Faveladas: exposição de Kamila Camillo exalta o cotidiano das mulheres da Maré

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Andrezza Paulo

Na última quinta-feira (20), foi lançada a exposição FAVELADAS da fotógrafa e cria da Maré, Kamila Camillo. As imagens sensíveis ressignificam o uso da palavra favelada e propõem uma narrativa que dignifica a mulher de favela. A exposição conta com fotografias digitais e de arquivo pessoal, que transitam entre as avós, mães e filhas moradoras da Maré exaltando a essência de cada uma delas. As faveladas representam a memória, o lazer, o empreendedorismo, a alegria e o amor pelo território que vivem. 

Kamila conta que a mostra surgiu do compromisso com a ressignificação do termo, muito utilizado de maneira pejorativa, para recontar uma história sobre as mulheres que compõem o território: “Faveladas nasce sobre a urgência desse tempo que a gente vive, nasce para quebrar o estereótipo de que favelado não tem educação, que não sabe se portar.” A fotógrafa vai além e revela o que o termo realmente representa para ela:

Favelada é aquela que levanta cedo e vai para faculdade, para o trabalho e que sonha

Kamila Camillo

Kamila diz que a mulher de favela, a favelada, na verdade carrega o poder da construção social: “Faveladas são mulheres que escolhem todos os dias construir uma nova maré, uma nova história, uma nova sociedade”, conta. Emocionada, a fotógrafa relata, em suas palavras de abertura, o sentimento em fazer parte da favela. “Eu sou uma favelada e se eu tô aqui é porque alguém construiu antes de mim e quero continuar construindo com vocês. Faveladas é só o início”, finaliza.

Um dos rostos marcantes da mostra é o de Hamana Gerônimo (28), mulher preta, fotografada aos sete meses de gestação. Para ela, foi uma surpresa ser fotografada na sua essência, sem retoques e cenários:

Kamila chegou na minha casa e disse que faria uma foto ali, na hora e do jeito que eu estava. Senti vergonha no início, mas depois me vi e foi muito gratificante

Ela conta que ver tantas mulheres como ela sendo exaltadas na exposição mudou seu olhar sobre si mesma: “Percebi que muita gente acha que não somos seres humanos por estar na favela, mas agora eu vejo que a gente pode ser tudo o que quiser. Eu sou Hamana, mulher lutadora, mãe, sou tudo e mais um pouco”, diz.

A exposição faz parte do projeto Imagens do Povo, do Observatório de Favelas. Erika Tambke, diretora do projeto, fala da importância da imagem popular e da sensibilidade de Kamila Camillo: “A gente precisa valorizar as outras histórias populares e desconstruir esse estigma. Estamos falando de pessoas, de sonhos, de trabalhadores e de cultura. O registro desse cotidiano feito pela Kamilla é pra gente lembrar de entrar nesses universos, de conhecer cada uma dessas histórias e recontar essa realidade através dos olhares do próprio povo”, finaliza.

 A exposição está aberta à visitação na Galeria 55, na Rua Teixeira Ribeiro, Parque Maré – Sede do Observatório de Favelas.

Foto: Ratão Diniz

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