Dengue: um problema coletivo

Data:

Pesquisadora da Fiocruz explica que para combater o Aedes aegypti é preciso fazer mais que a nossa parte

Por Lucas Feitoza          

Janeiro iniciou com chuva e alguns dias de calor típicos do verão carioca. O acúmulo de água em recipientes nos terrenos baldios e até mesmo em pequenos objetos como tampas de garrafas são oportunidades para reprodução do Aedes aegypti, o mosquito transmissor da dengue, zika vírus e chikungunya.

As três arboviroses têm os principais sintomas parecidos: febre, dores no corpo e vermelhidão nos olhos. Mas a dengue pode causar também dor de cabeça, dores pelo corpo, náuseas, ou não apresentar qualquer sintoma. Em casos mais graves pode gerar manchas na pele, sangramentos (nariz e gengivas), dor abdominal intensa e contínua, além de vômitos persistentes.

Em 2022, foram registrados 4.791 casos de dengue e 4 mortes na capital carioca. Na Maré, de acordo com os dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), foram 18 casos registrados. Em 2021, a cidade teve novecentos e trinta e oito casos notificados, a Maré um.  A princípio, o número pode não ser alarmante, porém existem algumas considerações que devem ser feitas.

Denise Valle, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) especialista no mosquito Aedes aegypti, explica que há uma subnotificação – registros menores do que a realidade – desde o início da pandemia de Covid-19 nos casos relacionados ao Aedes; “alguns sintomas são comuns, as pessoas de repente estavam com dengue e era a Covid, ou o contrário, como o aconselhável era evitar ir ao hospital, provavelmente algumas pessoas até morreram em casa” conta. Além disso, existem os registros de virose no verão que podem ser confundidos com os sintomas das doenças transmitidas pelo mosquito. 

Denise destaca que é importante tomar cuidados preventivos e falar sobre o assunto o ano inteiro, mas principalmente no período do inverno. Segundo ela, é nesse período que as chances de impedir a proliferação do Aedes aegypti são maiores, já que as baixas temperaturas dificultam a reprodução do mosquito.                     

Descarte indevido de lixo no “Pontilhão da Maré” pode aumentar a proliferação do mosquito. Foto: Gabi Lino

Combatendo o mosquito do jeito certo

 É importante observar os espaços com os olhos do mosquito para identificar onde pode estar um criadouro. A melhor forma de combater o Aedes, segundo Denise Valle, é pelo controle mecânico: acabando com o foco do mosquito enquanto ele ainda é uma larva. A pesquisadora explica que nessa fase é possível evitar que ele alcance outras regiões.  A forma correta de matar a larva é descartando a água em ambientes secos, já no caso do ovo do mosquito – um ponto preto que fica grudado nos recipientes – a melhor maneira é esfregar com a esponja ou com a mão. Para Denise, ações coletivas para eliminar os focos são eficazes; “A gente não pode falar que isso não é meu problema porque não está na minha casa, porque para o mosquito isso não é relevante, ele não sabe onde está o limite”, explica.

A especialista relembra as ações de combate como Dia D da Dengue, campanha de mobilização nacional realizada no último sábado de novembro de 2022 com o objetivo de combater o Aedes aegypti, e acrescenta que não basta fazer a vistoria de ambientes apenas uma vez já que o período que o mosquito leva para se desenvolver é 7 dias. Denise pontua que a constância na limpeza dos ambientes é que previne a proliferação.

O motorista Felipe dos Santos, 31 anos, morador da Vila do Pinheiro, conta que já teve Chikungunya e que ainda sente dores nas articulações devido a doença. Depois dessa experiência ele passou a tomar mais cuidados com a água parada, não deixando mais acumular em vasos de plantas ou baldes; “nós temos que nos prevenir a todo momento, porque essa doença é perigosa e leva até a morte. É bom virar os baldes e garrafas de cabeça pra baixo, porque esse mosquito aí gosta muito de água parada.”

Já o chapeiro Mike Montenegro, 24 anos, também morador da Vila do Pinheiro, alega que a falta de saneamento básico dificulta os cuidados; “Passei no Salsa (Salsa e Merengue – uma das favelas da Maré) agora e não dava pra ver o final da vala porque ela estava transbordando de água de esgoto por conta da chuva. Aí a gente tira água dos vasos das plantas, põem as garrafas vazias de cabeça pra baixo e tudo mais, mas a favela fica alagada com diversas poças d’água parada. É praticamente enxugar gelo. A campanha em si é importante, mas se não houver a manutenção do espaço fora das casas, não adianta muita coisa.” Conclui.

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) diz estar atenta a possíveis focos de dengue e que realiza ações educativas e de mobilização com orientações para a população sobre as medidas de prevenção; “visando despertar a responsabilidade sanitária individual e coletiva, considerando que os principais reservatórios de criadouros ainda são encontrados em domicílios.” A SMS disse que essas ações e visitas dos agentes de Vigilância e Saúde são intensificadas no verão. 

Para informar sobre possíveis focos do mosquito da dengue, zika vírus e chikungunya os moradores podem ligar para a Central 1746, canal de comunicação com a Prefeitura.

Lucas Feitoza
Lucas Feitoza
Jornalista

Compartilhar notícia:

Inscreva-se

Mais notícias
Related

Por um Natal solidário na Maré

Instituições realizam as tradicionais campanhas de Natal. Uma das mais conhecidas no território é a da Associação Especiais da Maré, organização que atende 500 famílias cadastradas, contendo pessoas com deficiência (PcD)

A comunicação comunitária como ferramenta de desenvolvimento e mobilização

Das impressões de mimeógrafo aos grupos de WhatsApp a comunicação comunitária funciona como um importante registro das memórias coletivas das favelas

Baía de Guanabara sobrevive pela defesa de ativistas e ambientalistas

Quarenta anos após sua fundação, o Movimento Baía Viva ainda luta contra a privatização da água, na promoção da educação ambiental, no apoio às populações tradicionais, como pescadores e quilombolas.