Em 2023 houve aumento de 30% no número de casos prováveis de dengue em comparação com o mesmo período de 2022
Hélio Euclides
A dengue é um inimigo que hibernou, mas não desapareceu. O Aedes aegypti, o mosquito transmissor da dengue, zika vírus e chikungunya, ficou dois anos fora das matérias dos jornais. No ano passado as três arboviroses deram o ar da graça, mas não chegaram a ganhar destaque na mídia. Contudo, em 2023 o aedes se multiplicou e os casos de doentes vêm aumentando. As dicas de cuidados para eliminar os possíveis focos de incubação do vírus voltam a rotina das residências, como a colocação de areia em pratinhos de plantas, limpeza de bebedouros dos animais, verificação das calhas, instalação de tampas nas caixas d ‘água e de telas em ralos. Pequenos objetos, como tampinhas de garrafas, podem ser um grande criadouro do mosquito.
Em 2020 e 2021 a grande preocupação foi com o vírus da covid, que trouxe o isolamento social, diminuindo a locomoção das pessoas pelas cidades. O resultado foi que a população ficou mais tempo nas suas residências, com um tempo maior para eliminar criadouros dos mosquitos. Segundo números disponíveis no boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, no ano passado houve um aumento de 113,7% nas infecções em relação ao mesmo período de 2021. “A dengue é uma doença perigosa, que pode matar. Temos que prevenir, eliminar água parada e fazer a conscientização para que todos façam isso”, comenta Maria do Livramento, moradora da Nova Holanda.
Um dos motivos para esse aumento de casos foi um maior período de chuva. Ela causa a água parada, criando o local ideal para que os ovos do mosquito eclodam e as larvas se desenvolvam até alcançar a fase adulta. Em 2023 houve aumento de 30% no número de casos prováveis de dengue em comparação com o mesmo período de 2022. Na cidade do Rio de Janeiro já são 9.219 casos.
“O mosquito está voltando. O negócio é cuidar da nossa casa tirando água parada. O importante é que todos façam a sua parte. Uma piscina abandonada representa um perigo para toda a população. No passado eu tive chikungunya, sei do sofrimento que é essa doença, até hoje tenho sequelas”, Elaine Alves, moradora da Vila dos Pinheiros.
Um estudo da Fiocruz, coordenado pela Fiocruz Amazônia e pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), apresenta a caracterização genética dos vírus referentes a quatro casos da infecção registrados este ano, em Roraima, na região Norte, e no Paraná, no Sul do país. A circulação de um sorotipo há tanto tempo ausente preocupa os especialistas. A agência Fiocruz revelou na última quarta-feira (10/05) o estudo que mostra o ressurgimento recente do sorotipo 3 do vírus da dengue no Brasil, que há mais de 15 anos não causa epidemias no país. A pesquisa fez acender o sinal de alerta quanto ao risco de uma nova epidemia da doença causada por esse sorotipo viral.
O combate na cidade do Rio
Para o enfrentamento da doença há diversas iniciativas. Profissionais de saúde estão se unindo para conscientizar moradores sobre as necessidades dos cuidados. Foi o que ocorreu na Clínica da Família Augusto Boal, que fica em frente ao Morro do Timbau. “Realizamos uma ação de combate à dengue. Cerca de 25 profissionais, entre eles Agentes Comunitários de Saúde (ACS), Agentes de Vigilância em Saúde (AVS) e Agentes de Combate às Endemias (ACE) saíram para visitar as seis áreas que abrangem o território da clínica. Foram priorizadas as casas onde há crianças, idosos e pessoas com alguma comorbidade. A previsão é o retorno para uma reavaliação”, conta Vitor Moreira, gerente da Clínica da Família Augusto Boal. Nas residências os profissionais deram orientações, verificaram a presença de focos e administraram larvicidas.
A ação é importante porque nos primeiros quatro meses de 2023, na Maré já foram registrados 25 casos, seguidos de dois na Cidade Universitária, 67 em Manguinhos, 89 em Ramos, 91 em Bonsucesso e 97 infectados no Complexo do Alemão. Em Marcílio Dias os infectados são computados no bairro da Penha Circular, com 31 casos no total. Para enfrentar essa situação, na primeira semana de maio, o Ministério da Saúde lançou a campanha “Brasil unido contra a dengue, Zika e chikungunya”. Além de campanhas que serão veiculadas em veículos de comunicação, o ministério promete retomar a distribuição dos insumos para o controle vetorial do aedes, que se encontra atrasado no fornecimento para os estados.
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que as ações de combate à dengue são realizadas o ano inteiro em toda a cidade, principalmente em territórios mais vulneráveis para proliferação do mosquito. Até o dia 8 de abril deste ano foram vistoriados mais de 3,6 milhões de imóveis para controle e prevenção de possíveis focos do aedes aegypti, com eliminação ou tratamento de cerca de 460 mil recipientes que poderiam servir de criadouro. Em 2022, foram realizadas 10,7 milhões de vistorias, com eliminação ou tratamento de mais de 1,7 milhão de recipientes.
A SMS confirmou que realiza ações educativas e de mobilização social para orientar a população sobre as medidas para a prevenção de arboviroses urbanas, visando despertar a responsabilidade sanitária individual e coletiva, considerando que os principais reservatórios de criadouros ainda são encontrados em domicílios. Quando necessário, a população pode fazer pedidos de vistoria ou denunciar possíveis focos do mosquito pela Central de Atendimento da Prefeitura, no telefone 1746.
Por fim, a SMS ratificou que em casos de suspeita de dengue, a pessoa deve procurar por uma avaliação profissional na sua unidade de saúde de referência. Após a avaliação, o paciente receberá todas as orientações necessárias sobre o seu quadro. Mais informações sobre a doença podem ser obtidas por meio do site https://saude.prefeitura.rio/dengue-zika-e-chikungunya/.