Lugares com marcas de balas de tiros ganham cores de artistas grafiteiros um mês após a chacina
Por Amanda Pinheiro em 06/06/2021 às 11h
Um mês após a operação policial mais letal da história do Rio, muros, portas e paredes atingidos por balas do confronto armado que matou 29 pessoas foram grafitados por 30 artistas renomados do país, numa iniciativa do Labjaca e do projeto Voltando à Escola. Cerca de 10 fotógrafos acompanharam a ação.
O jornalista e pesquisador Bruno Sousa é um dos fundadores e hoje coordenador do Laboratório de dados e narrativas de favelas e periferias, o Labjaca, uma das organizações responsáveis pelo grafite. Ele afirmou que o objetivo da pintura é levantar a autoestima da favela depois da chacina, e que alguns moradores mais idosos pediram para que os muros de suas casas fossem pintados. “Foram muitos senhores de idade que paravam a gente na rua e pediam para que os muros de suas casas ganhassem um desenho, um grafite ou até um quadro de arte. É uma ação muito importante e a receptividade da favela é gigantesca.”
O momento contou com a presença de pai e filho, ambos artistas. O pai Roberto de Castro, conhecido como Time’S é fotógrafo e Raphael de Souza Castro, o Phael, o filho, grafiteiro. Eles moram no Jacarezinho e passaram por momentos de terror no dia da operação. “Fomos alvejados com os estilhaços nas pernas. Um amigo ao lado teve a perna perfurada”, disse Phael em entrevista à Folha de São Paulo. Ele comentou que o sonho de seu pai, Roberto, sempre foi registrar seus desenhos nos muros da favela: “Em conjunto com o LabJaca e o Voltando à Escola conseguimos colocar em prática um sonho. O objetivo foi trazer mais vida para o Jacarezinho e incentivar o gosto pela arte”, declarou ele à Folha.
Segundo Bruno, o Labjaca produz conhecimento por meio dos dados, sobretudo sobre Segurança Pública, e ressalta histórias e a cultura do Jacarezinho, mostrando que as periferias não são violentas por si, mas são vítimas da negligência do Estado. “A gente sempre entendeu que a população da favela tinha voz, mas não era ouvida, não era dado espaço para que ela falasse. E mesmo quando havia espaço de fala, o assunto era sobre dores. Então entendemos que só falar para a gente preta que está morrendo ia adiantar, eles [governantes] não iriam mudar, então, pensamos em encurralá-los por meio da produção de dados. A gente fala que “x’ não funciona por causa de “x” e, traz números, dados, comprovações sólidas e um aval acadêmico. Com isso há mais respeito ao que a gente está falando, porque são evidências. A principal forma como o projeto pode ajudar contra essa hostilidade do poder público é fazer essa produção de conhecimento e de narrativas, porque a gente não vai deixar de contar nossas histórias.”
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