EcoClima completa um ano de mobilização socioambiental na Maré

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O projeto visa diminuir os efeitos das mudanças climáticas em quatro favelas do conjunto e construir um futuro sustentável

Louise Freire

O EcoClima (Núcleo de Economia Circular e Clima na Maré) completou um ano de mobilização territorial. A iniciativa da Redes da Maré, dentro do eixo Direitos Urbanos e Socioambientais (Dusa), acontece a partir da parceria com a Petrobras e com o departamento de engenharia ambiental da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EA-UFRJ).

O projeto foi idealizado com objetivo de contribuir para a diminuição dos impactos da crise ambiental e criar um espaço integrado de economia circular em quatro favelas que compõem o conjunto da Maré: Parque União, Parque Rubens Vaz, Nova Holanda e Parque Maré.

Apesar dos efeitos negativos das mudanças climáticas atingirem todo o planeta, eles são mais sentidos e causam mais estragos para as populações pobres, pretas e que habitam as periferias urbanas. Após as destruições causadas por enchentes ou desabamentos, são também essas populações que demoram mais tempo para se recuperar ou serem reparadas pelo Estado.

Por isso, além do direito à educação, saúde, segurança pública, também é importante pautar o direito ao meio ambiente nas favelas, que está relacionado ao esgotamento sanitário, a qualidade do ar, o abastecimento de água, a drenagem das chuvas e a gestão adequada dos resíduos sólidos.

EcoClima com soluções em conjunto

De acordo com o coordenador do EcoClima, Rian Queiroz, a principal preocupação no primeiro ano foi estabelecer um diálogo significativo entre os jovens da Maré e as ferramentas, estratégias e métodos necessários para enfrentar os impactos da crise climática. Assim, buscando soluções em conjunto.

“Este processo não apenas nos permitiu compreender a concretude dos problemas ambientais, mas também destacou como esses problemas afetam o cotidiano da favela. A partir dessa perspectiva, surgiram oportunidades para propor alternativas eficazes que fossem genuinamente adaptadas à realidade local”, explica Queiroz

Uma ação importante do projeto foi a pesquisa: Ecoclima – Diagnóstico sobre tecnologias ambientais, futuro e mudanças climáticas na Maré, realizada por meio de entrevista com moradores. O estudo pretende entender a percepção dos mareenses sobre a situação socioambiental da região para reivindicar políticas públicas específicas e contextualizadas, que abordam os desafios enfrentados em relação à crise climática.

Formações

O EcoClima conta com 20 agentes climáticos, jovens de 15 a 29 anos, e quatro mobilizadores do conjunto da Maré. Ao longo do primeiro ano, os agentes participaram de formações sobre direitos socioambientais, mudanças climáticas, ecologia e saneamento. 

A educadora e coordenadora de formação, Andrea Barreto, explica o processo formativo dos jovens.

“A partir do processo de construção do conhecimento nas aulas os agentes tiveram oportunidade de realizar e participar de algumas ações. Visitamos o Composta’e, um negócio social que trabalha com compostagem; a área de Proteção Ambiental Catalão, onde houve possibilidade de conhecer diversidades de Mata Atlântica, animais que vivem naquela área e o mangue; e a estação de tratamento de resíduos da Comlurb, no Caju, onde os alunos tiveram a chance de conhecer um grande processo de reaproveitamento e reutilização de resíduos orgânicos”.

Multiplicar o debate

Para o mobilizador Felipe Bacelar, a realização dos processos formativos trouxe uma gama de aprendizados que os agentes podem replicar em outras favelas, refletindo sobre as mudanças climáticas que atingem diretamente e indiretamente a Maré.

“A importância do EcoClima no território é abrir espaços para diálogos sobre temas relacionados a mudanças climáticas, reutilização de reciclagem, de materiais resíduos orgânicos ou materiais que às vezes a gente acha que não tem um uso. O EcoClima quer trazer uma nova perspectiva para o território”, afirma.

Próximos passos

Para o futuro, a meta é transformar o conhecimento produzido em soluções concretas para os problemas ambientais da Maré, como acúmulo de resíduos, ineficiência do saneamento básico, calor intenso e a degradação do ecossistema local. Junto com os educadores da UFRJ, os agentes estão trabalhando em protótipos de quatro tecnologias ambientais: composteira, biodigestor, telhado verde e replantio de mangue.“Estamos comprometidos em desenvolver protótipos que atendam às necessidades específicas do nosso território, levando em consideração sua realidade única. Pretendemos reimaginar e adaptar tecnologias consagradas, como composteiras, biodigestores e telhados verdes, para atender às demandas e condições específicas de uma comunidade de favela. Nosso objetivo não é apenas resolver problemas ambientais locais, mas também fortalecer a resiliência da favela e promover práticas sustentáveis que possam ser replicadas em outras áreas semelhantes”, ressalta o coordenador Rian Queiroz.

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