“Virei estrela né?” comenta Dona Leda Camillo protagonista do documentário. O longa metragem foi exibido gratuitamente na praça do Parque União
A estreia do documentário Leda aconteceu na Praça do Parque União no último dia 26/07. A produção retrata a vida de dona Leda Camillo, de 65 anos, mãe, avó e bisavó mareense, moradora da Nova Holanda. Depois de ser homenageada pela filha Kamila Camillo na exposição fotográfica Faveladas, agora ela estreia seu próprio documentário.
O documentário foi gravado em maio de 2017, a partir do aniversário de Dona Leda, com a reunião da família para celebrar a vida da matriarca. Durante a gravação, que durou uma semana, alguns acontecimentos marcaram a obra: dois dias foram sem água, além de duas operações policiais, e a histórica Marcha Contra a Violência na Maré.
O filme começou mostrando o problema da falta de água. Repleto de momentos engraçados, a produção passa pelos problemas, mas conclui com Leda dizendo “apesar dos pesares eu só tenho que agradecer a Deus e fazer igual o Zeca [Pagodinho] “deixa a vida me levar”, disse em referência a música do cantor.
Quando questionada pela equipe do Maré de Notícias sobre como faz para levar a vida com leveza comenta: “Eu sou uma pessoa feliz, não guardo mágoas de ninguém. Por quê ser triste? a gente tem que viver, tem dias que a gente fica triste por algum motivo, mas eu viver triste? não vivo não.”
Dona Leda sem filtros
A Marcha contra a Violência na Maré aconteceu em 24 de maio de 2017 e reuniu, artistas, líderes de movimentos, personalidades políticas, moradores que ao longo da caminhada foram chegando e somaram mais cinco mil pessoas pedindo paz.
Em um dos momentos no documentário Kamila liga dizendo que uma artista está na manifestação. Dona Leda responde “eu vejo ela na novela todo dia!”, mostrando o lado naturalmente bem humorado da protagonista.
Mas o documentário reflete sobre a violência armada. Em outro momento Dona Leda conversa com um vizinho da frente e fala “você está sozinho? Não sai de casa” em outro liga preocupada para o neto. Hábitos de muitas mães da favela.
Amigos assistiram o documentário
Dona Leda comentou as cenas do documentário enquanto assistia e ria na maioria do tempo. Estava tímida pela quantidade de gente que assistia. A produção diz que foram alugadas 200 cadeiras e mesmo assim, ainda ficaram pessoas em pé.
A fotografa Kamila Camillo, conta com orgulho que gosta de sempre homenagear a mãe. “Dona Leda me escolheu, eu sou privilegiada por ser filha dela, além disso a gente tem que homenagear as pessoas em vida, então fazer essa homenagem é dizer o quanto essa mulher é potente, tem sonhos e planos.”
Dona Vera de Oliveira de 56 anos, ou Verinha, como é chamada, vizinha de Dona Leda na Nova Holanda, disse que estava feliz em ver a amiga de mais de quinze anos estrelando o documentário. “Fiquei muito satisfeita porque ela é uma mulher guerreira que vive para os filhos e para a família. O amor que ela tem, me passa uma coisa boa, e os ensinamentos dela eu vou agregando tudo.”
O filme tem produção executiva de Isabel Souza e direção de Samuel Fortunato, que faz seu primeiro longa metragem. Fortunato explica que a finalização do filme foi uma conquista através do edital Foca, um fomento à cultura, e que a escolha de exibir na praça do P.U aconteceu como “uma forma de devolver para a família e para a comunidade e encerrar o ciclo”.