Maré de Notícias #92 – 03/09/2018
Outras possibilidades de renda são criadas para enfrentar a crise
Hélio Euclides
O termo “empreendedorismo” se refere à busca de novas oportunidades por meio da inovação e da autonomia. A definição de empreendedorismo pressupõe colocar em prática uma ideia nova, oferecendo uma maneira criativa de fazer algo que já existe. Para isso é necessário pensar, planejar, organizar o plano de negócio e, claro, formalizá-lo.
Segundo Carol Machado, consultora do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), existem duas formas de se tornar microempreendedor. “Para quem não precisa emitir Nota Fiscal, é só entrar no Portal do Microempreendedor, fazer o Cadastro Nacional de Pessoal Jurídica (CNPJ), emitir o Documento de Arrecadação do Simples Nacional (DAS) para pagamento mensal e fazer a declaração de morador de favela, que fica isento de impostos. Já para quem necessita da Nota, primeiro é preciso entrar no Portal da Prefeitura, o Nota Carioca Digital, e fazer a consulta sobre o local, e verificar se é viável a atividade no endereço. Se a Prefeitura aprovar, faz-se o CNPJ e emite-se os DAS. Depois gera-se o alvará definitivo, no Nota Carioca Digital. Deve-se também solicitar no mesmo site, pela inscrição municipal, a concessão da Nota. Qualquer dúvida é só procurar o Sebrae Maré”, lembra a consultora.
Segundo o Portal do Empreendedor, mais de sete milhões de pessoas já pertencem à categoria Microempreendedor Individual (MEI). O número de MEIs no País cresceu 14,4% em fevereiro de 2018 na comparação com o mesmo mês do ano passado, aponta pesquisa da empresa de consultoria Serasa Experian. O aumento do número de MEIs também está ligado ao crescimento do desemprego no Brasil e à falta de oportunidades, em especial para os jovens que procuram o primeiro emprego, ou para aqueles que já passaram dos 50 anos de idade.
Para que o empreendedor não tenha prejuízo, é necessário também elaborara um plano de negócio, para planejar os passos que devem ser dados para que os objetivos sejam alcançados, diminuindo os riscos e as incertezas. “Resumidamente, pode-se dizer que o planejamento procura responder três questões principais: Onde estamos? Para onde queremos ir? Como chegar lá? Para tanto, faz-se necessário seguir uma linha de orientação do trabalho: análise do cenário, definição de objetivos, definição de estratégias e elaboração de um programa de ações”, enfatiza Carol.
A visão de empreendedor: enxergar uma oportunidade para abrir o próprio negócio é o desejo de muitos
Alzira Ramos, de 60 anos, ficou desempregada. Resolveu fazer bolos e vender fatias no botequim ao lado da casa. De uma história de superação, nascia no ano de 2008 a primeira loja da Fábrica de Bolo Vó Alzira, no bairro da Tijuca. Esse início de trajetória reflete a experiência de muitas pessoas que, ao perder o emprego, se transformam em empreendedoras.
Com dificuldades na aposentadoria, Neuza Josefa, de 61 anos, é conhecida como a Tia do brownie. Ela vende brownie e bolo de pote pelas ruas e instituições da Nova Holanda. A Naná Doces acabou virando um negócio da família. A nora de Neuza, Aline de Oliveira, é quem bota a mão na massa. “A minha filha Geovana faz a planilha, com entrada, saída e fluxo de caixa. Minha sogra assumiu a função da venda, algo que ajuda na nossa renda”, afirma Aline.
Muitos trabalhadores não se veem como empreendedores, como é o caso de Virginia Lúcia, de 39 anos. “Não sei se sou empreendedora, mas procuro aprender para crescer, e lutar por uma vida melhor”, diz. Ela trabalhou em pensão e tinha o desejo de trabalhar por conta própria. Então veio a ideia de trabalhar com um carrinho de bolos e salgados pelas ruas da Nova Holanda. Ela sobrevive dos seus quitutes, paga dois aluguéis, da casa e da loja onde prepara os lanches, que ela chama de minifábrica. “Meu sonho é ter uma “empadaria”, que fabrica empadas e bolos”, conta.
A criatividade é a palavra de ordem
No momento mais difícil de sua vida, David Portes descobriu que podia ser empreendedor. Em 1986, sem emprego, sem casa, pediu emprestado o equivalente a R$ 12,00, seguiu seu instinto e arriscou: deixou de comprar remédios para a esposa, que estava grávida, para adquirir alguns doces para revenda. Em menos de uma hora nas calçadas do Centro do Rio, ele já tinha arrecadado o dobro do que havia investido. Resolveu se estabelecer no local como camelô. Hoje, faz sucesso com sua história de superação, dando palestras ao redor do mundo.
Cristian Gomes, de 20 anos, relembra a história de David. Cristian começou fazendo cursos profissionalizantes de administração e, na época, trabalhava na pizzaria da tia. “Ela me deu a sugestão de abrir um negócio próprio. Tentei várias coisas, ter um negócio é muito complexo. Pensei em doces, mas faltava conhecimento, alguém para me guiar. Em 2006, no pré-vestibular tive outra visão de mundo. Então, fui estudar, seguir uma trajetória”, detalha.
Seu único capital era R$ 90,00, que tinha reservado para quitar uma dívida. “O que me fez mudar de ideia foi ver no Facebook uma página de cone de chocolate. Isso ficou martelando na minha cabeça. Assim nascia os cones Chocorela, o nome que mistura chocolate com muçarela, queijo que Cristian tanto manuseou na pizzaria onde trabalhava. Três lojas adotaram o produto e mais cinco parceiros venderam aos amigos. “Um passo foi um curso no Sebrae, para ter um olhar profissional. Penso numa faculdade para me qualificar ainda mais”, destaca. O preço de cada cone é R$ 5,00.
Uma rede de conhecimentos
Para obter sucesso no empreendedorismo é vital uma rede de contatos. Cristian criou um grupo no WhatsApp. “São empreendedores, que trocam ideias, e um ajuda o outro. Nem todos sabem lidar com o empreendedorismo. Uma pena que não tenho tanto tempo para assessorar. A pessoa começa o negócio e desiste por não obter resultados sólidos em curto prazo”, acrescenta.
No futuro, ele deseja ter um canal no You Tube que possa ajudar na vivência dos empreendedores. “Falar das questões, pois há pessoas que nem sabem que têm cursos gratuitos, que não há procura”, revela. Uma das pessoas que participam dessas trocas de ideias é uma amiga formada em Administração. Ela acrescenta o teórico e Cristian, a prática, uma via de mão dupla. “Também faço consultoria na Unisuam, são vários projetos locais, durante o ano. Lá, aprendo sobre gestão e planejamento. Tem pessoas da comunidade que têm medo de ser empreendedor. O conselho é insistir e tentar entender o negócio”, enfatiza.
Onde encontrar ajuda
A Coordenação Comunidade Sebrae atua nas favelas para apoiar pequenos negócios, oferecendo os seguintes serviços: orientações sobre a formalização e como se tornar um MEI; indicações sobre a obtenção de alvará e nota fiscal; oficinas e cursos sobre gestão. Há ainda calendários de capacitações, com cursos, oficinas e palestras sobre gestão de negócios. O Sebrae Maré funciona às segundas e às terças, das 10 às 16h, na sede da Redes da Maré. O Sebrae Maré oferece as seguintes capacitações: “Como atrair, conquistar e manter clientes” (25 de setembro, às 14h); “ Sua empresa no Facebook” (30 de outubro, às 14h) e “Preparando-se para o Natal” (27 de novembro, às 14h).
A Luta pela Paz, em parceria com a Aliança Empreendedora, oferece um curso intensivo voltado para jovens entre 18 e 35 anos, com sete encontros. O conteúdo programático busca oferecer aos empreendedores algumas ferramentas de gerenciamento de negócio, inovação e gestão. O objetivo é a formação de 100 empreendedores, com valorização da vivência, conhecimento e rede de contatos. Inscrições e informações na Rua Teixeira Ribeiro, 900, Nova Holanda, ou pelo e-mail: [email protected].
A Unisuam oferece o programa de Pré-aceleração, uma iniciativa do Pólen – Polo de Inovação e Empreendedorismo. A próxima etapa consiste no processo de entrevistas, em que são selecionados os empreendedores participantes da Pré-aceleração, que ocorre durante seis meses. No programa, os empreendedores, por meio dos módulos ministrados, recebem instruções de como construir e consolidar um negócio. Eles aprendem sobre: Canvas (ferramenta de planejamento estratégico), modelagem de negócio, marketing, gestão financeira, análise de risco, estudos de mercado, entre outros assuntos. Mais informações podem ser obtidas na Diretoria de Inovação & Novos Negócios (tel.: 99726-1277).
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