Uma semana de ações, violações e mortes na Maré

Data:

Jéssica Pires

Em uma semana, foram 5 ações policiais na Maré. 10 territórios atingidos pelo medo. 9 vidas interrompidas. 7 vidas marcadas e feridas, inclusive a de uma criança no Conjunto Esperança. 31 horas do cotidiano de mais de 130 mil pessoas impactado. 20 unidades de ensino e 6 unidades de saúde com funcionamento prejudicado. Em todos os dias úteis dessa semana, pelo menos uma unidade de saúde e escola tiveram seus serviços afetados. Nas 5 operações policiais, TODAS contaram com a presença da Polícia Civil e do “caveirão voador”, sendo mais uma vez naturalizado na atuação do Estado da Maré.

É importante dizer que a Ação Civil Pública da Maré, instrumento legal produzido pela Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, com apoio dos moradores, organizações da sociedade civil e o Fórum Basta de Violencia! Outra Maré É Possível…., que visa reduzir danos e riscos durante as operações policiais na Maré, recomenda que as operações não aconteçam em locais próximos à escolas. A região do Conjunto Esperança que foi alvo da ação no último dia 6 de maio fica bem próxima há um complexo com mais de 7 escolas. Ontem, na Nova Holanda e Parque União a ação aconteceu na saída do horário escolar.  

Outra norma estabelecida pela ACP é que ambulâncias estejam à disposição durante as ações para socorrer vítimas. Essa é uma medida que geralmente não é seguida durante as operações policiais na Maré e também não foi identificado pelas nossas equipes nas últimas operações. 

Lembramos também que o uso do helicóptero como plataforma de tiro tem sido frequentemente utilizado nas operações na Maré: o Caveirão Voador deixou de ser exceção e virou uma regra nas operações policiais da Maré! Essa é uma tática que aumenta consideravelmente o grau de letalidade das operações na Maré. Uma operação que foi marco na Maré e teve a presença do Caveirão Voador aconteceu no dia 20 de junho de 2018, com 7 mortos, entre eles o menino Marcos Vinicius de 14 anos. Além de gerar temor, pavor e desespero ao cotidiano dos moradores que não sabem de onde tiros e rajadas são disparados. Imagine ter um helicóptero sobrevoando em cima da sua casa e disparando tiros a esmo? 

Uma semana depois da violenta operação policial que deixou 8 mortes no Conjunto Esperança, e que marcou o início desses 7 dias de terror que os moradores da Maré tem vivido, a Delegacia de Homicídios realizou perícia nos pontos onde essas 8 vidas foram executadas. Em casos de homicídios, as pericias são importantes para garantir que as investigações sejam consistentes e que os culpados sejam responsabilizados pelas mortes. Não pode ser diferente em territórios favelados. Não pode ser diferente na Maré. 

Hoje estiveram presentes peritos do Ministério Público e a Delegacia de Homicídios realizando pericias em duas casas no Conjunto Esperança onde ocorreram 8 das mortes, decorrentes da operação do dia 6 de maio. A associação de moradores e a equipe do Eixo de Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré acompanharam a visita e as pericias que aconteceram na manhã de hoje sem nenhum registro de confronto. É importante registrar que durante a visita e perícia, a equipe da Redes da Maré foi hostilizada por policiais da CORE. Seguimos acompanhando as ações das polícias na Maré e ressaltamos sempre que lutamos por uma política de segurança pública que garanta direitos e preserve vidas.

Compartilhar notícia:

Inscreva-se

Mais notícias
Related

Após seis anos, acusados de mandar matar Marielle Franco são presos pela PF

Os suspeitos são os irmãos Domingos Brazão e Chiquinho Brazão, atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e deputado federal do Rio de Janeiro, respectivamente, e Rivaldo Barbosa, que é delegado e ex-chefe de Polícia Civil do Rio