP-Fiocruz). Ele explica que não existe nenhuma outra intervenção que tenha um impacto tão grande na saúde pública quanto à vacinação.
“Hoje nós temos recursos, que são as vacinas, aprovadas e já disponíveis no SUS para combater uma série de infecções, principalmente virais e bacterianas, e até mesmo em algumas doenças crônicas. A vacina contra o HPV, por exemplo, teve um impacto tremendo sobre a ocorrência e a prevalência de câncer de colo de útero”, destaca.
Caderneta em dia
Desde 2016, os índices de cobertura vacinais no Brasil enfrentam queda. Porém, em 2023, o governo conseguiu reverter a tendencia e oito imunizantes do calendário infantil registraram alta.
Para o pesquisador da ENSP-Fiocruz, é necessária atenção especial às vacinas contra poliomielite e contra o sarampo em todo o Brasil. Segundo ele, é importante manter altas coberturas vacinais, ou seja, vacinar 95% ou mais do público-alvo para evitar que esses vírus voltem a circular no país.
Vale lembrar que, no caso da poliomielite, a vacina VIP, que é injetável, deve ser administrada aos dois, quatro e seis meses de idade. E a VOPb, que é um reforço via oral, aos 15 meses e aos quatro anos. Com relação ao sarampo, a proteção vem a partir da vacina tríplice viral, que também protege contra caxumba e rubéola, e da tetra viral, que protege contra essas três doenças e mais a varicela (catapora).
A tríplice viral está disponível para pessoas de 12 meses a 59 anos de idade, sendo recomendadas duas doses até 29 anos e uma dose de 30 a 50 anos, em pessoas não vacinadas. Quanto à tetra viral, a recomendação é uma dose aos 15 meses de idade em crianças que receberam a primeira dose da tríplice viral.
Alerta para adultos
José Fernando ressalta que: “é importante mantermos as cadernetas de vacinação em dia das crianças, mas não só delas. Hoje, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) tem como clientela crianças, mas também adolescentes, adultos e idosos. Temos praticamente a população inteira, em termos de grupos de idade, como alvo do PNI”.
Segundo dados do EpiRio, foram aplicadas quase 7 milhões de vacinas em crianças no município do Rio, em 2023. No entanto, a cidade só atingiu a meta de cobertura vacinal em menores de dois anos com a vacina BCG (que protege contra formas graves da tuberculose). Todos os outros imunizantes ficaram abaixo dos índices considerados ideais.
O cenário, entretanto, foi diferente na Área de Planejamento 3.1, na qual a Maré está inserida. Por aqui, o número de crianças menores de dois anos vacinadas superou a meta para as vacinas BCG, Rotavírus, pentavalente (que protege contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e meningite por Haemophilus influenzae tipo B – Hib) e poliomielite.
Além disso, os índices de cobertura vacinal ficaram acima de 90% e próximos do ideal (95%) para as vacinas contra hepatite A, meningocócica C e pneumocócica 10. Já as vacinas da febre amarela e da tríplice viral (2ª dose) foram as que ficaram mais distantes da meta em 2023 na Área de Planejamento 3.1, com taxas de vacinação de 68,10% e 75,8%, respectivamente.
A situação ainda é desafiadora para outros grupos etários, além das crianças. Em 2023, a campanha de vacinação contra a gripe no município do Rio de Janeiro, por exemplo, só vacinou 53% dos idosos, bem longe da meta de 90%. E, na região da Maré e adjacências, os índices também ficaram aquém do desejado, com apenas 60% dos idosos vacinados.
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