‘Ei, Siri, Tô Tomando Um Enquadro’: atalho para iPhone ajuda a monitorar abordagens policiais

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Por Beatriz Drague Ramos, em Ponte Jornalismo

Foi lançado na última semana no Brasil o atalho para Iphone “Ei Siri, tô tomando um enquadro”, que permite o registro de abordagens policiais e o compartilhamento da localização com um contato de confiança.

A ferramenta desenvolvida pelo engenheiro de software Bruno Dombidau, de 27 anos, salva a filmagem da câmera frontal ou traseira, dependendo da escolha do usuário, e envia uma cópia do registro para um e-mail cadastrado pelo dono do aparelho, tudo isso automaticamente. Também é possível salvar o arquivo na nuvem do iCloud.

Quando pronunciada a frase: “Ei Siri, tô tomando um enquadro”, perto do Iphone com o atalho ativado, a Siri, inteligência artificial da Apple irá diminuir o volume do celular para zero, ativar o modo “não perturbe”, reduzir o brilho da tela e compartilhar a localização automaticamente para um contato definido anteriormente. Essa ferramenta já é utilizada nos Estados Unidos desde 2018 em paradas de trânsito da polícia, também acionando a Siri.

Segundo Bruno Dombidau, uma versão para Android no Brasil será lançada por meio de um aplicativo ainda nesta semana.

Ele diz que considerou muito importante desenvolver a versão brasileira dessa tecnologia. “A necessidade de garantir mecanismos alternativos de segurança para a população vem da falta de confiança da própria população no Estado, que deveria cumprir o papel de garantir o respeito às liberdades civis através dos direitos humanos e pelas garantias fundamentais”.

O jovem teve a ideia lendo um artigo no site Business Insider, e em três dias desenvolveu o atalho por meio da ferramenta do sistema operacional iOS 12 da Apple, o Shortcuts, que permite fazer rotinas automatizadas no celular.

Para Bruno, tais rotinas de automação transformam o celular, hoje o principal dispositivo de comunicação, em um “canivete de ferramentas poderosas, que otimizam o tempo em que se levaria para uma pessoa executar ações manualmente”.

De acordo com Priscila Néri, diretora da equipe global associada de programas da ONG Witness em Nova York, já existiram vários experimentos e aplicativos parecidos que a entidade acompanhou nos Estados Unidos ao longo dos anos. “Só em 2015 tinha cerca de sete, alguns desenvolvidos por organizações que trabalham o tema da violência policial há bastante tempo, como o aplicativo ‘Mobile Justice’ da American Civil Liberties Union e outros por desenvolvedores individuais”.

Ela diz que, no geral, a organização não conhece “casos contundentes de impacto que são específicos ao ato de filmar usando um aplicativo ou ferramenta em si, dos impactos de se filmar direto com o seu celular”. Segundo a representante da Witness, “dos sete aplicativos que existiam em 2015, apenas dois continuam ativos”.

Apesar de ainda não ter recebido nenhum relato sobre o uso do atalho no cotidiano, Bruno relata que a repercussão foi positiva nas redes sociais, o que o levou a pensar em outros projetos que aliem a tecnologia aos direitos humanos. “Estou trabalhando para começar um projeto sem fins lucrativos que visa aumentar a inclusão e o acesso a esse tipo de ferramenta, onde pretendo, em colaboração com outros profissionais, construir um aplicativo multiplataforma que também aborde soluções para o enfrentamento de outros inúmeros problemas sociais”, afirma.

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De acordo com o jovem, o atalho foi um meio de chamar a atenção das pessoas para novas tecnologias que podem contribuir de diversas formas à favor da sociedade. “O acesso à informação tecnológica é um recurso fundamental para que se criem mecanismos que garantam direitos previstos em lei e cumpram papel fundamental para coibir demonstrações autoritárias, por parte de qualquer instituição ou indivíduo”.

Priscila Néri também lembra das preocupações com o uso de aplicativos e ferramentas no que diz respeito à privacidade do usuário. “Como no controle, no acesso e no armazenamento das imagens depois da filmagem e de possíveis repercussões de segurança digital e física.”

Para ela, mais importante do que filmar usando uma ferramenta é saber dos cuidados necessários ao filmar a polícia, tais como: “A segurança do aparelho em si, na proteção de contatos vulneráveis, por exemplo. O armazenamento automático em caso de confisco ou dano ao aparelho (via nuvem ou outro dispositivo) e conhecer o direito de filmar, uma garantia protegida pela Constituição brasileira”.

Ademais, Priscila cita o cuidado de se filmar de um jeito que facilite a verificação posterior do vídeo, “como não apagar ou modificar o arquivo original antes de fazer um backup e preservar os metadados. Além da importância de colaborar com a vítima da violência, ou sua família, para ter cuidados éticos de como se compartilhar as imagens feitas”.

Outra medida citada por ela é consultar advogados e ativistas de confiança “que podem ajudar a pensar e construir caminhos estratégicos para usar as imagens em processos por justiça”.

Como baixar, instalar e ativar o atalho
Para baixar o atalho, é preciso ir em “Atalhos” na página de “Ajustes” do iPhone e selecionar a opção “Permitir Atalhos Não Confiáveis”. Segundo o passo a passo escrito por Bruno, uma vez que o atalho é feito por terceiros e não é oficial da Apple, o celular pode considerá-lo “não confiável”.

Em seguida, o usuário deve fazer download por meio deste link . Após a instalação do atalho, é preciso liberá-lo para o celular e configurar um número de telefone com o qual o usuário gostaria de compartilhar sua localização caso esteja tomando um enquadro.

Após esse processo, o usuário deve incluir um e-mail com o qual gostaria de compartilhar o arquivo da gravação automática que será feita do enquadro. Também é preciso liberar a função de acesso à localização e permitir o acesso do Atalho às “Mensagens”, “Câmera” e “Fotos” e escolher entre gravar a câmera traseira ou frontal do iPhone.

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