Diferença de temperatura entre favelas mareenses pode ser de até 2°C

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Diagnóstico sobre ilhas de calor e qualidade do ar nas 16 favelas da Maré, coletou dados sobre temperatura, umidade e qualidade do ar no território

Teresa Santos

O projeto Respira Maré: Diagnóstico sobre ilhas de calor e qualidade do ar nas 16 favelas da Maré, coletou dados sobre temperatura, umidade e qualidade do ar no território, entre março e setembro de 2023. O resultado da pesquisa foi apresentado em dezembro do ano passado e trouxe alertas para a comunidade: além das altas temperaturas, os mareenses convivem com grande variação térmica e níveis excessivos de gases e poluentes atmosféricos.  

Variação térmica

O projeto foi realizado pela Redes da Maré, com articulação dos eixos de Direitos Urbanos e Socioambientais (DUSA) e Direito à Saúde, com o apoio do Instituto Clima e Sociedade (ICS). A pesquisa estabeleceu 25 pontos de medição, organizados em cinco grandes áreas que agruparam as 16 favelas do conjunto.

De todas as áreas analisadas, a Nova Maré foi a região mais quente, com 28,3°C. Baixa do Sapateiro, Bento Ribeiro Dantas e Parque Roquete Pinto também tiveram temperaturas iguais ou superiores a 28°C. Além disso, essas favelas também foram diagnosticadas como as áreas mais secas da Maré. 

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Por outro lado, Nova Holanda, Parque União e Praia de Ramos foram os pontos menos quentes (e com maior umidade), com medições variando de 26,4°C a 27,2°C. Comparando as regiões mais e menos quentes, a diferença chegou a praticamente 2°C, indicando uma grande variação térmica no território.

Noites quentes

O relatório apontou ainda diferença importante no que diz respeito ao resfriamento noturno. Enquanto áreas como Marcílio Dias, Praia de Ramos e Parque Roquete Pinto experimentaram uma média de queda da temperatura de 3,5°C à noite, as regiões da Baixa do Sapateiro, Nova Maré, Morro do Timbau e Bento Ribeiro Dantas tiveram um resfriamento noturno de apenas 1,5°C.

Luiz Carlos Soares foi um dos jovens que atuou na coleta de dados do projeto e conta sobre a sensação de que a cada ano a favela fica mais quente. “No ano passado, meu ar-condicionado avariou e as noites foram muito ruins para dormir. Tive que tomar banho várias vezes para me refrescar, resultando em uma sensação de noite mal dormida”, relata.

Quanto à qualidade do ar, o estudo encontrou outros dados preocupantes. A concentração média de material particulado (PM2.5) esteve acima do nível considerado seguro pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em todas as áreas analisadas. De forma semelhante, a concentração de dióxido de carbono (CO2) também ficou acima da média global e do valor ideal para combater o efeito estufa nas cinco grandes áreas investigadas.

Saúde prejudicada

A pesquisadora Renata Gracie, Chefe do Laboratório de Informação em Saúde (Lis/Icict/Fiocruz), explica que a variação da temperatura no ambiente ou a manutenção da temperatura muito elevada pode ter diferentes efeitos nas pessoas.

“Pessoas saudáveis podem sofrer com dores de cabeça, mal-estar e perda da agilidade nas ações”, afirma. Segundo Renata, isso ocorre devido ao impacto do calor no sistema nervoso, no sistema circulatório, no sistema respiratório ou no sistema geniturinário, responsável por retirar as substâncias tóxicas e em excesso do nosso corpo.

Com relação à qualidade do ar, ao ultrapassarmos os limites estabelecidos, os problemas podem variar. Especialmente, agravando doenças respiratórias como a asma. Vale lembrar que, tanto o aumento da temperatura quanto a presença de poluentes no ar, podem impactar de forma mais séria idosos, crianças e gestantes.

Localização

Segundo Luna Arouca, uma das coordenadoras do projeto, um dos principais fatores que contribuíram para os resultados encontrados é a localização. A Maré está entre as três principais vias de acesso ao Rio de Janeiro: Linha Vermelha, Linha Amarela e Avenida Brasil, com grande circulação de carros. Além disso, há também a falta de política específica de mitigação desses impactos e uma carência de áreas verdes. 

Segundo Luna, o estudo traz dados importantes para subsidiar políticas públicas e ações específicas de enfrentamento desses problemas. “Além disso, reforça como organizações de favelas e regiões periféricas são atores fundamentais no desenvolvimento das políticas públicas, na produção de dados qualificados e no engajamento dos moradores”, destaca. 

Ela acrescenta ainda que, a iniciativa, reforça o papel dessas organizações como atores no debate de justiça climática, justiça ambiental e racismo ambiental.

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