Alunos das turmas de educação infantil também participam da “ocupação” do espaço externo do equipamento
Por Samara Oliveira, em 21/06/2022 ás 07h. Editado por por Edu Carvalho
Uma luta coletiva pelo direito à educação e recreação infantil. A equipe pedagógica, junto com os responsáveis dos alunos do Espaço de Desenvolvimento Infantil Professor Moacyr de Góes, localizado no Parque Maré, uma das favelas da Maré, promoveram ações de intervenção e revitalização do espaço externo do equipamento após dois anos de atividades interrompidas devido a pandemia.
O segundo semestre da EDI Moacyr de Góes começou agitado, com ações que envolveram toda a comunidade escolar. Há cerca de 10 anos a escola, por meio da figura da diretora Samantha Lobo, de 47 anos, luta para que o pátio da unidade escolar seja utilizado pelos pequenos estudantes e respeitado e entendido pela comunidade como um local pertencente aos alunos que ali estudam. Entendendo a possibilidade do exemplo como um caminho a seguir, a direção e coordenação da escola organizaram e viabilizaram uma agenda de atividades coletivas junto com os pais e profissionais da escola durante a primeira e a segunda semana de junho.
Na primeira semana, um mutirão de limpeza foi realizado com a presença dos responsáveis dos alunos das cinco turmas de pré-escola. Os pequenos também participaram embalando os voluntários na ação com a música viral “Desenrola, bate, joga de ladinho” do grupo de funk os Hawaianos, porém com a sua própria versão: “Varre, junta e joga no lixinho” que animava em forma de agradecimento os pais que estiveram presentes na ação de limpeza do espaço. Os responsáveis também pintaram as casinhas que as crianças usam para brincar.
Na semana seguinte, a programação contou com rodinhas de músicas, jogo de arremesso de bolas e contação de histórias com pinturas promovida pelo Instituto Sabendo Mais. À medida que o arte educador Matheus Frazão, de 26 anos, interpretava o autor Oswald Andrade, que se empenhou em criticar o jeito tradicional de se fazer arte, ou seja, fazendo nascer a primeira geração modernista, as turmas pintavam as telas livremente.
“A ideia é trabalhar com as crianças a pintura e a contação de histórias e como a gente consegue relacionar o movimento modernista com a favela. A gente tem essa técnica de ‘professor personagem’ justamente para que tenham essa experiência”, afirma Matheus.
Ocupar para pertencer
A ação intitulada de “Ocupação” não tem previsão de término. Segundo a diretora, a mobilização coletiva irá permanecer durante todo o ano para garantia da manutenção da limpeza e cuidado com o espaço e consequente apropriação das turmas do EDI.
Desafios
A diretora Samantha Lobo comenta sobre uma das principais dificuldades que enfrenta. “O primeiro desafio é o preconceito”. ‘Ah, vou botar meu filho numa escola aqui na divisa?’,” replica a fala dos moradores da região. Mas ressalta: “Depois que vêem o trabalho que a gente realiza, ficam de boa”. O espaço de desenvolvimento infantil fica localizado em uma região onde os confrontos entre os grupos civis armados são frequentes.
Wigna Tauhany, de 26 anos, mãe de um dos alunos do Espaço e que participou do primeiro dia da ação comenta a relevância da comunidade escolar, como ator de proteção do ambiente para responsáveis, alunos e professores. “Como mãe, acho que todos nós temos que cuidar pois é um patrimônio dos nossos filhos, um direito deles de um lugar com uma boa estrutura para estudar e brincar. Já não temos muita segurança por ser onde é, e não ter estrutura dificulta muito para as crianças.”
Mobilização, arte, cultura e desenvolvimento territorial
Integrantes de projetos que pensam na mobilização territorial na Redes da Maré, também apoiaram e participaram da iniciativa, com o objetivo de ocupar o território conhecido como “Divisa”.